O TURISMO DE SAÚDE E BEM-ESTAR

Susana Maria Pereira da Silva

Conclusões


Esta investigação incidiu sobre o produto turístico saúde e bem-estar, mais concretamente sobre o segmento das estâncias termais presentes no território de influência da Entidade Regional de Turismo do Centro de Portugal (TCP) e teve como objetivo central a delineação de uma estratégia de desenvolvimento para as mesmas.
Na primeira parte da investigação foi apresentada uma análise bibliográfica, ainda que sucinta, sobre a temática, onde se reteve e anotou as principais linhas que a caracterizam, as tendências de um produto ancestral, mas cujo trajeto se reinventa conforme as sociedades e os tempos imprimindo-lhe um caráter fascinante e surpreendente, tanto no que diz respeito ao passado como ao futuro, e ainda as principais questões que preenchem o debate atual sobre o turismo de saúde e bem-estar.
Um novo paradigma no âmbito da atividade e consumo turístico se instala e consolida, assim como aumenta a sua preponderância no seio da economia dos territórios locais, regionais e nacionais, e da sociedade atual. O novo turista há muito que vem preterindo o caráter superficial e frívolo da atividade turística. Hoje apresenta novas motivações assim como novos interesses, que se revelam cada vez mais impregnados de valores culturais, naturais, tradicionais, originais, particulares, no fundo, únicos. Emerge o primado pela diferença num contexto de concorrência assaz. Trata-se da “nova era do turismo” defendida por FONSECA (op. cit.) onde as novas necessidades e exigências do mercado da procura têm compelido o mercado da oferta a dar respostas pelo que surgem cada vez mais nichos de mercado consubstanciados em novos ou renovados produtos turísticos alicerçados de forma crescente nos recursos endógenos de cada território, quer sejam recursos culturais ou naturais.
Neste sentido surge o termalismo, considerado o tipo de atividade turística mais remota e mais consolidada, enquanto atividade criadora de lugares variados e dinâmicos (CAVACO, 2005a). Apesar da atividade termal e o termalismo se ter alicerçado durante muitos anos nas suas características distintivas conferidas pelas águas e atividades terapêuticas, o facto é que, a evolução do próprio conceito por via das novas exigências dos mercados e sociedades tem levado a uma reformulação de objetivos e da oferta que se posiciona agora na dimensão da saúde e bem-estar assente em conceitos como a prevenção e reabilitação, e associada a novos hábitos de lazer e turismo.

As estâncias termais, em particular, estão confortavelmente posicionadas para responder a esta procura pois trata-se de lugares, que pela sua história e percurso, conjugam de forma harmoniosa um conjunto único de elementos, cada vez mais apreciados, capazes de satisfazer argumentos de saúde, bem-estar, turismo e lazer, podendo constituir por isso, verdadeiros centros de destino turístico.
Em Portugal, depois de ciclos de ascensão e decadência, as estâncias termais começam a recuperar dinamismo, justamente por via da aposta numa oferta diversificada que contempla não só os pressupostos terapêuticos como os de saúde e bem-estar e lúdicos, oportunamente contemplados na atual legislação que regula o setor (Decreto-Lei 142/2004).
A análise de diversos documentos orientadores, políticas, planos e projetos demonstram este sentido de mudança, onde já se começam a verificar algumas ações neste território, muitas suportadas pelos diversos Programas Territoriais de Desenvolvimento, e em particular, pelo PROVERE – Valorização das Estâncias Termais do Centro, que se afigura, atualmente, como uma das mais importantes oportunidades à reestruturação do setor.
O questionário realizado aos gestores/administradores das estâncias termais permitiu revelar que os responsáveis pela oferta percecionam a realidade atual do termalismo em Portugal com algumas reservas, embora se mostrem favoráveis à sua reestruturação assente na complementaridade e articulação entre as vertentes terapêutica clássica e a de saúde e bem-estar, aliada à componente de turismo e lazer, e numa mais eficaz articulação das estâncias com o próprio território onde se inserem com vista à construção de um produto compósito, atrativo e competitivo.
O estudo elaborado sobre este conjunto termal reflete alguns constrangimentos, nomeadamente no que diz respeito à desadequação de infraestruturas e equipamentos, ao subaproveitamento dos recursos de que dispõem, à debilidade e até mesmo carência em termos das estruturas de apoio à atividade turística (alojamento, restauração, comércio), à falta de promoção e divulgação do produto a nível nacional e internacional, à organização e integração num modelo compósito, às dificuldades em captar investimento conjugadas com o predomínio de uma clientela envelhecida, doméstica e motivada para a cura.
Não obstante as fragilidades, algumas potencialidades se lhe reconhecem como as propriedades únicas das águas minero-medicinais, o seu enquadramento ambiental, os recursos patrimoniais que detêm e as boas acessibilidades.
A segunda parte da investigação centra-se na elaboração do Plano de Ação através da construção de uma matriz de orientações estratégicas para as onze estâncias termais localizadas na região TCP. Este plano está organizado em três eixos estratégicos que se desagregam em projetos âncora e num conjunto de medidas e ações complementares, flexíveis a cada realidade.
A delineação deste plano pretendeu contribuir para que sejam suprimidas as carências apontadas em cada estância termal e para fazer sobressair o papel de motor do desenvolvimento local com o “renascimento” do caráter lúdico e turístico aliado à vertente de saúde e bem-estar.
Será este sentido da mudança pelo qual se deverão pautar as novas estratégias de relançamento dos “territórios termais” como pólos de turismo mas também como espaços de atividades várias numa apologia pela saúde não só e apenas numa vertente curativa mas agora num enaltecimento da prevenção e bem-estar.
Neste sentido, a dotação das termas de vantagens competitivas e diferenciadas, num ambiente concorrencial cada vez mais estreito e dinâmico, exige uma constante reinvenção das mesmas através de caminhos diversos, que procurámos apontar neste estudo, mas sem alterar, no entanto, a força motriz central da dinâmica termal, as águas minero-medicinais.
Com este estudo pretendeu-se demonstrar que o caminho a seguir pelas estâncias termais vai muito para além da mera dimensão terapêutica.
Constituindo-se como territórios complexos em termos de dinâmicas e estruturas urge o aproveitamento das oportunidades concedidas pelos novos mercados emergentes, mercados que conferem um significado diferente ao conceito de saúde e o conjuga com o bem-estar numa lógica de prevenção e manutenção mas, que valoriza tanto ou mais a componente turística dos “sítios”, no caso, dos “sítios termais”. Desta forma, a revitalização das estâncias termais passa por uma reestruturação e diversificação de toda a estrutura termal e turística associada, numa apologia da diferenciação e para que as mesmas se possam (re) constituir como destinos turísticos de excelência.
Há que ousar ir para além do trivial instituído e surpreender. Uma estância termal pode ser não só um espaço de saúde e doença mas também de aprendizagem com um papel importante na transmissão e perpetuação de valores culturais, patrimoniais e ambientais. Os casos em estudo constituem excelentes exemplos disso.
A diferenciação é um aspeto essencial à própria sobrevivência dos estabelecimentos e assenta cada vez mais em aspetos intangíveis como a imagem, a reputação, a capacidade de inovar, de diferenciar a oferta e de conhecer e se adaptar aos mercados da procura cada vez mais volúveis, de ter uma estrutura organizativa moderna e funcional, de promover altos padrões de qualidade aos mais diversos níveis.
Este estudo sobre a temática das estâncias termais, num cenário turístico emergente e em fase de expansão, no caso particular das termas da região TCP, não encerra todas as respostas ou possibilidades de abordagem à problemática em questão, mas antes trata-se de uma primeira página de um longo percurso daquilo que poderá ser abordado e explorado em relação aos espaços termais. Considera-se este pequeno ensaio como um campo aberto a novas linhas de investigação e reflexão.

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