LAZERES ATIVOS I

LAZERES ATIVOS I

Paulo Carvalho. Coordenação (CV)

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TURISMO DE PASSEIO PEDESTRE NO FUNCHAL (ILHA DA MADEIRA)

Arturo Sousa

Resumo
O Turismo de Passeio Pedestre tem como principal suporte o percurso pedestre e também as duas principais tipologias de património (natural e cultural). Este tipo de turismo é uma grande tendência e ao mesmo tempo um exemplo de lazer ativo que ocorre um pouco por todo o mundo.
Em Portugal, e no caso particular do Funchal, esta atividade é valorizada de formas muito peculiares. O Funchal congrega em si vários espaços naturais com percursos pedestres, com ou sem levadas. As levadas, enquanto canais de irrigação que estão presentes ao longo da ilha e cuja principal função corresponde o transporte de água para agricultura, serão candidatas, em 2017, a Património Mundial da UNESCO.
Palavras-chave: Pedestrianismo. Turismo de Passeio Pedestre. Ilha da Madeira. Funchal.

Abstract
Walking tourism its main support the pedestrian path and also the two main types of heritage (cultural and natural).  This type of tourism is a big trend at the same time an example of active leisure rather occurs throughout the world.
In Portugal and in the particular case of Funchal, this activity is done in many peculiar ways. Funchal itself brings several natural spaces equipped with footpaths, with or without “levadas”. “Levadas” as irrigation channels that are present throughout the island and whose main function corresponds to the transport of water to agriculture, also they will be candidates for UNESCO World Heritage in 2017.
Keywords: Hiker. Walking Tourism. Madeira Island. Funchal.

1. Turismo de Passeio Pedestre
1.1 Conceitos e singularidades
O Turismo de Passeio Pedestre é uma das modalidades de Turismo de Natureza presente na noção de “Natureza Soft”, definida pela Organização Mundial do Turismo (THR, 2006). Isto justifica-se por o Turismo de Natureza ser definido como aquele turismo que observa, aprecia e interpreta formal e/ou informalmente a natureza (fauna, flora, paisagens naturais, rurais e humanas, formas de relevo, etc.).
Esta prática turística denominada por Turismo de Passeio Pedestre/Percursos Pedestres, Turismo de Pedestrianismo ou ainda, para Granet (2012), como Turismo de Itinerário/Itinerante, tem ganho cada vez mais representatividade em várias regiões nacionais e internacionais, rurais e urbanas, tanto no domínio da procura como no domínio da oferta. Sendo interessante nesta prática a fácil conjugação das duas grandes componentes do turismo/património – natureza e cultura – uma vez que são vários os tipos de serviços e produtos que, habitualmente, os praticantes deste lazer usufruem.
O Turismo de Passeio Pedestre como um lazer ativo, desporto de natureza, atividade, deslocação num tempo livre fora do local de residência pelo menos 24 horas, tem como principal objeto/atividade o pedestrianismo, que é definido como a “atividade de percorrer distâncias a pé, de forma a desfrutar de tudo o que rodeia, a um ritmo tranquilo. O caminho não é um fim, mas um meio, pelo que as rotas são habitualmente estabelecidas tendo em conta o interesse paisagístico, cultural ou histórico” (Santos e Cabral, 2005: 103).
Por sua vez, o pedestrianismo conjuga várias práticas muito diferentes, que vão da simples marcha a pé, até caminhadas de natureza desportiva, individualmente ou em grupo; com apoio ou não de empresas de animação turística; em meio rural ou urbano.
A este respeito, Braga (2007) apresentou um breve retrato histórico, no qual aponta o pedestrianismo como prática organizada na Inglaterra do século XIX e refere que só depois da 2ª Guerra Mundial ocorreu o “boom” da criação de percursos por várias regiões do mundo. No entanto, desde cedo já existiam práticas que foram a origem desta atividade, uma vez que na Idade Média e depois, no Renascimento, “eram sobretudo os comerciantes e os peregrinos que se deslocavam por milhares de quilómetros, em míticas viagens que duravam anos, à procura de novos mercados, da espiritualidade e da saúde, à descoberta de novos mundos” (Bietolini, 2007: 7).
É notório o facto deste tipo de turismo crescer ao longo dos anos, tal como o forte aumento das práticas de merchandising de equipamentos e serviços deste desporto de natureza (Calmé, 2011; Granet, 2012).
Para Borchgrave et al. (2001), as principais componentes básicas deste produto turístico, resumem-se a três, sendo elas os percursos pedestres; os serviços aos caminhantes (alojamento, restauração e os transportes); e o dispositivo de informação (painéis informativos, guia do percurso, mapas, entre outros). Obviamente há outras componentes que integram este produto como as caraterísticas dos caminhantes (físicas, sociais, culturais), bem como as entidades que criam/valorizam/protegem os percursos em todas as suas dimensões (infraestrutura física; integração na natureza; simbologia/identidade).
Não obstante, sendo os percursos pedestres a componente principal desta atividade, podem divergir consoante a forma (circular, ziguezague, oito, linear, em anéis contíguos, em anéis satélites e em labirinto); o grau de dificuldade (fácil, médio e alto), com ou sem guia de interpretação ambiental; a extensão (pequena e grande rota), conforme notaram Bietolini (2007), Braga (2007), Calmé (2011), entre outros.
No que diz respeito à sua expressão geográfica, esta é evidente em vários países, muitos deles com maior tradição desta atividade do que Portugal. Alguns países da Europa destacam-se pela vasta rede de percursos sinalizados, uma grande diversidade de empresas deste ramo e as criativas formas de divulgação, como a Áustria, a França, a Alemanha, o Reino Unido, a Suécia e a Suíça.  Por exemplo, Tovar (2010) mostra-nos que a Alemanha tem mais de 200.000 quilómetros de percursos sinalizados, Áustria com 44.000 km, Bélgica a rondar os 5000 km e Chipre com mais de 530 Km. Números que devem ter aumentado nos últimos anos, atendendo às potencialidades e maneiras de agir dos países (apoio multifacetado a empresas, instituições e autoridades locais).
Outra ideia relevante é que “não sendo uma atividade particularmente perigosa, exigente ao nível de conhecimentos técnicos ou uma forte interação com outros recursos ou setores” (Santos e Cabral, 2005: 105), pode de facto ser promotor de desenvolvimento, dado que tende a valorizar a conservação dos caminhos, calçadas, lugares de interesse, a fauna e a flora, pois precisamente depende deles para a sua concretização, para além de fomentar práticas de educação ambiental/patrimonial (Carvalho, 2011).

1.2 Práticas sustentáveis e seguras
O Turismo de Passeio Pedestre evidencia uma clara e necessária conduta sustentável, coerente e adequada por parte de dois grandes atores desta atividade, os quais são os seus praticantes e igualmente as instituições/territórios/grupos públicos e/ou privados que os possuem, promovem, preservam, controlam.
Em relação aos turistas/praticantes de percursos pedestres, estes devem esforçar-se para reunirem condições para fazer uma boa caminhada com equipamento e segurança adequados. Entre os diversos conselhos, Barbosa (2000: 14) aponta vários sobressaindo elementos como o equipamento, a segurança, a alimentação e outros, como se depreende das suas ideias, a saber: “leve sempre consigo uma mochila com uma muda de roupa, primeiros socorros, um saco para lixo, um apito de emergência, uma lanterna, um farnel energético e água potável. (…) Use calçado resistente e vestuário desportivo, adequado à estação do ano. No inverno, não se esqueça do impermeável e, no verão, do chapéu, protetor solar e óculos de sol. Evite caminhar ou pedalar nas horas de maior calor. Embora em passeios com as caraterísticas destes a bússola possa não ser necessária, não a dispense, é sempre um excelente ‘tira-teimas’ e, caso se desvie do bom caminho ou tenha algum azar, pode ser a sua salvação. Se tiver telefone móvel leve-o, mas não conte com ele em todos os momentos do percurso. Evite passear sozinho. Se for essa a sua opção, deixe o seu contato e uma cópia do percurso que vai fazer a alguém da sua confiança. Antes de partir leia o descritivo do passeio e organize o seu dia em função do tempo que calcula gastar, de modo a que a hora de regresso seja sempre antes do pôr-do-sol.”
Já Bietolini (2007: 23), identifica um conjunto de regras que considera fundamental para o pedestrianista. Estas regras passam por ser um conjunto bem extenso que vai desde o material que deve ser utilizado, ao comportamento que o praticante deve ter, à relação com o meio e com os outros. Assim, destacam-se:
‒ Ajudar quem se encontra em dificuldades;
‒ Evitar fazer barulho;
‒ Comunicar às autoridades competentes tudo aquilo que pensa poder causar danos ambientais;
‒ Não apanhar flores e não assustar os animais;
‒ Não pisar plantações;
‒ Não atirar pedras;
‒ Respeitar as populações locais e a propriedade privada;
‒ Acampar nas áreas destinadas a esse efeito, tendo o cuidado de não fazer fogueiras com vento e extinguir os tições.
Os painéis informativos e a sinalética, correspondem a ferramentas importantes nesta atividade, por isso mesmo, estas devem ser tidas em conta para um bom funcionamento da prática em causa. Estas encontram-se em várias áreas do percurso e possuem informação de orientação e complementar para os praticantes, com dados sobre o percurso e a área envolvente, bem como outra informação que possa ser útil para o pedestrianista (podemos encontrar mapas, ilustrações, descrições de distância, grau de dificuldade, descrição do percurso, locais de alojamento e de restauração, contatos úteis, entre tantos outros dados), como refere Tovar (2010).
Os possuidores/promotores/preservadores de percursos pedestres públicos e/ou privados, também têm que ser capazes de gerir estes percursos valorizando-os, permitindo que os mesmos estejam em condições para a sua utilização. De acordo também com os objetivos destes agentes, poderão promover a divulgação dos seus percursos bem como o investimento na ampliação e na melhoria contínua das suas condições.
Todavia, esta modalidade é muito condicionada pelas condições atmosféricas, sendo o nevoeiro e a neve, os temporais e raios, temperaturas elevadas ou baixas as mais desafiantes (Bietolini, 2007; Gabirel, 2005; Granet, 2012; Tovar, 2010). Esta questão é importante ser refletida e tida em linha de conta por os vários atores do pedestrianismo, de forma a evitar potenciais acidentes que poderão advir de práticas mal ou pouco planeadas.

1.3. Entidades de referência
O pedestrianismo é uma atividade que tem, um pouco por todo o mundo, várias associações, clubes e organizações públicas e/ou privadas que ao lidarem direta e/ou indiretamente com essa atividade, têm como objetivo comum a sua promoção. Havendo obviamente outros objetivos mais particulares que vão desde a realização de estudos sobre esta prática; o cuidado pela manutenção dos percursos pedestres; o fornecimento de informação/interpretação variada para os praticantes (características do território e do percurso pedestre como a história e geografia; a duração; a altitude; a forma; as principais atrações e outros) e fornecimento de materiais para a realização desta prática.
Neste domínio destacam-se diversas entidades cujo âmbito de atuação é variável, consoante se trate de organizações locais, regionais, nacionais e até internacionais como, por exemplo:
‒ A Federação de Campismo e Montanhismo de Portugal (FCMP), com génese em 1945, enquanto entidade que regula as atividades de pedestrianismo, é a Lei de Bases do Desporto de 2004, que lhe confere a representação nacional e internacional do pedestrianismo. Todavia, a FCMP proporciona eventos/atividades e tem a função de homologar os percursos pedestres, assim como de orientação da instalação de painéis informativos, marcação de percursos e placas indicativas.
‒ A European Ramblers Association(ERA), fundada em 1969, na Alemanha, dedica-se na criação e melhoria dascondições para a prática de pedestrianismo na Europa. Esta associação integra mais de 50 organizações, de 26 paísese conta com cerca de 5 milhões de membros. Apresenta informações bem organizadas na sua página web, com possibilidades de passeio em diversos países europeus.
La Fédération Francaise de la Randonnée Pédestre (FFRP) é representada por 120 comités regionais e departamentos de caminhadas, que reúne 3.350 associações ou clubes locais. Desenvolveu o projeto “Numérique”, no qual são apresentados, por via da internet, todos os percursos homologados por essa identidade, para gerir melhor esses percursos, unificar todas as equipas, e facilitar a visita dos futuros caminhantes com o fornecimento de informações úteis. Tem conselhos e divide os percursos em várias categorias como: costeira, campo, floresta, montanha, áreas naturais protegidas, cidade, condições desafiadoras e outras.
Todavia, as mais variadas organizações, instituições e entidades que lidam com esta atividade, têm frequentemente um leque de relações com as entidades governamentais, as quais sempre têm ou deveriam ter um papel decisivo para instrução, fornecimento de informação, consciencialização de todos (praticantes, moradores, entre outros), como nota Gabriel (2005).

2. Estudo de Caso: Funchal (Ilha da Madeira)
2.1 Breve caraterização territorial
Partindo para o estudo de caso, definido no concelho do Funchal, este é um município que tem cerca de 76 km², com 10 freguesias. O Funchal, enquanto concelho e capital da Região Autónoma da Madeira (figura 1), insere-se no contexto territorial do arquipélago da Madeira e é detentor administrativo das ilhas Selvagens (Selvagem Grande, Selvagem Pequena e o Ilhéu de Fora). Este conjunto territorial, conjuntamente com os arquipélagos dos Açores, Canárias e Cabo Verde, definem a localização da região biogeográfica denominada de “Macaronésia”. Estes arquipélagos são ilhas de origem vulcânica, detentoras de paisagens heterogéneas, de uma fauna e flora singulares, sendo a mais conhecida denominada de “Floresta Laurissilva” (Quintal, 2007).
O poder ou a capacidade atrativa do Funchal é evidente, tanto que este apresenta o maior número de habitantes da Madeira, com mais de 111 mil (censos de 2011). Igualmente, em termos turísticos, o dinamismo do Funchal é relevante, tanto que em 2012, de acordo com o INE (2013), o Funchal registou um total de 658 591 hóspedes; 3 798 355 dormidas; 6,3 noites de estada média de hóspedes estrangeiros. Destaca-se também o grande número de empresas de animação turística com sede no Funchal (92 empresas), os vários eventos de animação turística (festas, passatempos, seções fotográficas e outros), os vários percursos pedestres e patrimónios naturais/culturais.

2.2 Percursos pedestres e levadas
O Funchal é detentor de vários percursos pedestres com ou sem levadas. Atendendo à realidade local da Madeira, há outros concelhos onde a prática de pedestrianismo é maior, devido ao facto de terem percursos pedestres com maior diversidade de fauna e flora, bem como geológica. São exemplos, Calheta e Santana, enquanto municípios com maior número de percursos pedestres e levadas (recomendados ou não pela Direção Regional de Turismo da Madeira – DRTM), bem como detentores de dois grandes percursos pedestres bastante conhecidos (Levada do Rabaçal – 25 Fontes, na Calheta, e Levada do Caldeirão Verde, em Santana).
Como refere Quintal (2005: 1), as levadas são canais de irrigação com fluxos variáveis de água, integradas como “ricas peças do património cultural da Ilha da Madeira e a expressão viva de como foi possível a intervenção humana sem criar ruturas significativas no funcionamento dos ecossistemas”. É através delas que é possível descobrir recantos de beleza singular, integradas ou não, na Floresta Laurissilva, Património Mundial da UNESCO (United Nations Educational, Scientific and Cultural Organization) daí, também, a grande potencialidade da Madeira no pedestrianismo.
Em relação ao aparecimento das primeiras levadas, temos que apontar o século XV, no qual os primeiros povoadores começaram a construir vários canais de irrigação em diversos pontos da ilha, até porque no século XVI, já “era grande a fama da valentia e sabedoria dos trabalhadores madeirenses que construíam as levadas, que rasgavam as rochas duras abrindo novos caminhos para a água” (Quintal, 2007: 42). Essas levadas desde cedo tinham o objetivo de potenciar a prosperidade agrícola, trazendo água da costa norte para a costa sul, que era, e segue sendo, menos abundante em precipitação e água conservada (Quintal, 2007; Marujo, 2013).
Consequentemente é importante referir que a RAM “foi pioneira na aprovação de legislação relativa aos percursos pedestres. Com efeito, o Decreto Legislativo Regional nº 7-B/2000/M, estabelece os percursos pedonais recomendados naquela Região” (Braga, 2007: 69). Este diploma acaba por classificar todos os percursos recomendados como pequenas rotas, aprova o modelo dos painéis informativos e toda a sinalética; atribui responsabilidades pela manutenção, fiscalização e sinalização à Direção Regional de Florestas, ao Parque Natural da Madeira, às autarquias locais e às entidades gestoras de levadas, bem como criou uma comissão de acompanhamento de trabalhos (Braga, 2007).
Segundo o Guia da Madeira e do Porto Santo (editado pela Direção Regional de Turismo da Madeira, em 2012),  a RAM tem mais de 20 percursos recomendados pela DRTM; dos percursos existentes no concelho do Funchal, destacam-se o PR1 – Vereda do Areeiro (Pico do Areeiro – Pico Ruivo); PR3 – Vereda do Burro (Pico do Areeiro – Ribeira das Cales); PR3.1 – Caminho Real do Monte (Ribeira das Cales – Monte); PR4 – Levada do Barreiro (Poço da Neve – Casa do Barreiro). Contudo, António Olival, um dos técnicos do Parque Ecológico do Funchal, explicou-nos que “um dos motivos da não divulgação pelo Parque Ecológico do Funchal/CMF (Câmara Municipal do Funchal) dos percursos pedestres na sua área de gestão (PR3; PR3.1 e PR4) é porque não existem como tal (Percurso Pedestre – Infraestrutura para a prática desportiva, turística e ambiental)​”, devido aos acontecimentos relacionados com as catástrofes ocorridas em 2010 (cheias e incêndios), que deturparam/destruíram o estado dos itinerários e alguma fauna e flora.
O percurso 1 – Vereda do Areeiro – é um trilho com 7 km, com duração de três horas e meia, liga os dois picos mais altos da Madeira (Pico Ruivo e Pico do Areeiro). O percurso tem levadas e é repleto de túneis, declives acentuados, grutas e paisagens singulares. É um percurso com início no Miradouro do Pico do Areeiro e fim no Pico Ruivo, que permite observar aves nidificantes como os patagarros (Puffinus puffinus), o tentilhão (Fringilla coelebs madeirensis), o bisbis (Regulus ignicapillus madeirensis) e da espécie endémica freira da Madeira (Pterodroma madeira), considerada a ave marinha mais ameaçada da Europa e é a espécie mais atrativa e protegida deste local.
Não obstante, há outros tantos percursos no Funchal que são frequentados por turistas e evidentemente por residentes com motivos variados como o lazer, trabalho (agrícola) e até por motivos religiosos, deslocando-se através deles para irem a festas e romarias religiosas (motivação primária ou secundária). Quintal (2005) identifica exemplos de alguns dos percursos que ele realizou no Funchal, que são gratuitos e públicos, destacando-se entre tantos os seguintes:
– Largo da Fonte > Largo das Babosas > Levada dos Tornos > Curral dos Romeiros > Caminho do Curral dos Romeiros > Largo das Babosas > Largo da Fonte.
– Largo da Fonte > Largo das Babosas > Caminho do Curral dos Romeiros > Ribeira de João Gomes > Levada do Bom Sucesso > Capela do Bom Sucesso.
– Casa da Ribeira das Cales > Miradouro do Pico Alto > Levada das Cales > Viveiro Florestal de Plantas > Casa da Ribeira das Cales.
– Casa da Ribeira das Cales > Miradouro Pico Alto > Levada das Cales > Arrebentão > Terreiro da Luta > Monte.
– Pico do Areeiro > Miradouro do Juncal > Miradouro do Ninho da Manta > Pico do Areeiro.
Já de acordo com a CMF, o Funchal é detentor de 5 percursos pedestres que são muito utilizados para agricultura, para lazer e desporto, tal como pelos turistas. Aqui destacam-se os seguintes percursos:
– Do Monte ao Bom Sucesso;
– Do Monte à Camacha;
– Levada dos Piornais;
– Levada do Curral e Castelejo;
– Caminho da Neve.
Destes percursos/levadas, as principais são a levada do Curral e Castelejo e a levada dos Piornais. A primeira permite ao praticante um passeio com algum risco e necessidade de atenção por o percurso encontrar-se um pouco degradado, com ausência de varandas nas bermas do percurso. A levada dos Piornais é de realização mais fácil, na qual, ao longo de cerca de um quilómetro surgem alguns precipícios. Lado a lado vivem plantas indígenas e plantas exóticas como a tabaqueira e a cana vieira.
Paralelamente, as levadas dos Piornais e Curral e Castelejo, duas das levadas mais antigas e que se mantêm como propriedade de heréus (o recurso hídrico pertence a proprietários privados), continuam a ser as principais fornecedoras de água aos espaços verdes da zona oeste. Estas levadas distribuem água em diversos locais do Funchal como o Hospício Princesa D. Amélia, vários hotéis (Hotel Cliff Bay, Hotel Pestana Casino Park, Hotel Pestana Village, Hotel Reid), cemitérios e quintas (Quinta da Bela Vista) (Quintal, 2007).
Os meios de divulgação destes percursos pedestres passam pela via formal, com recurso às entidades competentes e coordenadas com a Câmara Municipal do Funchal (associações recreativas, DRTM e outras) e informal por meio dos praticantes nacionais e estrangeiros que indicam a realização dos percursos para outras pessoas (familiares, amigos/conhecidos). Todavia, é de destacar a grande campanha publicitária em vários canais televisivos e não só que de 2013 para 2014 tem ocorrido e tem dinamizado o Turismo de Natureza em geral e o Turismo de Passeio Pedestre em particular.
O concelho do Funchal apresenta uma variedade alargada de empresas de animação turística que promovem e exercem a sua atividade no pedestrianismo. Embora a visita/prática dos percursos possa ser realizada gratuitamente, algumas empresas como a Nature Meetings, a Madeira Harmony in Nature, a Madeira Blue Sun, Madeira Adventure Kingdom e a Madeira Explorers oferecem serviços de monitorização e de guia-intérprete dos percursos pedestres no Funchal e um pouco por toda a ilha. Algumas destas empresas não se restringem à atividade do pedestrianismo, pois valorizam outras áreas desportivas de natureza como o mergulho, asa delta e outros.
Por fim, em maio de 2014, a SRARN (Secretaria Regional do Ambiente e dos Recursos Naturais) estava a começar o processo de candidatura das levadas da Madeira a Património Mundial da Humanidade da UNESCO, agendada para ser entregue em 2017, por terem grande e distinta importância cultural e natural, valor estético excecional e a existência de uma grande harmonia entre o Homem e a Natureza. A eventual classificação trará mais-valias para a Madeira, de que resultará a necessidade de planeamento e gestão do turismo.

2.3 Benefícios da prática de pedestrianismo/turismo de passeio pedestre
Os benefícios da prática destas atividades passam por uma grande diversidade de opções. Estes ocorrem frequentemente em dois níveis – praticantes e territórios/comunidades. Estes usufruem de benefícios em várias categorias, como são exemplos os benefícios socioeconómicos, culturais, administrativos e outros como a saúde e a imagem dos territórios.
Incidindo nos benefícios que levam as pessoas a praticarem este desporto, estes podem ser também as grandes motivações que levam essas mesmas pessoas a fazerem esta atividade. Este desporto no concelho do Funchal, tal como em outros territórios, possibilita: obter resultados proveitosos em termos de imagem e de saúde; conhecer mais e melhor a variedade paisagística, a fauna e a flora (Floresta Laurissilva), as formas e singularidade dos percursos; ser factor de afirmação social/distinção social; convívio/distração/quebra da rotina/diminuição do stress; desenvolvimento dos laços familiares (Alencoão et al., 2010; Calmé, 2011; Gabriel, 2005; Sousa, 2014).
Em relação ao território em estudo e às comunidades, os benefícios passam pelo/por: fortalecimento e/ou criação de empregos variados (limpeza, empresas de animação turística, transportes, restauração, alojamentos, conservação e outros); transmitir uma boa imagem externa e interna deste concelho; contribuir para a diminuição da sazonalidade turística, pois isto é confirmado por exemplo com o Festival da Natureza (em outubro) e a Festa da Flor (em maio); reforço da identidade cultural e orgulho da população local; encoraja a manutenção/recuperação da qualidade/das condições dos percursos pedestres (Sousa, 2014).
Por último, importa referir que estes e outros benefícios que são bastante positivos para os praticantes, sejam eles turistas ou não, bem como para o território do Funchal, andam lado-a-lado com potenciais impactos negativos que podem e costumam surgir, daí a necessidade de haver a promoção de medidas que colmatem esses mesmos impactos – consciencialização dos praticantes pelo respeito que devem ter com a natureza; maior e melhor informação para a prática de pedestrianismo (incluindo aspetos de segurança, do estado do tempo, do equipamento e alimentação necessária, entre outros); maior vigilância e cuidado para não ocorrerem acidentes; cuidado integrado e se possível contínuo na manutenção da qualidade das condições dos percursos pedestres, entre outros, para evitarem alguma poluição/degradação de espécies que as vezes se encontra nalguns percursos pedestres.

2.4 Resultados de um estudo exploratório
No âmbito da investigação que conduziu à dissertação de mestrado com o título “O Turismo de Natureza no Funchal”, Sousa (2014) analisou o perfil de procura turística da natureza no Funchal, com base em inquéritos por questionário realizados no Pico do Areeiro (o ponto mais elevado do Funchal e um dos locais de maior altitude da Madeira). Este é um espaço de contemplação da natureza, com percursos pedestres e possibilidade de observação da flora e também da fauna (designadamente a freira da Madeira) nas múltiplas paisagens existentes (figuras 5 e 6). No total 105 pessoas, selecionadas aleatoriamente, responderam ao inquérito durante o mês de junho de 2014.
Quanto à estrutura dos inquéritos, esta incidiu em 3 grupos principais – Dados Pessoais, Atividade Realizada e Outras Informações – em 5 línguas diferentes (português, espanhol, francês, inglês e alemão), com questões abertas e fechadas.
A análise dos principais resultados do inquérito revela que a média etária dos inquiridos foi de 43.2 anos, num total de 37 indivíduos do sexo feminino e 68 do sexo masculino. A idade das pessoas inquiridas foi muito diversificada, com 57% com idades compreendidas entre os 40-50 anos, o que já era de esperar, uma vez que o Pico do Areeiro é um espaço simbólico de lazer, observação e fruição da natureza, mas também de alguma da cultura madeirense com a venda de produtos regionais tanto na restauração como no comércio (Sousa, 2014).
No que concerne à proveniência geográfica dos inquiridos é de referir que ela é também bastante diversa, sendo que o país que obteve maior percentagem foi Portugal com 28%, seguindo-se Espanha com 14%, Reino Unido e Alemanha, ambos com 18% (figura 7). Das regiões destes países foram regulares e semelhantes as respostas atendendo aos vários grupos de turistas/visitantes do espaço estarem organizados, destacando-se alguns com elevadas percentagens como, por exemplo, Lisboa, Madrid, Paris, Londres, Hamburgo, Berlim.
Em relação às profissões e habilitações académicas, 12% dos inquiridos afirmaram ter um nível primário de habilitações (até o 9º ano), 40% com o nível secundário (até o 12º ano), 34% com nível de ensino superior e 14% não respondeu. Das profissões com maior percentagem destacaram-se “Comerciante” (12%) e “Administrativo” (8%); 23% dos inquiridos revelou estar desempregado/não trabalhar, bem como 12% referiu encontrar-se reformado.
Quanto aos motivos da visita ao Pico do Areeiro (para fazer o percurso pedonal para o Pico Ruivo, observar, fruir e estudar a Natureza), 40% dos inquiridos referiram o motivo “Custo/Qualidade”; quase todos eles apontaram o motivo “Lazer/Recreio” (98%). Também outros motivos foram apontados como “Beleza” (30%), a “Ave: freira (Pterodroma madeira)” (10%), entre outros. O grau de satisfação repartiu-se segundo as opções “Muito Satisfeito” (56%), “Satisfeito” (41%) e “Indiferente” (3%). 
No que refere às atividades na natureza praticadas pelos inquiridos, estas revelaram a utilização/fruição de levadas e veredas, a visita de jardins e teleféricos, a observação da natureza/vida selvagem e a prática de alguns desportos como o parapente, a escalada e o mergulho.
Estas atividades decorreram em vários locais da ilha para 44% dos inquiridos, destacando-se o Funchal. Os motivos foram também diversos, como as férias com 49%, o convívio com 43%, descanso e exercício físico, ambos com 13%.
No alojamento, 42% dos inquiridos disseram que não estavam alojados no Funchal, 10% não respondeu, e dos 48% que responderam de forma positiva, indicaram vários alojamentos destacando-se as mais comuns – “casa de amigos” (10%), “Pensão Residencial Mirasol” (8%) e “The Wine Hotel” (8%).
Finalmente é de referir que todos os inquiridos manifestaram o gosto pela componente verde do Funchal e da Madeira, bem como reconhecem o facto de merecer o prestígio que tem.

3. Conclusão
Na presente reflexão procurou-se analisar diversos aspetos que se prendem com o Turismo de Passeio Pedestre. Este, definido como um lazer ativo, desporto de natureza, produto turístico atual e até de nicho, é uma forma de deslocação num tempo livre, fora do local de residência, durante pelo menos 24 horas, que tem nos percursos pedestres/pedestrianismo a sua principal atividade/suporte e motivação.
O Turismo de Passeio Pedestre pode ser estudado segundo duas grandes referências que são os seus praticantes e igualmente as instituições/territórios/grupos públicos e/ou privados que possuem, promovem, preservam e gerem os percursos pedestres. Serão estes dois domínios que terão um conjunto de regras ou boas práticas para que a atividade em causa decorra sobretudo de forma sustentável/correta/organizada.
O pedestrianismo, como prática organizada desde o século XIX, tem ganho cada vez mais adeptos de várias formas – praticantes; associações e clubes; organizações internacionais; investidores públicos e/ou privados. Adeptos esses que encontram-se em várias escalas geográficas, onde há países com maior tradição de pedestrianismo que Portugal.
Relativamente ao estudo de caso, o Funchal demonstra ter boas capacidades atrativas para o turismo em geral e para o Turismo de Passeio Pedestre, em particular. Com vários percursos pedestres, que podem incluir levadas, o Funchal destaca-se por possuir a Floresta Laurissilva que pode ser interpretada (a par de outros aspetos locais) por guias intérpretes/de montanha de empresas de animação turística.
Dos percursos pedestres mais conhecidos e valorizados do Funchal, destacaram-se a Vereda do Areeiro, que liga os pontos mais altos da Madeira, bem como as levadas do Curral e Castelejo e dos Piornais. Estes e outros percursos possibilitam um conjunto de benefícios, tal como acontece em outros territórios, tanto da ilha como no mundo, enquadrados em várias categorias como foram exemplificados – socioeconómicos; culturais; administrativos, promoção da saúde e bem-estar dos praticantes e imagem dos territórios. A gestão dos benefícios e dos impactos menos positivos que podem ocorrer, será fundamental para melhorar a experiência turística e salvaguardar ao mesmo tempo o território e a sua comunidade. Esta gestão será ainda mais urgente aquando da candidatura das levadas a Património Mundial da UNESCO.
Dos principais resultados dos inquéritos realizados aos turistas no Pico do Areeiro (junho de 2014), destaca-se o facto da prática de pedestrianismo, no concelho do Funchal, por parte dos turistas, ser primária (onde o pedestrianismo é a principal motivação) ou secundária (onde o motivo principal da deslocação foi outro, mas igualmente realizaram percurso(s)). Mais de 70% (exatamente 72%) dos inquiridos eram estrangeiros (com nacionalidades variadas); 88,6% tinham idades compreendidas nas faixas etárias dos 20 aos 50 anos; as profissões e habilitações académicas foram muito diversificadas; as atividades realizadas na natureza incidiram nas levadas e veredas (69%); cerca de metade da amostra (48%) ficou alojada no Funchal, bem como todos os inquiridos manifestaram o gosto pela componente verde do Funchal e da Ilha da Madeira, reconhecendo-lhes a fama que tem.

Referências bibliográficas
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Federação de Campismo e Montanhismo de Portugal: http://www.fcmportugal.com/ [consultado em: 1/11/2014];
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