TURyDES
Vol 7, Nº 16 (junio/junho 2014)

TURISMO DE NATUREZA NA CALHETA (MADEIRA/PORTUGAL)

Arturo Sousa (CV) y Paulo Carvalho (CV)

1. Turismo de Natureza: significado, expressão e caraterização 

1.1 Conceito  
O Turismo de Natureza (TN) é um segmento turístico que estabelece uma evidente dependência entre as áreas do turismo, da natureza e do património natural (IFAT, 2002; SANTOS e CABRAL, 2005; SOIFER, 2008; RODRIGUES, 2011).
Nesta perspetiva, o conceito de Turismo de Natureza, abordado como Turismo Verde/Ativo, afirma-se hoje com uma forte ligação face aos espaços com estatuto de classificação ou de reconhecido valor natural designadamente os espaços naturais protegidos, desde parques nacionais, naturais e outros. Daí vem a diferença entre Turismo de Natureza e Turismo na Natureza. O Turismo em Espaço Rural pode ser um exemplo de Turismo na Natureza (SANTOS e CABRAL, 2005; RODRIGUES, 2011).
O Turismo de Natureza pode ainda ser visto como uma forma de desfrutar da natureza, baseada na apreciação da fauna e da flora e suas numerosas integrações com o meio ambiente das paisagens naturais, enquanto testemunhos de singular qualidade natural e/ou ecológica (IFAT, 2002).
Não obstante, SANTOS e CABRAL (2005:10) sublinham que o “Turismo de Natureza desenvolve-se segundo diversas modalidades de hospedagem, de atividades e serviços complementares de animação ambiental, que permitam contemplar e desfrutar o património natural, arquitetónico, paisagístico e cultural, tendo em vista a oferta de um produto turístico integrado e diversificado.” Esta definição integra 4 partes do conceito – hospedagem, animação ambiental, contemplação e fruição – e, é a mais consensual, pois vários autores a abordam.
Uma outra ideia que vai ao encontro do conceito de TN, é a de que, este tipo de turismo pode ser um verdadeiro motor de desenvolvimento económico, social, cultural e administrativo das comunidades e por isso mesmo, o estudo do THR (2006) refere 5 fases para o desenvolvimento do TN de uma região. São elas: o planeamento – onde se estabelecem as condições básicas para o funcionamento do produto turístico; o desenvolvimento da oferta – criar e/ou consolidar as infraestruturas; o reforço da competitividade – apostando na animação ambiental e dando ênfase à inovação e à qualidade dos recursos, produtos e serviços; a diversificação e aprofundamento da oferta – com vista a antecipar e satisfazer necessidades e desejos; e o marketing – promovendo produtos e recursos para vários tipos de consumidores.
Este tipo de turismo pode oferecer benefícios, principalmente se estiver configurado numa perspetiva de desenvolvimento sustentável do território e dos agentes implicados (IFAT, 2002; SANTOS e CABRAL, 2005; THR, 2006; SOIFER, 2008). Alguns desses benefícios podem ocorrer similarmente na maioria dos segmentos turísticos. Pelo que, o TN, entre tantos possíveis benefícios, pode permitir:
– Diversificar a economia dos locais, ao potencializar micro e pequenos negócios;
– Criar empregos e novas formas de uso do solo;
– Melhorar infraestruturas e equipamentos de transportes, comunicações e serviços;
– Criação de receitas, divulgando territórios, usos e costumes culturais;
– Contribuir para a conservação do património natural e cultural;
A possível ligação que este tipo de turismo pode ter com outras áreas é uma referência importante. Por isso, tal como várias tipologias de turismo, desde o Turismo Cultural e/ou Religioso, o Turismo de Sol e Praia, entre outras, o TN tende a desenvolver uma rede de ligações com outras áreas como a gastronomia e os vinhos, o património histórico e cultural, assim como com a música e o artesanato das comunidades. Daí a importância da animação turística, para garantir que as pessoas permaneçam mais tempo nas regiões visitadas.
Outra caraterística do conceito de TN é a de que pode ser praticado como motivação principal, pela qual as pessoas deslocam-se para realizar alguma modalidade de TN, mas também como motivação secundária, na qual as pessoas se deslocam por motivação de sol e praia ou outra e acabam por praticar alguma modalidade de TN. (THR, 2006).

1.2 Modalidades e fundamentos
Na opinião de alguns autores como AROUCA (2000), IFAT (2002), SANTOS e CABRAL (2005), SOIFER (2008) e RODRIGUES (2011), compreende-se que o Turismo de Natureza congrega um conjunto diversificado e amplo de práticas e atividades. São exemplos a prática de desportos de natureza, a observação e/ou estudo da fauna e da flora, o desfrutar ou vivenciar da natureza, entre tantas outras práticas, configuradas na terra, no ar e na água. Deste modo, algumas atividades bastante representativas a nível nacional e internacional são o pedestrianismo, o montanhismo, o mergulho, o BTT, o parapente, entre outras.

Não obstante, o TN pode ser constituído por serviços de hospedagem, que para SANTOS e CABRAL (2005), são empreendimentos turísticos do Turismo em Espaço Rural que integram parques de campismo e hotéis rurais, casas de natureza, casas-abrigo, centros de acolhimento, casas-retiro, entre tantos outros.
De acordo com o estudo da THR (2006: 12), o conceito Turismo de Natureza “tem uma ampla e difusa interpretação e inclui uma grande variedade de motivações e atividades.” Por aqui verifica-se que este estudo para o Turismo de Portugal, acaba por mencionar que faz parte do Turismo de Natureza as atividades enquadradas na designada “Natureza Hard” e “Natureza Soft”. A “Natureza Soft” é a que tem maior procura em termos nacionais e internacionais quando comparada com a “Natureza Hard”.
Nesta instância, tanto as motivações, como o perfil do turista de TN, estarão evidentemente relacionados com as atividades que os turistas realizem no espaço natural protegido. Deste modo, as motivações e o perfil dos turistas de TN serão diferentes consoante se tratem de atividades dentro da “Natureza Hard” ou da “Natureza Soft”. Os turistas de “Natureza Hard” tendem a ter uma idade mais jovem e tendem a ter mais gastos e estadas mais prolongadas que os turistas de “Natureza Soft” (THR, 2006).
Para além das motivações habituais – como descansar, conhecer novas realidades, passear com a família, conhecer pessoas, divertir-se, alargar seus mapas mentais, entre outras – no estudo da THR (2006: 9) é evidente que a motivação principal dos turistas de “Natureza Soft” reside em “viver experiências de grande valor simbólico, interagir e usufruir da natureza”, designadamente a observação da fauna e/ou da flora, os percursos e passeios pedestres e a contemplação da natureza. Por oposição, os turistas que se inserem na “Natureza Hard” segundo a THR (2006: 9) têm uma motivação que se solidifica “nas atividades desportivas, na contemplação da natureza e nas atividades de interesse especial” – aqui aparecem os desportos de natureza radicais enquanto práticas principais.
Demonstra-se que de acordo com SANTOS e CABRAL (2005), o interesse da paisagem, a especificidade da fauna e da flora e outros aspetos como bons acessos, as práticas desportivas possíveis, qualidade dos equipamentos e serviços de atendimento, pode levar à uma maior ou menor procura dos espaços protegidos para prática de TN.
Sublinha-se que há alguma conflitualidade conceptual quando se fala de Turismo de Natureza e de Ecoturismo. Importante é referenciar que há vários autores que fazem do ecoturismo, um segmento turístico do TN, com valores e princípios fortemente sustentáveis, bem como visado em práticas sem perturbação dos valores ambientais dos territórios e da cultura dos mesmos (IFAT, 2002; SANTOS e SILVA, 2008; RODRIGUES, 2011).
É de evidenciar que há outros segmentos turísticos que o TN congrega, embora todos possuam caraterísticas próprias. MCKERHER (2002) e SANTOS e SILVA (2008) definem para o TN os seguintes segmentos:
– Turismo de Aventura, orientado essencialmente para a prática de desportos de natureza mais radicais como o rafting, hidrospeed e o rappel;
– Turismo Ecológico, do qual fazem parte os passeios no ambiente (a pé ou utilizando a força animal como burros e cavalos);
– Turismo Rural, enquanto tipo de turismo que oferece experiências variadas ao turista ligadas não só ao alojamento, mas também à participação no meio rural;
– Turismo científico, vocacionado para o estudo de espécies de fauna/flora.
De igual forma, a necessidade de conciliar interesses para o desenvolvimento deste tipo de turismo, tem que ser ainda mais planeada e valorizada. Agentes como a população recetora de estrangeiros, os turistas e os operadores/profissionais implicados nesta “indústria”, têm que agir de forma sustentada no ambiente (IFAT, 2002).
Por fim, uma outra ideia relevante de SOIFER (2008) é que o Turismo de Natureza exige condições para a sua valorização, desenvolvimento e divulgação. Exige também, para esse autor, um investimento limitado, proteção do património natural e cultural, empatia/qualidade no atendimento e há a necessidade de fidelizar clientes.

1.3 O caso específico do Turismo de Passeio Pedestre
O Turismo de Passeio Pedestre é outra das modalidades de Turismo de Natureza presente na noção de “Natureza Soft”. Abordar este tema é importante, dado que nos dias de hoje tem cada vez mais representatividade em várias regiões nacionais e até internacionais como, por exemplo, a Madeira, os Açores, o Brasil e o Reino Unido. Neste sentido, BRAGA (2007), SANTOS e CABRAL (2005), SOIFER (2008), TOVAR (2010) e CARVALHO (2011), assinalam o pedestrianismo, ou os passeios em percursos pedestres, como desporto de natureza não-radical e prática de lazer, bem como atividade turística-cultural.
O pedestrianismo define-se como “uma atividade de percorrer distâncias a pé, de forma a desfrutar de tudo o que rodeia, a um ritmo tranquilo. O caminho não é um fim, mas um meio, pelo que as rotas são habitualmente estabelecidas tendo em conta o interesse paisagístico, cultural ou histórico” (SANTOS e CABRAL, 2005: 103).
Sublinha-se que os percursos, além de poderem ser ou não realizados com guia/intérprete ambiental, podem ter duas funções: a recreativa e/ou a educativa. As formas dos percursos mais comuns são a linear (em que o início e o fim não são coincidentes) e a circular (com início e fim no mesmo local) e a dimensão é variável entre a pequena e a grande rota (neste caso com mais de 30 quilómetros de extensão). Em relação ao grau de dificuldade, existem diversos níveis, desde os percursos com poucas dificuldades até aos trilhos de grande exigência (física e técnica).
 BRAGA (2007) faz um breve retrato histórico, no qual aponta o pedestrianismo como prática organizada na Inglaterra do século XIX e faz referência para o facto de depois da 2ª Guerra Mundial ter-se dado o “boom” da criação de percursos por várias regiões do globo.
No caso de Portugal, o desenvolvimento do pedestrianismo e dos percursos pedestres é relativamente recente, “apontando-se a década de 90 (século XX) como uma referência incontornável neste domínio, com a divulgação das normas de marcação, a sinalização dos primeiros percursos, a edição das primeiras publicações e o incremento da organização destas atividades” (TOVAR e CARVALHO, 2013: 5).
É a Federação de Campismo e Montanhismo de Portugal (FCMP), enquanto entidade que regula as atividades de pedestrianismo – a Lei de Bases do Desporto de 2004, confere-lhe a representação nacional e internacional da modalidade de pedestrianismo. Além disso, a FCMP proporciona eventos/atividades, tem a função de homologar os percursos pedestres, assim como de orientação da instalação de painéis informativos, marcação de percursos e placas indicativas.
FONSECA (2012), com base em informação disponibilizada pela FCMP, refere que em meados de 2012 existiam 176 percursos homologados em Portugal, sendo que na sua grande maioria (147) são percursos de pequena rota, existindo apenas 29 percursos de grande rota. “Os concelhos com mais percursos pedestres homologados são os de Tavira, com 10 percursos, Terras de Bouro, com 9 percursos pedestres homologados, Pedrogão Grande, Nisa e Alcoutim com 8 percursos, Castro Marim com 7 percursos e Arouca e Sinta com 6 percursos”. Neste domínio “as entidades mais dinâmicas são a: Associação In Loco (Tavira), Clube Ibérico de Montanhismo e Orientação que homologou percursos pedestres em Alcácer do Sal, Almada, Grândola, Idanha-a-Nova, Melgaço, Santiago do Cacém e Sobral de Monte Agraço e a INATEL – Centro de Lazer de Linhares da Beira (FONSECA, 2012: 42). O mesmo autor sublinha que existiam mais de 500 percursos identificados no Registo Nacional de Percursos Pedestres (RNPP), tanto de pequena como de grande rota, embora a maioria deles sem homologação.
Em relação aos percursos pedestres nas áreas protegidas, destacam-se o Parque Natural da Serra d’Aire (139km) e Candeeiros e o Parque Nacional Peneda-Gerês (306.3km). O Parque Natural da Serra da Estrela, de acordo com o ICNF, tem apenas 49.7km de percursos pedestres (FONSECA, 2012).
“Mas, em Portugal, há outros locais que se destacam, como é o caso da Madeira que se encontra no top dos destinos mundiais (4º lugar) para o pedestrianismo (Madeira Travel News, 2011). Esta classificação deve-se à inigualável oferta de percursos pedestres, tendo como uma das características principais as levadas, que permitem ao turista conhecer a ilha de uma forma bem diferente” (FONSECA, 2012: 45).
Como atividade turística, os passeios pedestres fazem parte de produtos que assumem diferentes configurações. “A generalidade da oferta de produtos turísticos que têm por base o passeio pedestre leva os seus participantes a conhecer áreas de paisagens de elevada qualidade, costumes e tradições das regiões visitadas, oferecendo serviços altamente especializados e um certo grau de exclusividade” (TOVAR, 2010: 32). A mesma autora refere que existem operadores turísticos especializados na venda de produtos de turismo de passeio pedestre, responsáveis pela organização de programas de vários dias de caminhadas em diferentes destinos do globo.

1.4 Procura e oferta: do plano internacional ao caso de Portugal
O Turismo de Natureza no plano internacional apresenta uma configuração atual mais organizada em termos de procura e oferta de produtos e serviços, do que aconteceu no passado. Desde cedo, há registo de várias práticas de TN. Por exemplo SOIFER (2008) menciona que já no século XV com os descobrimentos houve a classificação e dissecação de plantas e espécies exóticas. Mais tarde no século XVIII e XIX, grupos de naturalistas, ornitólogos, paleontólogos, geólogos e outros foram estudar a diversidade do Novo Mundo, tal como havia movimentos populacionais para outros sítios, a fim de verem-se novas realidades ou até para se curarem de certas doenças.
Hoje há diversas regiões do mundo que possuem valores naturais e elementos de património natural com grande aceitação e visitação por parte de curiosos e não só. Deste modo, e tal como RODRIGUES (2011) faz referência, o TN tem vindo a ganhar relevância e visibilidade, por várias razões mas particularmente pela saturação do turismo convencional (essencialmente sol e praia), pelo desenvolvimento do paradigma ecológico e pela comercialização do “eco” e da “natureza”, assumidos, por esta via, como bens de consumo.
Um exemplo de um país onde cada vez mais há um esforço na organização da oferta e uma procura de motivação primária ou secundária deste tipo de turismo é o Brasil, detentor de uma riqueza incalculável em termos de recursos endógenos paisagísticos, assim como em diversidade de fauna e de flora.
Volta-se a citar o estudo da THR (2006), na medida em que segundo ele, por ano só para a Europa são contabilizadas viagens na ordem de 22 milhões com propósito de TN. Sendo a Europa uma das regiões mais relevantes em matéria de emissão de turistas desta categoria, todos os países da Europa, uns mais que outros, recebem turistas que praticam TN, tanto como motivação principal como secundária. A Alemanha e a Holanda têm sido os principais emissores de viagens de TN. E entende-se isso sobretudo pelas suas condições de vida.
No caso de Portugal é recorrente a ideia de que é um país com recursos naturais diversificados. Todas as regiões portuguesas apresentam realidades mais ou menos diferentes com valores e símbolos patrimoniais próprios e com maior ou menor capacidade para atrair turistas de TN. Deste modo, as práticas de TN acontecem em termos de “Natureza Hard” e de “Natureza Soft” e como motivação principal ou secundária.
Nesta perspetiva, a procura de práticas turísticas de TN tem vindo a aumentar (IFAT, 2002; SANTOS e CABRAL, 2005). Já a oferta de produtos e serviços tem vindo a melhorar no país, desde aos percursos pedestres, às atividades desportivas, à observação de aves, entre outras práticas.
Importa sublinhar que 21% do território português é formado por áreas protegidas, entre as quais figuram parques e reservas naturais e outras áreas de interesse natural (RODRIGUES, 2011). E, neste sentido, pelo Turismo de Portugal, verifica-se que as regiões de Lisboa, Centro, Norte, Madeira e Açores, são consideradas as áreas com maior procura e oferta de experiências de TN.
Relativamente às experiências, em termos de TN, SOIFER (2008:33-34) relata que os turistas nacionais e estrangeiros reclamam mais da “má qualidade no atendimento, da falta de painéis informativos e da densidade de construções na orla costeira.”
No âmbito do Turismo de Natureza, Portugal criou um Programa Nacional de Turismo de Natureza, através da Resolução do Conselho de Ministros nº 112/98, de 25 de Agosto. Nesse instrumento de gestão são identificadas as modalidades de hospedagem e atividades e serviços de alojamento e animação turística ambiental, integradas no TN. Ainda, o PNTN identifica as competências das entidades e órgãos envolvidos em todo o processo de gestão das áreas protegidas, bem como consagra o desenvolvimento do TN assente na conservação da natureza, no desenvolvimento local, na diversificação da oferta turística e na qualidade da oferta turística.
Em relação ao Plano Estratégico Nacional de Turismo (PENT), aprovado em 2007 e revisto em 2013, este instrumento setorial coloca o TN como um dos produtos turísticos estratégicos de Portugal e deve ser considerado como uma oferta distintiva e competitiva para as regiões de Lisboa, Centro, Norte, Madeira e Açores. Pelo que, nessas regiões, o TN deve ser uma prioridade. O PENT também refere que a competitividade deste tipo de turismo tem que ir ao encontro de ações como, por exemplo, a diversificação e preservação da fauna e da flora, a construção de uma sinalização adequada e de equipamentos básicos.

 

2. Município da Calheta: Caraterização Geográfica, Turismo de Natureza e Percursos Pedestres
2.1. Traços geográficos e indicadores de atividade turística
O município da Calheta situa-se na Região Autónoma da Madeira (RAM), mais propriamente na costa sul da Ilha da Madeira (Figura 2), sendo limitado a norte pelo concelho de Porto Moniz e a este pelo município de Ponta do Sol. Além disso, a Calheta é o concelho com maior extensão da RAM (cerca de 113 km²), possuindo 8 freguesias (Ponta do Pargo, Fajã da Ovelha, Paul do Mar, Jardim do Mar, Prazeres, Estreito da Calheta, Calheta e Arco da Calheta), das quais de acordo com o Instituto Nacional de Estatística (INE) Arco da Calheta e Calheta detêm um maior número de habitantes.
Ainda, segundo os dados do INE, através dos recenseamentos demográficos, a Calheta tem vindo a perder população. No último período censitário (2001-2011) a população passou de 11946 para 11521 habitantes (e em 1991 residiam na Calheta cerca de 13000 habitantes). A população é relativamente envelhecida (o índice de envelhecimento é de 138,3%).
A população empregada da Calheta revela algumas particularidades em relação ao padrão da RAM (onde os setores primário, secundário e terciário correspondem a 3.4, 16.8 e 79.8% dos ativos empregados, respetivamente), nomeadamente um maior peso relativo dos setores primário e secundário (responsáveis por 12.3 e 24.8% do emprego, respetivamente) bem como uma menor expressão do setor terciário (ainda assim com 62.9%), conforme os resultados definitivos dos Censos 2011.
O concelho da Calheta carateriza-se pela presença de elementos naturais e físicos heterogéneos. Com origem vulcânica, o concelho apresenta várias realidades desde o mar, a serra, ao meio rural e urbano. FIGUEIREDO (2008) defende que a Calheta é marcada por duas grandes unidades – Costa e Serra. Tanto uma como a outra atraem turistas e visitantes não só de toda a ilha, como de várias partes do mundo.

Os indicadores hoteleiros relativos à RAM e ao município da Calheta, em 2011, apresentam valores superiores em comparação com os indicadores para Portugal (Quadro 1). O indicador que está abaixo (do ponto de vista quantitativo) do enquadramento nacional corresponde às dormidas entre julho e setembro, a denominada época alta, mas com vantagem para a RAM uma vez que a repartição de dormidas é mais equilibrada ao longo do ano.

A RAM é um destino que atrai um elevado número de turistas estrangeiros em particular da União Europeia. Na Calheta, das quase 200 mil dormidas contabilizadas em 2011 (ou seja o equivalente a 3.5% do total da RAM, conforme o Anuário Estatístico da Região da Madeira/Edição de 2012), cerca de 155 mil (79%) dizem respeito a cidadãos de quatro países, a saber: Alemanha (49%), França (18%), Países Baixos (8%) e Reino Unido (5%). Neste universo Portugal representa 12%.
Segundo a mesma fonte, em 31 de julho de 2011, existiam 12 estabelecimentos hoteleiros e 950 camas no município da Calheta, o que corresponde a 6.4% do número total de estabelecimentos hoteleiros e a 3.3% da capacidade de alojamento da Região Autónoma da Madeira (Quadro 2). A Calheta ocupa o quarto lugar (em número de estabelecimentos e capacidade de alojamento) no ranking da RAM. O município do Funchal concentra 53.5% dos estabelecimentos e 63.9% das camas desta área. O Porto Santo regista 13 estabelecimentos e 2178 camas (ou seja 7 e 7.5% do total da RAM, respetivamente).
 

Quadro 2. Estabelecimentos hoteleiros e capacidade de alojamento na Madeira e na Calheta, em 2011

Distribuição Geográfica

Estabelecimentos

Capacidade de alojamento

Total

Hotéis

Pensões

Outros

Total

Hotéis

Pensões

Outros

Portugal

2019

873

656

490

289107

160981

30581

97545

Continente

1752

770

591

391

251137

138294

27603

85240

Madeira

187

61

46

80

29099

15744

2281

11074

Calheta

12

2

3

7

950

381

96

473

Elaboração Própria com base em INE (2012)

Para além dos estabelecimentos hoteleiros referenciados no Anuário Estatístico da Região Autónoma da Madeira (INE, 2012) existem outros tipos de empreendimentos turísticos com repercussão na oferta de alojamento aos visitantes, uns licenciados/registados pelo Turismo de Portugal e outros a operar de forma paralela, em diversas modalidades como por exemplo aldeamentos turísticos, empreendimentos de turismo de habitação, empreendimentos de turismo no espaço rural (casas de campo, turismo de aldeia, ago-turismo, hotéis rurais) parques de campismo e caravanismo.
A consulta do Registo Nacional de Turismo, do Turismo de Portugal, não ajudou a clarificar a situação da RAM. A informação disponível (em maio de 2013) ainda é limitada uma vez que o registo de empreendimentos turísticos está em fase de lançamento (embora no Continente a situação esteja menos atrasada). Com efeito, o registo permite identificar 58 empreendimentos na RAM (36 hoteleiros e 22 de outro tipo), e apenas 3 na Calheta (duas casas de campo e uma moradia turística) o que revela a ineficácia desta base de dados para a análise que pretendemos.
De acordo com a Câmara Municipal da Calheta, existem várias moradias e apartamentos turísticos, pensões e casas de campo, tal como hotéis, num total de três dezenas de alojamentos turísticos no município. As freguesias de Arco da Calheta, Calheta e Estreito da Calheta, são as que apresentam um maior número de alojamentos turísticos. 
Por outro lado, importa referir que os municípios da RAM apresentam um relevante património histórico-cultural o qual é reconhecido através de 166 imóveis classificados (cerca de 4.2% do total nacional). A Calheta, com 23 imóveis culturais classificados, ocupa o segundo lugar na RAM (o Funchal, com 74 bens classificados, lidera o ranking regional do património cultural).
Em relação às empresas de animação turística, o Registo Nacional de Turismo não permitiu obter (pois não inclui) qualquer informação a este propósito (pesquisa realizada em maio de 2013). Contudo, sabemos que as empresas de animação turística da Calheta são em número reduzido e há pouca divulgação das que abrangem segmentos do Turismo de Natureza. Algumas empresas de outros concelhos oferecem serviços de transporte e de animação ambiental na Calheta, levando para lá, alguns turistas. A título de exemplo podemos referir a Madeira Explorers e a Naturkind, empresas com sede no Funchal e que programam atividades direta e/ou indiretamente ligadas com o Turismo de Natureza – passeios pedestres, observação da fauna e da flora. Enquanto empresas sediadas na calheta, temos o exemplo da Paradise Island que programa ofertas turísticas de ordem marítima e aérea, como a pesca de lazer e desportiva e o parapente.

2.2. Turismo de Natureza
2.2.1. Recursos e produtos
A RAM oferece condições para a prática e para o desenvolvimento do Turismo de Natureza (THR, 2006). ABREU (2009) reforça a ideia de que todas as unidades territoriais que compõem a RAM fazem parte de um destino turístico de qualidade e de prestígio, onde a natureza tem um lugar de destaque.
Não obstante, em relação ao Turismo de Natureza da Calheta, é necessário dizer que grande parte do concelho da Calheta integra-se no Parque Natural da Madeira (criado em 1982), por possuir exemplares de flora da Floresta Laurissilva, a qual foi reconhecida como Património Mundial, em 1999, pela UNESCO, e mais tarde incluída na Rede Natura 2000. A Floresta Laurissilva possui espécies vegetais como o til, o vinhático, o barbuzano, o loureiro, as urzes, entre outras (ABREU, 2009; FREITAS, 2004).
O TN que pode ser praticado na Calheta enquadra-se sobretudo no norte e centro do município, onde estão as freguesias abrangidas pelo estatuto de área protegida e por isso só aí se pode considerar TN.
Clara Noronha, Técnica Superior de Turismo do município da Calheta, defende que neste concelho os “recursos/produtos mais procurados estão intrinsecamente relacionados com os percursos pedonais, localizados na área do Rabaçal, nomeadamente: a Levada do Risco e a Levada das 25 Fontes, que integram a listagem dos passeios a pé mais procurados pelos turistas que visitam a Madeira”.
Quanto aos recursos, é importante referir que o principal recurso da prática do TN na Calheta e no resto da ilha é o património natural. Aqui, FIGUEIREDO (2008) valoriza o facto de que na Calheta haja um património natural com qualidade, diversidade e autenticidade. Neste caso, sobressaem espécies de fauna e de flora comuns em outras partes do globo, mas também espécies muito raras no mundo, caraterísticas climáticas muito peculiares e amenas ao longo do ano, um relevo acidentado e original pela sua imponência, paisagens de diversas cores e que vão mudando consoante os ritmos da terra (estações do ano, ritmos diários, etc.).
Nesta caracterização, a Floresta Laurissilva constitui o principal recurso de atração presente na Calheta. Além da flora indígena, com as plantas da Floresta Laurissilva, tem uma flora exótica, com a abacateira, o araçaleiro, a cana-de-açúcar, entre outras (FIGUEIREDO, 2008; CASTRO e BRAZÃO, 1999). A Calheta está associada a uma fauna diversificada na qual integram-se a andorinha da serra, o garajau, a manta, e espécies exclusivas da ilha como o pombo trocaz. Estes elementos levam a turistas ou visitantes a estudar (Turismo Científico como exemplo de TN) ou observar/sentir essa riqueza de fauna e de flora, enquanto recursos relevantes.
No que concerne aos produtos que mais se destacam no TN da Calheta são os percursos pedestres – passíveis de serem realizados nas várias levadas e veredas do concelho – e os desportos de natureza do ar como o parapente, o rappel, da terra, onde além do pedestrianismo já mencionado, há também o montanhismo, o BTT, entre outros. O alojamento apesar de ter vindo a crescer não é efetivamente um produto tão consolidado do TN da Calheta. Contudo, há casas de campo, casas de férias e outras existentes nas suas freguesias.
Um outro produto interessante da Calheta é a oferta do Hotel Jardim do Atlântico, na freguesia dos Prazeres, denominada por “O Caminho dos Pés Descalços”. Esta ideia é uma proposta inovadora no município destinada para todos os que queiram usufruir desse serviço, sendo que é um serviço gratuito, basta dirigir-se a receção do hotel para ter a toalha e ser indicado o caminho. Deste modo, é um caminho de 800 metros, no qual estão 17 elementos próprios da RAM para valorizar/conhecer, entre os quais, os calhaus, a folha de loiro, pinhas e a baga de eucalipto, que os caminhantes “pisam”. O lema é o de que é saudável andar descalço, pois traz benefícios para a saúde, nomeadamente para a circulação do sangue, contra a micose dos pés, contra as varizes e doenças das veias, entre outros benefícios, conforme informação disponível no site da citada unidade hoteleira .
Os programas de excursões pelos vários pontos da Floresta Laurissilva, organizados por empresas turísticas são um produto com algum valor na ilha e também há registo da existência deles no município, os quais trazem residentes da ilha e do estrangeiro para contactarem com a natureza como recreação e/ou valor educativo.
Nesta perspetiva, a existência de miradouros variados no território é uma referência importante, dado que proporciona visionamentos de paisagens exuberantes e diferentes para tirar fotos, havendo ótimos miradouros nos Prazeres e no Arco Calheta.
Com isto tudo é de referenciar que os recursos e produtos do TN da Calheta correspondem a uma atividade de lazer, cuja procura pode ser informal como turística e estes incidem maioritariamente em práticas aéreas e terrestres.

2.2.2. Levadas e desportos de natureza
A Calheta encontra-se bem posicionada na oferta de percursos pedestres integrados em levadas e/ou em veredas e na oferta de práticas de desporto de natureza como o parapente, o rappel, entre outros.
As levadas, enquanto sistemas de irrigação transportadores de água, começaram a ser construídas na Calheta, contrariamente ao resto da ilha, nos séculos XVIII e XIX, para transportar água para as agriculturas (QUINTAL, 2005). Ainda é de elucidar que as levadas “são consideradas como um monumento vivo da cultura madeirense; são a expressão de como foi possível a intervenção humana sem causar graves ruturas no funcionamento dos ecossistemas” (FERNANDES, 2010: 533). FERNANDES (2010) ainda menciona que as referências das levadas ligadas ao turismo/lazer aparecem no seculo XIX nos guias de viagem.
Não obstante, as levadas da Calheta, tal como um pouco por toda a RAM, têm usos diversos. São utilizadas pelo turista ou visitante que pretende realizar percursos pedestres, mas também para os residentes que querem também fazer esses percursos ou mesmo que utilizam as águas das levadas para a rega das hortaliças, plantas e árvores. Ainda, tanto as levadas como as veredas do concelho são usadas pelos residentes também quando pagam promessas, numa festividade/manifestação religiosa. Em suma, registam-se nos percursos pedonais, em levadas ou não, práticas de lazer, desporto, religiosas, bem-estar e de turismo.
É no decreto legislativo regional nº 7-B/2000/M que ficam definidos os percursos pedonais recomendados e são classificados como pequenas rotas. De igual modo, este decreto aprova o modelo dos painéis informativos e toda a sinalética auxiliar e atribui a responsabilidade da gestão dos percursos de pequenas rotas à Direção Regional de Florestas, ao Parque Natural da Madeira, às autarquias e a outras entidades. Nesse documento os percursos pedestres da Levada do Rabaçal (Percurso das 25 Fontes e Percurso do Risco), da vereda da Ponta do Pargo e da vereda do Caminho Real do Paul do Mar são homologados para o usufruto das pessoas.
Importa realçar que há mais percursos pedestres no concelho que não foram introduzidos no decreto anterior. A Câmara Municipal da Calheta, além dos já mencionados, destaca outros 13 percursos pedestres integrados em Levadas ou veredas, ao longo das freguesias da Calheta. Alguns deles são: Pinheiro de Dentro, Pinheiro de Fora e Rochão; Calheta - Prazeres - Ponta do Pargo; Estreito da Calheta - Jardim do Mar; Calheta - Pomar e Eiras; Do Salão ao Cabo - Ponta do Pargo.

Quadro 3. Síntese das principias caraterísticas de alguns dos percursos pedestres existentes no município da Calheta

 

Extensão (Ida/Volta)

Forma

Duração
(ida)

Motivação principal

Dificuldade

Altitude máxima

Levada do Rabaçal – 25 Fontes

10 Km

Linear

3h-4h

Queda de água das 25 Fontes

Moderada

1290m.

Levada do Rabaçal –
Risco

5,4 Km

Linear

1h/2h

Queda de água do Risco

Moderada

1000m.

Caminho Real do Paul do Mar

3,6 Km

Linear e ziguezague

1h-2h

Fauna: Aves

Fraca

535m.

Levada Nova
 Lombo do Salão / Prazeres

12 Km

Linear

3-4h

Flora: Eucaliptos, Loureiros…

Moderada

900m.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Fonte: Sousa (2012)
Todos os percursos do concelho podem ser feitos individualmente ou com o auxílio de um guia profissional. Ainda assim, oferecem vistas agradáveis e podem ser efetivamente um lazer singular. Todavia, os percursos que constam do quadro 3 são dos mais conhecidos e visitados pela sua singularidade e capacidade de atração, e aqueles que oferecem um maior dinamismo e interesse biológico, ambiental, turístico e identitário. Além disso, são os que mais facilmente se encontra informação. Acabam por oferecer miradouros fantásticos, possibilidade de fazer piqueniques, têm fontes de água de grande singularidade, revelam uma grande imponência do relevo, da fauna ou da flora.
Assim, os percursos são facilmente realizáveis, embora seja considerado moderada a dificuldade de alguns, pois envolvem subidas e descidas e obstáculos nos caminhos (como, por exemplo, pedras). Todos têm placares informativos para auxiliar os caminhantes com as normas e outras informações. Deste modo, o Caminho Real do Paul do Mar tem a particularidade de ter várias quedas de água, aves como a freira e de estar próximo do mar e de unidades de lazer como a Quinta Pedagógica dos Prazeres e o Hotel Jardim do Mar. Na Levada Nova - Lombo do Salão / Prazeres é referencial os eucaliptos e loureiros e a proximidade com a Central Hidroelétrica da Madeira. A Levada do Rabaçal, pela sua particularidade, será abordada no tópico posterior.
Relativamente aos desportos de natureza sem ser o pedestrianismo e o montanhismo que têm grande aceitação na Calheta, os do ar também são praticados como motivação principal ou complementar, segundo a Câmara Municipal da Calheta são realizados por um número considerável de adeptos. O parapente, a asa delta, são dos desportos mais praticados, nas freguesias da Calheta, do Arco da Calheta e do Estreito da Calheta e têm maior apoio de empresas para a sua prática. Ainda os circuitos de BTT, nas imediações da fonte do bispo, o canyoning, são outros desportos que para Clara Noronha, estão a ter representatividade na Calheta.
Já os desportos aquáticos são cada vez mais procurados por turistas e visitantes, como o snorkeling, o mergulho, a vela e o surf. Estes, não são práticas de TN, pois não se encontram em área protegida. Aqui fala-se de Turismo na Natureza, pois compreendem-se práticas turísticas em áreas não protegidas, embora realizem-se no ambiente – sul das freguesias da Calheta.

2.2.3. O caso particular da Levada do Rabaçal
A Levada do Rabaçal (Figuras 3 e 4) é a única que está caraterizada no Roteiro Turístico da Câmara Municipal da Calheta, por ser uma das mais importantes, conhecidas, e visitadas. As paisagens que se observam são deslumbrantes, respira-se ar puro, além de haver um contato positivo com a terra, plantas, flores e animais. Vê-se fontes de água e um relevo imponente, depois da passagem através de um túnel de vários metros.
Localiza-se no norte da Calheta e compreende dois percursos paralelos que integram a Levada das 25 Fontes e Levada do Risco. A Levada do Risco é aquela que leva o caminhante a uma queda de água de grande imponência que forma um “risco” na rocha por a água cair verticalmente. Já a Levada das 25 Fontes tem no final do percurso, uma queda de água com mais de 25 pequenos fios de água que brotam pela rocha até cair no lago. A área integra a floresta Laurissilva da Madeira e faz parte da rede europeia de sítios de importância comunitária – Rede Natura 2000. As duas levadas recolhem as águas dos afluentes da Ribeira Grande e vão alimentar a Central Hidroelétrica da Calheta.
Na Levada do Rabaçal há várias plantas diferentes, desde os pequenos musgos, líquenes e fetos até às frondosas árvores, onde dominam as urzes, a uveira da serra, o loureiro, o folhado e o perado (CASTRO e BRAZÃO, 1999; FIGUEIREDO, 2008).

2.3. Meios de difusão e especificidade do TN
A forma como o Turismo de Natureza da Calheta é promovido, vendido e divulgado, está fortemente relacionada com o que é feito no contexto geral da RAM. Ainda assim, tende a ser pouco divulgado. As práticas turísticas de TN da Calheta como também um pouco por toda a ilha, são divulgadas formalmente e informalmente, por agências de viagens um pouco por todo o mundo, assim como pelas entidades encarregadas do TN da RAM e propriamente da Calheta – Direção Regional do Turismo da Madeira, Secretaria Regional do Ambiente e Recursos Naturais, Câmara Municipal da Calheta – pelas empresas que fornecem serviços de animação ambiental (tantos nos percursos pedestres, como nos desportos de natureza e no alojamento) e pelas pessoas que vão para o território e vivenciam as múltiplas experiências de TN, acabando muitas delas por fazer uma divulgação informal para amigos e conhecidos.
Em outubro de 2011 foi lançado o I “Festival de Natureza da Madeira”, com várias atividades programadas na Avenida Arriaga do Funchal, valorizando as práticas que se podem realizar no ar, na terra e no mar relacionadas com o TN. Era objetivo motivar residentes, turistas e visitantes nas práticas de TN para diminuir a sazonalidade dos fluxos turísticos. Contudo, essas práticas estavam promovidas por empresas e o município da Calheta estava pouco representado, valendo apenas a divulgação das suas levadas e percursos pedestres recomendados pelo Governo Regional da Madeira, no contexto geral de todas as levadas da ilha. Em 2012 aconteceu em final de setembro/início de outubro com atividades semelhantes, todavia com maior promoção/apoio do Governo Regional da Madeira.
O Turismo de Natureza da Calheta tem a sua especificidade patente num território que possui recursos e produtos que na generalidade são muito valorizados e utilizados pelos residentes, turistas e visitantes. Os de “Natureza Soft” estão bem consolidados e cada vez mais tem-se vindo a apostar nos desportos de natureza presentes na noção de “Natureza Hard”.

2.4. Perfil e motivações dos praticantes de TN: uma análise exploratória
Os motivos para a prática TN na Calheta são variados e dependem muito consoante as modalidades realizadas. Esses motivos podem ser os habituais a outros tipos de turismo – descanso, estar com a família, férias, entre outros. Se for para praticarem um TN de “Natureza Soft”, as motivações podem prender-se no desfrutar da natureza, contactar com a fauna/flora e passar bons momentos com a família nos percursos pedestres. Já se for um TN de base “Natureza Hard” os desportos radicais são a principal atração e motivo para a prática. As pessoas que tendem a realizar o TN têm gastos diversos. Já SOIFER (2008: 34-35) mencionava que o turista do TN é “um cidadão bem situado, preparado, que lê, informa-se”.
Neste sentido considerou-se pertinente a realização de inquéritos por questionário na Calheta, no sentido de conhecer e avaliar a procura do Turismo de Natureza. Trata-se de uma abordagem exploratória que envolveu cinquenta indivíduos (com idades superiores a 18 anos) que se encontravam entre os dias 1, 2 e 3 de abril de 2012 na Levada do Rabaçal (que configura a oferta mais procurada do TN da Calheta).
O inquérito foi redigido em 4 línguas (Português, Inglês, Francês e Espanhol), organizando-se em 3 partes estruturantes, a saber: I. Dados Pessoais, com questões sobre a idade, o sexo, a proveniência geográfica e as habilitações literárias; II. Percurso Pedestre: com questões ligadas ao percurso das 25 Fontes nomeadamente o motivo de realizá-lo, a satisfação, os gastos médios, os apoios informativos e o estado do percurso; III. Outras Informações: com perguntas sobre o alojamento, a realização de algum desporto radical e outros percursos pedestres.
Os principais resultados dos inquéritos no que concerne à caracterização dos inquiridos permitem destacar que a idade varia entre os 22 aos 66 anos, sendo que 44% dos inquiridos apresentam uma idade no intervalo de 20-30 anos. Pelo contrário, 46% encontram-se entre os 40 e os 50 anos de idade, enquanto que 10% registam uma idade compreendida entre 60-70 anos. Destes, 54% são do sexo masculino e 46% fazem parte do sexo feminino. Relativamente à proveniência geográfica, 20% dos inquiridos são de Portugal, 16% são de Espanha, 14% de França, 24% do Reino Unido, por oposição a maior quantidade de alemães (26%). A esmagadora maioria respondeu que é titular de um curso profissional ou licenciatura, cerca de 86%, opondo-se a 14% dos indivíduos que responderam não terem uma licenciatura e/ou curso profissional.
Na segunda parte do inquérito – centrado no “Percurso Pedestre” –, no que diz respeito aos fundamentos para a realização desse percurso o motivo mais mencionado (por 90% dos inquiridos) foi o da “Beleza”. Em contrapartida, o menos referido foi o de “Lazer e Recreio” com cerca de 10%. Outras opções assinaladas foi a de “Contacto com a Natureza” e o “Custo/Qualidade”, assinaladas em 38% e 50% das respostas, respetivamente. Por outro lado, grande parte das pessoas que respondeu ao inquérito demonstrou estar “muito satisfeita” com a realização da levada, com cerca de 70% do total, já 30% demonstrou estar “satisfeita”. Nos gastos médios, 44% dos inquiridos efetuaram gastos médios entre 300 ou mais euros, contrariamente a 16% que mencionaram apenas ter gasto até 50 euros e 40% com gastos entre 100 a 200 euros, para poder realizar a Levada do Rabaçal. Todos os inquiridos responderam que tiveram apoio informativo para realizar esse percurso, identificando a “internet”, “mapas e guias” e “apoio informal de familiares e amigos”. Todavia, 82% dos inquiridos reconheceram que o percurso se encontrava em bom estado, opondo-se a 18% que consideram que esse percurso não se encontrava em bom estado.
Em relação à análise da terceira e última parte do inquérito – “Outras Informações” – importa referir que 26% dos inquiridos realizaram pelo menos um desporto radical e 74% não realizaram qualquer desporto radical no concelho. Ainda, desses 26% de indivíduos, sete mencionaram ter realizado parapente, dois responderam ter feito paintball e quatro responderam ter praticado rappel. Dos inquiridos que responderam terem praticado pelo menos um desporto radical na calheta, 62% estavam “muito satisfeitos” com a realização do referido desporto radical, enquanto que 38% responderam estar “satisfeitos” com o mesmo. Os gastos médios para realizar estas atividades foram de 300 ou mais euros para 31% dos inquiridos, por oposição a 69% com gastos a rondar os 100 a 200 euros.
Quanto ao alojamento, 72% mencionaram não estar em alojamentos do município da Calheta. Em sentido contrário, 28% declararam estar alojados no município da Calheta, mencionando uma gama variada de estabelecimentos como o “Hotel Calheta Beach”, “Moradia Turística Casa Flores”, “Quinta do Conde” e “Hotel Jardim do Atlântico”.
Já no que diz respeito ao facto de os turistas terem sido encaminhados para realizar este percurso pedestre das levadas, foi possível verificar que a grande maioria – 92% dos inquiridos – mencionaram não terem tido apoio de empresas para se deslocarem e fazerem este percurso. Apenas 8% mencionaram terem sido encaminhados por empresas, mencionando o nome de “Madeira Explorers”.
Por último, 66% dos inquiridos responderam que já realizaram outras levadas, sem ser no concelho, tendo como os mais representativos os percursos da “Levada do Norte”, “Levada do Pico Ruivo-Ilha”, “Levada do Curral das Freiras”, “Levada do Poiso” e “Levada do Caldeirão Verde”.
De igual modo, os inquéritos revelaram outras informações importantes. Entre elas, destaca-se que alguns excursionistas e turistas alugam carros em stands de automóveis e outros dirigiram-se para esse percurso através de autocarros da maior companhia de autocarros do concelho, a “Rodoeste”. Alguns deles vieram com um amigo/a ou com a família mais nuclear. Além disso, costumam fazer percursos como este e consomem bens materiais/imateriais presentes no concelho, nomeadamente a gastronomia (bolo de mel, aguardente de cana-de-açúcar, bolo do caco, etc.), as festas e romarias profanas e religiosas, artesanato, entre outros.
Em suma, a realização dos inquéritos permitiu verificar diversas realidades que configuram os produtos turísticos de TN da Calheta – levadas e desportos radicais. As atrações da Calheta que permitem um contato dinâmico com a natureza são essencialmente estas duas vertentes, ainda que de forma mais plena e mais procurada as suas levadas e percursos pedestres. Grande parte dos seus visitantes aprecia bastante a experiência vivida, tanto na Levada do Rabaçal, como no desporto radical praticado, assim como têm idades, proveniências, habilitações, gastos e motivações diversas.

3. Conclusão
No decurso deste trabalho, exploramos a temática do Turismo de Natureza, quer a vertente teórica, com o conceito, modalidades e escalas de análise nacional e internacional, quer a dimensão empírica, sobretudo por via do exemplo da Calheta (Ilha da Madeira).
Apesar da inexistência de dados estatísticos sobre o Turismo de Natureza na Calheta, sabe-se que a Madeira ao oferecer condições para a prática de múltiplos segmentos turísticos, acaba por fazer com que os turistas e visitantes, que se dirigem à ilha, o façam por múltiplos motivos. Logo, como já foi referido, o Turismo de Natureza da Calheta é praticado como motivação primária/secundária.
Alguns turistas e visitantes da Calheta que praticam algum segmento de Turismo de Natureza acabam por consumir bens e serviços desse município. Esta ligação que este tipo de turismo detém com outras atividades da Calheta como o artesanato, a gastronomia, a cultura do povo, entre outros, é uma referência fundamental para o desenvolvimento económico, cultural e social do município da Calheta, pois gera efeitos multiplicadores como a criação de infraestruturas e atrações vocacionadas para o uso de todos.
Aqui, os percursos pedestres, principalmente os que se integram nas levadas, são os mais procurados pelos turistas. O alojamento de Turismo de Natureza não é tão consolidado como por exemplo as levadas com vários usos, pois são um produto turístico consistente. Alguns desportos aéreos como complemento ou não, também são importantes naquele território, pois turistas e visitantes tendem a aderir. O parapente é dos desportos de natureza mais conhecidos e realizados neste concelho, não só na área do Rabaçal, mas também em outras áreas.
Iniciativas como o “Festival de Natureza da Madeira” e o “O Caminho dos Pés Descalços” são essenciais para dinamizar o TN e para marcar a diferença na Região Autónoma da Madeira e por arrasto na Calheta. Contudo, no caso específico do primeiro, a Calheta deve apostar na sua presença numa futura realização desse evento.
Sublinhou-se a relevância turística da Levada do Rabaçal, pelo que a partir dessa levada, foi possível a realização de inquéritos que permitiu identificar o perfil, as motivações, as práticas e as relações dos turistas com o território, entre outras informações.
Como principais notas a retirar dessa análise exploratória, importa salientar que 80% dos inquiridos são estrangeiros (com destaque para as nacionalidades alemã, inglesa, espanhola e francesa); 90% apresentam idades entre os 20 e os 50 anos; os motivos mais referidos para a escolha da levada são a beleza e o contacto com a natureza; 70% ficaram muito satisfeitos com a atividade realizada e 82% afirmam que o percurso está em bom estado; 44% dos inquiridos gastaram mais de 300 euros para realizar a levada; 66% já realizaram outras levadas da Madeira; 26% também participaram em desportos radicais; 72% não ficaram alojados na Calheta e 92% não tiveram apoio de empresas para se deslocarem e fazerem este percurso.
Apesar da dinâmica forte do Turismo de Natureza, presente na oferta de percursos pedestres integrados em levadas e/ou em veredas e nos desportos de natureza como o parapente, são evidentes algumas falhas que comprometem a consolidação do Turismo de Natureza como produto turístico singular, designadamente a falta de guias profissionais licenciados e o deficiente serviço informativo e de interpretação.

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Recibido: 31/1/2013
Aceptado: 10/03/2014
Publicado: Junio 2014

Adaptado do Website: http://www.jardimatlantico.com/por/Caminho_Dos_Pes_Descalços.pdf [7/5/2012].



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