O PROCESSO DE ENTRADA E PERMANÊNCIA DE ESTUDANTES COM DEFICIÊNCIA NAS INSTITUIÇÕES PÚBLICAS DE ENSINO SUPERIOR EM MACAPÁ

O PROCESSO DE ENTRADA E PERMANÊNCIA DE ESTUDANTES COM DEFICIÊNCIA NAS INSTITUIÇÕES PÚBLICAS DE ENSINO SUPERIOR EM MACAPÁ

Christian De Lima Cardoso
Tatiani Da Silva Cardoso
Yuri Yanic
Roberto Carlos Amanajas Pena
(CV)

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CAPITULO 2

DEFICIÊNCIA COMO PRODUTO DA ORGANIZAÇÃO SOCIAL

1 A NORMALIZAÇÃO COMO FATOR CULTURAL CRIADOR DA CONDIÇÃO DE DEFICIÊNCIA

Edward Tylor, ao sintetizar no termo inglês Culture, o significado do termo alemão Kultur, e o significado do termo francês Civilization, chegou à seguinte formulação: tomado em seu amplo sentido etnográfico é este todo complexo que inclui conhecimentos, crenças, arte, moral, leis, costumes ou qualquer outra capacidade ou hábitos adquiridos pelo homem como membro de uma sociedade. Em tal definição, merecem destaque os aspectos construtivos e aquisitivos da cultura enquanto produção social.
Nela, fica mais ou menos claro que o homem apreende e reproduz os padrões sociais dos grupos em que está inserido. Esta formulação, se distancia de algumas teorias, segundo as quais, fatores biológicos seriam determinantes da grande diversidade cultural. Contrapondo estas teorias, é redigida, em Paris, em 1950, por um grupo formado por biólogos, antropólogos, geneticistas, uma declaração onde se afirma:

Os dados científicos de que dispomos atualmente não confirmam a teoria segundo a qual as diferenças genéticas hereditárias constituiriam um fator de importância primordial entre as causas das diferenças que se manifestam entre as culturas e as obras das civilizações dos diversos povos ou grupos étnicos. Eles nos informam, pelo contrário, que essas diferenças se explicam, antes de tudo, pela história cultural de cada grupo. Os fatores que tiveram um papel preponderante na evolução do homem são a sua faculdade de aprender e a sua plasticidade. Esta dupla aptidão é o apanágio de todos os seres humanos. Ela constitui, de fato, uma das características específicas do Homo sapiens. LARAIA (2002, p. 18).

Verifica-se, portanto, que cultura é um processo acumulativo e por isso mesmo tem uma característica condicionante da ação criativa do homem, pois ao mesmo tempo em que pode ou não inserir o indivíduo pela reprodução e assimilação da cultura pelo processo chamado de endoculturação1 , ela também limita a visão de mundo segundo a produção cultural deste mesmo grupo. Contudo, não se quer com isso dizer que o sujeito não passa de uma marionete social, pois, assim como não é autônomo já que seu eu, segundo a sociologia clássica, estabelece um intenso diálogo com as identidades exteriores, também não é completamente passivo, pois “projetamos a ‘nós próprios’ nessas identidades culturais, ao mesmo tempo em que internalizamos seus significados e valores, tornando-os ‘parte de nós’” (Hall, 2005); este ajustamento do sujeito à estrutura exterior lhe garante certa estabilidade e lhe permite manter uma identidade mais ou menos definida, na medida em que as mudanças estruturais e institucionais, características da pós-modernidade, lhe proporcionem o tempo necessário para tal.
A significação que o homem constrói do meio onde vive, a qual é a sua realidade, está impregnada da herança cultural construída pelas gerações anteriores. O indivíduo pode adotar ou rejeitar padrões de comportamento, dentre os quais, aqueles que lhe permitirão ser ou não aceito na sociedade, ainda que, a autenticidade da identidade cultural e pessoal, bem como a autonomia da identidade moral dependam do reconhecimento dos outros. Ao ser condicionado pela cultura, desenvolvida através de inúmeras gerações, o indivíduo tende a segregar aqueles que estão fora dos padrões estabelecidos e aceitos pela maioria da comunidade. Por isso os indivíduos da sociedade, ao perceber o comportamento do outro como fora dos padrões culturais, discriminam-no por apresentar um comportamento considerado desviante ao que já está pré-estabelecido.
Como Habermas diz em sua teoria de identidade pós-convencional:

Somente na medida em que nós crescemos dentro deste contexto social (grow into these social surroundings) é possível nos constituirmos como atores individuais responsáveis; na internalizarão de controles sociais, desenvolvimento para nós mesmos, separados dos outros (in our own right), a capacidade ou de seguir ou de violar as expectativas que são consideradas legítimas. (HABERMAS, 1988 apud BANNELL, 2006, p.111).

1 Processo através do qual o homem exerce sua capacidade ilimitada de assimilar a herança cultural acumulada por seus antecessores.