FRONTEIRAS E FRONTEIRIÇOS

FRONTEIRAS E FRONTEIRIÇOS

Karoline Batista Gonçalves(CV)
Roberto Mauro Da Silva Fernandes
(CV)
Organizadores
Universidade Federal da Grande Dourados

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Apresentação

Este livro é resultado do esforço intelectual de docentes, discentes e ex-discentes do Programa de Pós-Graduação em Geografia da Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD), que se dispuseram a se debruçar sobre temas que envolvem fenômenos fronteiriços.
Dessa forma, essa coletânea que ora apresentamos é um esforço coletivo, teórico e empírico, que tem como objetivo discutir as representações, as essências, os discursos, os olhares, os símbolos, as interações espaciais, as porosidades e as maleabilidades da fronteira e de seus diversos significados. Sendo assim, os trabalhos aqui reunidos versam sobre os contatos materiais e imateriais que o ser humano é capaz de construir e reconstruir, seja por meio das suas análises, seus discursos e ações. De imediato, a nossa preocupação era garantir uma multiplicidade de reflexões que não estivessem presas à fronteira somente como zona internacional que separa países, mas nas suas diferentes acepções e escalas.   
Logo, iniciando as discussões, Jones Dari Goettert, partindo de três narrativas de fronteira, nos apresenta o entendimento de que toda “realidade” fronteiriça é produzida como “situação” de relações específicas. A preocupação primeira do artigo é demonstrar que as situações de fronteira devem ser compreendidas através de seus múltiplos movimentos, já que “as situações de fronteira tanto são definidas pelas relações da ‘díade’ da qual fazem parte como pelas relações construídas pelas especificidades de cada configuração socioespacial de fronteira”.
Ao discutir a produção do território e suas territorialidades, Marcos Mondardo, analisa o município de Dourados/MS como um território de fronteiras, seja pelo fato de estar localizado na Faixa de Fronteira (conceito entabulado pelo artigo 20º da constituição brasileira), seja pela condição de fronteira agrícola, assim como, por se constituir como território (fronteira) que produz relações entre sujeitos com identidades distintas.
Ana Cristina Yamashita reflete acerca do processo de consolidação da cidade de Brasília e da Região da Grande Dourados como espaços de representação do poder, a partir do contexto da mudança da capital do Brasil e da “marcha para o oeste”, conjuntura que está vinculada aos discursos geopolíticos relacionados à segurança nacional, a unificação do país e que justificaram a criação de novas áreas em território brasileiro e, sobretudo, que ensejaram políticas que estavam circunscritas ao controle das “fronteiras nacionais”. Trata-se então de um debate sobre a formação da fronteira e do surgimento de um imaginário de brasilidade.
A contribuição de Karoline Batista Gonçalves está relacionada às suas preocupações e atenções aos movimentos migratórios de brasileiros para a Colônia Nueva Esperanza localizada em Yby Yaú (Paraguai), no Departamento de Concepción, brasileiros que ao cruzarem a fronteira Brasil/Paraguai e se estabelecerem na mencionada colônia, construíram “novas” afirmações e/ou negações identitárias.
Iniciando a segunda parte do livro, ao discutir as fronteiras entre as diversas formas de pensamento, Bianchi Agostini Gobbo, recorrendo a Deleuze, Guatarri e Nietzsche, demonstra-nos como a Filosofia, a Ciência e a Arte podem contribuir para que os professores de Geografia problematizem conteúdos próprios, procurando ir para além do livro didático como fonte de dados e de conceitos. Para Gobbo, professores e alunos devem aprender na escola, e saber mobilizar as supracitadas áreas do pensamento no ensino da Geografia ajuda os alunos a perceberem que não estão separados da natureza, “e que o pensamento não é pura abstração, mas é, antes de tudo, a forma como sentimos o mundo”.
Vivianne dos Santos Cavalcanti, em sua discussão, analisa de que forma o conhecimento científico estabeleceu fronteiras ao longo do seu processo de desenvolvimento e consolidação, proporcionando uma série de rupturas as demais práticas e conhecimentos. Fronteiras que “podem ser visualizados como instrumentos utilizados pelo conhecimento para apartar de si o que considera estranho e inferior”, afirma a autora.    
A propósito das questões relacionadas ao neoliberalismo, Everton Luís de Souza Júnior em seu trabalho considera que as práticas neoliberais institucionalizaram discursos que “vendem” um mundo sem fronteiras, interconectando ideologicamente o local e o global, entretanto, “o mundo sem fronteiras” reatualizou o encontro de “colonizador” e “colonizado”, ensejando novos debates sobre a “colonialidade do poder”, sendo assim, de acordo com suas palavras, “o neoliberalismo aumentou as divergências e disparidades sociais, propiciando o encontro dos desiguais”.
Iniciamos a terceira e a última parte desta coletânea com o artigo de Juliana Grasiéli Bueno Mota que com a necessidade de compreender os territórios, as fronteiras e as identidades, considera para tal análise a Reserva Indígena de Dourados/MS. A partir das relações entre indígenas e também não indígenas, a autora, traça os jogos de identidades existentes na reserva, sobretudo, em relação aos Guarani, Kaiowa e Terena em suas múltiplas territorialidades.
Cirlani Terenciani apresenta-nos uma discussão acerca das práticas culturais e identitárias nas cidades de Ponta Porã/MS e Pedro Juan Caballero (Departamento de Amambay), cidades-gêmeas que se localizam na Zona de Fronteira Brasil/Paraguai. Dessa forma, recorrendo às palavras da autora, o principal objetivo do trabalho “é discorrer sobre as diversas concepções de fronteira que permeiam o contato entre brasileiros e paraguaios numa área de fronteira internacional”.
Ucleber Gomes Costa investiga as características do espaço geográfico produzido pela e para a atividade produtiva da mandioca em alguns municípios (localizados na “linha” de fronteira Brasil/Paraguai) na porção Sudeste e extremo-sul do estado de Mato Grosso do Sul. Logo, procura demonstrar as relações produtivas desenvolvidas entre agricultores e fecularias, assim como, apresenta os impactos gerados pela ação das usinas de cana-de-açúcar, principalmente, naqueles municípios que vem recebendo unidades fabris. Conjuntura que aumenta o preço da terra e, conseqüentemente, da renda da terra.
Buscando apontar as características da fronteira Brasil/Paraguai, de igual modo identificar o homem/mulher fronteiriço do ponto de vista social, cultural e econômico, Juliana Tosati Nogueira realiza um estudo de caso com famílias de ex-brasiguaios que residem no Assentamento Itamarati I. Ao analisar os relatos das famílias pesquisadas, Nogueira verificou que: “sofreram dupla expulsão, sendo uma nacional (expulsão do Brasil) e outra internacional (expulsão do Paraguai)”. Assim, trata-se de um estudo que revela a ambigüidade vivida na fronteira.
Dessa forma, esperamos que as contribuições aqui reunidas sirvam ao objetivo de provocar novas reflexões e instigar outras pesquisas, já que a pretensão de agrupar esses temas deu-se no sentido de persistir com os diálogos que envolvem a fronteira, independente de como vamos interpretá-la. E por fim, agradecemos a cada um dos autores pelos debates proporcionados, ao se dedicarem a este volume deram-lhe sentido e razão.

Roberto Mauro da Silva Fernandes