O TURISMO DE SAÚDE E BEM-ESTAR

Susana Maria Pereira da Silva

Os exemplos paradigmáticos


Países como Espanha, França, Alemanha, Itália, Áustria e Suíça aparecem no topo das preferências do mercado da procura assim como são os principais mercados concorrentes de Portugal, sobretudo por atraírem a mesma procura e a oferta ser similar.
No entanto, neste conjunto de países encontramos casos paradigmáticos no que à associação e desenvolvimento do produto de saúde e bem-estar nas estâncias termais diz respeito. Há países cujas estâncias souberam adaptar-se às novas exigências dos mercados e da sociedade moderna, sem no entanto descredibilizar a vertente terapêutica, enquanto outros há que não têm conseguido adaptar-se ou que dão os primeiros passos nesse sentido, como é o caso de Portugal.

O caso francês


O termalismo francês é um exemplo paradigmático de resistência à adaptação. A dependência relativamente à Segurança Social a partir de meados da década de 40 e que ainda hoje prevalece (cerca de 95% dos termalistas são subsidiados), cujas oscilações fizeram com que as termas atravessassem profundas crises (massificação na sua frequência e consequente perda de qualidade em períodos de democratização da cura e redução de frequência em períodos em que eram limitadas as subvenções sociais) determinou que o termalismo francês se reduzisse à vertente terapêutica durante anos, construindo mesmo uma imagem de referência no âmbito da terapêutica.
As principais dificuldades prendem-se com a decadência das estâncias centradas no termalismo curativo, a ambiência triste e melancólica, uma clientela envelhecida e doente, uma forte sazonalidade, a incipiente oferta da vertente de saúde e bem-estar, é refém de uma legislação desadequada, para além da ausência de investigação científica e consequente descredibilização médica da terapia termal. Todavia, têm sido encetados esforços no sentido da sua revitalização através da modernização das instalações ou dos meios onde se inserem, apesar de se revelarem pouco produtivos pela ausência de uma planificação de investimentos, de definição de políticas de revitalização e perspetivas concretas e, por receio do desenvolvimento da vertente turística e de bem-estar, encarada como uma ameaça à credibilidade da vertente curativa. Apesar destes constrangimentos, tem sido crescente o interesse na diversificação da oferta termal com vista à complementaridade (tão importante que foi no início do século XX e tão necessária no alvor do século XXI) (RAMOS, op. cit.;CAVACO, op. cit.).


O caso alemão


O setor termal alemão é considerado um exemplo de boas práticas no que toca à adaptação necessária e coerente à sociedade e suas exigências atuais.
No início do século XX a cura termal era encarada como forma de restabelecimento dirigida especialmente à sociedade elitista. Após a 2ª Guerra Mundial há uma democratização do turismo de cura e, não obstante as crises pelas quais também passou (crise do estado de providência), atualmente procura demarcar-se da imagem atrofiadora de doença e tornar-se cada vez mais abrangente na oferta de saúde e bem-estar desenvolvendo uma verdadeira cultura da saúde, pela água, enaltecendo e valorizando um produto e destino turístico de forma coordenada e projetada no futuro.
O produto de saúde e bem-estar na Alemanha, há muito institucionalizado, constitui um modelo de desenvolvimento termal em que a antecipação e a preocupação com as necessidades e motivações dos mercados constituíram o leme de uma política bem-sucedida, bem como a importância conferida à saúde e à preservação do bem-estar físico e psíquico e a ação alargada da Segurança Social.
A Alemanha soube reforçar a atração das estâncias termais, mantendo e articulando a ambiência humana, o contexto societal e paisagístico preenchido com parques, casinos, hotéis, comércio de luxo, integrando eventos sociais, culturais, espirituais e desportivos que sustentam o sentido global de saúde e, gerir aspetos ligados à mudança, à evolução tecnológica e tendências dos clientes, pelo que tem conciliado o classicismo da cura termal com a diversidade de programas de saúde e bem-estar, no sentido da implementação de oferta vocacionada para a vertente de férias, prevendo-se num futuro próximo uma “turistificação das estâncias termais”. Desta forma conseguiu posicionar-se como um mercado alargado, com pendores de desenvolvimento, de ordenamento e de organização espaciais muito bem definidos.
Uma evolução sustentada por uma legislação ajustada às necessidades de cada época e exigências de cada mercado, por uma redução dos apoios sociais (apenas cerca de 70% dos aquistas alemães são subsidiados contra os 90% no caso português) num incentivo à comparticipação privada, por políticas adequadas e estratégias bem definidas em termos da dimensão turística centradas nas especificidades locais e regionais, estratégias de marketing moderno e agressivo com vista a superar a concorrência estrangeira e à captação de mercados internacionais contribuindo para a redução da sazonalidade (RAMOS, op. cit.). Com mais de 300 estâncias, apresenta uma das maiores taxas de frequência termal doméstica e global.


Outros exemplos de sucesso


Nos últimos anos, e após importantes investimentos de renovação tecnológica e arquitetónica, assistiu-se, sem se ter perdido a valência do termalismo médico, ao aparecimento na Europa do termalismo remise en forme onde são cada vez mais e mais diversos os programas de saúde e bem-estar conjugados com outras ofertas como golfe, ténis, gastronomia e vinhos, entre outros, com vista à promoção da saúde e prevenção da doença, por forma a responder a ambos os mercados. A vertente da saúde e bem-estar ganha um estatuto crucial na (re) dinamização das estâncias enquanto centros de turismo e lazer. Neste processo destacam-se alguns exemplos (quadro 5) como:

Para além destes, referem-se ainda outros exemplos de produtos mistos onde é forte a componente turística associada aos espaços minero-medicinais. Na Alemanha, Hungria e República Checa existem os passeios de balão, na Áustria há um Spa especial para crianças e bebés, um Jurássico Parque assim como na França que dispõe de grutas de espeologia, rotas temáticas em torno da água e abrigos rurais, a Bélgica oferece noites temáticas, em Itália pode-se usufruir das grutas, do kartódromo e de passeios de charrete, já na Hungria pode-se desfrutar de uma praia artificial mediterrânea, de visitas a parques ou reservas de animais, de feiras de produtos biológicos e do festival da cerveja, e praticar birdwatching e o Reino Unido dispõe do festival de jazz, do museu de antiguidades e de alimentação vegetariana. Particularidades que em conjunto com os programas de bem-estar diversificados constroem uma oferta bastante sugestiva e apelativa pela diversidade de experiências que proporcionam (CAVACO, op. cit.).
Segundo PALMA (op. cit.) os Spas termais de referência detêm uma boa capacidade de promoção, boas estruturas de alojamento, um conjunto variado de estruturas e serviços e permitem um rol alargado de atividades de bem-estar e lazer, tal como acontece nos exemplos descritos que constituem exemplos de permanente reinvenção por forma a responderem às necessidades e exigências atuais dos mercados.

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