PROCESSOS DE MUDANÇA, TURISMO E DESENVOLVIMENTO RURAL: AS ALDEIAS DO XISTO DO CONCELHO DE GÓIS E O PAPEL DA LOUSITÂNEA

PROCESSOS DE MUDANÇA, TURISMO E DESENVOLVIMENTO RURAL: AS ALDEIAS DO XISTO DO CONCELHO DE GÓIS E O PAPEL DA LOUSITÂNEA

Luiz Rodolfo Simões Alves (CV)
Universidade de Coimbra

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Atividades promovidas – programa de animação e eventos

A atividade turística tem suscitado um crescente interesse como atividade económica alternativa para muitas áreas rurais, suscetível de contribuir para a reconversão de uma situação caracterizada pela depressão económica e demográfica, criando-se a expetativa de que sejam produtos de turismo rural a potenciarem a revitalização socioeconómica destas áreas deprimidas e de baixas densidades.
A animação turística é uma noção muito vasta e abrangente, mas também se considera como um sector de vital importância para o desenvolvimento económico, cultural e social dos espaços rurais.
De facto, “a animação é um elemento fundamental de qualquer destino turístico, a par de outros elementos, tais como alojamento, a restauração, os transportes e serviços diversos, podendo concorrer decisivamente para a diferenciação de um destino e, assim, garantir-lhe uma vantagem competitiva face a destinos alternativos” (Vieira, 2005:6/7, citado por Teixeira, 2013:79).
Como refere Teixeira (2013:79), “os visitantes e os residentes estão cada vez mais vocacionados para a participação, a descoberta e o conhecimento, a par com as relaxantes férias ao sol, onde domina o descanso passivo. No geral, os visitantes dos territórios rurais procuram oportunidades de contacto com a natureza, as tradições, a gastronomia, o artesanato, as populações locais. Assim, a animação surge pelo despertar destes novos turistas, visitantes, mais exigentes e ativos, que solicitam, dentro do espaço de lazer a prática ou a realização de atividades que podem variar dos desportos radicais a programas culturais”.
A importância crescente atribuída à existência destas atividades em áreas rurais levou ao surgimento de pequenas iniciativas privadas com o objetivo da sua prestação e dinamização. Este conjunto de atividades de animação pode e deve ser construído e enriquecido por um conjunto de parcerias com outras entidades locais ligadas ao turismo. No entanto, deve-se sempre garantir a colaboração da população, numa gestão e participação conjunta e partilhada, a valorização das identidades e dos recursos existentes, sem permitir a sua destruição, ou seja, sem colocar em causa a qualidade de vida dos espaços rurais e o equilíbrio ambiental, a satisfação das necessidades e expectativas dos urbanos citadinos, respeitando e zelando sempre pelos superiores interesses da população residente, possibilitando um ambiente profícuo de convívio, de trocas de experiências e de saberes (entre os visitantes, os residentes, os atores locais, e demais agentes).
No caso dos espaços rurais, em que os produtos disponibilizados se encontram, por vezes, limitados à oferta de alojamento (geralmente com um reduzido número de camas) e pouco mais, o défice de animação poderá representar um forte constrangimento ao desenvolvimento turístico desses territórios. Sobretudo num período em que os visitantes deixaram de procurar apenas um local de descanso e de evasão do quotidiano, deslocando-se também motivados pela prática de outras atividades que justifiquem a sua permanência na área.
As atividades de animação (que a par de outros domínios como, por exemplo, o alojamento, a restauração, os transportes) são um fator fundamental de qualquer território, podendo concorrer decisivamente para a sua diferenciação geográfica garantindo, assim, competitividade face a outros) são elementos fundamentais no desenvolvimento, dinamização e valorização dos espaços rurais, face à sua capacidade de ocupar os visitantes e melhor os integrar no ambiente natural dos territórios e cultural das comunidades locais recetoras. Proporcionar aos visitantes das áreas rurais uma oferta completa e diversificada, que inclua para além do alojamento atividades de animação e diversão é fundamental, permitindo “ocupá-los e descontraí-los, fazendo com que tenham recordações e imagens dos destinos que se forem gratificantes, podem ajudar a prolongar as estadas, promover mais consumo e, principalmente, constituir uma forma de fidelizar clientes para novos períodos de férias”(Ferreira, 2004:88, citado por Teixeira, 2013:80).
Os espaços rurais oferecem amplas possibilidades de desenvolvimento de atividades de animação as quais devem adaptar-se às especificidades dos territórios bem como à tipologia do público-alvo (juvenil, adulto, sénior). Importa ter presente que em destinos rurais o turista procura, sobretudo, atividades de animação com elevado grau de autenticidade, enquadráveis nas particularidades da vida local.
Como afirma Teixeira (2013:81), “os próprios dinamizadores do espaço rural, sobretudo os empresários e os responsáveis das instituições locais, são incentivados e sensibilizados para fomentarem as atividades de animação, pois estas são consideradas como elementos integrantes do espaço rural que visam a divulgação das características e tradições regionais, designadamente o seu património, os itinerários temáticos, o folclore, entre outras”.
A animação em territórios rurais, enquanto elemento constitutivo fundamental de um produto turístico deve contribuir, entre outros fatores, para resultados positivos, tais como: inovação do produto turístico, proporcionar novas oportunidades de criação de emprego e de rendimento suplementares para a comunidade local, contribuir para o aumento de duração de estada e dos gastos dos turistas, ser uma atividade estratégica para a preservação e valorização do ambiente e do património do espaço rural, estimular a manutenção de atividades económicas tradicionais, e incentivar o reforço dos traços que constituem a identidade local.
Analisando os planos de atividades da Lousitânea, para o período compreendido entre os anos de 2006 e 20131 , podemos referir que, segundo os dados disponíveis, a Associação realizou entre 6 atividades, em 2009, e 37 no ano de 2012 (Figura 115). Podemos subdividir a análise aos dados em dois grupos inter-anuais: 2006-2007 e 2011-2013, como “período normal” de registo de dados (em que os dados obtidos correspondem, de forma muito aproximada, à realidade das atividades desenvolvidas pela Lousitânea), e 2008-2010, como “período anormal” de registo de dados (em que os dados obtidos não correspondem, de forma alguma, à realidade das atividades desenvolvidas pela Lousitânea).
Com um total de 166 atividades desenvolvidas no período de oito anos (2006-2013) a Lousitânea foi proponente ou parceira (Município de Góis, ADXTUR, entre outras entidades) numa média de 20,75 atividades por ano, correspondentes a 1,73 atividades por mês. O aumento significativo do número de atividades realizadas a partir de 2009 está, indubitavelmente, relacionado com a alteração da sede da Lousitânea que, em 2009 se instalou na Aldeia do Xisto de Aigra Nova. Esta mudança concedeu à Associação uma presença efetiva no Território as Aldeias do Xisto, um maior contacto com a envolvente da Serra da Lousã e com as suas potencialidades de oferta de atividades, a criação e gestão de vários espaços museológicos de cariz cultural, etnográfico, patrimonial, natural, entre outras.
            A leitura da evolução do número total de atividades desenvolvidas pela Lousitânea entre 2006 e 2013 por tipologia de atividade (Figura 116) (culturais, de natureza, feiras e outras atividades) permite constatar que, em todos os anos em análise, o maior destaque, no que concerne ao número de atividades, vai para as ações de natureza (como sejam percursos pedestres, ações no Núcleo de Maternidade de Árvores, plantações de espécies autóctones, a ação “Caça Mimosas”, ou a Brama dos Veados), com 106 atividades (correspondentes a 63,86% do total de atividade desenvolvidas no período em análise). A grande maioria corresponde a caminhadas ou efetuadas em percursos pedestres ou em outros trilhos. Estas atividades apresentam os seus valores mais elevados nos anos de 2007, 2006, 2013, 2012 e 2011, por ordem decrescente. 
Por sua vez, as atividades culturais (como sejam o Entrudo, as Janeiras, Encontros de Poesia ou o Dia Nacional dos Moinhos) e feiras e outras atividades (como Feiras Sustentáveis, Mercados Tradicionais, workshops vários, como o de manuseamento de asininos) ganham maior preponderância no quadro geral da atuação da Lousitânea a partir de 2011, tendo continuidade nos anos seguintes (2012 e 2013). Este acréscimo substancial a partir de 2011 está intimamente relacionado por um lado, com a fixação da sede da associação na Aigra Nova mas, sobretudo, pela criação/implementação de espaços de visitação nas Aldeias do Xisto do concelho de Góis, como os integrantes do Núcleo Sede do Ecomuseu “Tradições do Xisto”.
Estas duas categorias de atividades correspondem a um total de 60 ações desenvolvidas (30 atividades culturais e 30 feiras e outras atividades) ao longo dos oito anos em análise, equivalendo, cada uma delas, a 18,07% das 166 atividades realizadas entre 2006 e 2013.
Em relação à distribuição pelos meses do ano, entre 2006 e 2013, podemos constatar que existem cinco “picos” no que diz respeito ao número de atividades, destacando-se os meses de agosto, com 18 atividades; fevereiro, com 18 atividades; junho, com 18 ações; abril, com 15 ações e, por fim, novembro com 18 atividades. Ao invés, os meses de janeiro, julho e dezembro correspondem ao meses com menor número de atividades entre 2006 e 2013, com um número a variar entre as seis em julho e as dez atividades em dezembro (Figura 117). Estes valores explicam-se, em parte, pela dificuldade em realizar iniciativas nos meses de inverno (janeiro e dezembro) devido às condições meteorológicas que nem sempre são as melhores para algumas atividades, como percursos pedestres e, na generalidade, das ações desenvolvidas ao ar livre. Por outro lado, os meses de verão e, no caso concreto aqui em análise, em julho muito por influência da falta de colaboradores disponíveis para as atividades aqui referidas em razão da sua ocupação fruto do elevado número de pessoas que visitam as Aldeias do Xisto do concelho de Góis por essa altura e que requisitam atividades à Lousitânea (e que não entram nesta contabilidade), levando a uma diminuição da oferta de atividades de acesso gratuito, como o são a grande maioria das que temos abordado.
            Por fim, no que diz respeito aos locais de realização das atividades desenvolvidas pela Lousitânea (Figura 118) podemos, antes de mais, fazer uma constatação muito curiosa: entre 2006 e 2008 as ações desenvolvidas pela Associação abarcavam, de forma quase exclusiva, lugares dos concelhos de Lousã, Castanheira de Pera e Góis (com algumas incursões em outros municípios da Serra da Lousã como Penela, Pedrógão Grande e Miranda do Corvo). A partir de 2009, e até à atualidade, as atividades da Lousitânea têm incidido de forma praticamente exclusiva em lugares do concelho de Góis, coincidindo este período com a mudança da sede da Associação para a Aigra Nova, em Góis.  

            Numa outra vertente de análise procuramos, também, perceber a quantidade de atividades desenvolvidas pela Lousitânea nas Aldeias dos Xisto e fora do território abrangido por estas (tendo em consideração os dados disponíveis para o efeito). Assim, podemos constatar que, até 2010, as atividades desenvolvidas em outros lugares que não fossem Aldeias do Xisto suplantavam, de forma inequívoca, as ações realizadas nas Aldeias do Xisto. Até 2010 as atividades realizadas em outras aldeias (que não as da Rede das Aldeias do Xisto) representaram entre 83,3% e 100%, das 138 atividades com local designado, realizadas pela Lousitânea. Ao invés, a partir de 2011, as ações realizadas em lugares correspondentes a Aldeias do Xisto passaram a dominar o total de atividades levadas a cabo pela Lousitânea, variando entre 53,57% e 60% do total de iniciativas desenvolvidas pela Associação.

1 A inexistência de uma base de dados atualizada, completa e fiável, que agregue todas as informações sobre a totalidade das atividades realizadas pela Lousitânea (de iniciativa própria ou em parceria com outras entidades), não permite fazer uma análise exaustiva e completa à realidade da atuação da Associação. Os dados com maior exatidão e cuidado na sua organização correspondem aos anos de 2006, 2007, 2011 e 2012.
Os documentos existentes e analisados possuem alguma informação muito incompleta ou até mesmo inexistente o que, de facto, se torna insuficiente para demonstrar o trabalho realizado mensalmente e anualmente pela Lousitânea. Neste caso salientam-se os anos de 2008, 2009, 2010 e 2013 (sendo que este último ano ainda está em curso).
Por outro lado, o registo incompleto, nomeadamente na identificação do local onde as atividades foram realizadas (nas Aldeias do Xisto ou em outras aldeias) torna a análise incompleta e pouco expressiva.
Nesta análise não foi possível incluir, também, outras atividades realizadas pela Lousitânea como sejam o atelier da broa e do queijo, almoços, jantares, percursos pedestres organizados em função de requisições de grupos organizados, entre outras, pela inexistência de tal informação.