O TURISMO DE SAÚDE E BEM-ESTAR

Susana Maria Pereira da Silva

A “Nova Era do Termalismo” – o turismo de saúde e bem-estar

O uso das águas termais para fins de saúde é uma tradição milenar. Segundo CAVACO (2008) a cura termal, enquanto motivação dominante das viagens, induz a estadas temporárias, o que obriga a que muitos curistas vindos de longe se convertam em turistas, turistas de saúde. Desta forma assume-se o turismo de saúde como um tipo de turismo que tem como motivação nuclear a realização de tratamentos de saúde com vista à obtenção de cura de uma doença, a prevenção e a promoção da saúde e bem-estar, induzindo a estadas, fora da residência habitual, concordantes com os períodos de tratamento, podendo incluir também inúmeras atividades lúdicas, encaradas como secundárias, não deixando de se considerar por isso um termalista (RAMOS, 2005).
O termalismo, atividade de caráter turístico, uma vez que implica deslocação e alojamento, envolve sempre tratamentos com águas minero-medicinais para fins curativos e inclui cada vez mais a vertente preventiva nos mesmos para além da possibilidade de usufruir de atividades lúdicas e turísticas, aproximando-se do turismo termal, que pressupõe já o usufruto de toda a estância termal.
Desta forma, outros consumidores há que, não tomando a cura e efeitos terápicos das águas como motivação central, encaram as termas muito para além disso, como destinos de lazer, de férias, de ócios, o que os torna mais turistas do que propriamente aquistas, são os turistas termais. O turismo termal envolve desta feita fluxos mais complexos em termos de motivações. A motivação de férias ganha destaque e a atividade de lazer predomina, em muitas situações, sobre a curativa.
Contudo, também nos turistas de saúde começa a verificar-se uma diferenciação. Permanece o fluxo de turistas que procuram as termas com objetivos centrais de cura, reabilitação e prevenção constituindo a franja da clientela mais fiel e estável mas, na vertente terapêutica, destaca-se cada vez mais a clientela com objetivos de recuperação e melhoria do estado físico geral e do bem-estar global, que sem um problema de saúde grave, pertencentes a um estrato económico superior, mais exigentes e específicos e voláteis nas suas escolhas, procuram as termas para desfrutarem de um conjunto de serviços vários, terapêuticos (privilegiando os de bem-estar em detrimento dos tradicionais) e turísticos (CAVACO, op. cit.).
Motivações que segundo a autora citada dilatam o âmbito do turismo de saúde alargando-o ao de bem-estar, assim como o seu mercado potencial onde se vem assumindo que “o termalismo não é uma tendência mas uma actividade milenar, que hoje se apresenta de forma renovada” (INÉDIA, 2009: 6). Neste sentido poder-se-á dizer que a “nova era do termalismo”se pode inserir nesta nova era do turismo, mais segmentado, mais exigente, cujas características se revelam algo diferentes e até mesmo antagónicas do turismo clássico e massificado. A emergência de novos interesses e motivações das sociedades transformam-se em novos segmentos de mercado que é necessário captar desenvolvendo produtos que os satisfaçam.
Nesta linha, também as estâncias termais, na ânsia de lhes conferir um novo fôlego numa linha de revitalização e redinamização, procuram captar novos segmentos de mercado promovendo produtos que se espera que vão ao encontro das necessidades dos novos clientes. O termalismo clássico, apologista da doença e da cura, é preterido em função do termalismo moderno assente numa matriz de prevenção e bem-estar onde a oferta está vocacionada para segmentos de mercado com motivações terapêuticas, lúdicas e turísticas (RAMOS, op. cit.).
Desde a Antiguidade que o homem vem usando as águas termais para alcançar o bem-estar físico e psicológico (lembremo-nos da principal finalidade das termas romanas) observando-se hoje, mais do que nunca, a necessidade de sair da rotina desgastante das grandes metrópoles, da poluição, da artificialidade dos contextos urbanos e transformar as termas em locais de exceção para recuperação, reabilitação, relaxe, repouso, promoção da qualidade de vida e da saúde em geral. Como tal, “(…) a solução para as consequências do trabalho moderno só pode ser encontrada na calma e repouso, aqui intervêm decisivamente as estâncias termais, talvez os únicos centros, pelas suas características específicas, onde a necessidade de calma e o repouso encontram plena satisfação”(ALMEIDA, 1968: 2).
Segundo Frederico Teixeira (2001), citado emRAMOS (op. cit.), a creditação das termas como locais de promoção de saúde pode ser o ponto de partida para o lançamento de um novo conceito de termalismo, que rejeita a conotação tradicional da cura e da doença (verificada no início do séc. XX), mais moderno e ajustado às exigências pós-modernas de bem-estar e lúdicas, mais direcionado para o século XXI.
Para CUNHA (op. cit.), as estâncias termais estão assentes em três pilares fundamentais: natural/ambiental, terapêutico e turístico. Considera que a existência de uma fonte de água com características específicas, o respetivo enquadramento ambiental e a sua qualidade constituem um todo fundamental para uma estância termal. Tendo em conta que as estâncias são, atualmente alvo de uma mudança de paradigma, com origens já em meados do século XX, estas começam a desenvolver de forma mais premente a perspetiva da prevenção e reabilitação, deixando de ter uma conotação meramente curativa, alargando o seu mercado e as técnicas terapêuticas utilizadas.
Será então o turismo de saúde, na sua vertente centrada no bem-estar físico e mental, na prevenção da doença, na redução do stress e das perturbações funcionais associadas ao mesmo, uma das novas preocupações desta sociedade, que se tem transformado numa das áreas mais florescentes da atividade turística mundial, e muito particularmente no espaço termal europeu ao afirmar-se como um novo e promissor segmento de turismo, que de certa forma, tem conferido um novo fôlego à dinâmica termal embora constitua segundo CAVACO (op. cit.) um produto ainda jovem mas que tem apresentado taxas de progressão rápidas pela procura em expansão podendo mesmo constituir-se como um dos mais importantes segmentos turísticos.
O conceito de turismo de saúde e bem-estar é relativamente recente (inícios da década de 80) apesar da componente de saúde no turismo ser antiga, tratando-se de uma dimensão bem mais ampla que o termalismo. Segundo RAMOS (op.cit.) o termalismo refere-se à prática de uma cura termal com fins terapêuticos com água com características medicinais. Já o turismo de saúde e bem-estar, um universo mais diverso, abrange ofertas não termais, outro tipo de serviços e programas, associado também à oferta lúdica e tem como objetivos fundamentais a satisfação de cuidados profiláticos de saúde (medicina preventiva), a prestação de serviços terapêuticos (medicina curativa) e a realização de tratamentos de recuperação (medicina de reabilitação) (FERNANDES e FERNANDES, 2008) e pode definir-se como:

"...as formas de turismo que associam ao desejo de melhorar a saúde, cuidados preventivos de decisão voluntária individual, integrando num todo, a componente lúdica e os cuidados de bem-estar físico e psíquico"(MONBRISON-FOUCHÈRE, 1995:12, citado emCUNHA, op. cit.: 272);

"...o conjunto de deslocações a todo o tipo de locais/infra-estruturas orientadas para o bem-estar físico e emocional e que fornecem serviços de relaxamento e reabilitação, através de um espectro de cuidados que integram a medicina, com tratamentos complementares, anti-stresse, relaxamento e beleza, num enquadramento de grande conforto e de um excelente acolhimento; muitas vezes esses serviços/produtos baseiam-se na utilização da água com fins terapêuticos (águas com qualidades minero-medicinais) ou com objectivos de relaxamento anti-stresse e da melhoria da estética somática” (LOPES et. al., 2005, citado em FERNANDES e FERNANDES, op. cit.: 27)

"...envolve os produtos e serviços que procuram promover e permitir aos seus clientes melhorar e manter a sua saúde através da combinação de actividades de lazer, recreio e educacionais num local afastado das distracções do trabalho e da casa" (LOVERSEED, 1998,citado em CUNHA, op. cit.: 272);

 


A alteração do conceito de saúde, considerada pela OMS (1947), citada em FERNANDES (2006), como um estado de bem-estar total, físico, mental e social, representa também uma nova dinâmica conferida à sociedade, no âmbito de uma perspetiva holística, com o objetivo de proporcionar elevados graus de bem-estar na população, bem como a adoção de estilos de vida saudáveis.
As pessoas deixaram de se preocupar apenas com a sua saúde para se preocuparem também com o seu bem-estar, forma física e aparência, o que acabou por ser um pretexto para o desenvolvimento de novas modalidades de tratamento, pelo que, se tem vindo a assistir a uma transformação das estâncias termais e à sua adaptação às novas tendências da procura pela adoção de técnicas modernas destinadas à manutenção e recuperação física e psicológica (CUNHA, op. cit.). Estas e outras procuras valorizam o repouso e a calma, a descontração, a evasão, o prazer do contacto intimista com a originalidade da natureza renegando a confusão e artificialidade do quotidiano, sobretudo citadino, o que invariavelmente pressupõe uma renovação ou adaptação dos alojamentos e equipamentos (CAVACO, 2005b).
Neste sentido, o turismo de saúde e bem-estar quando aplicado às estâncias termais, diz respeito à estância termal no seu todo, privilegiando a noção de conjunto onde se englobam os equipamentos termais como balneários e buvettes, os equipamentos turísticos como o alojamento, o comércio, a restauração e as atividades lúdicas. Em suma, diz respeito a todas as atividades desenvolvidas pelos aquistas nos espaços termais quer sejam de caráter turístico/lúdico ou de caráter terapêutico (CAVACO, 2008). A estância termal está, desta forma, inserida numa rede de relações constituindo um cluster do qual fazem parte uma grande variedade de serviços, outros produtos e recursos que compõem a cadeia de valor deste produto turístico (figura 1), e das quais emanam um conjunto de vantagens competitivas para o setor.
Apesar de não se apartar muito do que é um cluster turístico tradicional, uma vez que integra segmentos fixos, comuns à atividade turística no geral, o cluster termal integra outros componentes mais voláteis ao tipo de segmento turístico analisado e, para além das atividades relacionadas com o produto, integra áreas/recursos ainda pouco exploradas e que podem constituir fatores de diferenciação importantes à construção de um produto compósito competitivo.

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