FRONTEIRAS E FRONTEIRIÇOS

FRONTEIRAS E FRONTEIRIÇOS

Karoline Batista Gonçalves(CV)
Roberto Mauro Da Silva Fernandes
(CV)
Organizadores
Universidade Federal da Grande Dourados

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FRONTEIRIÇOS: CAMINHOS E LUTAS PARA A PERMANÊNCIA NA TERRA

Juliana Tosati Nogueira
Mestre em geografia pela UFGD - Universidade Federal da Grande Dourados
jutosati@yahoo.com.br

Resumo
No presente artigo buscamos apontar as características da fronteira Brasil-Paraguai, bem como identificar o homem/mulher fronteiriço do ponto de vista social, cultural e econômico, fazendo um estudo de caso com os ex-brasiguaios que se encontram territorializados no Assentamento Itamarati I. Na compreensão da fronteira Brasil–Paraguai, buscamos compreendê-las enquanto fronteira viva, do deslocamento de pessoas e mercadorias, das estratégias de cidadania e das identidades negociadas de acordo com as necessidades existentes no momento e ainda da ambigüidade vivida nesta fronteira. Utilizamos fontes orais coletadas junto ao MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra), FETAGRI (Federação dos Trabalhadores na Agricultura) e CUT (Central Única dos Trabalhadores) em quatro etapas: a primeira em julho/2009, a segunda em dezembro/2009, a terceira em abril/2010 e a quarta em dezembro/2010. Para a escolha das famílias a serem entrevistadas contatamos, inicialmente, a religiosa Irmã Olga Manosso - ligada à Igreja Católica e voluntária da CPT (Comissão Pastoral da Terra), residente no Assentamento Itamarati e a assistente social da AGRAER – (Agência  de Desenvolvimento Agrário e Extensão Rural) Sandra Araújo. A partir do momento em que passamos a conhecê-los e identificá-los, fizemos a escolha aleatória das famílias dos três movimentos que nos propusemos a estudar. Os questionários abertos foram aplicados a um total de 17 famílias assentadas, a dois representantes da AGRAER, e a três representantes da CPT que acompanham o nascimento da luta pela terra no Estado de Mato Grosso do Sul e, principalmente, a desapropriação da Fazenda Itamarati, em que buscamos retratar a territorialidade (modo de vida) dos ex-brasiguaios em área de fronteira. Este trabalho se justifica pela importância que o estudo das relações da fronteira Ponta Porã/BR e Pedro Juan Caballero/PY tem no âmbito da ciência geográfica, uma vez que buscamos estabelecer um diálogo entre a concepção de fronteira e o cotidiano dos assentados, bem como identificar suas lutas na terra.

Palavras-chaves: territorialidade, fronteira, ambiguidade.

Abstract
In this article, we try to point out the characteristics of the Brazil-Paraguay border, as well as identify the man / woman of the frontier point of view social, cultural and economic, making a case study with former brasiguaios that are territorialized in Settlement Itamarati I. In understanding the Brazil-Paraguay border, seek to understand them as frontier living, the movement of people and goods, strategies citizenship and identities negotiated in accordance with the requirements existing at the time of ambiguity and still lived on this border. We use oral sources collected by the MST (Movement of Landless Rural Workers), FETAGRI (Federation of Agricultural Workers) and CUT (Unified Workers) in four stages: the first in July/2009, the second in December 2009, the third in April 2010 and the fourth in December/2010. For the choice of households to be interviewed contacted initially the religious Sister Olga Manosso - linked to the Catholic Church and volunteer CPT (Pastoral Land Commission), residing in caseworker and Settlement Itamarati of Agra - (Agency for Agricultural Development and Extension Rural) Sandra Araujo. From the moment we start to know them and identify them, we made a random selection of households of three movements that we set out to study. The questionnaires were applied to open a total of 17 families settled, the two representatives of Agra, and three representatives of the CPT that accompany the birth of the struggle for land in Mato Grosso do Sul, and especially the Foreign Ministry of Finance expropriation in we seek to portray territoriality (way of life) of former brasiguaios in the border area. This work is justified by the importance of the study of the relationship of the border Ponta Pora / BR and Pedro Juan Caballero / PY is within the geographical science, as we seek to establish a dialogue between the design of everyday frontier and the settlers, as well as identifying their struggles on earth.

Keywords: territoriality, border ambiguity.

 

1 – Introdução

Buscamos, neste trabalho, discutir aspectos da dinâmica socioterritorial em áreas de fronteira internacional, com destaque à análise de famílias ex-brasiguaias, que retornaram do Paraguai e conquistaram seu pedaço de chão no Assentamento Itamarati I, Mato Grosso do Sul. Para a realização deste estudo, trabalhamos com fontes orais, coletadas junto aos assentados, CPT, AGRAER e levantamento bibliográfico de pesquisadores que pudessem nos orientar quanto às suas reflexões. Dessa forma, O conceito de território é o que norteia a pesquisa, para compreendermos a territorialidade (modos de vida) na fronteira Brasil-Paraguai.
Para Haesbaert (2006) o conceito de território é muito amplo e pode ser visto a partir de uma concepção materialista, naturalista, econômica, social, política e idealista. Esse autor, contudo, entende o território a partir de uma perspectiva integradora, ou seja, faz uma abordagem de maneira que integre todas as demais concepções. Assim, afirma Haesbaert (2006, p. 235):

[...] existem definições integradoras, como a que defendemos aqui, e que vêem o território - ou os processos de territorialização – como fruto da integração entre relações sociais e controle do/pelo espaço, relações de poder em sentido amplo, ao mesmo tempo de forma mais concreta (dominação) e mais simbólica (um tipo de apropriação).

Partindo dessa visão integradora, território define-se pela relação entre os homens e dos homens com a natureza.
O Estado exerce papel importante na reprodução do espaço, imprimindo novos recortes e novas relações. Esse é o caso da reorganização territorial ocorrida na antiga Fazenda Itamarati em que o Estado (órgão regulador) mediou a transformação da Fazenda em Assentamento.
Segundo Fernandes (2008), o território é uma das categorias de análise da geografia e, recentemente, tornou-se um conceito muito utilizado por diversas ciências que se ocupam dos processos de produção do espaço, além de ser utilizado, também, como motivo para disputas entre as classes sociais para determinar quem terá o controle sobre o território e, muitas vezes, essas disputas vêm acompanhadas de conflitos. Sobre esse assunto, Fernandes (2008, p. 5) afirma:

A conflitualidade é o processo de relações de enfrentamento permanentes nas interpretações que objetivam as permanências e ou as superações das classes sociais, grupos sociais, instituições, espaços e territórios. As contradições produzidas pelas relações sociais criam espaços e territórios heterogêneos, gerando conflitualidade. As classes sociais, suas instituições e o Estado produzem trajetórias divergentes e diferentes estratégias de reprodução sócio-territorial. A conflitualidade é apenas um componente. Esse processo é formado por diversos componentes [...]. O âmago da conflitualidade é a disputa pelos modelos de desenvolvimento em que os territórios são marcados pela exclusão das políticas neoliberais, produtora de desigualdades, ameaçando a consolidação da democracia.

Partindo da idéia de território desses autores e da idéia de conflitualidade destacada por Fernandes, podemos afirmar que a disputa por territórios é, de fato, uma luta repleta de conflitos, pois, de acordo com Santos (2002, p. 9):

[...] O território é o lugar em que desembocam todas as ações, todas as paixões, todos os poderes, todas as forças, todas as fraquezas, isto é, onde a história do homem plenamente se realiza a partir das manifestações da sua existência.

A territorialidade, por sua vez, seria a face “vivida” no dado território pelos membros do grupo social. Isso envolve, em outras palavras, tudo o que se vive, tudo o que se faz, tudo o que se transforma, por intermédio das relações existenciais ou produtivas; sendo que essas relações podem ser relações com a natureza e com os próprios seres sociais. Segundo Raffestin (1993), a territorialidade pode ser definida como um conjunto de relações que se originam em um sistema tridimensional sociedade-espaço-tempo, em vias de atingir a maior autonomia possível com os recursos do sistema. De acordo com Raffestin (1993, p. 161-162):

Cada sistema territorial segrega sua própria territorialidade, que os indivíduos e a sociedade vivem. A territorialidade se manifesta em todas as escalas espaciais e sociais; ela é consubstancial a todas as relações e seria possível dizer que, de certa forma, é a face “vivida” da face agida do poder.

Nesse sentido, o estudo sobre fronteira é importante para compreendermos a territorialidade dos ex-brasiguaios assentados no assentamento Itamarati I, que faz fronteira com Pedro Juan Caballero, Departamento de Amambay - Paraguai.
Dessa forma, identificamos a territorialidade a partir das relações cotidianas do trabalho camponês, da relação com a vizinhança e com pessoas que vivem do outro lado da fronteira e do fluxo de comércio existente entre os dois países.
A fronteira internacional entre Brasil e Paraguai estende-se desde Foz do Iguaçu, no Paraná, até Corumbá, em Mato Grosso do Sul mas, o recorte territorial definido para análise foi o Assentamento Itamarati I, no Municipio de Ponta Porã - BR que faz fronteira com Pedro Juan Caballero - PY (Mapa 1). 
Este artigo é fruto de alguns resultados de nossa dissertação de mestrado defendida em julho de 2011, pela Universidade Federal da Grande Dourados-UFGD, a pesquisa foi realizada no assentamento Itamarati I, ao qual ocupa uma área de 25.100 ha.

            O assentamento foi implantado em 2002, no Município Ponta Porã/MS, onde localiza-se a 45 km desta cidade e a 21km da faixa de fronteira (fronteira Brasil-Paraguai) possuindo os seguintes limites e confrontações: Rio Dourados (Norte); Fazenda Santa Virgínia, Córrego Tayhere e Córrego Santa Rita (Sul); Rio São João e Rio Dourados (Leste); e, Fazenda Santa Virgínia e Rede Ferroviária Federal Sociedade Anônima (oeste). 
A área do assentamento pertencia ao Grupo Itamarati, que nas décadas de 1970 e 1980 foi conhecido como o maior produtor de soja do Brasil. Contudo, o modelo adotado fracassou, possibilitando transformá-lo em um dos maiores assentamentos da “Reforma Agrária” do Brasil. A comunidade está organizada em quatro movimentos socioterritoriais: CUT, FETAGRI, AMFFI e MST.
Para tratarmos dos ex-brasiguaios faremos um breve comentário a respeito de quem são os brasiguaios 1. De acordo com os estudos realizados, pesquisa de campo e levantamento bibliográfico compreendemos os brasiguaios sendo aquele contingente de camponeses que foram expropriados de suas terras, posses especialmente do sul do Brasil por conseqüência da chegada avassaladora da modernização da agricultura ao longo dos anos 1960/70/80, e mais adiante em meados dos anos 1980, com a construção da hidrelétrica Binacional de Itaipu. Com a consolidação das grandes propriedades do agronegócio no Paraguai e os problemas de ameaças principalmente aos pequenos camponeses e/ou trabalhadores volantes brasileiros que lá viviam, uma crise social se abateu sobre esses trabalhadores, que foram novamente expulsos do campo (FERRARI, 2008).
Nesse contexto de serem novamente expropriados, em 14 de junho de 1985, com a divulgação, no Brasil, do Plano Nacional de Reforma Agrária, mais de mil famílias brasileiras retornaram do Paraguai. Eles se identificavam como “brasiguaios” e organizaram um grande acampamento na praça principal da cidade de Mundo Novo/MS, reivindicando terras.
De acordo com Sprandel (1992), os brasiguaios seriam um grupo étnico definido a partir da auto-atribuição e da classificação pelos outros, cujas reivindicações, realizadas a partir de documentos e a necessidade de ter o permisso para participar dos acampamentos, criavam distinção em relação a outros movimentos que também lutavam pela terra no Brasil.
Porém nosso objeto de estudo se restringe aos ex-brasiguaios que se encontram engajados CUT, FETAGRI e MST.
Há vários motivos que nos fizeram refletir ao longo da pesquisa; logo, mesmo sendo camponeses, chamaremos aqui estes que viveram por décadas no Paraguai de “ex-brasiguaios”. Entre os nossos motivos, temos: migraram ao Paraguai sob o mesmo contexto de expulsão que se abateu aos camponeses da região Sul do Brasil: sofreram para se adaptar em solo estrangeiro; tiveram dificuldades para tirar o “permisso”; enfrentaram preconceitos referentes à sua cidadania por serem imigrantes pobres ou que adquiriram poucos hectares de terra; e, principalmente, porque retornaram ao Brasil em um contexto diferente daquele ocorrido em 1985 (construção da identidade brasiguaia), que se diferencia por terem se engajado em movimentos sociais que lutam pela terra no Estado de Mato Grosso do Sul, sendo que, em solo nacional brasileiro, o “estigma” ou identidade brasiguaia deixou de ser uma distinção de classe; não usaram a identidade de brasiguaios para a conquista da terra no assentamento Itamarati I.O recurso por eles utilizado foi a bandeira de luta do movimento social em que estavam engajados. Naquele momento, brasiguaios, sem terras, trabalhadores rurais desempregados ou volantes passaram a usar apenas uma identidade em comum, os “sem-terra”.
Chamaremos esses camponeses de ex-brasiguaios porque, segundo relatos de vários entrevistados, ninguém2 (ou poucas pessoas) no assentamento os identificava assim e, também, porque eles gostam de ser tratados como brasileiros. Em nossa análise, deixaram de ser brasiguaios para serem assentados, pois essa foi uma construção do “outro”, ou seja, eram chamados assim em território Paraguaio. No Assentamento são apenas brasileiros comuns, mas levarão para sempre o estigma de sem-terras, pois, de acordo com um ex-brasiguaio, o assentado será sempre chamado de sem-terra pela sociedade, independente de sua cor, origem ou raça.

2 – A complexidade da fronteira

No Assentamento Itamarati I, identificamos dois grupos de ex-brasiguaios, ou seja, há aqueles que foram assentados no Projeto de “Reforma Agrária”, e há também aqueles que compraram o lote. Nesse caso, verificamos que esses dois grupos trazem consigo a experiência com a terra devido anos de trabalho no campo. Mas aqueles que adquiriram o lote via compra tem maior diversificação na propriedade individual, e demonstram maior satisfação de estar na terra. Essa satisfação pode ser atribuída a maior disponibilidade de recursos próprios, pois venderam o que tinham no Paraguai para viver na terra, agora documentada, sem ameaças de ser invadida ou retomada por campesinos paraguaios.
É possível verificar as diferenças entre esses dois grupos de ex-brasiguaios em vários elementos como, por exemplo, no tamanho da casa, nas condições de uso e funcionamento das mesmas, dos aparelhos e eletrodomésticos nela existentes, na aquisição de automóveis e motocicletas, equipamentos e ferramentas de uso no campo etc, já que, com mais recursos, não precisam esperar a “boa vontade” do Governo para fazer as melhorias necessárias no lote. Há muitos casos em que os assentados preferem não acionar financiamentos para o cultivo da lavoura (no lote individual), pois dispõem de aquisição com dinheiro próprio alegando não gostar de fazer dividas: “tem os PRONAF só que eu não quero pegar [...], nós planta é por conta própria mesmo” (Senhor Edgar, entrevista concedida à Nogueira dia 12/12/2010).
Enquanto o outro grupo apresenta menor poder aquisitivo, pois precisam esperar subsídios e financiamentos do governo para fazer as melhorias necessárias, há casos onde verificamos a obra incompleta das casas, falta de água encanada do sistema de abastecimento do assentamento e a presença de poços. Portanto, estando à mercê das iniciativas do Governo, mas os dois grupos têm algo em comum, ambos produzem a soja no lote coletivo.
Diante da distância e da facilidade de adquirir produtos como: eletroeletrônicos, confecção, calçados, perfumaria, DVDs e outros itens, a fronteira paraguaia também contribui para a aquisição de produtos proibidos no Brasil. É o caso do agrotóxico 2.4D, que pode ser encontrado e comercializado livremente no Paraguai. Desse modo, o uso desse perigoso agrotóxico é largamente empregado na lavoura de muitos agricultores da fronteira e possível de ser aplicado também no Assentamento Itamarati I, causando danos ao ambiente e às pessoas que lá residem.
Dessa forma, nem os marcos e linhas limítrofes, nem as barreiras alfandegárias são capazes de exterminar o comércio ilegal de produtos na fronteira, pois estamos falando de fronteiras que se movimentam através do fluxo de pessoas e produtos, que atraem centenas de compradores brasileiros e estrangeiros para o próprio uso ou para a revenda, pois apresentam preços mais baratos que os produtos nacionais, no caso da compra deste agrotóxico é utilizado para exterminar as “pragas” da soja, tal qual vem alimentando o  sistema do agronegócio.
No mapa 2 demonstraremos cinco situações sociais em que é possível verificarmos aspectos da territorialidade desses homens e mulheres fronteiriços que vivem no Assentamento.

Existe a mobilidade entre os limites da fronteira Brasil-Paraguai, onde ocorre a compra de muitos produtos paraguaios por esses brasileiros, devido ao atrativo financeiro que exerce em relação aos produtos nacionais brasileiros, oferecendo preço baixo. Assim relata Dona Josefa:

Pra comprar as coisas assim, é lá no Paraguai (risos), só que eu compro as coisa no Brasil também, o arroz no Paraguai ta mais caro que no Brasil. Presente eu compro no Paraguai (risos), que é mais barato, mas o arroz o óleo essas coisas assim é tudo no Brasil (Entrevista concedida à Nogueira dia 12/12/2010).

Assim também relata Dona Marisa:

Compramos em Ponta Porã e Pedro Juan porque é tudo mais barato (Dona Marisa, entrevista concedida à Nogueira dia 12/12/2010).
É possível verificar que no interior do assentamento também há um fluxo de comércio dos produtos produzidos pelos assentados, onde a vizinhança compra no próprio assentamento aquilo que não dispõem no momento. Mas essa comercialização também se dá fora dos limites do assentamento, podendo se estender as outras cidades do Estado de Mato Grosso do Sul como a capital Campo Grande, Ponta Porã, Coronel Sapucaia e também no Paraguai. Assim relata Dona Josefa: “Ah! Eu vendo os meus frangos, galinha, ovos, em Ponta Porã, em Coronel Sapucaia, quando eu vou (passear) eu levo também, e vendo tudo, até em Campo Grande” (entrevista concedida à Nogueira dia 12/12/2010).
Essa comercialização é realizada constantemente por inúmeras famílias, no caso de Dona Josefa aproveita levar seus produtos quando se desloca a passeio, visitando as filhas e os amigos que moram nos dois lados da fronteira.
A assentada Dona Josefa costuma visitar os amigos que deixou em Coronel Sapucaia, uma das filhas que reside no núcleo urbano do Assentamento, duas em São Paulo, uma em Londrina e outra em Campo Grande.
Portanto, os vínculos de parentesco do Assentamento Itamarati I vão muito além da fronteira jurídica das Unidades de Federação. Existe um fluxo de convívio e de noticias constantes entre os assentados, familiares e amigos que residem também no Paraguai, podendo ser identificadas através de telefonemas, e redes rodoviárias, que ligam todas as regiões dos Estados brasileiros como também se ligam com o Paraguai. Para Sprandel (2004, p. 168), “podemos concluir, dessa forma, que a área objeto de interesse das famílias assentadas é imensamente maior que os limites do Projeto de Assentamento”.   
É importante compreendemos que essas famílias mantêm laços muito fortes de parentesco e principalmente de amizade com o outro lado da fronteira, e que esta é de fato uma fronteira móvel, onde os de lá mantém contato com os de cá através de telefonemas, cartas e recados levados pelos outros vizinhos, e também de visitação, de ambos os lados da fronteira. Ao perguntarmos se deixaram amigos no Paraguai Dona Noemi comenta emocionada:

Deixamos muitos amigos e vizinhos muito bons lá. Eles mandaram fotos pra nós. Nós não vamos lá nem eles vêm aqui nos visitar, só recado. A minha vizinha foi lá e eu mandei recado, e ela trouxe recado. Eu tenho saudades de lá, lá tem muita gente boa (Dona Noemi, entrevista concedida à Nogueira dia 04/03/2009). 

Assim também se expressa Dona Marisa:
A amizade é grande lá, que a cada pouco eu vou lá, muita gente vem pra cá inclusive se tratar com homeopatia comigo, vem aqui porque me conhecem (Dona Marisa, entrevista concedida à Nogueira dia 04/03/2009).
 
Na fala de dona Marisa, percebemos que há um grande fluxo de brasiguaios que atravessam a fronteira paraguaia e vão até o assentamento em busca de tratamento para a família e também para as criações (em especial gado leiteiro) através da Homeopatia3 - uma medicina alternativa livre de produtos químicos, elaborados a partir de substâncias extraídas da natureza, provenientes dos reinos mineral, vegetal ou animal buscando equilíbrio e saúde. Entretanto, a vizinhança também procura o atendimento de Dona Marisa.
Segundo Dona Noemi, a utilização de serviços na área da saúde pode ser encontrada no posto de saúde do assentamento, e se for algo mais grave ou específico utilizam-se dos atendimentos médicos em Ponta Porã ou Campo Grande. Mesmo tendo vivido muitos anos na fronteira paraguaia, esses camponeses buscavam atendimento no Brasil, que ofereciam mais recursos e confiança no atendimento da saúde pública, haja vista que, o Paraguai conta com saúde pública precária, e não dava conta de atender sua população, e muito menos imigrantes. Assim relata Dona Noemi:
Daí nós viemos pra cá porque lá não tem assistência pra saúde, é tudo pago [...], minhas crianças ficavam doente, tinha que pagar internação, consulta, tudo (Dona Noemi, entrevista concedida a Nogueira, dia 12/12/2009).

A fronteira ao mesmo tempo, que traz uma nova forma para o homem/mulher fronteiriços em conjunto com uma nova sociedade, proporciona suas novas adaptações. Essas adaptações acabam sendo necessárias para a territorialização desses homens e mulheres fronteiriços, como pode ser  elucidada na fala da Dona Noemi, quando relata a utilização dos serviços oferecidos pelo sistema de saúde pública brasileira.
Segundo Mizusaki (2009) a possibilidade e, ao mesmo tempo, necessidade de mobilidade no espaço nos revela então essa dimensão territorial da mobilidade e que no caso do campesinato, verifica-se na autonomia relativa desses sujeitos sociais. Com base nas discussões apontadas pela autora nessa obra, buscamos evidenciar também alguns aspectos dessas territorialidades na fronteira Brasil-Paraguai.
Essa pesquisa nos aponta que os laços de parentesco, amizade e vizinhança são muito importantes para os camponeses. Verificamos assim que nessa territorialidade, os camponeses, “caracterizando-se como sujeitos sociais, e inseridos numa realidade social em movimento contínuo, transformam-se e, às vezes, articulam-se a essas mudanças” [...] (MIZUSAKI 2009, p. 277).
As entrevistas nos revelam que esses fortes laços eram e ainda são realizados dentro das colônias brasileiras existentes no país estrangeiro, apenas entre brasileiros, quase nunca entre brasileiros e paraguaios.
Então, podemos dizer que os brasiguaios construíram um “território dentro do território nacional” do Paraguai, de modo que o intercâmbio e relações pessoais entre essas duas nações se davam de maneira superficial. É muito comum ouvir dos ex-brasiguaios que os paraguaios são um povo “diferente”, “desconfiado”, e não relataram nenhuma amizade entre brasileiros e paraguaios, também não havendo casamento entre as duas nações. Houve caso em que uma entrevistada se mostrou totalmente contra um possível casamento entre seus filhos e paraguaios.
As colônias onde esses ex-brasiguaios moravam eram predominantemente de brasileiros, de forma que falavam livremente o português, mas nas escolas os filhos tinham que aprender o espanhol, castelhano ou o guarani – idiomas oficiais do país. Porém para as crianças não era tão difícil compreender e aprender o espanhol e o castelhano, pois, a escola paraguaia lhes proporcionava esses três idiomas. Já seus pais pouco falavam em espanhol, de forma que os filhos carregavam o sotaque, pois aprendiam o espanhol e o castelhano na escola, mas em casa todos conversavam em português.
Diante de tais fatos, podemos verificar que durante todos esses anos (vinte ou trinta anos), brasileiros e paraguaios não conseguiram estreitar laços de amizades.
Observamos na fala dos entrevistados que há certa “rivalidade” entre esses dois povos que dividiam o mesmo território, reafirmada pela força coerciva das autoridades políticas e policiais paraguaias, descrita na fala do Senhor Orivaldo:

Olha o mais difícil [...] o problema lá como é que eu vou te dizer, é a falta de apoio por parte das autoridades [...] digamos, pelo lado do preconceito, porque se você fizer alguma coisa de errado, ou certo que seja, para uma pessoa paraguaia, sem exagero, tem bem menos direito que o paraguaio mesmo (entrevista concedida à Nogueira dia 04/03/2009).  

Neste caso os brasiguaios que viviam no Paraguai estavam sempre “alertas” em relação ao povo paraguaio, pois tinham conhecimento de que aquela terra que os recebeu para construírem suas vidas eram habitadas também por pessoas que tinham modos de vida diferente dos seus, e neste caso preferiam manter uma “certa distância” ou procurar não se envolver em conflitos com eles, já que o relato de inúmeras famílias confirmava o abuso de poder das autoridades paraguaias em relação ao comportamento dos brasiguaios que lá habitavam e ainda hoje habitam.
A partir de então, o assentamento Itamarati I se configurou como uma alternativa de continuar morando na terra, livre de ameaças, ou mesmo livre do medo de serem coagidos pela população ou autoridades paraguaias. Sentiam-se amedrontados na época em que moravam no Paraguai. Atualmente se sentem cidadãos livres para cruzar a fronteira, vender seus produtos e rever parentes e amigos que continuam vivendo no país vizinho. Nesta análise compreendemos que passaram de um povo sem pátria (quando viviam no Paraguai) a um povo repatriado e reconhecido como cidadãos comuns que têm direitos a deveres a cumprir em sua terra natal.
A vida no assentamento lhes proporcionou, além de sua terra de trabalho, a liberdade de expressar suas territorialidades, seja nos costumes, na crença, na cultura e etc. A identidade regional com o território fronteiriço dessa população estudada  se dá de uma forma muito natural, ou seja estes se percebem como seres fronteiriços e afirmam gostar de viver na fronteira, pois do lado de cá a vida passou a ter certas facilidades que não tinham antes, como a utilização de serviços públicos na educação para os filhos, aquisição de benefícios do Governo Federal (bolsa escola, balsa família, auxilio doença, salário maternidade, aposentadorias, etc), e serviços de saúde.
No caso da educação, relatam que para seus filhos estudarem no Paraguai era necessário comprar tudo desde o material escolar individual até o fornecimento de giz apagador e outros instrumentos de trabalho dos professores, pois o governo paraguaio não fornecia nem o mínimo de condições para o trabalho destes profissionais. Já no assentamento afirmam ter uma educação de boa qualidade, além do governo fornecer transporte e a merenda escolar.
Ao analisarmos esses fronteiriços que ora moravam na fronteira Paraguaia e agora residem do lado brasileiro, verificamos que deslocam-se sobre os limites territoriais das nações. “E nesse sentido podemos pensar a fronteira a partir de complexas relações culturais e de poder em um mundo constituído por relações assimétricas e em permanentes deslocamentos de pessoas, mercadorias e símbolos” (ALBUQUERQUE, 2010, p. 48).
Albuquerque (2010) faz referência às fronteiras como espaços culturais híbridos, a fim de ampliar o entendimento das experiências dos brasiguaios, quanto aos deslocamentos de pessoas, de diferenças étnicas, de gênero, de nacionalidade e de civilização, a cerca da dinâmica das fronteiras brasiguaias.
Na compreensão da fronteira Brasil–Paraguai, buscamos compreendê-las enquanto fronteira viva, do deslocamento de pessoas e mercadorias, das estratégias de cidadania e das identidades negociadas de acordo com as necessidades existentes no momento e ainda da ambigüidade vivida nesta fronteira.
Ao analisarmos os relatos das famílias pesquisadas, verificamos que, realmente se tratam de seres que sofreram dupla expulsão, sendo uma nacional (expulsão do Brasil) e outra internacional (expulsão do Paraguai), e que tiveram de se adaptar em território estrangeiro, no tocante aos costumes, a cultura, a música, a culinária, a dança, a língua, as leis, etc.
Muitos desses entrevistados nos revelaram essa ambiguidade vivida na fronteira, ao nos informar que os filhos nasceram no Brasil ou mesmo no Paraguai, mas que apresentam dupla nacionalidade, nos revelando que esses documentos que comprovam a cidadania dos filhos ora é paraguaia ora brasileira, dependendo do momento oportuno em que se encontram, ou seja, ele é brasileiro para ter benefícios no Brasil (saúde, educação, bolsa escola, etc.), mas também é paraguaio para não lhe ser negado os direitos que eles têm principalmente ao acesso e permanência na escola, configurando o que Albuquerque (2010) chama de identidade negociada.
Assim fica expresso na fala de Dona Marisa:

Os filhos têm dupla cidadania, é ilegal mais [...]. Eu não queria que os meus filhos fossem paraguaios, queria que fossem brasileiros, daí eu não aceitava [...], muitos registravam assim, daí eu fiz assim também. Era melhor os filhos serem registrados no Paraguai, porque na escola eles tinham os mesmos direitos dos paraguaios. Saúde pública era difícil na nossa região não tem, daí nós vinha para o Brasil nós não tinha confiança lá (Entrevista concedida à Nogueira dia 12/12/2009).

Dona Marisa e a maioria dos entrevistados vivem uma espécie de conflito ou ambiguidade quanto à pátria em que moravam (Paraguai) ao mesmo tempo em que elogiam o local, a fertilidade do solo, o clima semelhante ao de sua região de origem, a facilidade de compreensão da língua espanhola e a receptividade do povo paraguaio. Sentiam-se como se estivessem no Brasil, mas ao mesmo tempo revelavam o desejo de ver o nascimento dos filhos no Brasil, de falar que os paraguaios são um povo totalmente diferentes, que foram bem recebidos, mas que não tinham muitas amizades com eles e quando tinham procuravam manter distância.
A proximidade geográfica das cidades fronteiriças - Ponta Porã e Pedro Juan Caballero, “propicia cotidianamente o compartilhamento do território e, consequentemente, de toda uma produção humana, o que torna pública toda construção cultural dos fronteiriços”. (PEREIRA, 2002, p. 89). Segundo a autora, os dois lados participam das criações, onde estas constroem um sentimento de pertencimento ao lugar, e quando estas criações deixam de pertencer a um ou a outro país passam a pertencer aos fronteiriços.
Identificamos esse sentimento de pertencimento ao lugar expresso nas falas dos entrevistados, quando perguntamos como foi morar num país estrangeiro, se referiam ao Paraguai como sendo uma “extensão” do Brasil:

Pra mim foi como se eu tivesse morando no Brasil, eu dou muito valor pro Paraguai, assim, parece que eu nunca morei no Paraguai (risos) [...]. Quando eu vou pro Paraná na casa da minha mãe eu falo que vou pro Brasil, é que lá no Paraguai só tinha brasileiro e é terra roxa igual aqui (Dona Marisa, entrevista concedida à Nogueira dia 12/12/2009).

Esse sentimento de pertencimento às vezes não é muito claro para os assentados, pois verificamos na fala de Dona Marisa que ela não se sentia morando no Paraguai porque estavam sempre rodeados de brasileiros na colônia, e no assentamento ao se referir às visitas à seus familiares no Paraná, dizia que estava indo pro Brasil. Então, podemos entender que esta fronteira ora era extensão do Brasil ora extensão do Paraguai, são as ambigüidades do fronteiriço expressos nas relações cotidianas.   
Dona Josefa conclui, relatando o sentimento quanto a viver no Paraguai e o momento de retornar ao Brasil: “Eu falei assim 4: não vendi nada (no Paraguai), se eu não gostar eu volto pra traz, largo tudo isso aí. Só que eu gostei sabe” (Entrevista concedida à Nogueira dia 11/12/2010).
É possível verificarmos que essa identidade que foi construída em meados da década de 1980, em torno dos brasiguaios, no assentamento não é incorporada por todos. Ao perguntarmos a eles como se autodenominam, a maioria se autodenomina como brasileiros, colonos ou assentados. Se identificam melhor com o movimento ao qual se encontram engajados. Neste caso justificam que eram assim denominados pelos paraguaios, e também no acampamento, mas no assentamento são tratados como assentados: “Nós era chamado de brasiguaio no acampamento, mas era todo mundo a mesma coisa, todo mundo lutando pela mesma coisa (terra)” (Senhor Miguel, entrevista concedida à Nogueira dia 04/03/2010).
Quando perguntamos se no acampamento usaram a identidade brasiguaia para conquistar a terra, todos os entrevistados disseram que usaram o nome do movimento ao qual estavam engajados5 , no caso do Senhor Miguel: “só da FETAGRI, acho que isso não importa, brasileiro é brasileiro, só morou no Paraguai” (Entrevista concedida à Nogueira dia 04/03/2010).
Para esses assentados, a identidade brasiguaia era muito comum no Paraguai, onde os paraguaios os chamavam assim. Neste caso a expressão e a própria identidade brasiguaia são oportunas aos seus, dependendo de que lado da fronteira em que se encontram (FERRARI, 2008).
É importante compreender que esses ex-brasiguaios ao se autodenominarem ou denominarem os filhos invocam sua nacionalidade brasileira, mesmo os filhos tendo nacionalidade paraguaia ou em muitos casos dupla nacionalidade, “esta acaba tendo uma função operacional, marcando a diferença entre o eu e os outro”s (PEREIRA, 2002, p. 155). Dessa forma, reforçam o pensamento de pertencimento ao Brasil.
Para Pereira (2002 p. 92-93) “[...] ao escolherem a fronteira para residir, vivenciam as complexidades da relação fronteiriça, o que por sua vez influi nos processos sociais de pertença, inserção e identificação dos sujeitos.” Dessa forma, a escolha desses ex-brasiguaios residirem mais uma vez na fronteira, dessa vez do lado brasileiro, reforça esse pensamento da autora acima, identificando uma escolha de viver no assentamento que vai muito além do simples fato de reprodução camponesa, mas de pertencimento a essa fronteira que lhes ofereceu a chance de reconstruírem suas vidas, onde partilham os costumes da cultura de origem, e convivem com os costumes construídos na fronteira.
No assentamento há uma diversidade de movimentos socioterritoriais, e acaba também ocorrendo a mistura de muitas culturas que pensam agem e trabalham diferente, a esse assunto nos esclarece Ir. Olga:

Olha, eu falo como educadora popular, trabalho com o MMC (Movimento de Mulheres Camponesas) , de encontrar  um jeito na organização da comunidade, e eu vejo as diferenças na hora de trabalhar o lote, nas comunidades a gente percebe as diferenças (Ir. Olga, entrevista concedida a Nogueira no dia 28/06/2009).

Nesse aspecto, a fronteira também pode ser vista sob aspectos culturais, sendo determinadas através das culturas diferenciadas, ao qual verificamos que essas famílias ex-brasiguaias trazem consigo costumes próprios de sua nacionalidade sulista como, por exemplo, sotaques, dialetos e o costume de tomar chimarrão tanto pela manhã, como pela tarde, independente da temperatura climática, mas que através da convivência no país vizinho aprenderam a fazer uso do tererê; ouvir e gostar da música paraguaia como a polca paraguaia e a guarânia; a culinária especialmente comer a chipa e a sopa paraguaia.
Contudo, os paraguaios também adquiriram inúmeros costumes dos brasileiros, expresso principalmente na culinária o hábito de comer churrasco, feijoada, etc.
Um ponto em comum entre as duas nacionalidades é a forte religiosidade quanto catolicismo, onde é possível ver no assentamento uma festa anual em comemoração a Padroeira do Paraguai – Nossa Senhora de Caacupé, realizada por uma família ex-brasiguaia que procura ao longo dos anos dar continuidade a esta tradição tipicamente paraguaia.
Verificamos que esses sujeitos ex-brasiguaios territorializados no assentamento Itamarati I, vivem um misto de ambigüidades/hibridismo, visto que ao longo dos anos vivendo na fronteira lhes propiciou a mistura de costumes, línguas, relação de pertencimento com o lugar, manifestada no hibridismo cultural particular ao fronteiriço. 
Ao fazermos nosso estudo na fronteira percebemos que nela criou-se o estigma da bandidagem, e da impunidade, e a fronteira estudada não é diferente, há inúmeros relatos principalmente da mídia em torno de se explorar esse assunto, onde o comércio ilegal de mercadorias, de armas e narcóticos são sempre noticiados, criando um rótulo a fronteira Brasil Paraguai.
A criminalidade na fronteira entre o Brasil e o Paraguai é relatada desde meados do século XX, as mensagens oficiais dos governos de Mato Grosso já tratavam da violência nas localidades que fazem fronteira com o Paraguai ao qual atribuíam os crimes aos paraguaios (SPRANDEL, 1992).

As informações sobre a fronteira Brasil-Paraguai produzem generalizações e reforçam estigmas. As representações não significam ilusões ou mentiras construídas sobre uma realidade social verdadeira e concreta. Elas são parte da realidade social, são produções simbólicas repletas de significados. Essas imagens estão associadas ao fenômeno da generalização e cristalização da pior ou da melhor parte de uma determinada configuração social (ELIAS apud ALBUQUERQUE, 2010, p. 42). 

Albuquerque (2010) atribui em grande parte à mídia como responsável pela acentuação desse rótulo depreciativo que se construiu a respeito desta fronteira. As regiões de fronteira são espaços territoriais e sociais muito sensíveis e de difícil controle, pois esta é geralmente zona em que as forças repressoras e fiscalizadoras do Estado têm dificuldades de exercer o monopólio das armas e das leis. “Essa falta de controle dos espaços fronteiriços favorece a construção da imagem da fronteira como terra de ninguém” (ALBUQUERQUE, 2010, p.38).    
O jornalista Carlos Wagner publicou um livro em 2003, onde denomina de país-bandido a fronteira que inicia em Ponta Porã-MS passa por Itapiranga-SC até Bernardo Irigoyen Missiones-Argentina, relatando as principais atividades econômicas do que denomina de “País-bandido”. Retratando o contrabando, roubos de carros, motocicletas e eletroeletrônicos, a pirataria, o plantio e tráfico da maconha, o tráfico de armas, contrabando de cigarros e etc. Onde neste “país” quem comanda são os bandidos através de ameaças armadas com muita violência.

[...] a fronteira Ponta Porã-Pedro Juan Caballero é conhecida como a fronteira mais violenta do território brasileiro; nela ocorrem as maiores apreensões de contrabando, o narcotráfico e a prática de outros crimes, logo, um contexto que marginaliza indistintamente seus habitantes, originando um estigma ou identidade deteriorada no sujeito que se identifica como fronteiriço (GOFFMAN apud PEREIRA, 2002, p. 61).

Para Pereira (2002, p. 83), o estereótipo associado ao povo paraguaio reforça sentimentos e relações ambíguas entre brasileiros e paraguaios, e nesse sentido vêem o Paraguai como sendo um “país onde o contrabando e o narcotráfico, ou seja, a contravenção é instituída com o beneplácito governamental, contando mesmo com salvaguarda das forças armadas”. Ou seja, o Paraguai é visto ainda pelos brasileiros como um país sem leis, dominado pela corrupção em todas as esferas, principalmente das autoridades políticas e policiais.
Os problemas relacionados à violência causada pelo uso e tráfico de drogas, assaltos, roubos, comercialização de produtos falsificados e contrabandeados são vistos por grande parte da população que vive nesta fronteira como normais.  
Os ex-brasiguaios vêem o assentamento que se encontra em área de fronteira como sendo um local pacífico, bom para viver e criar os filhos. Afirmam que os jornais e revistas aumentam os fatos ocorridos. Dizem que antes de se mudarem para o assentamento esse era inclusive um medo  que os afligiam, pois os amigos lhes aconselhavam a não se mudarem para a fronteira, que este era um local violento. Entretanto, com o passar do tempo viram que não era essa a realidade do assentamento que se localiza nesta área fronteiriça.
O Senhor Genivaldo morava em Santa Rita, Departamento de Ciudaddel Leste, quando perguntamos como é viver em área fronteiriça ele nos afirma: “aqui é melhor que lá (Ciudaddel Leste). Ponta Porã é famosa no Brasil todo por causa das drogas, mas essa questão é muito tranqüila aqui” (Entrevista concedida à Nogueira dia 30/04/2009).
Dessa forma, a população assentada se mostra muito tranqüila quanto a morar nesta zona de fronteira, demonstrando que a fronteira pode ser estigmatizada a partir da construção e representações que lhes são atribuídas.
Ao fazermos este estudo a respeito das fronteiras, compreendemos também que não é necessário estar em área de fronteira internacional para se constituir uma fronteira. Podemos construir fronteiras quando estabelecemos diferenças entre outros povos, outros costumes, outras etnias, entre aqueles que são diferentes, onde os grupos sociais segregam para si o “nós” como pertencentes a este, e o “outro” para grupos diferentes. Então não é necessário ultrapassar as barreiras alfandegárias ou internacionais para se criar ou ter uma fronteira, de modo que cada grupo segrega para si suas fronteiras, sendo: étnicas, culturais, sociais, religiosas, etc.
Quando entrevistamos os ex-brasiguaios que hoje vivem no assentamento Itamarati I, tentamos compreender as fronteiras existentes entre esses dois povos - ex-brasiguaios e paraguaios. Muitos relatos denotam a “etnia” como principal elemento construtor dessa fronteira. “A nossa maior dificuldade é por causa da raça, nós é da nação brasileira. Essa foi a nossa maior dificuldade. A gente tinha feito documento do imigrante e não conseguimos receber até hoje, então era uma discriminação” (Sr. Genivaldo, entrevista concedida à Nogueira, 30/04/2009).
Sprandel (1992) define que a construção da identidade brasiguaia surgiu entre os próprios brasileiros residentes no Paraguai a partir de relatórios pastorais da igreja católica para diferenciar essa população que estava sendo expulsa da terra, dos demais brasileiros que viviam no Paraguai ou no Brasil, a fim de serem reconhecidos como cidadãos brasileiros para requererem o direito à posse da terra. Neste caso compreendemos a identidade brasiguaia como tendo sido construída a partir da diferenciação do “outro”, mas, sobretudo, a partir da diferenciação de classe.
Dessa forma podemos pensar a fronteira como espaço de diferenças existentes entre povos de diferentes culturas, mas que podem viver na mesma pátria, ou seja, há fronteiras também entre brasileiros sulistas – vistos como “trabalhadores” e nordestinos vistos como “não aptos” ao trabalho.
Na fala do senhor Genivaldo, natural do Estado de Minas Gerais (mas se autodenomina nortista) percebemos que há certa “negação” de sua naturalidade, talvez incorporada pelo estigma que se criou em torno dos nordestinos (entende-se aqui que os nordestinos podem ser todos os imigrantes das regiões norte e nordeste do Brasil, que “não são aptos” ao trabalho no campo, termo depreciativo comumente usado pelo senso comum). O Sr. Genivaldo nasceu no Estado de Minas Gerais, mas foi criado no Paraguai em meio à colônia brasileira com descendentes diretos de europeus. Assim expressa o Senhor Genivaldo:

A gente vê na região do Paraguai uma das grandes vantagens que a gente viu foi a parte das cooperativas dos brasileiros, eles se organizam e trabalham bem. Na verdade, o povo que vive lá hoje é de colônia alemã, italiana, eles tem um outro costume, diferente dos nortistas. Eles falam europeu né! Eles têm uma outra organização. Eu me criei no meio e acho legal, eu sou do norte, e o norte tem outro sistema né, do camponês (Entrevista concedida à Nogueira dia 30/04/2009).   

Nessa construção, a auto-imagem que vemos no depoimento desse ex-brasiguaio é carregado de estigma e negação de seu “Eu”. Ao analisarmos sua fala compreendemos que não é apenas os sulistas que depreciam os “modos de ser” do nordestinos/nortistas. Eles próprios vêem na imagem do “outro” (no caso dos imigrantes sulistas) como sendo um exemplo a ser copiado e seguido para ter “sucesso na vida”. Não percebem que o seu discurso está repleto de preconceitos e negação de si e de suas origens.
O que podemos pensar é que o “espírito pioneiro e desbravador” desses descendentes de europeus se construíram desde a chegada desses imigrantes quando da colonização européia. Com a abolição da escravatura foram atraídos para o Brasil milhares de europeus expulsos de suas terras. Nesse contexto tem-se início a construção de um ideário em torno dessa população como sendo “aptos” ao trabalho rural, já que os nativos não se sujeitavam ao trabalho, e posteriormente com a abolição da escravatura, os negros foram “libertos”. Neste caso não serviam para o trabalho. Para Albuquerque (2010, p. 164): “A condição de imigrante em um país estrangeiro impulsiona o camponês europeu a superar os limites da agricultura de subsistência e a desejar uma ascensão social por meio do trabalho”. E ainda,

Diante das representações negativas sobre a capacidade de trabalho dos nativos, o Estado brasileiro desenvolveu uma política direcionada para a atração de imigrantes europeus. Os motivos principais dessa política oficial eram a necessidade do branqueamento da raça, a substituição da mão de obra escrava  nos cafezais, o povoamento de áreas pouco habitadas nas regiões próximas às fronteiras e o desenvolvimento de uma moral de trabalho. Os europeus, principalmente italianos, alemães, portugueses, espanhóis, etc, chegavam ao Brasil imbuído dessa missão civilizadora de desenvolver o país, já que no discurso da elite, o negro, o índio e o mestiço não se adaptavam à nova mentalidade capitalista (SEYFERT apud ALBUQUERQUE, 2010 p.167).

Era e ainda é muito comum ouvirmos falar que o sulista (especialmente o gaúcho) é “desbravador” “trabalhador” e não tem “preguiça” de enfrentar o trabalho pesado. Com passar dos anos o rótulo que se criou em torno dessa população continua presente, pois muitos anos após sua chegada no Brasil seus descendentes continuam “honrando” os pioneiros.
Podemos compreender esse “rótulo” na fala do senhor Genivaldo quando relata ter sido criado no meio de colônias européias, mesmo sendo do Estado de Minas Gerais – Região Sudeste, acha interessante: “Eu me criei no meio e acho legal, eu sou do norte 6, e o norte tem outro sistema né, do camponês”. Em sua fala percebemos a admiração que tem em relação aos descendentes de europeus. Afirma que estes conseguem se organizar em cooperativas, e que elas possibilitam vantagens aos agricultores, mas os demais povos especialmente os assentados do assentamento Itamarati I não conseguem trabalhar em conjunto por falta de organização.
É importante salientar que, a região Sul do Brasil traz consigo longos anos de experiências com associações e cooperativas, e para se chegar onde estão levou tempo para essa construção, então não podemos nos prender ao senso comum para dizer que a região Sul (e Sudeste) é mais desenvolvida e organizada somente por causa da existência de um povo “trabalhador” descendentes de europeus.

No contexto específico entre brasileiros e paraguaios, a autoimagem dos imigrantes como “trabalhadores” em oposição à representação dos paraguaios como “preguiçosos” começou a ser construída desde o período que intensificou a frente de expansão capitalista no Leste do Paraguai na década de 1970. Galeano (1988) esteve na região naquele contexto e relatou que os brasileiros já se apresentavam como “trabalhadores”, enquanto os camponeses paraguaios eram vistos como “haraganes” (preguiçosos), só cultivavam 365 pés de mandioca por ano (ALBUQUERQUE, 2010, p. 176).

Um fator que podemos analisar a partir dessa diferenciação de “trabalhadores” (imigrantes brasileiros) e “preguiçosos” (paraguaios), pode se reafirmar no fato de que, há um grupo consolidado e respeitado que vive no Paraguai, - os proprietários de grandes fazendas, que se autodenominam como sendo os responsáveis pelo desenvolvimento e a riqueza produzida a partir do seu “empreendedorismo”, segundo os mesmos, sem eles essa região fronteiriça estaria “vazia” e “pobre”.
Pereira (2002), afirma que, o imaginário dos fronteiriços revela o ressentimento e magoa dos paraguaios em relação aos brasileiros, a partir de alguns fatores: a rivalidade entre os índios, brasileiros (guaicurus) e os paraguaios (guarani); a influência da colonização espanhola; o sentimento dos paraguaios pelos brasileiros mesmo antes da guerra do Paraguai, acirrando após o termino da mesma; e a tentativa de estabelecimento de uma espécie de imperialismo brasileiro sobre os demais países latino-americanos. Assim, “do mesmo modo, há no imaginário do fronteiriço brasileiro uma certa aversão às práticas do povo vizinho, seja no trabalho, seja nas relações sociais” (PEREIRA, 2002, p. 78). Para a autora, o preconceito se revela no imaginário do fronteiriço, e essa idéia que se constrói sobre o outro é a “própria negação do outro tal como ele é”.
Verificamos esse preconceito arraigado na fala da Dona Noemi:

Nessa época lá (quando migraram ao Paraguai) já tinha muitos brasileiros, tinha e tem, quanto mais o tempo passa mais entra brasileiro, agora por último que não, por causa que os paraguaios tão querendo tomar as terras dos brasileiros. Eles começaram a perseguir muito os brasileiros porque eles (paraguaios) não trabalham muito e querem ter as coisas e não tem e querem tomar (Dona Noemi, entrevista concedida à Nogueira dia 30/04/2009).

É interessante analisar que a depreciação dos paraguaios pelos brasileiros não é a única forma de expressar esses sentimentos de “superioridade”. Verificamos que o silêncio ou risos também é uma maneira de negação do “outro”.
Em alguns casos, é comum ouvir que brasileiros e paraguaios se dão bem, porém sem muita amizade “[...] a gente se dá bem com eles assim [...], mas olhavam a gente meio desconfiado, não te odeio, mas também não te quero (risos) muita amizade a gente não tinha” (Sr. Norberto, entrevista concedida à Nogueira dia 12/12/2010).
De acordo com Goettert (2008, p.10) nesta fronteira é o comércio de exportação que une brasileiros e paraguaios. Fora dessa esfera, que se dá na comercialização de produtos importados, são poucas ou nenhuma relação que se estabelece entre esses dois povos fronteiriços. “Se os brasileiros são os principais consumidores, os paraguaios são os principais vendedores: é no contato no mercado que a principal relação se dá entre o lado de cá e o lado de lá. Pouco ou nada além disso,”.
No entanto, não devemos generalizar essas diferenças e sentimentos pejorativos que existem na fronteira, pois também é possível verificar pontos positivos elencados nas falas dos nossos entrevistados. Quando perguntamos como foram recebidos pelos paraguaios quando migraram para lá: “Bem, os paraguaios são gente muito boa”. (Sr. Miguel, entrevista concedida à Nogueira dia 12/12/2009).
Existem muitos paraguaios que moram no assentamento Itamarati I, que vivem do lado de cá de fronteira e participam da vida e dos costumes brasileiros, onde paraguaios e brasileiros comungam dos mesmos direitos, ou seja, esses paraguaios em sua maioria nasceram em solo guarani, mas são registrados no Brasil, como forma de garantir os direitos e benefícios a seus filhos como: educação e saúde pública gratuitos, bolsa escola, bolsa família, etc, já que no Paraguai não há esse tipo de benefícios.
Quando perguntamos o que acham de positivo no Paraguai e aqui no Brasil o Senhor Genivaldo nos responde categoricamente assim como todos os entrevistados, que são os benefícios recebidos do governo brasileiro, onde no Paraguai não tem, ou é precário (no caso da educação):

Aqui tem estudo gratuito, apesar do governo nos partidos ter brigas, é um merecimento que dão pra nós brasileiros, brasiguaios e pro paraguaios também. Os paraguaios aqui falam o guarani puro. Aqui tem muita gente paraguaia, uns 15%. Aqui é da fronteira né!.

Na fala do senhor Genivaldo percebemos que esse estigma que se criou em torno de brasiguaios e demais imigrantes brasileiros e paraguaios no assentamento é mais ameno. Já esses ex-brasiguaios quando moravam no Paraguai construíram o que já chamamos anteriormente de “território brasileiro dentro do território paraguaio”, pois eram grandes colônias formadas em sua maioria por brasileiro,s os chamados “brasiguaios”, ao qual em algumas localidades puderam impor seus costumes, e até mesmo a moeda brasileira. 
Portanto, diversas foram as formas que o homem fronteiriço passou para organizar a sua fronteira, cultural, social ou econômica, a partir de um grupo heterogêneo no que diz respeito aos fatores culturais e sociais, já que nesta área fronteiriça do assentamento Itamarati I existem povos de várias regiões do Estado de Mato grosso do Sul, Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, região Norte e Nordeste do país, e também Paraguaios.

3 – Considerações finais

Ao nos propormos a estudar a territorialidade na fronteira, fizemos um recorte espacial, tomando como estudo de caso os ex-brasiguaios do assentamento Itamarati I.
A pesquisa nos mostrou que existem dois grupos de ex-brasiguaios no assentamento. O primeiro é composto por famílias que passaram pelo processo de acampamento e, posteriormente, foram assentadas em seus respectivos lotes. O outro grupo é formado por famílias que vieram alguns anos após a criação do assentamento e compraram (o direito do) lote com recursos da venda dos bens que conseguiram adquirir ao longo dos anos de luta e trabalho no Paraguai.
É possível verificar que aqueles que passaram pelo processo de assentamento acionam financiamentos como forma de aquisição de recursos para a construção e ampliação das casas bem como para a aquisição de sementes e insumos agrícolas, ou seja, estão à mercê dos órgãos fundiários e financeiros para permanecer no lote, haja vista que, a demora para a liberação dos mesmos acarreta perdas na lavoura.
Mas, aqueles ex-brasiguaios que compraram o direito dos lotes modificaram o perfil dos mesmos, aumentando e melhorando as casas, construindo mangueirões, chiqueiros, galinheiros, hortas, pomares e fazendo produzir alimentos para o sustento da família, podendo, ainda, vender uma parte dos produtos, pois nunca conseguem consumir tudo, sendo capazes de oferecê-los aos vizinhos e parentes que moram em outras localidades, inclusive no Paraguai.
Entretanto, nesses dois casos, além de haver uma realização pessoal por estarem assentados nessa área, há uma efetiva satisfação de viver em terra própria e poder manifestar seus desejos quanto a cuidar daquilo que agora é seu e de sua família, sem se preocupar com as autoridades paraguaias ou com a ocupação campesina em seus lotes pois, aqui, não se sentem estrangeiros, nem “brasiguaios”, são apenas assentados assim como todos os outros, dos diversos movimentos socioterritoriais, podemos dizer que são ex-brasiguaios.
Verificamos que esses sujeitos ex-brasiguaios territorializados no assentamento Itamarati I, vivem um misto de ambigüidades/hibridismo, visto que ao longo dos anos vivendo na fronteira lhes propiciou a mistura de costumes, línguas, relação de pertencimento com o lugar, manifestada no hibridismo cultural particular ao fronteiriço. 
Podemos concluir que, há a presença da territorialidade do campesinato nessa fronteira, expressa na escolha desses camponeses de viver no campo, de serem homens e mulheres que vivem e sobrevivem dos frutos do próprio trabalho que a terra dá, e que existem sentimentos de pertencimento a essa área fronteiriça.

Bibliografia

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FERRARI, Carlos Alberto. Dinâmica territorial (na)s fronteira (s): um estudo sobre a expansão do agronegócio e exploração dos brasiguaios no Norte de Departamento de Alto Paraná – Paraguai. Dourados/MS. 2008. Dissertação (mestrado em geografia) UFGD.

GOETERT, Jones Dari. “A fronteira como jogos de espelhos côncavos”: considerações sobre a construção de representações de lá e de cá em território de fronteira. XV Encontro Nacional de Geógrafos “O espaço não pára. Por uma AGB em movimento”. São Paulo, 12 p, Jul. 2008. 

HAESBAERT, Rogério, da Costa. O mito da desterritorialização: do “fim dos territórios” à multiterritorialidade. 2. ed. Rio de Janeiro: Bertrand, 2006.

MIZUSAKI, Márcia Yukari. Território e reestruturação produtiva na avicultura. Dourados: Editora da UFGD, 2009.

NOGUEIRA, Juliana, Tosati. Fronteiriços: diferentes territorialidades no assentamento Itamararti I-MS. Dissertação (mestrado em geografia). Dourados-MS 2011.

PEREIRA, Jacira Helena do Valle. Educação e fronteira: processos identitários de imigrantes de diferentes etnias. São Paulo: USP/Faculdade de Educação, 2002. Tese (doutorado).

RAFFESTIN, Claude. Por uma geografia do poder. São Paulo: Ática, 1993.

SANTOS, Milton. O dinheiro e o território. In: Território Territórios. Programa de Pós Graduação em Geografia da Universidade Federal Fluminense – Associação dos Geógrafos Brasileiros. Niterói, 2002.

SPRANDEL, Márcia Anita. Brasiguaios: conflito e identidade em fronteiras internacionais. Dissertação (Mestrado em Antropologia). Rio de Janeiro 1992.

WAGNER, Carlos. Brasiguaios homens sem pátria. Petrópolis: Vozes, 1990.                 

_____. O país bandido: crime tipo exportação. Porto Alegre: RBN, 2003.

Sites:

http://www.homeopatias.com – acesso em 10/01/2011.

1 Para aprofundar o tema ver Wagner (1990), Sprandel (1992) e Nogueira (2011).

2   É importante salientar que este resultado se refere apenas aos camponeses pesquisados, de forma alguma estamos afirmando que esse termo “brasiguaio” não possa ser utilizado para com alguns camponeses que viveram no Paraguai, pois devido as dimensões territoriais do assentamento Itamarati I não foi possível entrevistar todos os ex-brasiguaios.

3 Homeopatia é um termo criado por Christian Friedrich S Hahnemann (1755-1843) para designar uma terapia alternativa que se baseia no princípio "os semelhantes curam-se pelos semelhantes". O tratamento homeopático consiste em fornecer a um paciente sintomático doses extremamente pequenas dos agentes que produzem os mesmos sintomas em pessoas saudáveis, expostas a quantidades maiores. Desse modo, o sistema de cura natural da pessoa seria estimulado a estabelecer uma reação de restauração da saúde por suas próprias forças, de dentro para fora. O medicamento homeopático é preparado em um processo que consiste em diluição sucessiva da substância,"dinamização" ou "potencialização". www.homeopatias.com – acesso em 10/01/2011.

4 Dona Josefa ficou acampada no assentamento contra a vontade das filhas.

5 É importante esclarecer que esses dados respondem aos questionários aplicados apenas aos entrevistados, de forma alguma afirmamos que nenhum grupo possa ter usado a identidade brasiguaia para a conquista da terra, devido à extensão territorial do assentamento não foi possível entrevistar todas as famílias “ex-brasiguaias”, e nem era o objetivo da pesquisa, mas sim compreender o movimento de desterritorialização-reterritorialização destes no assentamento.

6 No imaginário do Senhor Genivaldo o Estado de Minas Gerais pertence à região Norte do Brasil.