LAZERES ATIVOS I

LAZERES ATIVOS I

Paulo Carvalho. Coordenação (CV)

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LAZER NA NATUREZA: O EXEMPLO DO CLUBE DE ATIVIDADES DE AR LIVRE

Luiz Alves

Bruna Cordeiro

Paulo Carvalho

Resumo
Os territórios rurais na atualidade são palco de novas dimensões funcionais e representações (estética, lúdica e edílica) nas quais o lazer assume um papel muito importante.
No contexto da organização e promoção de atividades de lazer existe, em Portugal, uma associação sem fins lucrativos, reconhecida como organização não-governamental de ambiente, que conta já com 29 anos de atividade: o Clube de Atividades de Ar Livre (CAAL).
A partir do registo disponível na página web do CAAL, foi possível recolher, tratar e analisar um conjunto de informação a respeito das atividades realizadas, através de variáveis como o número, a repartição temporal, a tipologia, e a distribuição espacial das iniciativas concretizadas por este Clube em Portugal e no estrangeiro.
Palavras-chave: Lazer. Natureza. Clube de Atividades de Ar Livre.

Abstract
Rural areas today are stage of new functional dimensions and representations (aesthetic, playful and lighthouse began construction) in which leisure plays an important role.
In the context of the organization and promoting leisure activities exist in Portugal, a non-profit association, recognized as environmental nongovernmental organization which already has 29 years of activity: the Clube de Atividades de Ar Livre (CAAL)/Outdoor Activities Club.
From the registry available on the webpage of the CAAL, it was possible to collect, process and analyze a set of information about the activities carried out by such variables as the number, temporal distribution, typology, and the spatial distribution of the initiatives implemented by this Club in Portugal and abroad.
Keywords: Leisure. Nature. Clube de Atividades de Ar Livre.

1. Lazer e turismo: quadro conceptual
O lazer e o turismo (e as suas múltiplas derivações e aplicações) enquanto temáticas de investigação têm, ao longo de várias décadas, captado a atenção e interesse de inúmeros investigadores provenientes de vários ramos académicos (Turismo, Geografia, Economia, História, Sociologia, entre outros), concebendo diversas linhas de pensamento e abordagem sobre estas temáticas, de acordo com a formação de base e os interesses de investigação de cada um.
Com efeito, “o lazer, enquanto tema de investigação, atravessa um período de renovado interesse depois de, já nos primeiros anos das décadas de setenta e, em especial, de oitenta do século XX, haver suscitado numerosos e diversificados estudos” (Martins, 2004: 13).
Na mesma linha de pensamento, Carvalho (2009: 163) considera que “o lazer e os seus diversos modos de utilização, associados aos territórios rurais, destacam-se nas últimas décadas como novos temas que chama a atenção dos estudiosos, dos planeadores e dos promotores do desenvolvimento. Traduzem novos padrões de comportamento e consumo das sociedades pós-modernas”.
É evidente que o crescente número de praticantes das múltiplas vertentes do lazer e do turismo concede-lhes uma importância acrescida no seio das sociedades contemporâneas, de base terciária, e com especial impacto sobre os territórios e a dinâmica dos mesmos. Assim, “o tempo livre, o lazer e o turismo são, nesta sociedade terciarizada em que vivemos, conceitos centrais, que têm vindo a merecer um olhar atento por parte dos agentes económicos, sociais e políticos. Tal facto deve-se, essencialmente, ao crescente número de actividades que se desenvolvem em seu torno e à influência que exercem, nas comunidades locais e na organização e consumo de espaço, onde ocorrem” (Pinto, 2004: 17).
Para Dumazedier (1979: 19), “o lazer é um conjunto de ocupações a que o indivíduo se pode entregar de livre vontade, quer para repousar, quer para se divertir, quer para desenvolver a sua informação ou a sua formação desinteressada, a sua participação social voluntária ou a sua livre capacidade criadora depois de se ter liberto das obrigações profissionais, familiares e sociais”
O estabelecimento de distinção clara entre turismo e lazer, como uma definição balizada, torna-se relativamente complexa, fruto dos múltiplos pontos em comum, da complexidade dos fenómenos, da diversidade dos fluxos, da multiplicidade dos utilizadores. De facto, “leisure, recreation and tourism are closely interrelated, and at times are used in the literature almost interchangeably (…). Leisure is a complicated concept, and can be envisaged as both a state of mind as a form of activity, or as both a subject and a descriptor. As a state of mind it implies freedom from obligations, and leisure time is that time which was no claims to it. Recreation is normally thought of as activity (or deliberate inactivity) that is voluntary and which is engaged in for the purposes of enjoyment and satisfaction during time which is free obligations, i.e., during leisure time. It can be engaged in at any location, including the home. Tourism, on the other hand, whatever definition is used, implies travel from home, and frequently implies a time involvement of at least 24 hours.
In many cases, however, the specific activities which are engaged in during leisure, recreation and tourism are identical, the key differences generally being the setting or location of activities, the during of time involved, and, in some cases, the attitudes, motivations and perception of the participants” (Butler, Hall & Jenkins, 1998, citados por Carvalho, 2009: 163).
Por sua vez, Martins (2004: 18) considera que a “diferenciação entre turismo e lazer deverá residir, no entanto, no plano temporal, já que são tradicionalmente referenciáveis, ao longo do ano, períodos em que têm lugar deslocações e estadias fora da residência habitual. Essa será uma das principais vertentes de destrinça no domínio geográfico, ainda que continue sujeita a alterações que dificultam uma clara diferenciação entre os períodos de lazer anuais e os restantes períodos”.
Para Santos (1998, citado por Pinto, 2004: 52), o termo lazer e os termos entrosados (ócio e recreação) e a expressão tempo livre, embora tenha, numa análise particular, valores simbólicos e significados distinguíveis, são, vocábulos que, “na sua diversidade, têm subjacente uma realidade comum: entrecruzamento de um tempo de não trabalho (ocupação em atividades exteriores ao foro laboral, familiar…) e do espaço da sua aplicação (casa, ar livre, praia, montanha, termas, equipamentos desportivos, equipamentos culturais)”.
A complexidade para alcançar com rigor uma definição para o conceito de lazer torna-se ainda maior pelo facto de “nos últimos anos as fronteiras entre os diferentes elementos do lazer tornaram-se pouco expressivas (esbateram-se), em particular as diferenças entre recreação e turismo”, uma vez que “(…) changes in the economic and social fabric of society have mean that once traditional timing, setting and patterns of work and leisure activities have often become indistinguishable (Butler, Hall e Jenkins, 1998, citados por Carvalho, 2009: 163).
A dificuldade para a definição de uma denominação uniforme das atividades apresentadas pelo lazer denota-se, de forma evidente, pela multiplicidade de designações, dependendo a classificação da perspetiva de quem as aplica. Assim, de acordo com Silva (2010: 14), “turismo activo, turismo de aventura ou turismo de natureza (…) passando por desporto de aventura, desporto de natureza ou actividades físicas de aventura de natureza”, são algumas das várias designações encontradas, sendo esta diversidade fruto dos “interesses das diversas organizações e os vários contextos em que as respectivas actividades se desenvolvem” (Carvalhinho, 2008, citado por Silva, 2010: 14).

2. O rural e a natureza nas novas práticas de lazer e turismo em Portugal
As alterações verificadas no acesso ao lazer, em Portugal, podem ser explicadas por vários factores endógenos e exógenos. Relativamente aos factores endógenos, os de maior relevo, consubstanciam-se pelo “aumento do rendimento familiar em resultado de duas componentes fundamentais: a melhoria da valorização do trabalho e a entrada da mulher no mercado laboral. Acresce a valorização diferenciada do tempo livre, que decorre tanto do aumento de produtividade como das diferentes possibilidades de utilização do tempo livre, com ganhos de importância quer no quotidiano quer ao longo do ano; a formalização de um novo modelo familiar, caracterizado essencialmente pela diminuição do número de filhos que, entre outras possibilidades, facilita a mobilidade das famílias; o aumento da esperança média de vida, que contribui para dilatar, após a reforma, os períodos em que existe uma grande disponibilidade de tempo e, dependendo dos grupos, capacidade financeira suficiente ou desempenhos físicos elevados; o aumento da mobilidade, que decorre das melhorias verificadas ao nível dos transportes, dos rendimentos – que sustenta os aumentos nas taxas de motorização – e da rede viária. Entre os factores exógenos, é possível individualizar o recente progresso de integração europeia, um mais profundo conhecimento do exterior, o aumento das viagens de negócios e científicos ou, novamente, a evolução dos meios de transporte internacionais, com particular destaque para o avião” (Martins, 2004: 15).
O próprio crescimento do fenómeno turístico está diretamente relacionado com o aumento expressivo que o lazer tem assumido, como forma de ocupação do tempo livre da sociedade contemporânea.
Concomitantemente, o meio rural português tem registado uma nova utilização do espaço onde outrora a agricultura se impunha como atividade principal, oferecendo aos seus utilizadores uma função muito mais associada ao lazer e ao turismo, potenciando os recursos existentes para atrair uma população carente de estímulos que lhe permitam libertar-se de um quotidiano urbano e repetitivo e propensa a uma certa nostalgia da natureza e do retorno ao passado (Alves e Carvalho, 2014).
“Estas utilizações foram-se democratizando progressivamente, tendo o lazer em meio rural passado a abranger um leque mais vasto da população, incluindo os próprios habitantes do meio rural, agora empregados sobretudo nas áreas dos serviços. Entre os novos usos salientam-se os passeios em todo o terreno; o turismo cultural em geral, que inclui o consumo de bens patrimoniais (desde o património edificado ao gastronómico, passando pelo artesanal e outros); a utilização dos cursos de água e albufeiras como praias fluviais e como locais de realização de desportos náuticos; e as actividades mais tradicionais, como o termalismo, a caça e a pesca” (Almeida, 2007: 296).
Com efeito, os ambientes rurais e de montanha são hoje territórios muito utilizados para a prática de atividades de lazer ativo ou de aventura, relacionados com a água, com o ar ou com a terra, capacitando a atração de um dos segmentos do turismo em crescimento em todo o mundo, o turismo ativo e de natureza cujo seu expoente máximo é traduzido pela relação entre atividades (turismo e/ou lazer) e natureza.
Esta modalidade pode ser analisada a partir de dois prismas correspondendo cada um deles a dois subtipos de mercados: um de natureza soft, outro de natureza hard. Na primeira vertente (quadro 1) podemos considerar atividades de ar livre de baixa intensidade: percursos pedestres (consoante o nível de dificuldade e de exigência técnica), excursões, observação de fauna e flora, geocaching, BTT (com a mesma condicionante dos percursos pedestres), todo-o-terreno turístico, canoagem, orientação, entre outros. Segundo a AEP (2008) a modalidade de atividades soft representará cerca de 80% do total de viagens de natureza.
Por outro lado, nas experiências de natureza hard, podem ser consideradas atividades com maior nível de exigência física, com alguma complexidade técnica como sejam: rafting, kayaking, hiking, climbing, parapente ou paramotor, downhill, alpinismo, trekking, escalada, heli-ski ou heli-hike, escalada, canoagem, canyoning, rafting, entre outras (quadro 1). Ainda neste segundo grupo podem ser consideradas outras atividades que requerem um elevado grau de concentração ou de conhecimento, como o birdwatching, por exemplo. De acordo com a AEP (2008) a modalidade de atividades hard representa cerca de 20% do total das viagens de natureza.
A motivação principal da prática deste tipo de atividades de lazer reside, essencialmente, na vivência de experiências de grande valor simbólico, interação e usufruto da natureza, convívio, relaxamento e fuga à rotina.

3. Clube de Atividades de Ar Livre (CAAL): da génese, objetivos e estrutura, às atividades realizadas

3.1 Origem, desígnio e organização
Fundado em 19851 , o Clube de Atividade de Ar Livre (CAAL) é uma associação sem fins lucrativos, reconhecida como organização não governamental de ambiente, que tem por finalidade a promoção de atividades na natureza, nomeadamente no âmbito do montanhismo e do pedestrianismo, valorizando a componente cultural de divulgação do património natural e monumental e incentivando, numa atitude ambientalista, a defesa e preservação desse património, segundo o seu código de conduta (aprovado em 2007). Com mais de 2000 sócios registados, o CAAL desenvolve atividades no domínio do pedestrianismo, da orientação, da escalada e do alpinismo, com grande ênfase na formação dos seus sócios em todas estas áreas, e tendo até hoje estado presente em 28 países de 4 continentes.
Para além das modalidades dominantes (pedestrianismo e montanhismo), a prática de orientação e de escalada tem tido um desenvolvimento crescente. Ao longo dos anos, o CAAL tem concedido aos seus sócios a oportunidade de experimentarem, de igual modo, outras modalidades, como: cicloturismo e BTT, canoagem, vela e espeleologia.
Para contemplar a especificidade de cada modalidade, existem grupos de dinamização dedicados às principais modalidades que, de uma forma autónoma e mais célere, se dedicam às suas atividades favoritas:
‒ Grupo de Dinamização de Atividades de Escalada (GDAE), criado em 1997, realiza regularmente atividades no âmbito da escalada, sendo o ponto de encontro dos escaladores do CAAL. Promove e divulga a modalidade, enquadrando tecnicamente os seus adeptos, e efetuando ações de formação, que já contaram com cerca de três centenas de praticantes nos últimos onze anos. Promove a representação do CAAL nos encontros e competições da modalidade, e organiza grandes atividades de divulgação/captação destinadas a todos os sócios do Clube.
‒ Grupo de Dinamização de Atividades de Montanha (GDAMO), criado em 2002, realiza atividades de montanha caracterizadas por serem delineadas, antecipadamente e durante a sua realização, por todos os que nelas participam. Estas atividades requerem alguma preparação física e técnica para a prática de montanhismo (variável, em função das características de cada atividade), e a comparência dos interessados nas reuniões preparatórias. Este grupo conta com mais de 50 membros.
‒ Grupo de Dinamização de Atividades de Orientação (GDAO), criado em 1997, efetua regularmente passeios e marchas de montanha, caracterizados por não terem sido previamente reconhecidos. Estas atividades requerem alguns conhecimentos de orientação e a participação dos interessados nas reuniões preparatórias. Organiza também formação e atividades lúdicas e de divulgação na área da orientação, destinadas a todos os sócios do CAAL, e promove a representação do Clube nos encontros e competições da modalidade.
O CAAL conta no seu currículo com um vasto número de atividades emblemáticas, e tem proporcionado aos seus associados viagens até aos locais mais remotos do Continente, Açores e Madeira, e a territórios tão díspares como sejam: Picos da Europa, Serra de Guadarrama e Serra Nevada (Espanha), Pirinéus (Espanha e França), Monte Branco (França e Itália), Yosemite e Grande Canyon (Estados Unidos da América), Lake District e Peak District (Inglaterra), Kilimanjaro (Quénia e Tanzânia), e ainda diversos locais em Marrocos, Roménia ou Polónia.
A participação nas atividades está aberta a não sócios, numa perspetiva de experimentação, com vista a integração futura no regime de associado.
Além das atividades inscritas no calendário anual, o CAAL promove: ações de formação; acções de informação e de demonstração sobre questões técnicas e ambientais; participação em atividades promovidas por outras entidades.
O CAAL, desde a sua constituição, é membro da ERA (European Ramblers Association), a Federação Europeia que promove a marcação de Percursos Pedestres de Grande Rota (GR), transnacionais e nacionais. O CAAL, sendo um dos pioneiros, procura participar neste movimento e dinamizou a marcação de Percursos Pedestres de Pequena Rota (PR) e Grande Rota (GR), em colaboração com outras entidades. O CAAL é, ainda, Membro Observador daUIAA (União Internacional das Associações de Alpinismo), a Federação Internacional que representa a Montanha, a Escalada e o Alpinismo.
A nível nacional, o CAAL é membro daFPME (Federação Portuguesa de Montanhismo e Escalada) e daFPO (Federação Portuguesa de Orientação).

3.2 Atividades concretizadas em 2004-2014
A multiplicidade e a quantidade de atividades desenvolvidas, a dinâmica instituída pelo Clube de Atividades de Ar Livre em Portugal e no estrangeiro, a sua representação e integração em diversas entidades de escala nacional e de âmbito internacional, a capacidade associativa que predomina no espírito do CAAL, bem representada no efetivo total de sócios que integram a associação, a forte componente organizacional das atividades realizadas, bem como os seus 29 anos de existência e experiência(s); concedem ao Clube de Atividade de Ar Livre um lugar de destaque no seio das entidades promotoras de atividades de lazer em Portugal e no estrangeiro.
No período que decorre entre janeiro de 2004 e agosto de 2014, o Clube de Atividade de Ar Livre realizou um total de 894 atividades, variando entre 106 atividades (confirmar este valor) realizadas em 2005 e as 54 em 2014 2 (embora os dados apresentados sejam apenas referentes até ao mês de agosto), representando uma média anual de 81,3 atividades promovidas por ano, nos últimos 11 anos de funcionamento da associação 3, 4.
Analisando a distribuição mensal do número de atividades desenvolvidas pela associação (figura 2), podemos aferir que os meses de fevereiro, março, abril, maio, junho, outubro e novembro são os mais relevantes, com valores a variar entre as 80 e as 90 atividades concretizadas. No total, estes setes meses registaram um total de 615 atividades realizadas entre 2004 e 2014, correspondendo a cerca de 69,8% do total. Ao invés, o mês de agosto é aquele que regista menor número de atividades realizadas (21), o que poderá estar relacionado com o normal período de férias de muitas famílias em Portugal, coincidindo de igual modo com as atividades de maior duração e em destinos mais longínquos promovidos pelo Clube de Atividades de Ar Livre.
Em relação à distribuição do número de atividades por tipologia foi possível destrinçar seis tipologias distintas, sendo que optamos por considerar pertinente agrupar algumas, de forma a ganharem escala de análise, do seguinte modo: percursos pedestres (e interpretativos), montanhismo/escalada5 , orientação, cicloturismo/BTT, canoagem, outros6 . Assim, das seis tipologias identificadas destacam-se, em número de atividades desenvolvidas, de forma destacada, os percursos pedestres, com um total de 468 atividades realizadas (representando mais de 52,3% do total de atividades promovidas entre 2004 e 2014). Por outro lado, as atividades de montanhismo e escalda registaram um quantitativo de 303 ações, o correspondente a cerca de 33,9% do total de atividades realizadas no período em análise. As restantes quatro tipologias congregam, por ordem decrescente, 79 atividades de orientação (8,8% do total), 39 atividades correspondente à tipologia outros, três de cicloturismo/BTT e duas atividades de canoagem (figura 3). No total, estas quatro tipologias, perfazem 132 atividades (correspondendo a cerca de 13,8% do total de atividades realizadas, entre 2004 e 2014).
Numa outra vertente, a análise à duração média (número de dias) das atividades7 revela que 430 atividades tiveram a duração de um dia, representando 51% do total de atividades concretizadas entre 2004 e 2014, denotando um peso considerável do número de atividades que, à partida, não necessitaram de alojamento, enquadrando-se em atividades de lazer. Por outro, os restantes 49% de atividades realizadas, tiveram uma duração média entre 2 e 5 dias (38,3%) ou mais de 5 dias (10,7%), correspondendo a 323 e 90 atividades, respectivamente. Nestes dois últimos casos, embora os dados disponíveis não nos permitam afirmar de forma inequívoca, a probabilidade de recurso a alojamento aumenta significativamente, sobretudo nas atividades com duração superior a 5 dias.
Quanto à localização das atividades promovidas pelo CAAL, entre 2004 e 2014, podemos constatar que 75,9% das atividades foram realizadas em Portugal e 24,1% das atividades decorreram no estrangeiro8 , ou seja, 640 e 203 atividades, respectivamente. Nos totais anuais verifica-se que, em todos os anos em análise, o número de atividades realizadas em território nacional superou sempre o número de atividades realizadas fora de Portugal.
Relativamente às atividades realizadas no estrangeiro, o CAAL, no período temporal do qual resulta a análise, esteve presente em 26 países de cinco continentes (todos com excepção da Antártida). Assim, o CAAL realizou uma atividade em 22 países (Andorra, Angola, Austrália, Áustria, Brasil, Canadá, China, Croácia, Eslovénia, Estónia, Grécia, Holanda, Inglaterra, Irlanda, Nepal, Perú, Polónia, República Checa, Rússia, Suécia, Tunísia, Turquia); duas em Marrocos; 7 atividades em França e Itália; e 165 atividades em Espanha (figura 6).
Por outro lado, em território nacional, o Clube de Atividades de Ar Livre realizou um total de 640 atividades entre 2004 e 2014. A leitura da distribuição dessas mesmas atividades no seio em Portugal, no quadro das NUT’s II9 (figura 7), permite afirmar que 42,6% (271 atividades) foram realizadas na Região de Lisboa; 31,4% (200 atividades) foram desenvolvidas na Região Centro; 11,3% (72 atividades) decorreram na Região do Alentejo; 9,6% (61 atividades) foram concretizadas na Região Norte; 4,1% (26 atividades) tiveram lugar na Região do Algarve e, por fim, os restantes 0,9% (6 actividades) decorreram nas Regiões Autónomas dos Açores e da Madeira, com 3 atividades em cada uma delas.
Numa outra escala de análise, a observação às atividades realizadas pelo Clube de Actividades de Ar Livre, por NUT’s III10 (figura 8), entre 2004 e 2014, denota uma forte presença nos territórios correspondentes à Grande Lisboa (229 atividades), Serra da Estrela (46 atividade) e Península de Setúbal (42 atividades). Ao invés, o Grande Porto (1 atividade), Entre Douro e Vouga (2 atividades), Tâmega (2 atividades), Região Autónoma dos Açores e Região Autónoma da Madeira (ambas com um total de 3 atividades), representam os territórios com menor número de atividades realizadas pelo CAAL, entre 2004 e 2014.
Por fim, podemos ainda considerar a realização de atividades por unidades naturais (serras, parques, matas, entre outros), num total de 41 referências territoriais. Assim, as que verificam maior número de atividades realizadas são: Parque Florestal de Monsanto (99 atividades), Parque Natural da Serra da Estrela (37 atividades), Serra de Montejunto (6 atividades), Serra da Lousã (6 atividades), Parque Nacional da Peneda-Gerês (6 atividades).

3. Conclusão
O carácter multifuncional dos territórios rurais e das montanhas abriu caminho a novas atividades como o lazer e o turismo. Esta valorização decorre também de uma procura cada vez maior por parte da população urbana que pretende ocupar e usufruir do seu tempo livre, incrementando uma dinâmica cada vez mais importante no processo de revitalização dessas realidades geográficas, com uma vinculação aos recursos ecoculturais, designadamente os de dimensão patrimonial (Alves e Carvalho, 2014).
De facto, os novos usos e produtos associados ao lazer e ao turismo têm-se assumido como uma oportunidade para a revitalização destes territórios, dotando e diversificando a sua economia local, capacitando um aumento da qualidade de vida das populações, e valorizando os seus recursos endógenos (Alves, 2013).
Nesta perspetiva, o Clube de Atividades de Ar Livre tem assumido um papel importante e pioneiro em Portugal, na valorização e promoção do património natural, bem como na organização e realização de atividades de lazer em todas as regiões de Portugal e em diversos outros países.
Com mais de 2000 sócios registados, o CAAL promove e desenvolve múltiplas atividades de lazer, das mais diversas modalidades como, por exemplo, pedestrianismo, orientação, escalada, alpinismo, montanhismo, cicloturismo, BTT, canoagem, vela e espeleologia.
Os dados analisados dos últimos onze anos de atividade do CAAL (2004-2014), permitem compreender de forma inequívoca a dinâmica inerente a este agente, que se reflecte nas 894 actividades realizadas no período em análise, a presença em todas as regiões (NUT´s III) de Portugal, a realização de 203 atividades em 26 países distintos, repartidos por quatro continentes.
A forte componente organizacional aliada ao empenho dos associados torna-se evidente quando verificamos que, em 413 atividades (cerca de 49% do total de atividades realizadas no período em análise), a duração média das mesmas foi igual ou superior dois dias.
A sua importância capital no desenvolvimento de atividades de lazer não é alheia ao facto de estar presente em organismos/entidades de inegável interesse no seio do lazer, a saber: ERA (European Ramblers Association), UIAA (União Internacional das Associações de Alpinismo), FPME (Federação Portuguesa de Montanhismo e Escalada) e FPO (Federação Portuguesa de Orientação).

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1 A origem do CAAL remonta a setembro de 1985, tendo iniciado as suas atividades logo no mês seguinte. No entanto, o seu registo oficial por escritura pública só viria a ocorrer a 3 de abril de 1986.

2 A análise dos dados para o ano de 2014 encontra-se incompleta, existindo apenas até ao mês de agosto, data em que este artigo foi redigido.

3 Os dados apresentados neste artigo foram recolhidos a partir das informações existentes no site do Clube de Atividades de Ar Livre, em http://clubearlivre.org/ (acesso em setembro de 2014).

4 Na recolha de dados sobre as várias atividades existentes, algumas não foram contabilizadas, uma vez que, em informação adicional nelas contidas, havia referência ao cancelamento das mesmas.

5 As atividades de alpinismo, por não constarem em nenhuma categoria, e devido ao reduzido número de iniciativas realizadas nesta categoria, foram agrupadas na categoria “montanhismo/escalada”.

6 Durante a recolha e análise dos dados constatou-se que algumas atividades não se enquadravam nas categorias existentes, o que conduziu à criação de uma nova categoria, a categoria “Outros”. Esta inclui as seguintes actividades: Aniversário do Clube (que contam com várias actividades), atividades surpresa, atividades culturais, “Plantação de Carvalhos na Serra da Estrela”, “Burricadas”, “Reviver 10 anos do GDAO”, reuniões, “Festival Islâmico de Mértola”, “Viagem Transiberiano”, sessões Auto – Resgate, multiatividades, “Concerto de comemoração dos 25 anos do CAAL”, workshops, ”Curso de Iniciação de Prova de Vinhos”, observação de golfinhos, entre outros.

7 Na recolha de dados foi considerado que, na duração de cada atividade (1 dia, 2 a 5 dias ou mais de 5 dias), seriam apenas contabilizadas as atividades principais, ou seja, num dia podem ocorrer várias atividades diferentes, ou em vários dias ocorrer apenas uma, contudo a localização desta, independentemente da duração, foi apenas considerado o ponto inicial (NUTS III) o que resultou numa diferença no total de número de atividades (894 no tipo de atividades e 843 na localização das mesmas).

8 Nas atividades realizadas no estrangeiro foi considerado o local (país) para onde foi realizada a viagem.

9 Nomenclatura das Unidades

10 Relativamente ao levantamento dos dados acerca do número de atividades por NUTS III existe uma diferença de quatro atividades, comparativamente ao total de atividades por localização Portugal/Estrangeiro (636 atividades em vez dos 640), visto que não oi possível identificar a localização de quatro iniciativas, uma em cada um dos anos de: 2004, 2007, 2010 e 2012.