CONSERVAÇÃO IN VITRO E EX SITU E VALORIZAÇÃO DE ENDEMISMOS IBÉRICOS DAS APIACEAE PORTUGUESAS

Ana Cristina Pessoa Tavares dos Santos

Endemismos ibéricos representados em Portugal

A Península Ibérica, com cerca de 600.000 km2, está separada da maior parte da Europa pela cadeia montanhosa dos Pirenéus, limitada pelo Oceano Atlântico (N, W e SW) e pelo Mar Mediterrâneo (S e E). A península é caracterizada por uma flora muito rica em plantas vasculares (Lobo et al., 2001; IUCN, 2011), que engloba cerca de 8.000 espécies e subespécies de plantas vasculares nativas e naturalizadas, representando um dos 34 hotspots de biodiversidade mundial (CI, 2012), como já foi referido. Inclui ainda mais de 1.200 espécies e subespécies endémicas de plantas vasculares, o que representa cerca de 15 % da flora total da Península Ibérica (Parker, 1981; Gimenéz et al., 2004; Almeida et al., 2007; Bilz et al., 2011).
A família das Apiaceae é muito diversa e a Flora Ibérica descreve 83 géneros (Castroviejo et al., 2003), sendo 107 espécies representadas em Portugal Continental (Aguiar, 2012). Esta Flora, uma das mais recentes e conceituadas na Europa (Bergmann et al., 2010), engloba as regiões geográficas de Espanha Continental, ilhas Baleares e Portugal Continental. Considera 62 taxa endémicos para as Apiaceae, dos quais 48 são endemismos exclusivos de Espanha, 13 comuns aos dois países e 14 endémicos de Portugal Continental (Castroviejo et al., 2003).
Os endemismos desta família em Portugal estão representados ainda por 12 endemismos insulares, podendo citar-se como exemplo o género Melanoselinum Hoffman, um dos cinco taxa de Apiaceae endémicos do arquipélago da Madeira (Aguiar et al., 2004) e os endemismos Daucus carota subsp. azoricus, Angelica lignences, Sanicula azoricae Chaerophyllum azoricum, de entre sete taxa Apiaceae endémicos do arquipélago dos Açores (ALFA, 2010; Corvelo, 2010).
As Apiaceae da Península Ibérica estão representadas em Portugal Continental por 14 taxa endémicos, a saber: Angelica major Lag., Angelica pachycarpa Lange, Bunium macuca Boiss.subsp. macuca, Conopodium majus (Gouan) Loretsubsp. marizianum (Samp.) López Udias & Mateo, Conopodium subcarneum (Boiss. & Reut.) Boiss. & Reut., Daucus carota L. subsp. halophilus (Brot.) A. Pujadas, Distichoselinum tenuifolium (Lag.) García Martín & Silvestre, Eryngium duriaei J. Gay exBoiss., Eryngium galioides Lam., Ferula communis L. subsp. catalaunica (Pau ex C. Vicioso) Sánchez Cuxart & Berna, Ferulago capillaris (Link ex Spreng.) Cout., Laserpitium eliasii Sennen & Pausubsp. thalictrifolium (Samp.) P. Monts., Seseli montanum L.subsp. peixotoanum (Samp.) M. Laínz, Thapsia minor Hoffmanns. & Link. Um taxon é exclusivamente português (Daucus carota subsp. halophilus), enquanto 13 são comuns a Portugal e Espanha, sendo os 14 taxa objeto de estudo deste trabalho (Tabela 1, ver secção 2.1.).
Com base na Flora Ibérica, as cinco espécies endémicas mais vulneráveis ​​em Portugal continental, com uma área de distribuição mais restrita e portanto com prioridade para a conservação são: Angelica pachycarpa (Estremadura-Ilhas Berlengas), Daucus carota subsp. halophilus (Algarve e Baixo Alentejo), Bunium macuca subsp. macuca (Alto Alentejo), Distichoselinum tenuifolium (Algarve) e Seseli montanum subsp. peixotoanum (Trás-os-Montes e Alto Douro) (Parker, 1981; Castroviejo et al., 2003).
Dados recentes (Bilz et al., 2011) mostram que mais de 50 taxa desta família consta do Apêndice 2 da Lista Vermelha das plantas vasculares de 27 estados membros da União Europeia. Sete dos onze géneros a que pertencem as plantas endémicas em estudo constam da mesma lista: Seseli, Laserpitium, Ferula, Eryngium, Bunium, Angelica e Daucus; Eryngium galioides vem referenciada como LC - pouco preocupante - e Daucus halophilus, o taxon endémico exclusivo de 3 províncias portuguesas (Pujadas, 2003a; 2003b), está indicado como DD - informação insuficiente (Bilz et al., 2011).
Alguns dos géneros a que pertencem estas plantas endémicas são utilizados na alimentação, como a cenoura, e a maioria na medicina popular, para o tratamento de uma ampla gama de infeções, sendo Angelica, Bunium, Daucus, Eryngium, Seseli e Thapsia mais frequentemente utilizados (Castroviejo et al., 2003).
Daucus carota subsp. carota, designada “laço da rainha Anne” na América do Norte, onde é considerada uma planta invasora, é uma forma selvagem de D. carota e será o ancestral da cenoura domesticada, a subespécie sativus, a única forma cultivada com importância a nível mundial (Rong et al., 2010).
Nove subespécies de D. carota são descritos para a Península Ibérica (Castroviejo et al., 2003), sendo cinco subespécies representadas em Portugal Continental, onde apenas quatro são nativas: D. carota L.subsp. carota; D. carota L.subsp. maximus (Desf.) Bal; D. carota L. subsp. gummifer Hook (Syme)e D. carota L. subsp. halophilus (Brot.) A. Pujadas.
Assim, para além da subespécie cultivada (subsp. sativus) e as nativas, subespécie carota e o já referido endemismo D. carota subsp. halophilus, existem em Portugal Continental outras duas subespécies nativas (subsp. gummifer e subsp. maximus), sendo muito importante conseguir a distinção clara entre os taxa. Esta não é uma tarefa fácil quando baseada apenas na análise das características morfológicas, que apresentam alguma complexidade, o que ocorre, geralmente, em todas as Apiaceae.
Na verdade, a caracterização molecular da diversidade de plantas é uma ferramenta importante para identificação dos taxa, fator também relevante ao nível industrial, pois tem um grande potencial para melhorar a eficiência da reprodução das plantas cultivadas (Bradeen et al., 2002), estando atualmente em curso estudos que visam identificar polimorfismos da cenoura (Iorizzo ​​ et al., 2011).
Conforme referimos, a morfologia da família Apiaceae é muito variada. No entanto, Eryngium é um género interessante, pois distingue-se de outras Apiaceae pelas suas inflorescências capitadas rodeadas por brácteas e pela presença de uma única bractéola por flor. Dados da dispersão e análises de vicariância indicaram que os candidatos mais prováveis ​​para a sua origem são subgéneros do Mediterrâneo Ocidental: Eryngium subgen. Eryngium e Eryngium subgen.Monocotyloidea (Calvino et al., 2008). O primeiro taxon inclui todas as espécies do Velho Mundo (África, Europa e Ásia), enquanto o segundo inclui todas as espécies do Novo Mundo (Norte, Central e América do Sul e Austrália). No entanto, como salientado pelo Calviño et al. (2008; 2010) a interpretação da história evolutiva de Eryngium permanece extremamente difícil, uma vez que combina vários processos complexos, tais como radiações rápidas e evolução reticulada e dispersões de longa distância.
Vinte e seis espécies de Eryngium são referidas na Flora Europeia (Tutin et al., 1968) e dezasseis estão descritas para a Península Ibérica (Castroviejo et al., 2003), das quais setesão comuns aos dois países. A espécie E. pandanifolium só está referenciada em Portugal, onde estão presentes dois endemismos ibéricos: Eryngium duriaei J. Gay exBoiss. e  Eryngium galioides Lam.(Castroviejo et al., 2003; Nieto Feliner, 2003; Gimenez et al., 2004).
Eryngium duriaei é um espécie herbácea, polinizada por insetos, caracterizada por ter x = 8, como número base de cromossomas mais comum, embora números mais baixos (e.g., x = 5-7) também tenham sido relatados (O'Leary et al., 2004), bem como diferentes níveis de ploidia ao nível do género (Perthuy et al., 2010). Várias espécies de Eryngium foram previamente estudadas quanto à química, diversidade e propriedades de seus óleos essenciais (Ayoub et al., 2003; 2006; Pala-Paul et al., 2005; 2010; Cavaleiro et al., 2011; Darriet et al., 2012).
Como outras Apiaceae, Eryngium duriaei é uma espécie aromática cujos óleosessenciais podem ter algumas aplicações práticas. No entanto, os dados disponíveis sobre a composição e atividade biológica de óleos essenciais de E. duriaei são escassos. Além disso, informações sobre as diferentes populações relatadas em Portugal são bastante limitadas e existem dúvidas sobre as relações ao nível taxonómico. De facto, Jansen (1998) e Nieto Feliner (2003) apontam algumas diferenças morfológicas entre as populações ibéricas de Eryngium duriaei.
Os metabolitos secundários como óleos essenciais, podem ser considerados como marcadores biológicos (Nogueira et al., 2008; Sena Filho et al., 2010), bem como a variação do genoma de DNA (Loureiro et al., 2007a, b; Sunnucks, 2010) e a análise química, para certificar a identificação de espécies morfologicamente semelhantes (Pala-Paúl et al., 2010; Paul et al., 2011).
Esta questão é especialmente relevante para o estudo de espécies endémicas, restritas a populações de habitats muito limitados e particulares (Qiu et al., 2004), onde estes marcadores químicos representam uma ferramenta poderosa e abrangente. Não só podem contribuir para controlar e manter o controlo de qualidade na extração dos metabolitos secundários, por exemplo, os óleos essenciais para utilização em aplicações medicinais, como podem ajudar na identificação taxonómica de espécimes de plantas.

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