PROCESSOS DE MUDANÇA, TURISMO E DESENVOLVIMENTO RURAL: AS ALDEIAS DO XISTO DO CONCELHO DE GÓIS E O PAPEL DA LOUSITÂNEA

PROCESSOS DE MUDANÇA, TURISMO E DESENVOLVIMENTO RURAL: AS ALDEIAS DO XISTO DO CONCELHO DE GÓIS E O PAPEL DA LOUSITÂNEA

Luiz Rodolfo Simões Alves (CV)
Universidade de Coimbra

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Geoeconomia

Neste terceiro ponto, apresentamos uma análise da estrutura económica do concelho de Góis, para ser possível compreender as principais caraterísticas, neste domínio, e para poder fazer o balanço dos principais aspetos a nível económico e perceber a sua evolução recente.

População empregada por setor de atividade

A partir da análise da população empregada por setor de atividade é possível responder, de certa forma, à questão que serve de título para este terceiro ponto: Góis um concelho rural e agrícola? Que Góis é um concelho rural não há qualquer tipo de dúvidas, diria até que o concelho faz parte do “grupo” do rural profundo, debatido no primeiro capítulo deste trabalho. Quanto ao agrícola, de facto, a base da estrutura económica do concelho tem registado, sucessivamente ao longo dos anos, uma redução de importância do peso da população ativa nos setores tradicionais, ligados ao setor primário, mais em concreto à agricultura. Comparando as Figura 51, que representam a distribuição da população ativa do concelho por setor de atividade para os anos de 2001 e 2011 (Anexo III), respetivamente, podemos constatar que em “apenas” dez anos o peso que o setor primário detinha no total de população ativa que já era reduzido, com cerca de 14,76% em 2001, viu-se substancialmente enfraquecido até 2011 com uma queda para cerca de 8,47% da população ativa do concelho o que, para o período em causa, se traduz numa diminuição muito relevante.
Por outro lado, o setor secundário registou uma descida no peso total de população ativa de 2001 para 2011, com uma redução de 3,73%. Por sua vez, o setor terciário registou uma subida significativa no peso do total de população ativa de 2001 para 2011, ao registar um acréscimo na ordem dos 12,2%, passando a assumir um peso de 62,57% do total da população empregada. Para além da redução do setor primário estes dados reforçam a ideia já apresentada anteriormente de que o concelho de Góis está longe de ser um concelho agrícola e que, bem pelo contrário, tem vindo a registar um acentuado fenómeno de terciarização da base económica local.

Agricultura e floresta

As caraterísticas morfo-climáticas do concelho de Góis não permitiram o desenvolvimento de uma agricultura e pastorícia intensiva (Figura 52). Assim, a silvicultura assume um papel predominante no âmbito da atividade económica primária, pese embora, como vimos anteriormente, os setores tradicionais perderem cada vez mais a importância que detinham há algumas décadas, que na agricultura se tem repercutido na diminuição o número de explorações, da área cultivada e de população empregada. Nos dias de hoje, os ativos agrícolas a tempo inteiro são muito reduzidos. A agricultura que existe não é especializada e raramente mecanizada, revelando um atraso significativo (Figura 53). Esta realidade é consequência também da pequena dimensão das explorações, ausência de investimento, inexistência de novas técnicas, baixa produtividade e incipientes circuitos de comercialização. No entanto, devido à degradação dos sistemas agroflorestais, a ocupação do solo no concelho de Góis (bem como de grande parte do território português), tornou-se complexa e difícil. As causas desta complexidade podem ser imputadas aos incêndios, abandono das terras aráveis e consequente avanço em mosaicos dos incultos, diminuição da silvopastorícia, entre outras.
Assim, encontramos hoje uma ocupação do solo caraterizada pela ocorrência duma mistura de espécies na mesma mancha (por exemplo olival com mato, pinheiros e uns restos de vinha) e por manchas florestais que apresentam frequentemente um grau de cobertura bastante inferior a 100%.
Atualmente, cerca de 77,36% do solo do concelho de Góis é ocupado por floresta, a quantidade de solo absorvida por incultos corresponde a 17,85%, o espaço ocupado pela agricultura é de 3,08% e a ocupação humana corresponde a cerca de 1,34%, correspondendo a percentagem restante (0,36%) a superfícies aquáticas, do total do território do concelho em análise (Tabela 11) (Moita; 2009:22). Tais dados mostram que o concelho de Góis apresenta fortes caraterísticas florestais.
À semelhança do que vai sucedendo no Centro de Portugal, os pinhais vão sendo substituídos pelos eucaliptais, sendo o concelho de Góis um exemplo a esse nível. A espécie dominante é o eucalipto (Eucalyptus globulus), seguido pela acácia mimosa (Acacia dealbata) e pelo pinheiro bravo (Pinus pinaster). A destacar a presença significativa de mais duas espécies: p
inheiro-larício (Pinus nigra)e o castanheiro (Castanea sativa) (Tabela 12 e Figura 54). A acácia atinge uma proporção elevada tendo em conta que se trata de uma espécie exótica, sem grande interesse comercial e de fácil propagação, competindo com espécies autóctones, ameaçando os seus habitats.
Em Góis grande parte dos proprietários não reside habitualmente no concelho e não têm como atividade principal a agricultura ou a floresta, sendo a causa dessa realidade devida a fatores limitantes como: muito elevado risco de incêndio, pequena dimensão e dispersão/fragmentação da propriedade, ausência de gestão florestal, falta de conhecimento de mercados de prestação de serviços ou de venda dos produtos pelos proprietários florestais, desmotivação do proprietário para o investimento florestal, desarticulação entre as diversas infraestruturas, estrutura dos povoamentos existentes não possibilitando a mecanização ou tornando os custos de exploração muito elevados, não permitindo assim uma rentabilidade que garanta a continuidade da atividade florestal. A atividade florestal é vista como um suplemento eventual de rendimento dos proprietários. Apesar da sua índole rural, verifica-se um acréscimo do número de pessoas que depende cada vez menos exclusivamente da agricultura.

Indústria

As desvantagens decorrentes da fraca acessibilidade (intra e inter-concelhia), determinada pelas caraterísticas do território, acentuaram-se, num contexto em que o número de postos de trabalho na agricultura se reduz e em que o desenvolvimento dos setores secundário e terciário é fator determinante na fixação da população.
A rede de mobilidade é um elemento fundamental para qualquer território, determinando o seu grau de influência e de desenvolvimento. A implantação de unidades industriais no concelho de Góis está hoje prejudicada pela oferta crescente de localizações alternativas relacionadas com a implementação dos Planos Rodoviários Nacionais. De facto, Góis encontra-se relativamente afastado dos principais eixos rodoviários regionais e nacionais, designadamente da Autoestrada nº.1 (A1) e do Itinerário Principal 3 (IP3) (Figura 55). Atualmente, o acesso ao concelho é feito pela Estrada Nacional nº.2 (EN2) e pela Estrada Nacional nº. 342 (N342), que possibilitam também ligação aos concelhos limítrofes de Lousã, Arganil e Pampilhosa da Serra.
O concelho de Góis tem como principais eixos de atravessamento e de ligação ao exterior:

  • EN2: Góis – Pedrógão Grande – Castelo Branco, que estabelece a ligação concelhia no sentido norte – sul, sendo o seu traçado marcadamente influenciado pelo terreno acidentado.
  • EN342: Lousã – Góis – Arganil, que estabelece a ligação concelhia no sentido sudoeste-noroeste e assume um papel relevante na mobilidade inter-municipal, uma vez que constitui a ligação com os concelhos vizinhos de Lousã e Arganil.

A ligação à A1, faz-se através de Coimbra, capital de Distrito e centro urbano mais próximo, a uma distância de cerca de 44 quilómetros.
A estrutura da rede viária principal tem ainda como eixos de suporte:

  • EN112: Góis – Pampilhosa de Serra – Castelo Branco.
  • EN344: Góis – Pampilhosa da Serra.

Na rede viária municipal, as principais ligações internas do concelho de Góis são feitas através dos seguintes eixos:

  • EN2: (Poiares) – Vila Nova do Ceira – Alvares – (Pedrógão Grande).
  • EN342: (Lousã) – Ponte de Sotão – Góis – Bordeiro – (Arganil).
  • EN543: Góis – Cabreira – Cadafaz – Colmeal.

A orografia acidentada do concelho de Góis, e dos concelhos limítrofes, imprime à rede rodoviária traçados sinuosos e de inclinações acentuadas, típicos das áreas montanha. No contexto intra-municipal importa também salientar as distâncias das várias sedes de freguesia à sede do concelho, evidenciando as distâncias e a dificuldade de percorrer alguns dos troços: Álvares a 28 km; Cadafaz a 15 km; Colmeal a 20 km e, por fim, Vila Nova do Ceira a cerca 6 Km de distância de Góis.
As debilidades estruturais existentes nestas estradas fragilizam claramente o concelho, do ponto de vista da competitividade territorial. Seria muito importante e vantajoso colmatar, a médio prazo, estas debilidades favorecendo a consolidação de um território mais coeso, preparado para assumir novos desígnios na captação de investimento e de funções produtivas de alto valor acrescentado.
Os fatores determinantes na localização passam, assim, a ser a naturalidade dos empresários, e/ou o preço mais baixo dos terrenos industriais. O perfil do promotor industrial está, em grande parte, vinculado aos fatores acima referidos, bem como a procura de solo para indústria (Carta Educativa do concelho de Góis, 2006:8).
Atualmente, o tecido económico do concelho apresenta fragilidades, consequência da própria interioridade que carateriza o concelho, mas também pelos escassos investimentos que se têm verificado e, consequentemente, a fixação de indústrias não tem grande expressão.
Com um modelo industrial maioritariamente tradicional, pouco evoluído tecnologicamente e com fraco nível de competitividade, Góis possui três polos industriais localizados nas freguesias de Álvares, Góis e Vila Nova do Ceira e está projetado um segundo polo para a Zona Industrial de Góis.
De acordo com os últimos Censos, o concelho de Góis apresenta uma taxa de atividade de 36,4% e uma taxa de desemprego de 9,6%. Os ativos distribuem-se pelas 378 empresas com sede no concelho, sendo que o maior empregador é a Câmara Municipal de Góis, seguido pela empresa de cerâmica “Lusalva” (Figuras 56 e 57, Tabela 13).
Os setores da indústria cerâmica, madeira e alumínios absorvem a maior fatia de mão de obra. Dispersos pelo concelho têm igualmente alguma dimensão, os sectores dos mármores e da pecuária. As indústrias transformadoras representam cerca de 10% do tecido empresarial do concelho.
Com um tecido empresarial constituído fundamentalmente por microempresas (empresas em nome individual de pequena dimensão), o concelho de Góis encontra-se numa situação embrionária no que se refere à inovação e cooperação empresarial. Enquanto território demograficamente em perda, assiste-se a um baixo dinamismo do setor empresarial. Para além disso, a maioria das iniciativas empresariais apresenta-se como apostas individuais, de pequena escala e sem uma estratégia de afirmação setorial, quer a nível municipal, quer a nível supramunicipal.

Comércio e serviços

Como já tivemos oportunidade de constatar, ao longo dos anos, no concelho de Góis, tem se verificado uma redução progressiva de importância do setor primário e uma importância crescente do peso do setor terciário no total de população ativa. De facto, o concelho de Góis, tem vindo a registar um acentuado fenómeno de terciarização da base económica local.
Analisando o período intercensitário, 2001‒2011, podemos constatar que, no geral, houve uma redução do número de trabalhadores no setor terciário na ordem dos 2 pontos percentuais (de 894 trabalhadores em 2001 para 876 para 2011). Esse decréscimo verifica-se, apenas, na vertente social com uma redução de população empregada de 8,42% (ou seja, de 515 trabalhadores em 2001 para 475 em 2011). Ao invés, na vertente económica do setor terciário verificou-se um aumento da população empregada cifrada em 5,49% (o correspondente a uma a aumento de 379 trabalhadores em 2001, para 401 em 2011). Mesmo apesar desta dinâmica, no contexto geral do concelho de Góis, o “ramo” social do setor terciário continua a ter a maior representação no seio deste setor de atividade económica, ou seja, com 54,22% do total da população empregada no setor terciário exerce a sua atividade no ramo social enquanto que, os restantes 45,78% correspondem à população empregada no ramo económico do setor terciário (comércio e serviços).
De facto, a designada economia social (a vertente social do setor terciário), tem uma importância significativa no contexto das oportunidades de emprego no concelho de Góis fruto, de entre outros motivos, das necessidades acrescidas decorrentes do aumento do número crescente de população idosa no território. Torna-se evidente que as Instituições Particulares de Solidariedade Social, e outras de Direito Privado sem fins lucrativos, empregam nos seus quadros um conjunto significativo de ativos, particularmente mão de obra feminina.
Examinando as variações verificadas entre 2001 e 2011, no setor terciário, ao nível das freguesias podemos depreender que, com exceção de Góis e Vila Nova do Ceira, todas as freguesias tiveram uma redução do número de trabalhadores no setor terciário, com maior destaque para Cadafaz (com reduções de 72%, no ramo social, e 50% no ramo económico) e Colmeal (com menos 33% no setor social e menos 43% no setor económico). Relativamente à freguesia sede de concelho, Góis, não apresentou qualquer variação no setor social e registou um aumento de população empregue no ramo económico do setor terciário na ordem dos 15%. Já Vila Nova do Ceira registou um decréscimo de 13% no total de população empregue no setor social e uma variação positiva de 1% no setor económico, entre 2001 e 2011 (Tabela 14).