CONSERVAÇÃO IN VITRO E EX SITU E VALORIZAÇÃO DE ENDEMISMOS IBÉRICOS DAS APIACEAE PORTUGUESAS

Ana Cristina Pessoa Tavares dos Santos

Quimiotaxonomia das quatro subspécies de Daucus carota L. nativas em Portugal

O género Daucus L.apresenta um elevado nível de variações morfológicas, bem expresso nos taxa infraespecíficos, como é o exemplo de Daucus carota L. nativo de regiões temperadas da Europa e do sudoeste da Ásia. Os seus ancestrais selvagens provavelmente tiveram origem no Afeganistão, o centro de diversidade da espécie(Bradeen et al., 2002) e hoje disseminada em diversos ecossistemas e zonas geográficas (Amaral Franco, 1974; Castroviejo et al., 2003; Pereira Coutinho, 1939; Sampaio, 1946; Tutin et al., 1968).
Como foi descrito, as subespécies de D. carota e também a espécie E. duriaei apresentam um alto nível de variações morfológicas e, apesar das várias descrições disponíveis nas Floras analisadas, essas descrições não são, do nosso ponto de vista, suficientemente claras ou completas para um reconhecimento inequívoco destes taxa. Além da caracterização do fenótipo outras ferramentas de diagnóstico, como a caracterização dos óleos essenciais e do genótipo dos indivíduos, foram avaliadas para certificar a identificação dos taxa. Assim, o estudo quimiotaxonómico que nos propusemos fazer sobre as quatro subspécies de Daucus carota nativas em Portugal Continental e da espécie Eryngium duriaei foi baseado em diferentes metodologias de análise.  
Relativamente a Daucus a avaliação morfológica e da morfometria de amostras de frutos de diversas populações de Daucus carota subsp. maximus mostrou que esta subespécie é claramente diferente das outras três subespécies, não só pelas dimensões das plantas adultas e das umbelas, como pelas características dos frutos. O hábito desta subespécie é também nitidamente diferente: é uma planta herbácea com altura até 170 (200) cm, umbelas com 12-23 cm de diâmetro; os frutos são menores, até 2,5 x 2 mm, e os espinhos dos frutos são sempre compridos, até 1,50 mm, de ápices estrelados. Os indivíduos das outras subespécies são plantas herbáceas menores, geralmente até 50 (100) cm de altura, com umbelas mais estreitas, 3-12 cm de diâmetro; os frutos são maiores, até 3,5 x 2,5 mm e com espinhos até 1,50 mm de comprimento, que podem ter ápices estrelados, de uma ou duas pontas ou simples. Diferentemente os indivíduos das subsp. carota, gummifer e halophilus não são facilmente distinguíveis morfologicamente, nem pela morfometria dos frutos.
De um modo geral, a análise do teor em DNA revelou uma acentuada dificuldade na obtenção de histogramas de núcleos com pico G1 inferior a 3% (valor médio CV foi de 5,62%). No entanto, diferenças significativas foram detetadas no tamanho do genoma, com a subsp. maximus a apresentar o teor de DNA mais elevado e a subespécies halophilus o menor.
No que respeita aos óleos essenciais também D. carota subsp. maximus se distingue dos outros taxa pelo elevado conteúdo de asarona, composto ausente nos óleos essenciais das outras subespécies As outras três subespécies (subsp. carota, subsp. gummifer e subsp. halophilus) apresentam algumas diferenças na composição dos óleos essenciais, em especial a subsp. halophilus com elevado teor em elemicina (15-31%). Este fenilpropanóide não está presente no óleo da subespécie gummifer e é apenas um composto minoritário no óleo da subespécie carota (0,1-1,6 %). Por outro lado, é muito difícil distinguir a subsp. carota da subsp. gummifer pelos seus óleos essenciais, uma vez que ambos apresentam elevados teores de acetato de geranilo.
Assim, os óleos de Daucus carota subsp. maximus e subsp. halophilus são manifestamente diferentes das outras duas subspécies (subsp. carota e gummifer) pela maior quantidade de fenilpropanóides. No entanto, no óleo de Daucus carota subsp. maximus a asarona é o principal fenilpropanóide e no da  subsp. halophilus a elemicina, acompanhada pelo monoterpeno sabineno. Este último composto é minoritário na subspécie maximus, mas, em contrapartida o óleo deste taxon tem teores mais elevados de E-metilisoeugenol e β bisaboleno do que a subespécie halophilus.
Embora Daucus carota subsp. halophilus possa ser diferenciado das outras subespécies, de acordo com algumas características morfológicas, pelo tamanho do genoma e alguns constituintes químicos dos óleos essenciais, estas diferenças não são suficientemente robustas para separar a subsp. halophilus numa categoria taxonómica diferente.
Também não foi possível usar dados citológicos, morfológicos e genómicos para apoiar a separação das subsp. carota e subsp. gummifer, nem entre eles, nem em relação à subsp. halophilus.
A avaliação das populações estudadas, recorrendo à caracterização taxonómica, análise microscópica e morfométrica dos frutos, estimativa de nível de ploidia e à caracterização dos óleos essenciais, permitiram separar D. carota L. subsp. maximus (Desf.) Bal, de entre as 4 subespécies nativas em Portugal.
Desta forma, e considerando a quantidade razoável de subespécies de Daucus existentes (cerca de 10), o taxon Daucus carota subsp. maximus deve ser considerado, na nossa opinião, uma espécie diferente, como foi sustentado por René Desfontaines (D. maximus Desf.) (Desfontaine, 1798). Pelo contrário, e de acordo com Pujadas Salvá (2003), os três outros taxa devem manter-se na mesma categoria taxonómica:
Daucus maximus Desf.
Daucus carota L. subsp. carota
Daucus carota L. subsp. halophilus (Brot.) A. Pujadas
Daucus carota L. subsp gummifer Syme
No entanto, mais estudos devem ser desenvolvidos para aprofundar a caracterização destes taxa, em particular do endemismo português, Daucus carota L. subsp. halophilus (Brot.) A. Pujadas, que já foi considerado por Brotero uma espécie (D. halophilus Brot.) (Castroviejo et al., 2003)
Por outro lado, este taxon pela sua tolerância à salinidade, apresenta não apenas interesse fisiológico mas também do ponto de vista do melhoramento de plantas uma vez que esta característica pode vir a ser transferida para a subespécie cultivada, criando assim variedades de D. carota subsp. sativus tolerantes à salinidade.

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