Observatorio Economía Latinoamericana. ISSN: 1696-8352
Brasil


ESPACIALIDADE E CONCENTRAÇÃO DO EMPREGO FORMAL NOS TERRITÓRIOS DE IDENTIDADE DA BAHIA: UMA LEITURA SOB A ÓTICA DE INDICADORES DA ECONOMIA REGIONAL

Autores e infomación del artículo

Andréa da Silva Gomes (CV)

Cristiano José Guedes da Cunha (CV)

Ana Elísia de Freitas Merelles (CV)

Ana Paula Assis Rocha (CV)

Universidade Estadual de Santa Cruz

andreauesc@gmail.com

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RESUMO

O presente estudo analisa a dinâmica produtiva nos Territórios de Identidade da Bahia a partir da década de 1990. Com base na Relação Anual de Informações Sociais (RAIS), foi possível estimar os seguintes coeficientes utilizados em economia regional: quociente locacional (QL), coeficiente de localização (CL), coeficiente de especialização (CE) e coeficiente de reestruturação (CRe). O subsetor Administração Pública é o maior empregador, com 25,2% do emprego formal na Bahia no ano de 2013, seguido pelo comércio varejista, 16,48%. Na agricultura houve queda dos postos de trabalho em todo o estado nas últimas décadas com ênfase no Território do Litoral Sul, o que pode estar relacionado com a crise da atividade cacaueira. Os coeficientes sinalizam para mudanças na estrutura produtiva na Bahia, sobretudo no período compreendido entre 1995 a 2005, o que pode estar relacionado às políticas de atração de investimentos adotadas pelo Governo baiano nesse período.

Palavras-Chaves: Dinâmica regional, Bahia, empregos, Territórios, coeficientes de concentração.

SPATIALITY AND CONCENTRATION OF FORMAL EMPLOYMENT IN THE IDENTITY TERRITORIES OF THE BAHIA STATE: AN ANALYSIS FROM THE PERSPECTIVE OF REGIONAL ECONOMY INDICATORS

ABSTRACT

This study analyze the productive dynamics in Bahia Identity Territories from the 1990s. Based on data from the Annual Social Information Report (RAIS), it was possible to estimate coefficients used in regional economy, namely: location quotient (QL), location coefficient (CL), coefficient of specialization (CE), and restructuring coefficient (CRe). The public administration sub-sector is the largest employer, with 25.2% of formal employment in Bahia in 2013, followed by retail trade, 16.48%. There was a reduction of jobs in agriculture across the state in recent decades with emphasis on the Territory of the South Coast, which can be related to the crisis of de cocoa activity. The coefficients indicate for changes in production structure in Bahia, particularly in the period 1995-2005 , which may be related attraction and investment policies adopted by the Bahia Government in this period.

Key Words: Regional Dynamics, Bahia, jobs, Territories, concentration coefficients.



Para citar este artículo puede uitlizar el siguiente formato:

Andréa da Silva Gomes, Cristiano José Guedes da Cunha, Ana Elísia de Freitas Merelles y Ana Paula Assis Rocha (2016): “Espacialidade e concentração do emprego formal nos territórios de identidade da Bahia: uma leitura sob a ótica de indicadores da economia regional”, Revista Observatorio de la Economía Latinoamericana, Brasil, (marzo 2016). En línea: http://www.eumed.net/cursecon/ecolat/br/16/empregos.html

http://hdl.handle.net/20.500.11763/br-16-empregos


1 INTRODUÇÃO

Por um longo período de tempo na Bahia, o emprego concentrou-se na região metropolitana de Salvador, com aglomerações de indústrias nessa região. Apenas a partir da década de 1990, na tentativa de interiorização dessa matriz produtiva, os investimentos começaram a ser pensados para outros municípios, nos mais distintos setores de atividade. Conforme salienta Pessoti e Sampaio (2009) por meio da política de incentivos fiscais, o governo da Bahia conseguiu atrair empreendimentos dos mais variados segmentos da indústria, como os setores: têxtil, de calçados, eletrônico, químico, automobilístico e de papel- celulose.
Ainda segundo Fisher et al (2007, p.153) apenas do ano de 1992 em diante observou-se um “sinal de recuperação da economia baiana”.  Conforme suas palavras, do referido ano em diante, ocorreu o movimento em pró da modernização do Estado, possibilitando o saneamento das contas públicas e a revisão das funções públicas no apoio ao desenvolvimento socioeconômico. Nesse período, houve uma política mais direcionada aos incentivos fiscais e financeiros, pois, só assim o Estado poderia efetivamente, “investir recursos próprios e viabilizar financiamentos de instituições multilaterais, realizando um conjunto de obras de infraestrutura econômica”.
A questão que se discute é se essa política de interiorização, que seria também caracterizada como desconcentração, resultou, efetivamente, em desconcentração produtiva no território baiano. A esse respeito Teixeira, Guerra e Araújo (2011) salientam que não é paradoxo pensar o recorte do território da Bahia como concentrado produtivamente, e apesar da concentração da produção, existe uma excessiva dispersão geográfica de aglomerações produtivas incipientes, o que atua no sentido de minar as iniciativas de provimento de infraestrutura comum, fragilizando as especializações regionais e dificultando a adoção de políticas de dinamização.
Diante do exposto, o presente estudo, objetiva fazer uma descrição e contextualização das antigas e recentes atuação dos setores de atividades na Bahia. Abrangendo, em certa medida, uma perspectiva de compreensão da espacialização e concentração dos mais expressivos setores de atividade econômica no Estado, a partir da utilização de indicadores da economia regional. Com isso, acrescenta-se uma possibilidade de diagnóstico sobre a efetividade da política pública no que concerne a tentativa de interiorização da matriz produtiva estadual. Estabelecendo para contemporaneidade uma discussão a respeito da desconcentração espacial na Bahia, determinada pela dinâmica das atividades motrizes.

2 PROCEDIMENTO METODOLÓGICO

Para este estudo adotou-se a delimitação espacial dos Territórios de Identidade da Bahia. Esse critério de regionalização foi estabelecido pelo governo do Estado e reconhecido no ano de 2010. Em certa medida, a proposta foi acatada com a finalidade de obtenção de mais projeção, êxito nos resultados e, principalmente,  aprimoramento das políticas públicas estaduais adotadas.  Assim, prezou-se, por essa delimitação espacial, pelo fato da mesma reunir semelhanças relevantes, notoriamente, destacadas na concepção de Territórios locais caracterizados como:

“unidade de planejamento de políticas públicas do Estado da Bahia, constituído por agrupamentos identitários municipais, geralmente contíguos, formado de acordo com critérios sociais, culturais, econômicos e geográficos, reconhecido pela sua população como o espaço historicamente construído ao qual pertencem, com identidade que amplia as possibilidades de coesão social e territorial, conforme disposto no Plano Plurianual do Estado da Bahia (BAHIA, 2010).

Com base no decreto n.º 12.354/10 1o Governo da Bahia passou a reconhecer, a partir de então, a existência de 27 (vinte e sete) Territórios de Identidade2 (Figura 1).

Uma abordagem sistêmica, respaldada em critérios socioeconômicos, culturais e históricos os quais analisados em conjunto, permitem melhor apreender a espacialidade das atividades produtivas na Bahia; possibilitando concluir sobre as especificidades autóctones e, também responsáveis por nortear as respectivas vocações produtivas locais (regionais) no recorte regional eleito para pesquisa.

Dentro do recorte regional proposto será considerando as pertinentes dimensões locais e setoriais, onde serão aplicados os indicadores de localização, especialização e redistribuição a partir da variável proxy emprego formal. Os indicadores supracitados nesse estudo, já foram exaustivamente, consolidados em pesquisas exploratórias dessa natureza, não necessariamente para o estado da Bahia.

Em termos de atividades de produção foram selecionados os seguintes subsetores da economia, segundo classificação do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE): extrativa mineral; produtos minerais não metálicos; indústria metalúrgica e mecânica; elétrico e comunicações; material de transporte; madeira e mobiliário; papel e gráfica; indústria química; indústria têxtil; indústria de calçados; alimentos e bebidas; serviços de utilidade pública; construção civil; comércio varejista; comércio atacadista; instituição financeira; borracha, fumo e couros; administração técnica e profissional; transportes e comunicações; alojamento; médicos odontológicos e veterinários; ensino; administração pública e agricultura.

Fonte dos Dados

As informações para a construção da matriz de informação (amplitude setorial e geográfica) são acessadas através de bancos de dados disponibilizados online pela RAIS (Relação Anual de Informações Sociais) e pelo CAGED (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados) através do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) no período de 1995 a 2013.

2. 1 Método Analítico

Para melhor ilustrar o método de análise, em pesquisas dessa natureza, é recomendável recorre-se a uma matriz de informação. Com intuito de visualização dos cruzamentos das informações necessárias para uma análise dos dados obtidos (Figura 2). Nessa matriz, cada linha mostra a distribuição total do emprego de um setor entre as diferentes regiões estabelecidas para o estudo. As colunas, por sua vez, apresentam o emprego total de uma dada região, e como o emprego se distribui entre os seus diferentes setores econômicos.

Para a construção da matriz define-se:
= emprego no setor  da região;
= emprego em todos os setores da região;
= emprego no setor  de todas as regiões;
= emprego em todos os setores de todas as regiões.
Assim, pode-se apresentar a matriz de informação da seguinte forma:

      1. Quociente Locacional (QL)

É utilizado para comparar a participação percentual do número de empregados formais de uma mesorregião com a sua participação no percentual da macrorregião, no caso específico a Bahia. O quociente locacional pode ser analisado a partir de setores específicos ou no seu conjunto. Como o quociente é medido a partir de informações do número de empregados (E), ele indica a concentração relativa de emprego em determinados setores nas regiões.

Para este estudo, optou-se por um recorte mais apurado, capturando de forma mais explícita a especialização produtiva, portanto, adotou-se a classificação de QL segundo Simões (2005) apud Lima e Simões (2010) 3 conforme apresentado abaixo:
QL>4 - há especialização produtiva, ou seja, o setor de referência está relativamente concentrado na unidade territorial de referência, no sentido em que esta detém no setor uma importância mais que proporcional à que possui no espaço de referência.
1≥QL≤4  – há indícios de especialização
QL<1 – não há especialização produtiva

      1. Coeficiente de Localização (CL)

O coeficiente de localização (CL) relaciona a distribuição percentual do número de dado setor entre as regiões com a distribuição percentual do número de empregados no total de todas as regiões (aqui considerada a Bahia). O coeficiente de localização (CL) é medido pela expressão2.

            Assim, no cálculo do coeficiente de localização, o setor é mantido fixo, de modo que a soma das diferenças, em módulo, poderá resultar no máximo em 2, enquanto o coeficiente de localização estará sempre no intervalo entre 0 e 1. Quanto mais próximo de 1 estiver o coeficiente, mais o emprego do setor apresenta um padrão de localização espacial diferente do que aquele que caracteriza o total do emprego da região, conforme Lara et al  ( 2010).  Ou seja, o setor apresenta um padrão de concentração regional mais intenso do que o conjunto de todos os setores. Por outro lado, se o coeficiente de localização for igual à zero (0), significa que o subsetor estará distribuído regionalmente da mesma forma que o conjunto de todos os setores.

      1. Coeficiente de Especialização (CE)

O Coeficiente de Especialização (CE) é uma medida mesorregião. Estas medidas concentram-se na estrutura produtiva de cada mesorregião, fornecendo informações sobre o nível de especialização da economia num período. Através do coeficiente de especialização, compara-se a economia da mesorregião com a macrorregião, neste caso a Bahia.
As propriedades do coeficiente de especialização são análogas às do coeficiente de localização. Dessa forma, o numerador da expressão (3) tem seu limite em 2, enquanto o padrão do coeficiente oscila de 0 a 1, segundo apresenta  Lara  et al (2010). Para resultados iguais a 0 (zero), a mesorregião tem composição idêntica à da Bahia. Em contrapartida, coeficientes iguais ou próximos a 1 (um) demonstram um elevado grau de especialização ligado a um determinado setor, ou uma estrutura de empregados/empregos totalmente diversa da estrutura de emprego estadual.

      1. Coeficiente de Reestruturação (CRe)

O Coeficiente de reestruturação (CRe) relaciona a estrutura do número de empregados por região entre dois períodos, t0 e t1, objetivando verificar o grau de mudanças na especialização de cada região. Seu valor quando igual a zero (0) indica que ocorreram modificações na estrutura setorial da região, e igual a um (1) demonstra uma reestruturação substancial, tal como explicita  Pianceti et al, (2008).

Onde:
t0 = momento 0
t1 = momento 1

RESULTADOS E DISCUSSÃO

                                                                                                                          
Ao analisar o emprego por subsetores na Bahia, tem-se que Administração Pública é o maior empregador, com aproximadamente 585 mil empregos para o ano de 2013, representando 25,28% do total de empregos na Bahia, seguido pelo comércio varejista, com 381 mil empregos (16,48%).  Desde 1995, observa-se crescimento na participação de alguns subsetores no emprego estadual, principalmente o comércio varejista na Bahia, a administração técnica profissional e a construção civil, que passaram de 12,92%, 7,45% e 4,57%, em 1995, para 16,48%, 11,12% e 7,41% em 2013, respectivamente (Tabela 1). Nota-se, todavia, que a Administração Pública vem perdendo participação nos últimos anos para subsetores mais dinâmicos, em especial o de serviços, com importância na geração de empregos no estado. Evidencia-se que a participação do setor terciário na economia baiana,quando comparado com a dos demais setores, é relativamente significativa ao longo do período analisado.
Em relação às atividades do setor industrial observa-se certa estagnação na participação do emprego estadual, apresentando pouco dinamismo. As indústrias química e têxtil, por exemplo, diminuíram sua participação relativa no emprego. Para o setor secundário o maior destaque fica mesmo por conta do subsetor da indústria de calçados, o qual em 1995 participou apenas com percentual de 0,02, e em 2013 passa para 1,13, com auge em 2010 com 1,84.
A agricultura, por sua vez, apresenta baixa empregabilidade, com perda de postos de trabalho formais ao longo das últimas décadas. Para esse subsetor, a participação foi de 5,23% para 3,86%, no período de 1995 até 2013. A tecnologia nesse subsetor vem permitindo o uso mais intensivo de mecanização a exemplo do agronegócio da soja no Território da Bacia do Rio Grande e na etapa de colheita da cafeicultura nos Territórios de Vitória da Conquista e da Chapada Diamantina devido, entre outros fatores, à escassez de mão de obra na agricultura (BAHIA, 2011).
Ademais, a crise de algumas atividades produtivas na Bahia como a cacauicultura, com preços pouco compensadores nas últimas décadas, além da baixa produtividade em comparação a meados do século passado fazem com que o setor agrícola tenha baixa empregabilidade. Por outro lado, há de se registrar o crescimento de outras formas de trabalho como é o caso da parceria agrícola, adotada na Bahia com intuito de reduzir custos produtivos Gomes et al, (2015).

Quanto ao emprego nos Territórios de Identidade, registra-se que a região Metropolitana de Salvador vem perdendo participação ao longo das últimas décadas passando de 66% do emprego formal em 1995 para aproximadamente 47% em 2013. O Território Litoral Sul apresenta a mesma tendência de queda, com 6,19% do emprego em 1995 para 4,67% em 2013. Os demais Territórios apresentaram crescimento moderado. Apenas o Sertão do São Francisco indicou certa estabilidade na participação de empregos gerados, mantendo-se no patamar de 2,2% do total do Estado, ao longo do período 1995-2013.

3.1 As medidas de localização nos Territórios de identidade da Bahia

            Ao longo das últimas décadas o quociente locacional (QL) expressou mudanças significativas para os subsetores de atividades. Em 1995, os QL considerados elevados (superiores a 4) estavam, majoritariamente, nos subsetores de extrativa mineral, borracha, fumo e couro, minerais não metálicos, madeira e mobiliário e agricultura. Já para 2013, apesar da concentração setorial na agricultura e extrativa mineral observa-se, em alguns territórios,uma concentração do emprego na indústria de calçados, sinalizando a participação significativa do setor calçadista no início dessa década.
Em 1995, o Território Piemonte Norte de Itapicuru apresentou QL muito expressivo para a atividade extrativa mineral (42,67), significando que a participação relativa desse subsetor no emprego do Território é de longe superior à representatividade do emprego desse setor no estado. Em termos percentuais, esse Território responde por aproximadamente 28,3% do emprego nesse subsetor na Bahia, concentrado, principalmente, no município de Jaguarari (16,8%), devido à extração de concentrado e catodo de cobre pela Mineração Caraíba S/A.
Atualmente, observa-se que a extração mineral concentra-se, principalmente, nos territórios do Norte (ouro), Sudoeste do estado (magnesita) e Sul (níquel), destaque para a produção de níquel no município de Itagiba no sul do estado a qual iniciou-se em 2009. As mais importantes extrações no estado são referentes ao ferro, ouro, vanádio, níquel e cromo, além desses minérios, há também a participação do cobre, cromo e da magnesita. Dentre todos os estados da região Nordeste, a Bahia é o primeiro colocado na previsão de investimentos para mineração referente ao período 2012-2016, conforme relatório do IBRAM (Instituto Brasileiro de Mineração) no ano de 2013.
O emprego no subsetor de minerais não metálicos, em 1995, estava concentrado no Território da Região Metropolitana de Salvador, com 2.331 empregos formais (36,6% do emprego total desse subsetor na Bahia). Todavia, os territórios que apresentaram maiores QL no estado para esse subsetor naquele ano foram: Sertão Produtivo (14,46), Piemonte Norte do Itapicuru (7,60) e Semiárido Nordeste II (7,51).  Para o ano de 2012, somente o Território Sertão Produtivo apresenta QL superior a 4 para esse subsetor (5,98). Destaca-se o consumo baiano de agregados (areia e pedra britada) que foi, em 2011, o mais representativo da região Nordeste impulsionado pelo crescimento da construção civil nas últimas décadas.
O subsetor de madeira e mobiliária apresentou, em 1995,QL elevado para os Territórios da Costa do Descobrimento, Extremo Sul e Piemonte do Paraguaçu (Tabela 2). No Extremo Sul, por exemplo, o setor de papel e gráfica destaca-se, o que certamente está relacionado à atuação de empresas de grande porte de papel e celulose nessa região, a partir da década de 1990.
O subsetor de borracha, fumo e couro, por sua vez, concentrou-se, em 1995, nos Territórios do Recôncavo e Portal do Sertão, que juntos responderam por quase 48% do emprego desse setor na Bahia.
Pode-se notar, em 1995, que a participação da agricultura na geração de empregos nos Territórios de Identidade localizados no Sul/Sudoeste do Estado (Costa do Descobrimento, Litoral Sul e Médio Sudoeste da Bahia) é superior se comparado à participação desse setor no Estado, o que remete à percepção de que o emprego agrícola centrava-se, especialmente, nessa localidade. De fato, no ano de 1995, somente o Território Litoral Sul respondia por aproximadamente 25% do emprego agrícola do Estado. Mesmo com a crise da cacauicultura nessa localidade, iniciada no final dos anos de 1980, essa atividade ainda apresentava elevada empregabilidade. Todavia, os efeitos da crise da cacauicultura, nos anos subseqüentes, contribuíram para a queda do emprego agrícola na região sul da Bahia, nas últimas décadas, com mais notoriedade.

Na Costa do Descobrimento, a geração de empregos agrícolas deveu-se em grande parte ao eucalipto enquanto no Médio Sudoeste da Bahia, a pecuária, notoriamente, são as atividades mais dinâmicas nos municípios de Itororó, Itapetinga e Firmino Alves, porém as atividades nesses municípios são caracterizadas pela pouca formalidade nos empregos, o que certamente explica a redução do total de empregos.  Acompanha-se que em 1995, o total de empregos gerados na agricultura no Litoral Sul era de 12.651, passando para 11.857 em 2005 e para 8.486 em 2013, ou seja, uma queda de quase 30% se comparado os anos de 1995 a 2013.
 Entre os Territórios analisados, o Sertão de São Francisco apresentou um QL expressivo, em1995, para a agricultura (QL=4,13), devido à fruticultura (manga, uva, melão, etc.), neste caso, o município de Juazeiro é o mais representativo nesse território, devido ao uso amplo de tecnologia desde as mais elaboradas técnicas de irrigação adequadas para o clima da região até as condições de armazenamento das lavouras exportadas, conhecidas como packing houses.Com relação a 2013, o subsetor agrícola destaca-se em relação ao QL, em alguns territórios como o Bacia do Rio Grande e Sertão do São Francisco com QL superior a 4, justificado em grande parte pela irrigação em cultivos agrícolas, com boa empregabilidade (Tabela 2).
No território Itaparica o setor de atividade serviço de utilidade pública chama a atenção, pois se apresenta com expressivos valores de QL, os quais ao longo do intervalo de tempo de 1995 até 2013 vêm paulatinamente tornando-se menos concentrado em relação ao emprego no referido setor.
Nota-se para avaliação sobre a concentração/dispersão do emprego realizada na presente secção os territórios - Vitória da Conquista, Vale do Jiquiriça, Litoral Norte e Agreste, Metropolitana de Salvador e Irecê- não apresentaram QL superior a 4 (quatro) nos anos analisados.

Quanto ao resultado dos coeficientes de localização (CL) chama a atenção o subsetor comercial com distribuição equitativa do emprego nos Territórios de Identidade. No ano de 1995, o CL do comércio varejista, por exemplo, foi de apenas 0,06 passando para 0,09 em 2013. O subsetor relacionado às instituições financeiras também é relativamente desconcentrado entre os Territórios de Identidade, pois seu CL pouco variou ao longo das últimas décadas e alcançou somente 0,08 em 2013 (Tabela 3).
Por outro lado, os subsetores de calçados e agricultura são altamente concentrados alcançando CL de 0,70 em 2013 e o segundo, embora com ligeira desconcentração a partir de 1995, ainda permanece concentrado espacialmente na Bahia. Para esse subsetor, o CL passou de 0,60 em 1995 para 0,53 em 2013. A instalação pontual de fábricas do setor calçadista no Território do Médio Sudoeste da Bahia, por exemplo, e o crescimento do agronegócio no oeste baiano foram determinantes para essa concentração (Tabela 3).

Avaliando a evolução do coeficiente de especialização (CE), observam-se mudanças significativas a partir de 1995. Nota-se que, naquele ano, há uma relativa especialização na região central da Bahia. Para os anos subsequentes, observa-se, no contexto geral, que os Territórios baianos tornaram-se menos especializados (Figura 3). Para o ano de 2013, os Territórios de Identidade com maiores coeficientes de especialização foram: Bacia do Paramirim (0,44), seguido da Bacia do Rio Corrente, Chapada Diamantina, e Médio Sudoeste da Bahia, com (0,43), e do Semiárido Nordeste II (0,41), o que significa dizer que a composição do emprego formal desses Territórios é especializada, podendo estar relacionado somente a um determinado setor ou que a estrutura do emprego é totalmente diversa da estrutura observada na Bahia.
Por outro lado, os Territórios com menores CE, em 2013, foram Vitória da Conquista (0,10), Litoral Norte e Agreste Baiano (0,13), Recôncavo (0,16), Litoral Sul (0,17), Região Metropolitana de Salvador (0,18), significando que o padrão de distribuição do emprego nesses Territórios se assemelha a do estado da Bahia (Tabela 4). Nesses Territórios foi observada certa dispersão do emprego em vários setores de atividade.

O período de 2005/1995 foi o que apresentou, em termos gerais, os maiores coeficientes de reestruturação, significando dizer que os Territórios de Identidade apresentaram mudanças significativas da estrutura de seus subsetores com destaque para indústria de calçados, e elétrico e comunicação (Figura 4).
Para o período de 2010/2005 a redistribuição prevaleceu no setor de borracha, fumo, couros e persistiu na indústria de calçados. Para o período 2013/2010 não se avaliou mudanças significativas no padrão espacial de localização dos subsetores, ressalvas ao valor de CR igual a 0,26 para o setor de calçados.
Dentro do inferido pode-se contextualizar o fato do setor calçadista no estado da Bahia ter sido beneficiado pela política estadual de interiorização dos investimentos produtivos. Em certa medida a sua instalação nesse estado, na década de 90em diante, foi impulsionada pelos incentivos fiscais, principalmente, e pela necessidade de reestruturação do setor decorrente de um ambiente competitivo acirrado, da abertura comercial, com estreitamento de seus espaços de atuação com forte impacto da qualidade dos calçados chineses. Todavia, os coeficientes apontam que essa fase de apogeu da indústria de calçados na Bahia parece não prevalecer nos últimos anos com fechamento de unidades produtivas e conseqüente redução de empregos na Bahia.
No que se refere ao coeficiente de reestruturação (CRe), os Territórios que apresentaram os maiores coeficientes, no período de 2013/1995, foram: Itaparica (0,46), Bacia do Rio de Contas (0,38) e Médio Rio de Contas (0,36), implicando em maiores mudanças estruturais na composição setorial desses Territórios, em comparação aos demais. Esse comportamento é resultado, em grande parte, pelas mudanças que ocorreram no período de 1995 a 2005, podendo estar relacionado à um maior dinamismo produtivo dos Territórios naqueles anos.

Dessa forma, pode-se inferir que o dinamismo regional ocorreu em maior escala no final dos anos de 1990 a 2005 (comparativamente aos demais períodos), corroborando com a participação efetiva de uma política fiscal mais incentivadora nesse período, como por exemplo, as empresas automobilísticas, entre 1996 e 2001, no Brasil, e, na Bahia, destaque para a instalação da Ford, no ano de 1999. Em anos mais recentes, as alterações em nível territorial da estrutura produtiva regional pouco se modificaram.

CONCLUSÕES

O estado da Bahia apresenta importantes disparidades nos seus Territórios de Identidade que podem ser observadas em termos de superfície, produção de riquezas, contingente populacional, entre outros.
A análise territorial nas últimas décadas na Bahia revelou desconcentração do emprego e produção no território Metropolitana de Salvador, com aumento na concentração no Território vizinho, o Portal do Sertão e no Médio Rio de Contas.
Constatou-se o dinamismo dos setores agricultura, calçados e extrativa mineral, o que pode ser observado através dos coeficientes QL, CL e CE, os quais mostraram que os territórios com QL superior a 4 também apresentaram uma especialização nas suas atividades, sendo estes: Bacia do Paramirim, que tem como principal atividade a extrativa mineral; Bacia do Rio Corrente, voltada para a agricultura; Chapada Diamantina (extrativa mineral e agricultura); Médio Sudoeste da Bahia (agricultura e calçados); e Semi-Árido Nordeste II (minerais não-metálicos).
Os dados revelaram também que os subsetores administração pública, comércio varejista e transporte e comunicações apresentaram mudanças significativas em seu padrão espacial de localização, sobretudo no período de 2005/1995, o que pode ser verificado através dos resultados dos coeficientes de redistribuição. De modo similar, observou-se que os padrões nos Territórios de Identidade com relação aos seus subsetores tiveram mudanças significativas no mesmo período (2005/1995). Esses resultados indicam que a Bahia apresentou um contexto espacial de mudanças na dinâmica territorial ao longo das últimas décadas e que essas mudanças ocorreram principalmente no final dos anos de 1990 e início da década de 2000, podendo estar relacionado com a política pública de atração de investimentos na Bahia naquele momento.
Ante as conclusões explicitadas, sintetiza-se que o estudo propiciou um panorama do emprego formal nos Territórios de Identidade da Bahia. Embora, para se pensar em uma análise mais pormenorizada das realidades empíricas de cada território seja também relevante fazer outros tipos de abordagens; focando-se na discussão de dados secundários não só referentes ao emprego formal,como também de dados primários concernentes à atuação das gestões públicas e privadas de cada território analisado no estudo.
Nesse sentido, dado que a análise feita foi para os Territórios de Identidade, é muito significativo, refletir sobre aspectos concernentes à adequação ou não da vocação de cada  territórios para as respectivas atividades produtivas desenvolvidas, e sobre a existência das possibilidades de atração de fatores de produção e capitação técnica e empresarial necessárias ao local. Apenas elencando todas essas informações, poderia se trazer uma interpretação sobre a espacialização produtiva nos territórios de identidade da Bahia, além da análise de indicadores realizada.

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1Decreto publicado no Diário Oficial do Estado no dia 26 de agosto de 2010.

2Atualmente, os 27 Territórios de Identidade na Bahia são: 1) Irecê; 2) Velho Chico; 3) Chapada Diamantina ; 4) Sisal; 5) Litoral Sul;  6) Baixo Sul; 7) Extremo Sul; 8) Médio Sudoeste da Bahia; 9) Vale do Jequiriça; 10) Sertão do São Francisco; 11) Bacia do Rio Grande; 12) Bacia do Paramirim 13) Sertão Produtivo; 14) Piemonte do Paraguaçu; 15 ) Bacia do Jacuípe; 16) Piemonte da Diamantina; 17) Semiárido Nordeste II; 18) Litoral Norte e Agreste Baiano; 19) Portal do Sertão; 20) Vitória da Conquista; 21) Recôncavo; 22) Médio Rio das Contas; 23) Bacia do Rio Corrente; 24) Itaparica (BA/PE); 25) Piemonte Norte do Itapicuru; 26) Metropolitana de Salvador e 27) Costa do Descobrimento.

3Na literatura é recorrente para estudos com a utilização de QL adotar o critério de existência de especialização produtiva quando seus valores são superiores a unidade.  Todavia, a heterogeneidade dos setores da atividade produtiva, faz com que haja diversos setores econômicos com QL acima da unidade, indicando, desse modo, que há diferenciação produtiva, porém não se garante a existência de concentração dessas atividades, de acordo com Croccoet al (2003) apud Lima e Simões (2010). Nessa visão, o ponto de corte para determinar se uma região possui especialização deveria ser significativamente acima de 1(um). De acordo com esses autores, o QL sobrevaloriza qualquer diferenciação interna, mesmo em estruturas pouco diversificadas; e o contrário ocorre em escalas territoriais mais amplas, ou seja, a intensa diversificação interna subvaloriza a importância dos setores que apresentam indicadores pouco expressivos.


Recibido: 12/01/2016 Aceptado: 15/03/2016 Publicado: Marzo de 2016

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