DIMENSÕES E

DIMENSÕES E "REALIDADES": a Fronteira em seus diferentes matizes

Roberto Mauro da Silva Fernandes.
Organizador
(CV)
Universidade Federal da Grande Dourados

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AS BOCAS FAMILIARES: MUTAÇÕES DA CASA DE FAMÍLIA NO ESPAÇO URBANO CIDADE DE CORUMBÁ-MS 1

Giovanni França Oliveira (UFMS) 2

Resumo: Este artigo realiza uma pesquisa etnográfica nas periferias da cidade de Corumbá-MS, na fronteira entre Brasil-Bolívia, com o objetivo de analisar, a partir das casas de famílias que funcionam como ponto de venda de drogas (bocas), como se dão as metamorfoses desse espaço (casa) no cotidiano da cidade.  A partir daí procuraremos refletir sobre algumas formas e modalidades de trabalho “ilegal” gerado (in) diretamente por esses ambientes. A casa, que ora é um ambiente familiar, ora funciona como uma extensão de um comércio familiar (bar, salão de beleza) montado para aumentar os lucros da família e como uma “fachada” para a venda de drogas ilícitas. A hipótese deste trabalho é a de que esse comércio de drogas, com suas especificidades na fronteira, apresentam índices relativamente baixos de violência na região, sem disputas territoriais, justamente em função das relações de vizinhança e parentesco que se constroem a partir do funcionamento das bocas nas casas de família. 

Palavras Chave: Fronteira; Comércio de Drogas; Economia Ilegal

Resumen: Este artículo realiza una investigación etnográfica en las periferias de la ciudad de Corumbá-MS, en la frontera entre Brasil-Bolivia, con objetivo de analizar, desde las casas de familias que actúan como punto de venta de drogas “bocas”, como ocurren las metamorfosis de ese espacio (casa) en el cotidiano de la ciudad. A partir de ahí intentamos reflejar sobre algunas formas y modalidades de trabajo “ilegal” generado (in)directamente por eses ambientes. La casa, que ora es un ambiente familiar, ora funciona como una extensión de un comercio familiar (bar, peluquería) hecho para aumentar los lucros de la familia y como un “frente” para venta de drogas ilícitas. La hipótesis de este trabajo es que ese comercio de drogas, con sus especificidades en la frontera, presenta niveles relativamente bajos de violencia en la región, sin disputas territoriales, precisamente en función de las relaciones de vecindad y parentesco que se construyen a partir del funcionamiento de las “bocas” en casas de familia.

Palabras clave: Frontera; Tráfico de Drogas; Economía Ilegal

INTRODUÇÃO

No extremo oeste do estado de Mato Grosso do Sul situa-se Corumbá conhecida regionalmente e nacionalmente como capital do pantanal, situada às margens direitas do rio Paraguai. A cidade localizada na fronteira com a Bolívia foi fundada no final do século XVIII primeiramente como um destacamento militar a fim de barrar o avanço espanhol nessa região (ESSELIN, 2000, p.151). Logo após sua fundação, em pouco tempo se tornou um dos maiores entrepostos comerciais de navegação do império brasileiro no século XIX. As mercadorias que passavam por Corumbá abasteciam, na época, a província de Mato Grosso, tornando-se o terceiro maior porto fluvial das Américas (OLIVEIRA, 2005). A cidade adquiriu, então, grande importância no cenário nacional e internacional, atraindo muitas pessoas de diferentes nacionalidades que imigraram para Corumbá para montar seus próprios negócios ou para trabalhar no porto. Situada a quatro quilômetros do centro de Corumbá está à cidade de Ladário que possui também grande valor histórico já que é o centro mais antigo do estado de Mato Grosso do Sul.
Ambas as cidades estão situadas na fronteira com a Bolívia, onde o primeiro contato do lado boliviano se dá pelo distrito de Arroyo Concepción, e dois quilômetros mais à frente está à cidade de Puerto Quijarro e adentrando mais um pouco se chega à cidade de Puerto Suárez, capital da província de German Bush departamento de Santa Cruz.
São cinco localidades, que se formam uma semiconurbação, de grande articulação sócio-econômicocultural. É um território de grande configuração estratégica, por ser o ponto de contato entre o Brasil e a Bolívia. Por ali passa o gasoduto e um acumulado de mercadorias outras (chegam ou partem) utilizando o rio (com seis portos ali cravados) a rodovias e as ferrovias que se encontram, porém não se prendem... (MACHADO, 2009 : 33).

Após um longo período de crise econômica causada pela falência portuária no final da década de quarenta do século XX e a estagnação do recente setor industrial na década de 60, ainda século passado (fomentado pela chegada da ferrovia Noroeste, inicia-se um maior estreitamento das relações de fronteira nessa região). Entretanto, foi só a partir da década de 1980 que ocorreu, de fato, uma aproximação maior entre as duas fronteiras, principalmente do lado brasileiro com Corumbá e Ladário, fato que historicamente não havia ocorrido nessa região. Essa aproximação correu a partir do crescimento do lado boliviano, principalmente na área comercial impulsionado por capitais estrangeiros fazendo com que o departamento de Santa Cruz tivesse um surto de crescimento e com isso refletindo diretamente nessa região de fronteira (MACHADO, 2009:34).
Estudar fronteiras de Estados nacionais impõe grandes desafios aos pesquisadores, devido ao caráter peculiar e mutável dessas regiões3 . Devido a esse caráter desafiador, a cada dia mais pesquisadores das várias ciências (sociologia, geografia, antropologia, história, direito) se alinham na tentativa de entender as diversas peculiaridades das diferentes fronteiras dos Estados nacionais. Primeiramente, ao se falar em fronteiras de Estados nacionais, pressupõe-se a existência de dois ou mais limites políticos operando nessa região, o que gera uma enorme demanda estatal para uma melhor regulamentação, em forma de acordos para melhor atender às demandas de fluxo de mercadorias dos países e também como forma de barrar o vai e vem dos habitantes da fronteira. Este acesso e o contato de diferentes nacionalidades através da chamada integração informal geram laços sócio-econômico-culturais. Dessa maneira, a simples passagem de uma pessoa de um lado para o outro e comprar um produto e voltar para seu país de origem é um ato corriqueiro em sua vida fronteiriça, mas para o Estado4 , este ato se torna prejudicial e assim para coibir esse tipo de comportamento são criadas legislações especificas e mecanismos de controle e vigilância para essas localidades, como tentativa de frear essa prática o máximo.
En las fronteras la tensión entre legalidad e ilegalidad es parte constitutiva de La vida cotidiana”. Las transacciones comerciales entre las poblaciones son consideradas muchas veces como «contrabando» por los Estados mientras es La actividad más natural para la gente del lugar (GRIMSON, 2000:3).

A fronteira (MACHADO, 1998, p.42) por ser a entrada do Estado sempre estará sob os olhares atentos do mesmo, já que frequentemente os limites institucionais são “driblados” pela população de fronteira e dessa forma, são criadas legislações especificas pelo Estado para permitir uma melhor vazão de mercadorias que passam pelas aduanas, como forma de dinamizar a atividade comercial entre os países, por um lado, e para implantar medidas repressivas contra o comércio ilegal (MACHADO, 1998:43).
Dessa forma (GRIMSON, 2000) sempre haverá uma dualidade fronteiriça do comércio, pois tanto as atividades tidas como legais, como as ilegais estão sempre presente no cotidiano da população fronteiriça, já que qualquer um pode atravessar a fronteira e comprar produtos e regressar sem pagar impostos, ou mesmo comprar produtos “contrabandeados” como podemos perceber na cidade de Corumbá, no próprio centro da cidade e na feira Brasbol5 . São grandes as vantagens desse comércio de fronteira onde o valor ambíguo da moeda pode ser considerado como um dos fatores determinantes para o aumento de todas as modalidades de comércio (legal ou ilegal) (COSTA, 2010).
Dessa maneira a fronteira pode ser considerada como um espaço aberto para negociação e para os fluxos de integração informal e, assim, o comércio de drogas se configura como um dos principais elos da integração informal, seja pelo sucesso na integração através dos atores sociais que cruzam a fronteira, seja pela eficaz formação de redes, assim como pelo grande conhecimento do terreno por parte desses comerciantes e pela capacidade de adequação à rapidez das mudanças no controle e no mercado6 . Sendo assim, (COSTA, 2010) para entendermos as relações sociais em cidades de fronteira como Corumbá e Puerto Quijarro, não podemos utilizar os limites do Estado como único parâmetro de análise, ou seja, para analisar o comércio de drogas na região de fronteira é preciso entender como os atores sociais locais cruzam a fronteira com a mercadoria e estabelecem um comércio efetivo, em que as medidas de repressão geram respostas rápidas e criativas por parte dos comerciantes de droga. A partir dessa dualidade do legal e do ilegal na fronteira e as diferentes legislações de cada país faz com que o comércio de drogas busque novas maneiras de atuar através de parcerias de ambos os lados da fronteira.
Dessa maneira, as cidades fronteiriças são frequentemente estigmatizadas pelo olhar do Estado, como lugar das ilegalidades, contrabando, tráfico de drogas, armas e pessoas. Essa visão distorcida do em relação à cidade de fronteira gera um pensamento negativo em grande parte dos indivíduos que vivem fora dessas regiões fronteiriças. Dessa maneira, para tentar entender o que acontece de fato em uma cidade fronteiriça em relação aos vários tipos de ilegalidades que ocorrem na fronteira, é necessário se afastar dessa visão distorcida produzida pelo Estado e tão difundida pelos meios de comunicação de massa, para propiciar um melhor entendimento da vida de uma cidade fronteiriça. De acordo com (COSTA, OLIVEIRA e CAMPOS, 2012):

As fronteiras são de fato lugares propícios aos negócios e é justamente por esta condição é que se costuma confundi-las, como se fossem os lugares por excelência da ilegalidade, sob o efeito de discursos que as caracterizam como “terras sem lei”. No mundo dos negócios, da busca por lucros na compra e venda de mercadorias, pouco importam os limites da lei e do Estado, pois a lei que rege as operações de aquisição de lucro e os esquemas é a lei do mercado (COSTA; OLIVEIRA e CAMPOS 2012: 3).

Observando todo o potencial dessa região de fronteira para os grandes fluxos internacionais, junto com a fama de Corumbá como uma das principais portas de entradas de drogas da Bolívia e, por causa disso, existe um enorme esforço do próprio governo municipal em substituir o apelido (Cidade Branca) dado à cidade de Corumbá há muito tempo, que hoje soa muito mal devido a própria condição de porta de entrada de cocaína da Bolívia. Esse apelido, que originalmente se refere à presença do calcário, vem sendo substituído para o de Capital do Pantanal em um esforço da própria prefeitura e população local na tentativa de acabar o estigma de que Corumbá só aparece nos meios midiáticos como local de tráfico de drogas e dessa forma melhorar sua imagem nacionalmente.
Segundo (OLIVEIRA e COSTA, 2012) não é qualquer cidade fronteiriça que poderá atrair fluxos de capitais, já que é necessário para esses núcleos urbanos fronteiriços uma estrutura (rodovias, aeroportos, ferrovias) que faça a integração com os grandes centros urbanos, para dessa forma dar vazão as negociações (de produtos) tanto as redes legais criadas pelos acordos entre os Estados-Nações, como também para as redes criadas pelo comércio ilegais de mercadorias ilícitas (contrabando, tráfico de drogas), que dependem da relativa integração que o próprio Estado fornece entre a fronteira e outros centros urbanos. Primeiramente entendendo Corumbá como ponto de conexão da passagem do tráfico de drogas internacional, observamos a integração de Corumbá de fato aos grandes fluxos de mercadorias já a partir do asfaltamento de uma um grande trecho da rodovia 262 Corumbá - Miranda (OLIVEIRA, 2009) aumentando o fluxo de mercadorias, quanto também pela ferrovia e o aeroporto internacional. Também se observa o fluxo constante de barcos pelo rio Paraguai em uma hidrovia com função histórica dentro do processo de desenvolvimento da cidade de Corumbá quanto também de Ladário.

DIFERENCIAL FRONTEIRIÇO

Entendendo a importância geopolítica e econômica da cidade de Corumbá para a existência de uma fronteira dinâmica entre Brasil-Bolívia é possível perceber que tanto o comércio de drogas local como o contrabando formiga que opera entre Corumbá/ Ladário e Puerto Quijarro/ Puerto Suarez apresentam alguns elementos que nos permitem discutir como a fronteira pode favorecer uma capitalização rápida a partir destes comércios, que gera uma rede ampla de atores sociais transnacionais que trabalham com esses tipos de atividades. Para realizar esta tarefa, partimos do pressuposto de que na chamada economia “ilegal”, prevalece, em grande medida, a mesma lógica da chamada economia “legal”, sobretudo a partir do ponto de vista dos atores sociais envolvidos e das operações e dispositivos de acumulação de dinheiro e de obtenção de lucro e reinvestimento que são postos em ação na fronteira.
Partirei da análise de dinâmicas de diferentes fronteiras, suas formas de integração cotidiana dos atores sociais envolvidos nas mais diferentes atividades lícitas ou ilícitas e como essas atividades constituem as interações entre as populações de fronteira. De acordo com (OLIVEIRA e COSTA 2012) em relação ao diferencial que morar em uma região de fronteira proporciona aos seus moradores:
Ao trafegar por dois ou mais regimes jurídicos e econômicos, algumas mercadorias adquirem o status de ilegalidade perante legislações nacionais, escapando também ao recolhimento de tributos, o que propicia grandes lucros para os comerciantes e baixos preços para os consumidores. Esta operação de compra e venda característica das fronteiras não apenas fornece o mecanismo de capitalização de comerciantes, como dinamiza a vida econômica dessas cidades fronteiriças, gerando parte significativa dos empregos (em sua maioria, informais), movimentando o consumo, atraindo mão-de-obra fixa e transitória para essas localidades. Além disso, podemos pensar em que medida a peculiaridade da situação das fronteiras nacionais condiciona certas práticas de aquisição de lucro e configura um modo específico de fazer negócios, sejam eles legais ou ilegais. A fronteira é entendida, assim, como um lugar onde há a possibilidade de ascensão social para determinados indivíduos e onde existe certa liberdade de ação em relação às leis nacionais, em função da existência de dois ou mais regimes jurídicos, econômicos, políticos e sociais em um local de oportunidades para negócios em função da ambiguidade de valores de moedas e por ser um ponto na rota de mercadorias entre países. A existência de dois câmbios de moedas é um dos fatores que torna tão atrativo o comércio de drogas na região, pois ao passar para o lado brasileiro os comerciantes de drogas conseguem grandes margens de lucro sobre o produto (OLIVEIRA e COSTA, 2012: 142).

Partindo da ideia de diferencial fronteiriço citada, pontuo a analise de (DORFMAN, 2008) onde discute o contrabando em Santana do Livramento/Brasil-Rivera/Uruguai, segundo a autora, o ato de ir e vir de um lado para o outro da fronteira para compra e venda de produtos, não é considerada contrabando, esse termo é até alheio ao local. A autora pontua ainda que há uma preferência de alguns produtos a serem comprados em ambos os lados da fronteira, influenciados diretamente pelo câmbio. Neste sentido não há julgamento moral por partes dos moradores locais, o que autora dá o nome de contrabando cotidiano no qual “os moradores da(s) cidade(s) levam tanto pesos como reais na carteira, para não se sujeitarem a câmbios desfavoráveis eventualmente praticados nos estabelecimentos comerciais” (DORFMAN, 2008). Uma segunda modalidade definida pela autora é o de contrabando de ocasião que é justamente quando a pessoa compra algo para revender e assim auferir lucros, onde há um aumento na quantidade de produtos que são transportados de um lado para o outro da fronteira, criando assim uma rede de trabalhadores, que aumentam seus ganhos mensais com a prática dessa atividade. Bitencur, (2008) demonstra nessa mesma fronteira, que além do beneficio econômico, estão presentes também as interações sociais de corridas de matrimônios binacionais, além do constante aprendizado do português e do espanhol entre os habitantes dos dois lados da fronteira:
En ambas ciudades se constata, un importante número de parejas que concretan los matrimonios binacionales, la mayoría se oficializan en Rivera, tambiénen este aspecto se plantea un juego entre lo legal y lo ilegal (BITENCUR, 2008: 28).

Na localidade de Assis Brasil (Brasil), Iñapari (Peru) e San Pedro de Bolpebra (Bolívia), situadas na tríplice fronteira da Amazônia Ocidental, Valcuende (2009) traça uma importante contribuição para a noção de diferencial fronteiriço, o referido autor mostra toda a interdependência entre essas três localidades, onde cada lado de fronteira oferece algo de relevante (preços e variedades de diversos produtos), como também na área da integração dos transportes públicos, laços matrimoniais e amizade, tudo isso contribui para as articulações informais transfronteiriças daquela localidade.
Na fronteira de Tabatinga/Brasil-Letícia/Colômbia (NOGUEIRA, 2007) demonstra também de que forma os “recursos” ocasionados pela integração transfronteiriça influencia diretamente na vida daquela localidade, tanto nos laços sociais (relação de parentesco e amizade) como também na dependência econômica entre os ambos os lados da fronteira.
Se a fronteira é um recurso econômico também é um recurso social, a partir do qual se formam redes de solidariedade e parentesco, que atravessam os limites nacionais [...] A articulação econômica dessas populações da fronteira e o alijamento do poder central estão na base de uma intensa relação social, que não só se sobrepõe à fronteira, mas se instrumentaliza (VALCUENDE, 2009:15).

O que gostaria de frisar são os recursos que a fronteira proporciona para seus habitantes, recursos esses econômicos e sociais, que são gerados a partir dos contatos transnacionais efetivados pelo convívio cotidiano dos moradores da fronteira. São nesses contatos é que poderão se formar as redes ilegais do tráfico de drogas, de armas, de seres humanos.
O recurso econômico e social é amplamente usado pelos habitantes da fronteira (in) conscientemente, até mesmo para quem mora fora da fronteira e que usufrui em algum ponto desse recurso, como observamos nas levas de sacoleiros que partem de vários lugares do Brasil para determinadas regiões de fronteira em busca de preços mais baratos para revender esses produtos em suas localidades de origem.

AS BOCAS FAMILIARES: MUTAÇÕES DA CASA DE FAMÍLIA NO ESPAÇO URBANO CIDADE DE CORUMBÁ-MS

A verdade, entretanto, é que a cidade está enraizada nos hábitos e costumes das pessoas que a habitam. A consequência é que a cidade uma organização moral bem como uma organização física, e estas duas integram mutuamente de modos característicos para se moldarem e modificarem uma a outra (PARK, 1976: 32).

Nos últimos anos, na cidade de Corumbá, foi possível perceber um processo de mudanças no espaço da casa e de vizinhança, devido às grandes mutações do trabalho na região, principalmente a partir da falta de oportunidades e de geração dos chamados empregos “formais”. O espaço da casa adquire, a cada dia, as características de um “camaleão” frente às dificuldades cotidianas geradas pela falta de emprego (e emprego bem remunerado) nessa região. Dessa maneira, os moradores da cidade se vêem obrigados a lançar mão do que podem para aumentar sua renda familiar, transformando suas próprias casas em um pequeno negócio. Usam-se, dessa forma, as possibilidades que a condição de morar na fronteira oferece, ou seja, o chamado “diferencial fronteiriço”. Em Corumbá, é possível comprar os mais diversos produtos, dependendo do comércio que a pessoa se propõe a fazer na sua casa: desde bebidas alcoólicas, refrigerantes, materiais para serem usados em salão de beleza importados (secadores de cabelo, chapinhas) produtos de beleza (cremes, xampus), ou mantimentos como arroz, trigo, açúcar, óleo, e até mesmo carne de gado que sai muito barata em um açougue na Bolívia do que em um açougue no Brasil. Um bom exemplo de utilização das vantagens econômicas de viver na fronteira são as feiras de rua, ou as “feirinhas bolivianas” que acontecem em todos os dias da semana e em vários pontos de Corumbá e Ladário. Essas feiras abastecem, com seus produtos, grande parte das moradias dessas respectivas cidades. Ou seja, qualquer pessoa que more na fronteira poderá (in) diretamente fazer uso desse diferencial em seu cotidiano, dependendo de sua “perspicácia” em querer montar ou não um negócio. A fronteira representa, portanto, um recurso econômico e social.
Neste sentido, se aproveitando do diferencial fronteiriço (ambiguidade de moeda e de legislações) que a fronteira proporciona, muitas famílias montam seus negócios em perfeita simbiose com o ambiente familiar e de vizinhança. Montam-se salões de beleza, carrinhos de lanche, pequenas quitandas ou lojas de roupas e produtos de beleza, além de pequenos bares que, na maioria das vezes, “crescem” se tornando pequenas lojas de conveniência. Este empreendedorismo local é realizado tanto por brasileiros quanto por bolivianos.
É neste sentido que percebemos como a fronteira se caracteriza como um lugar propício aos negócios, pois estas operações de compra e venda características das fronteiras não apenas fornecem o mecanismo de capitalização de comerciantes, como dinamizam a vida econômica dessas cidades fronteiriças, gerando parte significativa dos empregos (em sua maioria, informais), movimentando o consumo, atraindo mão-de-obra fixa e transitória para essas localidades. A fronteira é entendida, assim, como um lugar onde há possibilidade de ascensão social para determinados indivíduos e onde existe certa liberdade de ação em relação às leis nacionais, em função da existência de dois ou mais regimes jurídicos, econômicos, políticos e sociais ocais de oportunidades para negócios em função da ambiguidade de valores de moedas e por ser um ponto na rota de mercadorias entre países.
 A existência de dois câmbios de moedas é também um dos fatores que torna tão atrativo o comércio de drogas na região, pois ao passar para o lado brasileiro os comerciantes de drogas conseguem grandes margens de lucro sobre o produto.
A partir da metamorfose da casa, ora ambiente familiar, ora extensão de um negócio, percebe-se toda uma dinâmica de sobrevivência cotidiana familiar que condiciona a criação de grandes redes de sociabilidades (negócios, amizades, lazer) nos bairros onde “tudo mundo” conhece “todo mundo”. Esta proximidade face a face é uma característica fundamental para os negócios pontuais feitos na vizinhança, sobretudo em relação ao crédito e confiança. Se uma pessoa deve a uma ou mais pessoas que fazem parte dessas redes, certamente seu crédito logo será negado em outros locais, até que a dívida seja sanada; ou se a pessoa for um “bom” pagador, certamente não terá dificuldades, se precisar eventualmente comprar “fiado” nessas redes de relações. É de suma importância ressaltar que, neste espaço difuso entre a casa e a rua, nessa dinâmica da casa como uma extensão de um provável negócio, é que se baseia o trabalho do pequeno traficante de drogas dessa região de fronteira. Ou seja, a casa se torna um ambiente metamorfoseado em várias situações diárias, ora um ambiente familiar, ora uma extensão de um negócio (salão de beleza, bar) que pode funcionar como fachada para a venda de drogas na região e que escamoteia as rendas auferidas na venda da mercadoria ilícita, servindo como uma “camuflagem” para uma eventual repressão policial. Primeiramente, para uma pessoa mais desatenta, a boca 7é invisível, o que se vê é uma casa de família, com crianças brincando no quintal, a mãe lavando roupa e estendendo no varal, ou seja, tudo que denota uma rotina normal de uma casa de família.
No caso do contrabando e do narcotráfico, por sua vez, necessitam criar um meio em perfeita simbiose social e política, com seu entorno de demarcação invisível, todavia sob seu controle de forma visível, o que em outros termos, também significa criar o seu “próprio meio”. Ainda que criem seu “próprio meio”, elas [indústrias, contrabando, narcotráfico] interferem no “meio comum”, na medida em que utilizam e desgastam os equipamentos citadinos e consomem parte muito significativa de energias e recursos do orçamento da administração local (OLIVEIRA, 2010: 5).

Através de pesquisas etnográficas, primeiramente, identifiquei a modalidade de ponto de comercialização de drogas ilícitas que chamo de boca familiar (comércio de drogas no varejo) e a banca (comércio de drogas no atacado). Esta é uma peculiaridade dessa região de fronteira, muito importante na dinâmica de vendas drogas e que acaba se tornando ponto de referências para outros “jeitos” de se comercializar a mercadoria ilícita. Dessa forma, o pequeno traficante se aproveita dessa rede de sociabilidade, construída a partir de um negócio lícito qualquer, montado em sua casa, para vender a mercadoria ilícita. Essas redes de sociabilidades que circundam seu negócio lícito, são de suma importância para o pequeno comerciante de drogas (boqueiro), devido ao grande numero amizades que são feitas por todo o bairro, criando uma condição propícia para a venda de drogas e que garantirá sua “invisibilidade”. É preciso destacar que informações das mais diversas circulam nessas redes: desde uma conversa de boteco até o salão de beleza, que colocam em evidência todos os benefícios (alguma ação social realizada pelos governantes na localidade) e os malefícios (o próprio descaso dos governantes em relação aos serviços públicos básicos fornecidos na localidade, principalmente com relação à segurança).
O pequeno traficante também se aproveita do diferencial fronteiriço como recurso, já que para obter o produto mais barato para a revenda tanto no atacado quanto no varejo. Na região da fronteira Corumbá-Puerto Quijarro, muitos traficantes varejistas tem os contatos diretos do lado boliviano sem precisar de um intermediário atacadista brasileiro para obter o produto. Às vezes, a relação é tão próxima entre o varejista e o atacadista, que o próprio atacadista boliviano leva a droga na boca sem precisar de um “passador” já que nessa região é muito “fácil” obter determinados tipos de drogas, como a pasta base de cocaína e a cocaína, já que a Bolívia é um grande produtor desse gênero de droga. Observa-se também o recurso social, já que o atacadista boliviano leva a droga na boca do lado brasileiro, mesmo correndo o risco de ser preso, nota-se uma relação de amizade que foge apenas das relações de transações financeiras.
Outro ponto importante neste trabalho são as relações das bocas de fumo de Corumbá e Ladário, e como elas trabalham na venda da droga de uma maneira peculiar e distinta dos grandes centros brasileiros. Grillo (2008) mostra que as bocas de fumo nas favelas do Rio de janeiro apostam na visibilidade, na conquista de territórios para a venda da droga. Por isso, a demanda de armas, já que há uma tensão de vários lados, polícia, traficantes rivais, milícias que tentam constantemente tomar o controle do território e da boca e com isso o controle do trafico de drogas da região.
Hirata (2010) demonstra o papel da chamada biqueira 8 em um determinado bairro da periferia da cidade de São Paulo. Segundo o autor, a biqueira era uma das grandes responsáveis pelas ltas taxas de violência no bairro em questão, há insegurança e o medo da morte (por acerto de contas e por vendetas ‘intermináveis’) pairava na periferia e em torno da(s) biqueira(s). A partir do momento em que o Primeiro Comando da Capital (PCC) começa a dominar o tráfico de drogas na região, inicia-se também a diminuição da violência nesses locais, e também nota-se uma mudança de percepção da população local em relação à biqueira. Outrora a biqueira vista como um dos principais males do bairro, agora devido há ação de “pacificação” promovida pelo PCC, passou a ser observada como instância de soluções de problemas locais mais corriqueiros, como briga de marido e mulher, até mesmo brigas do futebol, soluções essas promovidas pelo chamado debate, realizadas pelo patrão ou pelo gerente da biqueira. Se a questão envolve morte, o debate assume outro caráter, que envolverão outras instâncias do PCC, ou seja, a violência outrora tão visível nas ruas do bairro anteriormente, agora foi realocada e promovida com hora marcada através do debate, onde será decidida toda e qualquer forma de violência contra o culpado, inclusive a morte dependendo do caso em questão no debate (HIRATA, 2010).
Manter a paz no local é, portanto, uma das preocupações dos boqueiros9 , pois caso aconteçam furtos ou violência no bairro começarão a surgir os comentários em relação à boca, ao aumento de furtos, à sensação de insegurança causada pelos pipeiros 10.
Atentando para a formação histórica da vizinhança começa-se aperceber um dos principais pontos de estruturação do comércio de drogas ilícitas tanto na cidade de Corumbá quanto na cidade de Ladário11 . Se pararmos e refletirmos sobre as muitas histórias de vida de crianças, jovens e adultos que seguem seus caminhos diferentes na vida, mas que continuam mantendo os laços de amizade de quando eram crianças, não há nada de anormal nisso, até é corriqueiro na vida do ser humano. Mas, essas relações tomam outra roupagem quando se tornam uma das bases para a imbricação entre o tráfico de drogas e o aparato repressivo estatal desta região de fronteira.
O tamanho da cidade de Corumbá tem um papel fundamental nessas relações, por ser uma cidade relativamente pequena, o que faz com que o número de amizades feitas e de “conhecidos” na cidade e o próprio encontro com essas pessoas seja rotineiro. Além disso, “todos” se conhecem pelos nomes ou pelos cargos que ocupam na cidade, em que há pouca margem para o anonimato. Devido a isso o fluxo de pessoas de um bairro para o outro é constante, criando laços com pessoas das mais diferentes em várias partes da cidade. Segundo (OLIVEIRA NETO, 2010) a rua exerce um papel fundamental na cotidianidade dos indivíduos, por apresentar as mais diferentes possibilidades (espiritual e material) produzidas pela humanidade, observando também o caráter mecânico do cotidiano para o individuo. Seguindo o raciocínio do mesmo autor, notamos que devido à rotina de Corumbá, o seu cotidiano onde se forjam essas relações pessoais estreitas se torna um caso de extrema relevância na estruturação das redes ilegais do tráfico de drogas no varejo como também no atacado.
Atentando para os questionamentos anteriores, no cotidiano histórico da vizinhança é que são formadas as relações de amizade entre as pessoas, isso explica em partes o porquê da ocorrência das bocas famosas, devido ao caráter de empresa familiar que a boca assume no dia-a-dia em vários pontos da cidade, (o que se reflete até em uma estigmatização histórica quanto a alguns bairros de Corumbá). Atentando ao fato de que apenas Corumbá, uma cidade estratégica aos olhos estatais, ter mais de 200 bocas12 , sem que aja uma guerra por disputas de território na comercialização de drogas na cidade de Corumbá? Qual seria o real papel de umaoca em relação com crescimento ou não da violência em seu entorno?
De acordo com Misse:
Uma parte importante da explicação dessa associação do varejo do tráfico com a violência deve-se ao surgimento de quadrilhas que controlam territórios em áreas urbanas de baixa renda, o que leva a intermitentes conflitos com outras quadrilhas pelo controle desses territórios e de seus pontos de venda (MISSE, 2010:20).

Também de acordo com Grillo quando diz:
A comparação das dinâmicas territorial e organizacional dessas redes fornece elementos importantes para a compreensão dos aspectos que contribuem ou não para a demanda pelas armas e toda a cultura de violência que se constrói em torno delas [...] (GRILLO, 2008:131).

De acordo com as pesquisas etnográficas iniciadas em 2010, esse mercado de drogas foi se formando, em sua gênese no final da década de 1970, a partir de núcleos familiares (do lado brasileiro da fronteira) independentes, em sua forma de atuação de venda por atacado quanto no varejo, de qualquer tipo de relação com uma organização criminosa, se mantendo assim em sua grande parcela nos dias atuais13 .           
Devido a essa organização de caráter familiar, baseada em redes de vizinhança, percebe-se, na cidade de Corumbá há pouca disputa por territórios, assim como por bocas ou pontos de venda de drogas, além do que, as bocas estão situadas, em sua grande maioria, em casas de família. Devido a este fato, há um cuidado por parte dos traficantes em não chamar a atenção da polícia, o que seria ruim para os negócios de todos os envolvidos, além é claro de expor familiares desses indivíduos a todo tipo de risco. Os comerciantes de droga de Corumbá e Ladário preferem resolver essas disputas “pacificamente”, ou seja, a violência está implícita nos acordos feitos entre esses comerciantes para que se mantenha uma relativa “paz” entre os mesmos. Percebe-se, entretanto, que os casos de violência relacionados às bocas, em Corumbá, ocorrem mais por outros motivos, como o não pagamento de dívidas, por exemplo, do que por disputaselos pontos de venda.
Dessa maneira muitos boqueiros, que tem suas bocas próximas, até mesmo uma ao lado da outra tendem a fazer parcerias 14 para venda da droga e dessa forma diminuir os riscos de uma eventual batida policial, já que traçam varias estratégias para a venda e assim maximizar os lucros.
É preciso destacar também algumas peculiaridades da economia criminal, que segundo Nordstrom (2007) tem a “confiança no coração de suas atividades”. De acordo com esta autora, é justamente o fato de não haver a mediação de leis e de regulações do direito formal nas atividades criminosas, que abrem espaços para relações extremamente personalizadas, que vão engendrar a coesão social dos atores sociais envolvidos. Sendo assim, categorias nativas de comerciantes de drogas como “confiança”, em Nordstrom (2007) “respeito”, em Bourgois (2010) indicam que há toda uma rede de confiança que se estabelece entre os produtores, comerciantes e usuários de drogas, que de acordo com Nordstrom (Idem) caracterizariam a existência de um “código de ética” mediado diretamente nas relações face a face e que demandam a satisfação dos clientes, o pagamento das dívidas e o recebimento dos produtos, sob ameaça sempre latente do uso da violência para solucionar os conflitos.
Como dito anteriormente, a artimanha do traficante para a venda da droga está justamente na simbiose do legal e do ilegal e isso afeta diretamente toda a territorialização dos pontos de venda na cidade de Corumbá, as relações primárias de vizinhança (PARK, 1976), tomam forma e afetam toda a conjuntura do trafico no varejo local, devido ao fato da cidade ser de pequeno para médio porte, as relações de vizinhança parentesco e proximidade viabilizam a proteção da venda de drogas e do traficante.
Entender as modalidades de trabalho “ilegal” implica, portanto, em um afastamento de pré-julgamentos que inserem este fenômeno apenas nas esferas judicial e criminal. Esses, os atores sociais envolvidos na economia “ilegal” não veem a si mesmos como criminosos, mas sim trabalhadores, “que fazem seu ganho” e como empreendedores, inclusive fazendo reinvestimentos a partir da capitalização “ilícita” na economia urbana da cidade de Corumbá. De acordo com Peraldi:
Atividades que visam à produção, circulação, a comercialização de produtos proibidos de um ponto vista moral ou legal, de atividades, nas quais a organização e a efetivação incorporam uma parte de violência física realmente exercida ou potencialmente presente na própria organização do ciclo produtivo, e enfim, de atividades realizadas por indivíduos, grupos marginais ou desviantes nas condições de total ou relativa clandestinidade (PERALDI, 2007:111).

De acordo com Telles “É isso propriamente que caracteriza o bazar metropolitano: a intersecção entre os mercados irregulares e os mercados ilegais, esse embaralhamento do legal e do ilegal, e o permanente deslocamento de suas fronteiras” (TELLES 2009: 157). A atuação subterrânea desses indivíduos, mesmo que de conhecimento tácito por parte de conhecidos, parentes, ou da população em geral, também não impede o crédito “na praça”, sua aceitação em lojas, em eventos sociais e estabelecimentos comerciais, muito pelo contrário. Ou seja, não é apenas o capital propriamente dito que se constrói a partir de trabalhos “ilegais”, mas também o prestígio social e a garantia de circulação social em Corumbá e nas cidades vizinhas “é justamente nas fronteiras porosas entre o legal e o ilegal que transitam de forma descontinua e intermitente, as figuras modernas do trabalhador urbano, lançando mão das oportunidades legais e ilegais que coexistem e se expõem nos mercados de trabalho” (TELLES e HIRATA, 2007:174).

Um ponto importante na estruturação do trafico de drogas no varejo local, está nas relações de vizinhança, parentesco e proximidade tão presentes na cidade de Corumbá. A lógica do empreendedor, as “pequenas empresas grandes negócios 15”, são feições locais e que estão inseridas na própria gestão local do crime16 . Os boqueiros que montam seus negócios para escamotear a venda da mercadoria ilícita ou mesmo aqueles que não conseguem montar seu pequeno negócio lícito se tornam quase como “guardas da vizinhança local” impedindo ao máximo possível que ocorram roubos perto de sua “quebrada” e desta forma, diminuem a possibilidade de denúncia da boca pela vizinhança para a polícia.
É na vida das ruas da cidade de Corumbá que podemos enxergar as relações sociais envolvidas nessas modalidades de trabalho e a capilaridade deste fenômeno na vida da cidade. Para termos a medida real do lugar que ocupam essas economias “criminais” na economia urbana desta fronteira, além das formas complexas de sua imbricação na economia dita “formal” e “legal”, devemos estar atentos às formas difusas e mutantes em que essas modalidades de trabalho se apresentam no cotidiano, com grande extensão e multiplicação de atores sociais implicados que usam o “diferencial fronteiriço” como um recurso. O que as pesquisas, em curso, apontam até o momento, é que se trata de um comércio de drogas específico nas bocas da cidade de Corumbá, com características distintas dos grandes centros do Brasil, que obedecem a critérios de vizinhança e parentesco, preferindo a invisibilidade de seus pontos de venda. Além disso, percebe-se que prevalece a negociação, envolvida nessas relações face a face, ao invés do uso da violência, sobretudo, no que diz respeito aos possíveis assassinatos por dívida ou disputas armadas por pontos de venda de drogas, que de fato são raros em Corumbá.

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1Versão parcial apresentada no 36º Encontro Anual da Anpocs GT33 - Sobre periferias: novos conflitos no espaço público. “As Bocas Familiares: mutações da casa de família no espaço urbano cidade de Corumbá-MS”.

2 Professor Substituto da Universidade de Mato Grosso do Sul - Campus do Pantanal.

3 Neste sentido coloco o termo ‘regiões’ como os locais que se situam na faixa de 150 quilômetros de área de fronteira, de largura paralela à linha divisória do território Nacional.

4 Aqui o Estado é entendido como conjunto de instituições públicas que o representa, más principalmente as instituições de segurança pública.

5 Camelódromo local que foi fechado no mês de maio de 2013.

6 Conceitos desenvolvidos por Lia Osório Machado em sua palestra de abertura do II Seminário de Estudos Fronteiriços, em agosto de 2010, em Corumbá-MS.

7 Ponto de venda de drogas.

8 Como são chamados os pontos de venda de drogas ilícitas em São Paulo (capital).

9 Donos de pontos de venda.

10 Usuários de pasta base, também são chamados de Zumbis.

11 Ao que parece o comércio de drogas ilícitas em Ladário assemelha-se com Corumbá. Pude conhecer em minhas pesquisas de campo em Corumbá algumas pessoas que tem pontos de venda em Ladário ou que vaziam correria para alguma boca dessa referida cidade, onde me relataram em conversas informais que a dinâmica é a mesma, ou seja, estruturada em bocas familiares e que também o PCC está nas ruas daquela cidade mas em menor expressão se compararmos com a cidade de Corumbá segundo as entrevistas, é claro que se necessita de pesquisas de campo mais aprofundadas nessa cidade.

12 Dados cedidos ela Polícia Civil de Corumbá.

13 Nota-se a partir de 2001, o inicio da ação mais efetiva do PCC (Primeiro Comando da Capital) nessa região de fronteira. A partir de entrevistas realizadas com ex-detentos, que afirmam categoricamente, em relação à fundação de uma espécie de “filial” do PCC nessa região de fronteira a partir da mega rebelião dos presídios em 2001, vinculada a essa facção criminosa.

14 Uma estratégia interessante é justamente uma casa vender a droga e a outra guardar a droga, dessa forma se a polícia invadir o ponto de venda, dificilmente encontrara a droga escondida, em vista que esta guardada em outra casa.

15 “Pequenas empresas grandes negócios” foi uma frase dita por vários interlocutores em alusão ao SEBRAE, uma sátira.

16 Nesta gestão estão inseridas as forças de segurança pública, a própria população (vizinhanças), o boqueiro e a partir de 2006 o Primeiro Comando da Capital. Ver OLIVEIRA (2013).