PROCESSOS DE MUDANÇA, TURISMO E DESENVOLVIMENTO RURAL: AS ALDEIAS DO XISTO DO CONCELHO DE GÓIS E O PAPEL DA LOUSITÂNEA

PROCESSOS DE MUDANÇA, TURISMO E DESENVOLVIMENTO RURAL: AS ALDEIAS DO XISTO DO CONCELHO DE GÓIS E O PAPEL DA LOUSITÂNEA

Luiz Rodolfo Simões Alves (CV)
Universidade de Coimbra

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A incidência das intervenções nas Aldeias do Xisto

A avaliação da intervenção do Programa das Aldeias do Xisto nas quatro aldeias do concelho de Góis, e após o distanciamento temporal necessário para poder discernir os aspetos em análise (já passaram mais de dez anos desde o início das intervenções), permite referir que, num primeiro exercício retrospetivo, o balanço é bastante positivo e que, sem sombra de dúvidas, se não fossem as intervenções realizadas estaríamos perante um cenário de abandono (refletido no despovoamento) quase completo destes quarto lugares serranos que teria, inevitavelmente, um forte impacto na manutenção e preservação de todo o(s) património(s) emanado e conservado por estes lugarejos que tão bem representam os povos serranos da Serra da Lousã.
No que concerne ao impacto que as intervenções realizadas tiveram nas populações que habitam estas aldeias, há a salientar um aumento muito significativo da qualidade de vida das pessoas, uma vez que, este Programa, tornou possível o abastecimento de água canalizada nas habitações (facto que, até então, não abrangia todos os habitantes), melhorou a rede de energia elétrica e de telecomunicações. Possibilitou, ainda, a construção de alguns equipamentos de apoio, como seja exemplo, bancos de jardim, passeios requalificados, construção e identificação dos percursos pedestres, melhorias na rede de resíduos sólidos, entre outros.
Numa outra perspetiva, no que diz respeito ao impacto visual das obras efetuadas, há a salientar alguma sobriedade nas requalificações, mantendo os materiais originais da região. Porém, em algumas intervenções, as madeiras exóticas utilizadas para a construção de portas e janelas (que dão um “toque” em tons de laranja) afasta-se, um pouco, das caraterísticas históricas destes locais, que utilizavam, por norma, madeira de carvalho ou castanho para o mesmo efeito. Em algumas outras intervenções, não se privilegiou a recuperação das fachadas com xisto, na sua totalidade, tendo sido utilizado cimento, posteriormente pintado, criando um corte com a estrutura tradicional e com as demais habitações das aldeias.    
Já tivemos oportunidade de, anteriormente, fazer uma leitura global às intervenções executadas aquando da implementação do Programa das Aldeias do Xisto (2000-2006) nos vinte e quatro lugares que compunham a Rede das Aldeias do Xisto, sendo, agora, pertinente, analisar com maior pormenor a incidência do mesmo Programa nas quatro Aldeias do Xisto do concelho de Góis (Anexo I).
Analisando o total dos investimentos executados por aldeia (Tabela 19) podemos constatar que, do total dos 1.381.469,48 milhões de euros executados no concelho de Góis (o correspondente a 10,34% do investimento total executado nas vinte e quatro Aldeias do Xisto), a aldeia de Aigra Nova foi a que teve a maior percentagem do montante global investido, com 37,15% (correspondentes a mais de 513 mil euros), seguindo-se a aldeia da Pena com 34,2% do montante global executado (com mais de 472 mil euros), somando estas duas Aldeias do Xisto 71,35% do total de investimento executado pelo Programa das Aldeias do Xisto em Góis, correspondentes a 985.667,15 mil euros. Por sua vez, os restantes 28,65% de investimento foram destinados à Comareira, com 16,27% (ou seja, com quase 225 mil euros) e 12,38% do investimento global executado na Aigra Velha, num valor de investimento que ultrapassa os 171 mil euros.
 Relativamente à distribuição do investimento executado, segundo as tipologias/categorias de intervenção (Tabela 20), no global do concelho de Góis destacam-se as intervenções realizadas em imóveis particulares com mais de 441 mil euros (31,93% do total). Por sua vez, as infraestruturas (20,70%, correspondentes a 286 mil euros) e os espaços públicos (19,26%, equivalente a mais de 266 mil euros), considerados de modo isolado, ou de forma conjugada (16,88%, totalizando mais de 233 mil euros), foram responsáveis por mais de 88,77% do investimento (ou seja, 1.226.338,24 milhões de euros). Por fim, com o menor valor do total de investimento executado, surgem as intervenções realizadas em imóveis públicos, com 11,23% do investimento total (correspondentes a mais de 155 mil euros).
Analisando o investimento realizado em cada uma das aldeias por habitante permite-nos retirar algumas conclusões interessantes. Numa análise quantitativa e poderemos considerar que os investimentos poderiam ter sido excessivos e com pouco cabimento tendo em conta a relação investimento/número de beneficiários.
De facto, em termos médios, foi executado no concelho de Góis um investimento de mais de 31 mil euros por habitante (correspondente a 1.381.469,48 milhões de euros pelos 44 habitantes nas quatro Aldeias do Xisto, em 2001). À escala de análise por aldeia podemos apurar que a Aigra Nova é a que apresenta o valor mais elevado de investimento por habitante, com mais de 64 mil euros executados por habitante, seguindo-se as aldeias de Comareira e Aigra Velha, com intervenções superiores a 37 mil euros e 34 mil euros por habitante, respetivamente. Por fim, a aldeia da Pena é a que apresenta o valor de investimento executado por habitante mais baixo do concelho de Góis, com quase 19 mil euros por habitante (fruto de ser aquela que apresenta maior índice populacional). Em todo o caso, como termos oportunidade de verificar mais à frente, não nos podemos cingir a uma análise meramente quantitativa e fundamentada na análise dos valores investidos aquando da implementação do Programa, sendo sim, fundamental, perceber qual o retorno e aproveitamento feito dos investimentos realizados há cerca de uma década atrás, através de uma análise integrar os vários elementos que nos permitam chegar a uma avaliação crítica, atenta, completa e abrangente dos múltiplos aspetos que compõe estas quatro aldeias, de forma a perceber com a clarividência necessária qual o impacto e o retorno para todos dos quase 1,4 milhões de euros investidos nas Aldeias do Xisto do concelho de Góis.   
A concretização das várias intervenções e dos vários projetos decorrentes da implementação do Programa das Aldeias do Xisto permitiu às populações um aumento muito substancial da sua qualidade de vida, pelo acesso a bens tão básicos como a água canalizada, o sistema coletivo de rede de esgotos, a recuperação de fachadas e coberturas das suas habitações até então bastante degradadas. Permitiu, ainda, beneficiarem e acederem a equipamentos coletivos de que não dispunham, terem melhores acessibilidades, usufruírem de melhores condições para a prática de atividades lúdico-desportivas, entre outras.
Na atual fase, com a implementação do PROVERE Rede de Aldeias do Xisto Numa, as aldeias do concelho Góis inseridas na Rede terão um total de 24 projetos apoiados, num montante global de investimento que ascende aos 8.134.668 milhões de euros, alocando o concelho de Góis 5,9% do total de projetos aprovados e 5,6% do financiamento global aprovado, para o período compreendido entre 2007 e 2013.

Aigra Nova

“Na pequena bacia hidrográfica criada pela Ribeira do Mouro, os habitantes fundadores do povoado aproveitaram uma pequena saliência, de contornos muito suaves, da sua encosta mais soalheira. A escolha deste local está diretamente ligada com a existência de uma nascente na sua parte superior, com o declive ameno na sua envolvente que permite as práticas agrícolas e com proximidade dos pastos nas maiores altitudes da serra onde apascentam os gados” (Figura 77) (A. Carvalho; 2013:46).
A aldeia, situada a 615 metros de altitude, é constituída por uma malha urbana simples, correspondendo a um acesso que no início da aldeia se divide em três pequenas ruas que a atravessam e se encontram na saída pelo acesso do lado oposto. O material de construção predominante é o xisto, estando algumas construções rebocadas, notando-se, ainda, um ou outro bloco de quartzito nas paredes das habitações. As padierias das portas são, em geral, de madeira de carvalho ou castanho. As construções possuem um ou dois pisos, sendo que, na esmagadora maioria dos casos, o primeiro piso se destina a habitação e, o piso inferior, a espaços de arrumos ou lojas (em outros tempos os pisos térreos dos imóveis eram destinados ao acolhimento dos gados).
Quanto à etimologia da toponímia desta aldeia, Aigra é um topónimo algo comum em Portugal. Originário do termo clássico em latim ager que evoluiu para agra (como surge na cartografia oficial de 1886 ‒ Agra Nova) que tem como significado “campo” ou “quinta”.
Armando Carvalho (2013), citando Viterbo (1798), aponta, também, a possibilidade de acra ou acrus que significa uma porção de terreno que os servos ou escravos deviam cultivar. No “Cadastro da População do Reino (1527)” consta no termo da Villa de Goys a existência da então denominada hegra fumdeyra, onde viviam quatro moradores. O nome de Aigra Nova terá surgido após uma designação como aigra fundeira respeitante a quinta ou a um novo campo de cultivo que foi instalado em altitude inferior, quando comparado com a existência de outra aigra (Aigra Velha). Localmente o nome é tido como originário de acrum que tem o sentido de áspero, amargo, duro, difícil em referência às condições de trabalho e vida no local.
A população residente permanente é, em 2013, de 4 pessoas (2 indivíduos de cada um dos sexos), a estrutura etária está fortemente envelhecida (o habitante mais novo tem 48 anos de idade) e o despovoamento é outra das marcas neste lugar.
No que concerne ao edificado, esta aldeia, tem um universo de 50 imóveis, num património construído com caraterísticas tipicamente rurais, baseados em materiais e métodos de construção tradicionais. Em termos de pisos que compõem os edifícios, com exceção dos espaços destinados a garagem, anexos, arrecadações, telheiros, fornos e eira, bem como dos edifícios em ruínas, todo o edificado apresenta dois pisos, sendo que, na maior parte dos casos, o piso superior destina-se a função de habitação e, o piso inferior, a espaço de arrecadação ou lojas (sendo que, como já foi mencionado, noutros tempos os pisos térreos das habitações eram, também, utilizados como currais).
Na Aigra Nova predomina a utilização/função (Anexo IV) destinada a habitação com 42% dos usos (com um total de 21 imóveis); as estruturas dedicadas ao acolhimento de gado e da sua alimentação (currais e palheiros) com 9 edifícios (18% do total); 6 infraestruturas (correspondente a 12% do total construído), como sejam a casa de banho pública, os depósitos de abastecimento de água, o tanque utilizado para rega, o “palco” situado no largo à entrada da aldeia (no Largo da Fonte) e, ainda, o depósito de águas residuais. Por sua vez, os Núcleos integrantes do Núcleo Sede do Ecomuseu “Tradições do Xisto” ocupam cinco estruturas nesta aldeia, o correspondente a 10% do edificado da Aigra Nova ‒ o mesmo sucede com as construções destinadas anexos, telheiros e garagens. Por fim, os três fornos e uma eira representam 8% do edificado existente, sendo que, o alojamento coletivo é o que representa menor peso na utilização/função dos imóveis, com apenas uma estrutura destinada para esse fim, representando cerca de 2% da utilização do património construído.
Neste aglomerado rural caraterizado, socialmente, por uma população envelhecida, a classificação das habitações quanto ao tipo de ocupação (Anexo V) revela que predominam os edifícios devolutos (52,38%, correspondentes a um total de 11 edifícios), como sinal do forte despovoamento que marca a Aigra Nova; destacando-se, também, as ocupações periódicas (33,33%, com 7 habitações), fruto do número significativo de pessoas que, habitualmente, costumam passar os fins de semana, períodos de férias e épocas festivas na aldeia onde têm as suas raízes genealógicas (e, na sua grande maioria, com residência fixa na área da Grande Lisboa); e, por fim, os espaços de habitação permanente, que representam, apenas, 14,29% do total do edificado destinado a habitação, com um total de três casas, pertencendo duas delas à mesma família.
O estado de conservação (Anexo VI) do edificado é, na generalidade bom havendo, também, um número ainda considerável de edifícios em ruína. Com efeito, 76,6% do edificado está em bom estado de conservação, 19,15% encontra-se em ruínas (Figura 78) e, por fim, 4,26% do edificado da Aigra Nova encontra-se em mau estado de conservação.
Dentro do grupo dos edifícios em mau estado são, na grande maioria, currais e arrecadações (ou utilizados como tal) em que os proprietários não vêm necessidade de os recuperar, dado o seu uso. Os imóveis em bom e razoável estado de conservação são os habitados, em que o proprietário faz a sua manutenção. Analisando os dados quanto ao estado de conservação dos imóveis antes da intervenção do Programa das Aldeias do Xisto (mediante a informação que consta nos Planos de Aldeias das Aldeias do Xisto do concelho de Góis) podemos verificar que as alterações foram muito significativas. Antes da intervenção do referido Programa apenas 8,6% dos edifícios (4 estruturas) se encontravam em bom estado de conservação. Por outro lado, 6 edifícios (15,2%) tinham o seu estado de conservação classificado como razoável; 45,6%, correspondente a 19, em mau estado de conservação e, por fim, 30,4% dos imóveis (14 no total) estavam em ruína.
Após as intervenções realizadas com o Programa das Aldeias do Xisto, podemos constatar que o número de edificações que foram intervencionadas pelo Programa e o total de edificações que não foram intervencionadas é muito semelhante. Assim, 58% do edificado da Aigra Nova (29 imóveis) foram alvo de intervenção. Ao invés, 42% dos imóveis (o correspondente a 21 edificações) não foram alvo de qualquer tipo de intervenção (Anexo VII).
Numa outra vertente, tentámos perceber a origem dos proprietários dos imóveis que compõem o edificado da aldeia em análise (Anexo VIII). Assim, constatamos que a grande maioria, 91,1% dos imóveis da Aigra Nova são propriedade de autóctones, ou seja, de pessoas que têm as suas raízes na aldeia. Por outro lado, os alóctones (pessoas sem qualquer vínculo familiar ou genealógico a este lugar) representam cerca de 6,7% do total dos proprietários (3 pessoas) sendo que, quanto à sua origem, são oriundos do concelho da Lousã, de Inglaterra e da Holanda. O Município de Góis é proprietário de um imóvel nesta aldeia (que representa 2,2% do edificado da Aigra Nova), correspondendo ao imóvel onde está sediado o Núcleo Sede do Ecomuseu “Tradições do Xisto”.
Por fim, analisando se a propriedade dos imóveis sofreu alterações desde de 2002 (data do início das intervenções nas Aldeias do Xisto do concelho de Góis) (Anexo IX), constatamos que a grande maioria do edificado, cerca de 88,9%, não registou mudança de proprietário sendo que, por outro lado, 11,1% dos imóveis (5 no total) tiveram uma mudança de propriedade. Dos cinco imóveis com mudança de propriedade, três continuaram na posse de autóctones, um passou a ser propriedade de um cidadão de nacionalidade inglesa e, por fim, um outro passou a ser propriedade do Município de Góis. Importa, ainda referir que, nesta aldeia existem duas edificações à venda (parcilamente recuperadas), estado o seu preço de compra fixado em 25.000 euros e 75.000 euros, respetivamente.    
Antes da intervenção do Programa das Aldeias do Xisto, os arruamentos da aldeia da Aigra Nova encontravam-se, na sua maioria, revestidos a betuminoso, sendo os acessos diretos às áreas agrícolas em terra batida. A maior parte dos arruamentos estavam em bom estado de conservação e os acessos às áreas agrícolas, em mau estado de conservação. Com a intervenção realizada no decurso do Programa, os arruamentos passaram a ser revestidos por calçada de granito, contrariando a opção que seria mais adequada e que foi aplicada em algumas Aldeias do Xisto de outros Municípios: xisto ao cutelo (proposta que também constava nos Planos de Aldeia elaborados para as Aldeias do Xisto do concelho de Góis).
A nível das infraestruturas, a equipa que trabalhou no terreno considerou que estas marcavam os espaços da aldeia pela negativa. Assim, consideravam que a Aigra Nova, aldeia de serra, localizada a meia encosta sofria, tal como as outras, por serem invadidas por postes e fios que, em tempos, eram admirados pelas mais-valias que traziam aos sítios (por significarem o tão desejado acesso à energia elétrica). Porém, consideraram tais infraestruturas primárias (e quando avaliadas pelo seu aspeto estético) desajustadas. Daí a preocupação de dotarem a aldeia (e outras), para além de mais infraestruturas de apoio às necessidades das populações (de mais conforto e exigência), acompanhando-as de algum cuidado na sua inserção, para que resulte uma imagem urbana harmoniosa tendo, assim, optando por instalação de postes de iluminação pública mais discretos e enquadrados na envolvente da aldeia sendo que, todos os fios de ligação entre postes de energia elétrica e de telefone foram instalados no subsolo. 
Nos Planos de Aldeia constavam, também, propostas de intervenção para cada um dos lugares. Assim, para a Aigra Nova, o Plano de Aldeia propunha a recuperação de um edifício em avançado estado de degradação, pertencente à Associação de Melhoramentos das Aigras, Comareira e Cerejeira, para instalação da sua sede e ao mesmo tempo que funcionasse como loja de venda de produtos regionais. Para além de uma cozinha e de uma sala de convívio com bar de apoio, deveria ser criada uma sala polivalente que permitisse a montagem de exposições temporárias sobre temas do mundo rural.
Propunha-se, em simultâneo, a recuperação de um forno a lenha adjacente à Casa de Convívio, capaz de permitir a confeção de pratos regionais, como por exemplo cabrito assado, chanfana e broa de milho.
Procurando dar resposta a um anseio antigo não só da população desta aldeia como das três restantes, foi proposta a construção de uma pequena ermida de evocação à Nossa Senhora da Boa Viagem, no sítio denominado Cabeço da Eira em terreno cedido por Adelaide Jesus Nunes (obra esta que nunca chegou a ser executada, ao contrário das mencionadas anteriormente).
De forma a enquadrar melhor, no seio da arquitetura tradicional desta região, uma construção já existente de instalações sanitárias públicas (para ambos os sexos), foi proposto o revestimento das suas paredes exteriores de alvenaria de tijolo, com alvenaria de xisto não tendo, porém, passado da fase de proposta.
Já no que concerne às infraestruturas, nomeadamente no que diz respeito à rede de distribuição elétrica, iluminação pública e telefónica, rede de saneamento, rede de abastecimento público de água, rede de drenagem de águas pluviais, bocas de incêndio, as intervenções propostas foram todas realizadas, sendo a sua implementação visível em toda a aldeia.
A proposta efetuada pelo Gabinete Técnico Local, que teve a seu cargo a preparação e implantação do Programa das Aldeias do Xisto, previa intervencionar um total de 45 imóveis, classificados por três tipologias de intervenção: 3 de grau 11 , 29 de grau 22 , e 13 de grau 3 3 (Figura 79 e Figura 80).       
A equipa técnica do Município de Góis apresentou, com maior profundidade e pormenor, a intervenção em quatro espaços de domínio público e que seriam de elevada importância na requalificação da aldeia, na valorização dos seus espaços públicos e na capacidade de proporcionar aos habitantes da Aigra Nova, e aos possíveis frequentadores da aldeia (turista, visitantes, entre outros), uma melhor qualidade de vida e de acesso a espaços de lazer e de reunião coletiva.
            Relativamente à Casa de Convívio4 (Figura 81), a proposta visava a recuperação integral das paredes exteriores. No edifício de habitação foram demolidas todas as paredes interiores, quer as de alvenaria de pedra quer as de tabique. Propunha-se a instalação neste imóvel de uma Casa de Convívio, com bar, vocacionada para a ocupação de tempos livres dos residentes locais (Figura 82). Em paralelo com esta atividade foi proposta a elaboração de pequenas mostras de artesanato e produtos locais de forma a permitir o convívio com os visitantes deste.
O piso térreo é composto por uma cozinha, que serve de apoio para a confeção de refeições, de uma sala com lareira (recuperador de calor) e de umas instalações sanitárias para ambos os sexos.
O acesso ao piso superior efetua-se através de uma escada interior revestida a madeira de câmbala. Este piso foi revestido com soalho de madeira de câmbala. Sobre o espaço da cozinha foi criado um terraço com acesso pelo salão superior (destinado à implementação do bar/sala de convívio). Com uma área bruta de intervenção de 119,82 m2, a recuperação deste edifício teve um custo estimado de 91.251 euros.
A segunda proposta visava uma intervenção a realizar no Cabeço da Eira (que, até ao momento, não foi concretizada). A proposta de intervenção para este largo deveria incluir a instalação de um equipamento, uma ermida, que tivesse a capacidade de funcionar como um ponto focal. Com uma área de intervenção bruta de 240 m2, a concretização desta proposta teria um custo previsto de 2.500 euros.
A terceira proposta elaborada consagrava uma intervenção a realizar no Largo da Fonte (Figura 83), espaço identificado como estratégico por simbolizar o principal ponto de chegada e de entrada na Aigra Nova. Dada a sua localização estratégica, estaria proposto adaptá-lo à função de estacionamento com espaço amplo de manobra. A garagem existente passaria a ter uma implantação mais recuada, e o edifício seria alvo de um tratamento exterior em pedra de xisto aparente, porta em madeira, tratada e encerada à cor natural, e cobertura em telha canudo, tal como é caraterístico da região. Para tirar partido da sua localização, à direita de quem entra, projetou-se um pequeno largo com um banco e uma papeleira, mantendo-se as espécies arbustivas existentes, bem como a construção de um espaço destinado para atuações, de ranchos folclóricos, por exemplo, em festividades (palco) (Figura 84). A área bruta de intervenção da proposta realizada era de 630 m2, e a concretização desta proposta teria um custo estimado de 7.800 euros.
A última proposta apresentada propunha a realização de uma intervenção no Largo da Quintã (Figura 85) salientando o seu papel de centralidade no tecido urbano da Aigra Nova, e garantindo-lhe uma identidade própria. Para assumir a função de espaço de estadia, falta-lhe algo que atraia, receba e acomode convenientemente e confortavelmente os residentes e potenciais utentes. Pretendia-se conceder a este largo uma variedade de espaços de estar, de passagem e de permanência, mediante a instalação de um banco, com a integração de um novo chafariz em substituição de dois existentes, de um bebedouro, concedendo um enquadramento geral com todos os elementos introduzidos, bancos, floreiras e papeleiras. A área bruta de intervenção da proposta rondava quase 400 m2, e a concretização desta proposta teria um custo previsto de 5.500 euros.  
Em síntese, para a Aldeia do Xisto de Aigra Nova, o Gabinete Técnico Local definiu as seguintes intervenções: imóveis particulares (arranjo de fachadas; arranjo de coberturas, instalação de cercas); imóveis públicos (instalação de casa de convívio/venda de produtos locais/bar; melhoria de wc público; construção de ermida); espaços públicos (requalificação do Largo da Quintã; requalificação do Cabeço da Eira, requalificação do Largo da Fonte; remoção de betuminoso/assentamento de calçadas; colocação de placas toponímicas (ruas e largos); colocação de placas toponímicas (nome da aldeia); infraestruturas (melhoria da iluminação pública e reformulação da rede de distribuição elétrica; reformulação da rede telefónica, melhoria da rede de abastecimento de água; instalação de drenagem e tratamentos de águas residuais; instalação da rede de drenagem de águas pluviais; instalação de três bocas de incêndio com kit de mangueira extensível).
O Programa de Aldeia definido para a Aigra Nova apresentava custos totais previstos cifrados em 527.841,87 euros. Do total previsto, 139.705.28 euros estavam destinados para as invenções a realizar nos 37 imóveis particulares que se previa intervencionar, correspondendo 95.561,98 euros para a reparação de fachadas e 44.143,30 euros para a recuperação de coberturas. No referido plano previa-se, ainda, um custo total de 94.640 euros para intervenções a realizar em espaços públicos.
Aldeia do Xisto desde 2002, a Aigra Nova integra o grupo das Aldeias do Xisto da “1ª. geração”, aquelas que constituem a Rede desde o início da sua criação, aquando da implementação do Programa das Aldeias do Xisto. Desde a implementação do referido Programa a aldeia sofreu uma alteração significativa, fruto das intervenções realizadas e da requalificação preconizada.   
A análise do investimento executado pelo Programa das Aldeias do Xisto (de acordo com os documentos oficiais que já foram mencionados e analisados em pontos anteriores) permite aferir que as intervenções preconizadas na Aigra Nova revelam um investimento médio de 64.156,9 mil euros por habitante, sendo que, esta aldeia teve uma intervenção profunda com a implementação do Programa das Aldeias do Xisto, num investimento global que rondou os 513.255,33 mil euros, correspondentes a 37,15% do total investido no concelho de Góis e 3,84% do investimento total executado nas vinte e quatro Aldeias do Xisto.
Relativamente à distribuição do investimento executado, segundo as tipologias/categorias de intervenção, na Aigra Nova destacam-se as intervenções realizadas em imóveis particulares com mais de 144 mil euros (28,23% do total) (Figura 86). Por sua vez, as infraestruturas (25,40%, correspondentes a mais de 130 mil euros) e os espaços públicos (27,30%, equivalente a 140 mil euros), considerados de modo isolado, ou de forma conjugada (1,26%, totalizando mais de 6 mil euros), foram responsáveis por mais de 53,97% do investimento (ou seja, 277.002,13 mil euros). Por fim, com o menor valor do total de investimento executado na Aigra Nova, surgem as intervenções realizadas em imóveis públicos, com 17,80% do investimento total, ou seja, o correspondente a 91.364,57 mil euros).
Particularizando as intervenções efetuadas (e que já foram mencionadas por figurarem no Plano de Aldeia elaborado), na aldeia de Aigra Nova, foi criada a “Casa Convívio” a partir da reconversão de um edifício antigo e de um pequeno palheiro. Foram remodeladas as redes telefónicas e elétrica, sendo os cabos instalados no subsolo para diminuir o “impacto” visual; foi construída uma rede de esgotos e uma fossa séptica para resolver as questões relacionadas com os efluentes gerados na aldeia. A “Casa Convívio” funciona como “ponto de encontro” dos habitantes, estando vocacionada para a ocupação dos tempos livres dos mesmos, sendo que, paralelamente, promove mostras de artesanato e produtos locais.
Nesta aldeia, podemos encontrar e visitar uma Loja das Aldeias do Xisto onde a venda de produtos artesanais dos lugares constituintes da Rede das Aldeias do Xisto é uma das suas funções. Podemos ainda conhecer o Núcleo Sede do Ecomuseu “Tradições do Xisto” bem como todos os Núcleos que o integram.

1 Grau de Recuperação 1‒ Imóveis que pelo seu avançado estado de degradação, requerem uma intervenção mais profunda, que implica picar rebocos, rebocar e pintar, reconstrução de alvenarias de pedra aparente, construção de caixilharias e substituição integral de coberturas.

2 Grau de Recuperação 2 ‒ Imóveis cuja intervenção consiste em rebocar e/ou caiar paredes, recuperação de alvenarias de pedra aparente, recuperação de caixilharias e de coberturas, com aproveitamento do material existente.

3 Grau de Recuperação 3 ‒Imóveis que necessitam de pouca intervenção, como pintar paredes e caixilharias, e recuperações de beirados de xisto, da cobertura.

4 Casa de Convívio corresponde a um imóvel classificado como Imóvel de Interesse Municipal que, com o Programa das Aldeias do Xisto, passou de ruína a elemento central da Aigra Nova. É sede da “Comissão de Melhoramentos das Aigras, Comareira e Cerejeira” e alberga a Lojas das Aldeias do Xisto que se liga ao núcleo sede do Ecomuseu. Tem espaços para convívio mas também para pequenos eventos ou exposições temporárias.