DESSACRALIZAÇÃO DO SAGRADO CRISTÃO EM FRIEDRICH NIETZSCHE E RUDOLF OTTO

DESSACRALIZAÇÃO DO SAGRADO CRISTÃO EM FRIEDRICH NIETZSCHE E RUDOLF OTTO

Graça Auxiliadora Nobre Lopes (CV)
Ione Vilhena Cabral (CV)
Tatiani da Silva Cardoso (CV)
Roberto Carlos Amanajás Pena (CV)

3.3 A supremacia avassaladora da Tremenda Majestade

Diante da manifestação do tremendum, que foi apresentado como ser único e soberano, faz-se necessário declarar um novo aspecto: o de poder, domínio, hegemonia e supremacia absoluta, o qual Otto denominou pelo termo latim “majestas” que significa majestade. Este termo por sua vez não foge a conotação apresentada pelo termo numinoso. Ao contrário, mostra-se como sendo o avassalador. Desse modo, aplicar esse termo a imagem das pessoas equivale a blasfemar contra o aspecto tremendum numinoso que está contido na majestas.

“Sombra e reflexo subjetivo desse aspecto absolutamente avassalador, essa majestas é aquele “sentimento de criatura” que contrasta com o avassalador, sentido objetivamente; trata-se da sensação de afundar, ser anulado, ser pó, cinza, nada, e que constitui a matéria-prima numinosa para o sentimento de “humildade” religiosa”. (idem, 2007, p. 52)        

Notadamente, observa-se que a criatura nada pode ser sem o avassalador que diante de sua presença ela simplesmente não passa de pó e cinza e que é completamente dependente de sua manifestação. Observa-se que esta dependência da criatura é impotência perante a supremacia do majestas, mostrando assim, a nulidade do ser, que leva por sua vez à aniquilação do ser em si. Esta aniquilação total corresponde a valorização do objeto transcendente, a forma absolutamente superior da majestas frente à negação da criatura.

“O segundo aspecto do mysterium é o poder da majestade divina, o majestas, também manifestação do Deus vivo na experiência religiosa. Representa a superioridade mais absoluta do poder, tremenda majestas. Frente ao poder do numen, gera o sentimento de ser criatura, de dissolução do ego, pois capta a soberania absoluta do objeto; ao mesmo tempo leva ao sentimento de plenitude de ser, plena presença, desenvolvido pelas diversas formas de misticismo, o que o autor denomina misticismo da majestas”. (DUTRA BAY, 2004, p: 8)

Neste sentido, a anulação da criatura diante do criador acontece pelo fato deste não conseguir se ver acima do ser supremo, onde o majestas que se caracteriza pela manifestação de Deus que acaba gerando um sentimento no homem que é apenas o de ser criatura. Esse sentimento é tão real na psique do ser em si, que ele não consegue encontrar outra forma de conhecimento, e acaba se rendendo assim, ao avassalador.
No entanto, é importante salientar que essa sensação de dependência, a qual Schleiermacher entende como “sentir-se condicionado” referem-se a “Criação e Preservação”. Em contra partida dessa dependência estaria o ser divino, ou seja, a causalidade total de tudo, mas para Otto, esse aspecto ainda não é o numinoso, mas apenas seu esquema, logo, ele não é irracional, mas faz parte da idéia racional de Deus que pode ser desenvolvido conceitualmente. Assim, para Otto, o estado de “dependência” seria aquele manifestado por Abraão que não o condiciona ao estado de criado, mas ao de criaturalidade.
Isto significa que, a criatura é impotência diante da supremacia do ser, o aspecto majestas e o sentimento de ser “pó e cinza” é que leva ao aniquilamento e nulidade do ser. Esse fato, no entanto, leva a valorização do objeto transcendente, neste caso. Deus como absolutamente superior ao homem, este por sua vez, diante da plenitude de Deus sente-se como um nada. Isso só é possível quando o homem descobre que a natureza divina e superior a tudo que existe na terra.
Daí, em alguns depoimentos se verificar a supremacia de Deus sobre a humanidade, por exemplo, quando o homem se considera um nada e eleva Deus a categoria de tudo. Deus torna-se tudo em tudo, quando a pessoa se encontra num estado de pobreza e humildade, Deus se torna o ente por excelência. Portanto, essa sensação de criatura é característica da majestas também denominado por Otto, de “mística da majestas”.