O TURISMO DE SAÚDE E BEM-ESTAR

Susana Maria Pereira da Silva

O produto de turismo de saúde e bem-estar em Portugal

O turismo de saúde e bem-estar em Portugal está umbilicalmente ligado às estâncias termais como as mais antigas, remotas e mais consolidadas representantes deste segmento particular de turismo.
Nos últimos séculos pode-se delinear uma evolução e mudança de paradigma no que concerne à prática de turismo de saúde nas estâncias termais e à forma como estas foram vividas e percecionadas pelas sucessivas sociedades e suas necessidades mutantes no tempo, o que obrigou a uma adaptação das suas características e motivações levando CAVACO (op. cit.) a falar em ciclos de vida que se repetem e se renovam e reinventam, e FERREIRA (1996) em metamorfoses.
Muitos são os autores que se debruçam sobre a evolução da atividade termal em Portugal. Contudo, interessa-nos verificar, em traços largos, como ao longo do tempo a atividade se tem reinventado.
Os tempos romanos conferiram-lhe uma dimensão lúdica e social bastante forte aliada à vertente da prevenção e recuperação da saúde física e mental. Contudo, a decadência do império arrastou-se às termas, o luxo deu lugar ao empobrecimento tanto estrutural como da própria clientela onde era privilegiada a vertente terapêutica/curativa (CAVACO, op. cit.) que figurava em primeiro plano.
O século XIX configura o culminar do que vinha fervilhando há alguns séculos, em alguns casos particulares, ao devolver as estâncias ao mundo da mundanidade, da beleza, do ócio, do amor fácil, do prazer, da ostentação (ORTIGÃO, 2000). O período de viragem do século XIX para o século XX foi considerado a “época de ouro do termalismo português” que se prolongou pelas duas primeiras décadas do século XX (AZEVEDO e VASCONCELOS, 1995), depois da fase de retrocesso e letargia prolongada por toda a Idade Média. Apresentam-se agora como os destinos turísticos de excelência para férias das elites e burguesias da belle époque, que disponibilizavam, para além de equipamentos sanitários, também de recreio e lazer como hotéis, pensões, casinos, teatros, casas de chá, de dança, grandes parques e acessibilidades, muito apreciados pela classe abastada que se distanciava da classe baixa motivada para a cura (ORTIGÃO, op. cit., FERREIRA, op. cit.). Passou-se de uma ambiência familiar, pacata, apologista da doença e da cura para outra a que esta era completamente alheia (CAVACO, 1979), era a prática de turismo de saúde/termal como um todo com um claro domínio da vertente de turismo e lazer que se sobrepõe à vertente terapêutica. Nesta época destacam-se as estâncias termais de Vidago, Pedras Salgadas, Luso e Curia como as de maior prestígio e as mais frequentadas pela elite nacional (MENDES, 1980).
Após a década de ouro do termalismo, assiste-se ao desabrochar de um novo momento, a partir dos anos 40, caracterizado pelo declínio das estâncias e do turismo termal, vivido por Portugal e por toda a Europa, com o veraneio balnear e outras formas de ocupação de tempos livres a assumirem agora as preferências da sociedade, acentuado pelos progressos que se verificavam na farmacologia, pela atitude negativa do corpo médico em relação à crenoterapia (MENDES, op. cit.) e pela inércia do Governo Central na definição de medidas de reconversão. O encerramento de muitos balneários e o declínio de muitas estâncias foi a consequência mais imediata, com o património arquitetónico e equipamentos a sofrerem as consequências, assim como o descrédito do termalismo enquanto atividade curativa e lúdica (FERREIRA, op. cit.).
Contudo, a apetência popular pelas termas não se dissolveu, tendo encontrado condições para ressurgir novamente na década de 70, modificando a natureza da vida termal, agora de cariz predominantemente terapêutico, e dos seus frequentadores. Facto reconhecido pela Segurança Social através da comparticipação dos custos com a terapêutica termal, alojamento, alimentação e transportes dos doentes (TEIXEIRA, 1997), desenvolvendo um amplo conjunto de políticas sociais no domínio da saúde e apoios financeiros aos tratamentos termais, institucionalizando o Termalismo Social (FERREIRA, op. cit.) e a frequência de uma clientela envelhecida e doente. O privilégio da terapia e cura como via para a saúde confere o primeiro plano à vertente terapêutica que consolida a era do termalismo clássico, quase anulando a função lúdica.
Ao longo da década de 90 e principalmente neste novo milénio assiste-se a um renascimento do conceito de estância termal como um todo. Renova-se a passos largos o equilíbrio entre as duas vocações seculares das termas, a terapêutica e a lúdica que surge pela sua complementaridade, e o conceito de termalismo e de turismo de saúde agora orientado para a prevenção, recuperação e promoção do bem-estar físico de uma sociedade pós-moderna, cuja frequência já não requer que se padeça de uma doença a priori, estando orientada para todos os públicos que procuram cada vez mais programas de saúde e bem-estar diversificados. As estâncias termais recuperam a vertente de turismo, lazer e recreio aliada agora à vertente da saúde e bem-estar onde começam a renascer equipamentos lúdicos e recreativos para além dos sanitários.
Relativamente a este produto verifica-se uma alteração constante nos objetivos e conteúdos que não são totalmente novos mas antes se reinventam conforme as épocas e as sociedades. De um domínio alternado de vertentes (terapêutica e turística), observa-se hoje uma tentativa de equilíbrio e de complementaridade entre as duas.
O produto de turismo de saúde e bem-estar foi assumido como estratégico, e apesar de ainda se encontrar insuficientemente aproveitado, não se resume apenas às estâncias termais pelo que integra outras modalidades, embora seja escassa a oferta:

No entanto, a oferta balança principalmente entre o segmento das Estâncias Termais e as Instalações de Spa & Wellness, diversificadas conforme a natureza da água utilizada (figura 2), recursos semelhantes no que à associação ao conceito de saúde e bem-estar diz respeito, mas diferentes nas experiências que proporcionam, no seu público-alvo, nos conteúdos e objetivos.

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