Cristiane Ribeiro Costa (CV), Celiane Camargo-Borges (CV) y Anderson Gomes de Souza (CV)
Nos últimos anos, a preocupação em torno de  problemas ambientais e sociais tem direcionado as discussões acadêmicas em  diferentes áreas de estudo. Pode-se perceber claramente tal fato ao se analisar  alguns dos tantos eventos realizados desde início dos anos 90 trazendo à luz  novas perspectivas sobre o aumento dos efeitos negativos da ação do homem sobre  o meio ambiente e suas possíveis soluções. Dentre os fatores prejudiciais, foram  apontados o crescimento populacional, as atividades fabris e o consumo irracional  da sociedade (FOLADORI, 2005; BUARQUE, 2008). Como possíveis soluções para  reverter o cenário atual, regulamentações e melhorias no processo produtivo se  tornaram ações essenciais no sentido de reduzir os problemas gerados pelo  avançado estágio de degradação ambiental que se observa no momento. Nesse  intento, governos e empresas foram vistos como os principais responsáveis no  desenvolvimento e implementação de políticas públicas sustentáveis, ao passo  que pouco se comentava sobre o papel do consumidor diante desse processo. 
   No campo  de estudos em turismo, por exemplo, grande parte da literatura até então explorada  vem direcionando a responsabilidade pela conservação e preservação de atrativos  e destinações turísticas aos provedores dos serviços turísticos, tais como o governo, os operadores turísticos, os hotéis e organizadores das  atrações turísticas locais (MARTINS, 2002; KOROSSY,  2008; LYRA; GOMES;  JACOVINE, 2009; POMERING; NOBLE; JOHNSON, 2011).  É comum encontrar argumentos que orientam as empresas, a  desenvolverem ações estratégicas que diminuam o  impacto das suas atividades organizacionais sobre o ambiente e melhorem a  relação destes com a comunidade local (CLARKE, 1997), e os governos, por meio de projetos de apoio  ou provenientes de regulamentações (MARTINS, 2002). 
                No entanto, se uma  parte da insustentabilidade no turismo é proveniente do consumo, como aponta  Foladori (2005), não há como negligenciar a importância do consumidor nesse  processo. Ações voltadas aos consumidores são em sua maioria geradas a partir  de uma perspectiva unidirecional e hierárquica em que políticas públicas são  criadas sem que os consumidores, que são os usuários finais dos programas,  sejam incluídos, sem a compreensão do que é importante para este grupo e se  estes irão abraçar a proposta sustentável gerada. Apresentar o consumidor como  ser passivo nessa relação de consumo e depositar a responsabilidade sobre as  organizações e o governo não é um indicativo de uma abordagem sustentável, já  que conforme a literatura, o engajamento dos envolvidos é um dos pontos  principais para que a sustentabilidade possa ser alcançada (JAMROZY, 2007;  MOSCARDO, 2007; KOROSSY, 2008; HUNT, 2011). 
                Assim, torna-se  imprescindível o desenvolvimento de pesquisas que tornem seu olhar para este  grupo específico a partir da busca pela compreensão dos sentidos de  responsabilidade que estes possuem, ou seja, o que consideram fundamental neste  âmbito e com o quê e como se disponibilizam a participar.  Por esse motivo, o artigo visa identificar  qual o sentido que os consumidores dão quanto a sua responsabilidade nas  atividades turísticas para o alcance da sustentabilidade. Para que se chegue a  um melhor entendimento acerca do assunto, o referencial teórico abordado a  seguir destaca alguns pontos relevantes no que tange à relação existente entre  consumo, sustentabilidade e destinações turísticas.
2. Referencial teórico
                2.1 Sustentabilidade e turismo sustentável
                Os debates em torno da sustentabilidade tiveram início ainda na da  década de 70, com a apresentação do documento intitulado “Os Limites do  Crescimento”, em 1972, pela Massachusetts  Institute of Technology (MIT). Esse documento teve como objetivo apontar  alguns dos principais problemas derivados do crescimento desordenado da  população e do aumento do consumo como consequência do maciço desenvolvimento industrial  (PRAHALAD, 2005; SACHS, 2007). Segundo Korossy (2008), dentre os problemas  identificados no relatório destacam-se o aumento da poluição atmosférica, a destruição da camada  de ozônio, o desmatamento, o aquecimento global, além dos prejuízos sociais. Organizações empresariais, não-governamentais, governos e a própria academia  tem levantado a discussão sobre esses problemas propondo, inclusive,  alternativas visando à  diminuição e, por  conseguinte, à solução para os impactos negativos da ação humanda sobre o  ambiente e a sociedade (BUARQUE, 2008). 
                Já nos anos 80 a questão ambiental adentrou o campo do  turismo passando a figurar como parte integrante das preocupações de estudiosos  envolvidos com a atividade turística (KOROSSY, 2008) surgindo, destarte, o  conceito de turismo sustentável que até os dias de hoje se faz presente em  grande parte das discussões na área. De acordo com  Eligh, Welford e Ytterhus (2002), o resultado do rápido crescimento da  indústria do turismo tem gerado, como consequência, altos índices de poluição  relacionados com os intensas deslocamentos por meio de aeronaves e automóveis  que consomem níveis elevados de combustíveis, além dos tantos impactos que a  atividade pode causa à própria destinação no que tange à biodiversidade. Neste sentido, o conceito de  turismo sustentável deriva do ideal de desenvolvimento sustentável e pode ser definido como uma forma de gestão dos recursos disponíveis  (natural e/ou cultural) de tal forma que necessidades econômicas, sociais e  estéticas possam ser satisfeitas ao mesmo tempo em que se mantenham a  integridade cultural, dos processos ecológicos essenciais, inlcuindo a  biodiversidade e os sistemas de suporte a vida (OMT, 2003; BOB; GHITA; SASEANU,  2010). 
                Segundo Moscardo (2007), é importante  entender que a indústria turística participa de um sistema mais amplo e que os  papéis que os atores exercem dentro das atividades turísticas e as suas  responsabilidades quanto ao alcance das metas sustentáveis devem ser  considerados. Tais atores são representados pelos demandantes, caracterizado  pelos turistas, e pelos ofertadores da atividade turística, órgãos de classe,  governo, operadores turísticos, hotéis e por todos aqueles que oferecem suporte  para a atividade se concretizar. Muitos estudos dão enfoque apenas para os  ofertadores como responsáveis das ações ligadas a sustentabilidade e deixam em  segundo plano a análise sobre o papel do consumidor nesse processo.
2.2 Sentido de responsabilidade do consumidor para com a  sustentabilidade
              Na  literatura da sustentabilidade o sentido de responsabilidade estão atrelados àqueles  indivíduos que possuem consciência dos problemas que suas atividades podem  causar à natureza e à sociedade como um todo. Assim sendo, buscam soluções para  tentar evitá-los ou ao menos saná-los, sempre pensando na melhoria da qualidade  de vida da coletividade (MACHADO FILHO, 2006). Alguns autores como, por  exemplo, Gadenne, Kennedy e Mckeiver (2009) propõem que o conceito de  responsabilidade é caracterizado pela relação entre a culpa pelos danos  causados ao meio ambiente, pela exploração dos recursos disponíveis e por  alguns problemas socioambientais, com a obrigação percebida pelo sujeio em ter  que recuperá-los. Diante disso, o significado dessa responsabilidade pode  variar dependendo de grupo social em análise e do tipo de ação ou comportamento  desenvolvido por seus membros (PRAHALAD, 2005; NASCIMENTO,  2008). 
                Em  se tratando especificamente do consumido de destinações turísticas, a prática  sustentável ainda não assumiu um formato claramente definido, principalmente no  que tange à participação dos sujeitos (consumidores-turistas) nas ações concernentes  à sustentabilidade e ao consumo racional. Na realidade, o consumidor tem o seu  papel visto ainda de forma incipiente e contraditória. O primeiro caso ocorre  porque muitos estudos não citam a importância que tal sujeito possui dentro das  práticas sustentáveis em um destino turístico. O trabalho de Castaldo et al (2009),  por exemplo, retrata o consumidor-turista como mero participante das ações  empresarias e governamentais, e não como sujeito integrante do processo. Já em  estudos como o de Aligleri, Aligleri e Kruglianskas  (2009), o  consumidor é enxergado como o elo final da cadeia produtiva e, por isso, as  atividades entre a coleta da matéria prima até a entrega do produto final é  capaz de causar maiores danos do que o comportamento de consumo em si. 
                Tal  perpectiva, ou posicicionamento, é por vezes considerada um tanto quanto contraditória  diante da realidade atual. Conforme destacam alguns autores (KOTLER; KARTAJAYA; SETIAWAN, 2010), o consumidor contemporâneo está  mais atento às atitudes sustentáveis e, desta maneira, cobrando mais proatividade  por parte das empresas. Em contraposição, estes mesmos sujeitos fazem pouco (ou  nada) para mudar seus próprios comportamentos (POMERING; NOBLE; JOHNSON, 2011). Assim como Kotler, Kartajaya e Setiawan (2010) apresentaram, há uma  tendência na busca por comportamentos sócio e ambientalmente responsáveis, além  do maior engajamento quanto à exigência por novas políticas governamentais e  empresariais visando à manutenção dos níveis de desenvolvimentos atingidos sem  o comprometimento das futuras gerações. 
                As  implicações desse novo modo de pensar podem ser sentidas diretamento no  ambiente empresarial uma vez que aquelas organizações que negligenciam a  importância do desenvolvimento de produtos ou serviços sustentaveis, poderão  não mais se identificar com as expectativas do consumidor que, por conseguinte,  passará a buscar outras empresas que possam desenvolver tais atitudes (MARIN, RUIZ & RUBIO, 2009). No entanto, ainda conforme Castaldo  et al (2009), na  prática o consumidor nao atingiu um nível de consciência a ponto de escolher  entre comprar de uma empresa que invista em sustentabilidade ou de outra que com  uma orientação menos sustentável.  A  resposta para essa contradição pode estar em trabalhos como o de Liu  (2003) que traz à discussão o fato de que para certos consumidores a obrigação  de desenvolver práticas sustentáveis deve ficar mesmo por conta das empresas e  do governo. Sendo assim, seu comportamento de consumo consciênte só pode ser  consebido a partir do momento em que tais ações assumam caráter de obrigações  impostas.
                O que se leva a crer que, uma vez obrigado,  evidentemente o consumidor passará a se comportar de forma diferente, caso não  tenha opção de escolha. Mas, esse tipo de mentalidade torna as decisões em  relação à sustentabilidade um fenômeno hierarquicamente imposto e de forma unilateral.  Como consequência disso, pode-se pressupor que haja uma alta probabilidade de  não identificação do sujeito com a proposta desenvolvida, o que poderá  desencadear um gap entre o que o  consumidor tem em mente, e qual sua posição em se tratando de comportamento  sustentável (atitude) e a forma como age face aos problemas sócio-ambientais (comportamento)  (DAWKINS, 2004).
2.3 O papel do consumidor rumo a um turismo  sustentável
   Levando-se em consideração que grande parte  dos programas de sustentabilidade até então propostos (seja no âmbito empresarial  e/ou governamental) para o turismo tem sido bastante questionados no que tange  aos seus reais benefícios e resultados, as discussões tem sido direcionadas  para o papel exercido pelo consumidor nesse processo. Para Pomering,  Noble e Johnson (2011) o problema reside na forma como as ações são aplicadas, muitas vezes  unidirecionais e excluindo o sujeito do processo de construção, resultando na  ausência de percepção de valor. Weizsacker, Lovins e Lovins (1998) apontam que enquanto  o governo e/ou empresas começarem a desenvolver suas atividades de forma mais  sustentável, e menos unidirecional, a sociedade continuará a assisitir aos  mesmos problemas de efetividade na implantação de certas políticas uma vez que o comportamento das pessoas não mudará ou, caso mude, será de forma  temporária voltando, portanto, com o passar do tempo, ao seu estado inicial. 
                O que de fato deve ser objetivado é a  aproximação prática entre o ideal de sustentabilidade e o comportamento do  consumidor, e isso só poderá ser alcançado a partir da inclusão do indivíduo no  processo de construção e aplicação de ações sustentáveis, possibilitando assim  a ampliação do conhecimento nessa área. É o que propõem autores como Weizsacker, Lovins e Lovins  (1998) e Xiang e Petrick (2009), como parte de um novo conceito paradigmático.  Um dos pontos fortes dessa mudança de paradigma é o envolvimento do consumidor  como co-criador das atividades relacionadas à sustentabilidade em destinações  turísticas. Muito dessa nova percepção é oriunda do poder de comunicação que o  consumidor tem conquistado a partir da maior facilidade de acesso às  ferramentas tecnológicas (DEIGHTON; NARAYANDAS, 2004). 
                Tal concepção vem agregar valor  para que as ações ligadas à sustentabilidade possam ser alcançadas e que o gap proposto por Dawkins (2004) seja reduzido. Por meio da apresentação mais evidente  das ações de sustentabilidade e o convite à participação, na qual ocorra a  troca de informação entre consumidores, empresas e o poder público, será mais  fácil o engajamento do indivíduo no sentido de repensar o seu próprio comportamento  rumo à sustentabilidade (XIANG; PETRICK, 2009). 
                Para McNeill e Vaughn (2010) a partir do momento em que o  consumidor começar a receber uma maior orientação sobre as consequências de  suas ações quando da sua visita aos destinos turísticos, maior será sua  capacidade de discernimento e senso de responsabilidade mesmo antes da sua  chegada ao local de visitação. No momento em que isso se tornar uma realidade,  será possível afirmar que o ideal de uma atividade turística sustentável foi  alcançado. Essa proposição é oriunda de um estudo conduzido por Jakobsson,  Makitalo e Saljo (2009) que revelou que o conhecimento prévio sobre as  consequências de fenômenos como, por exemplo, o aquecimento global por parte de  um grupo de estudantes modificou a atitude dos mesmos em relação à consciência  de sustentabilidade diante de uma determinada destinação, fazendo com que estes  se sentissem mais responsáveis e assumissem uma posição mais ativa no que tange  aos cuidados à natureza. 
                Nesse  sentido, propõe-se que a inclusão do consumidor-turista no processo de  elaboração e prática de ações sustentáveis se tornou uma ferramenta fundamental  para o desenvolvimento de políticas públicas visando à redução dos danos  causados pela atividade turística à sociedade. A partir dessa concepção, entende-se  que seja importante analisar como o próprio consumidor encara a sua  responsabilidade diante de um consumo turístico sustentável. 
3. Metodologia
                Com base no referencial apresentado, chegou-se  à conclusão sobre a necessidade de compreender o sentido de responsabilidade presente  na visão do consumidor-turista, e qual o papel desempenhado por este indivíduo na  prática do turismo sustentável. O ponto de partida para tal entendimento está  no confronto entre aquilo que é apontado pela literatura como sendo a posição  adotada pelos consumidores e como estes se enxergam diante da prática de ações  sustentáveis em destinos turísticos. Para que se atingisse os objetivos do  estudo utilizou-se do método qualitativo, por meio do emprego da entrevista  pessoal com o sujeitos selecionados para a pesquisa, no intuito de que os  investigados pudessem expor suas opiniões sobre o tema de forma a facilitar o entendimento  mais aprofundado acerca do fenômeno investigado (NEVES, 1996).
                Para tanto, um roteiro semiestruturado de entrevistas foi  elaborado com base no referencial teórico apresentado, e sua utilização como instrumento de coleta de dados  serviu para auxiliar na condução das entrevistas de forma a deixar tanto o  entrevistado como o entrevistador livres para direcionar a conversa a pontos de  interesse para a pesquisa. Durante as entrevistas, os  participantes expressaram suas opiniões a respeito dos temas levantados e as  respostas foram registradas através de um gravador, além de serem anotados  alguns dos tópicos mais importantes durante o decorrer da conversa para que  fosse obtida maior fidelidade das informações, conforme aconselham Marconi e  Lakatos (2002).
                A amostra foi  composta por estudantes  europeus, regularmente matriculados em algum dos diferentes cursos de graduação  da NHTV Breda University, dentre eles turismo, administração e sistemas de  informação, que haviam realizado alguma atividade de turismo de lazer a menos  de um ano. A definição desse público de estudantes teve como base um estudo  realizado por McNeill e Vaughn (2010) com relação ao nível educacional, e a escolha pelos  turistas europeus foi por estes possuirem mais acesso a educação, em todos os  níveis.
                A pesquisa foi realizada na Holanda durante o mês de  março de 2012, e no total 12 entrevistas foram conduzidas. A quantidade de pessoas entrevistadas nesse estudo foi determinada  seguindo-se o argumento de Flick (2004), de que em determinado instante nenhuma  novidade surgiria. Ou seja, no ponto em que não houve novas informações, era  sinal de que havia se atingido a saturação das respostas e, portanto hora de  parar. Sendo Assim, a obtenção de dados se deu até o momento em que as  informações se mostraram como novidades à pesquisa, pois de acordo com Gaskell  e Bauer (2002, p. 71): 
                A certa altura, o pesquisador se dá  conta que não aparecerão novas surpresas ou percepções. Neste ponto de  saturação do sentido, o pesquisador pode deixar seu tópico guia para conferir  sua compreensão, e se a avaliação do fenômeno é corroborada, é um sinal de que  é tempo de parar.
                Destarte, no  ponto em que todas as informações relevantes ao estudo foram obtidas, as  entrevistas já não se fizeram mais necessárias. A fim de se garantir um  possível novo contato entre entrevistador/entrevistado em busca de informações  complementares, após o término da entrevista foi solicitado aos entrevistados  que aprovassem sua divulgação e utilização como subsídio para a pesquisa aqui  proposta.
                Os dados foram analisados por meio da análise de conteúdo,  procedimento escolhido por se tratar de um conjunto de técnicas cujo objetivo  está relacionado à apressiação da mensagem apresentada a partir de  procedimentos sistemáticos de descrição do   conteúdo (BARDIN, 2002). Utilizando a orientação de Bardin (2002) e Capelle,  Melo e Gonçalves (2003), categorias foram determinadas para análise: conhecimento sobre turismo  sustentável; responsabilidade sobre ações da sustentabilidade; percepção do  próprio comportamento; participação na sustentabilidade. Uma vez finalido o  período de coleta de dados por meio das entrevistas pessoais, deu-se início ao  processo de análise. 
4. Análise dos dados
                4.1 Conhecimento sobre turismo sustentável
                Um das perguntas realizadas pela  entrevista foi para identificar o nível de conhecimento sobre turismo  sustentável e o grau de interesse para entender o tema, no caso daqueles que  não tinham conhecimento. Essa pergunta estava relacionada aos argumentos de McNeill e Vaughn  (2010) que aponta  que quanto maior for o conhecimento sobre o turismo sustentável, mais os  turistas tendem a se comportar com mais responsabilidade. Não houve a intenção  na pesquisa de limitar a amostra para aqueles que já detinham discernimento  sobre tema para não gerar uma tendencia nos resultados.
                No geral, a análise das respostas mostrou  que os estudantes tinham um conhecimento muito superficial sobre o que é  turismo sustentável e  não souberam  responder como a sustentabilidade poderia ser alcançada em destinos turisticos.  Os estudantes de turismo possuiam um conhecimento maior sobre o tema do que os  estudantes dos outros cursos. Segundo os alunos, o conhecimento foi obtido a  partir de uma disciplina sobre turismo sustentável estudada durante o curso. Eles  entendiam a importancia, mas não deram respotas concretas sobre o que fazer  para o alcance dos principios do turismo sustentável. Ao mesmo tempo, os alunos  do curso de turismo que ainda não tinham tido a disciplina não sabiam exatamente  do que se tratava o tema. Tinham o mesmo nivel de conhecimento daqueles que não  estudavam turismo na universidade. Detinham alguma idéia do que se travata por  acompanhar notícias de jornais e revistas sobre a sustentabilidade. De acordo  com o relato de um dos entrevistados: “Não é algo ligado a sustentabilidade?  Que tem que proteger o ambiente, algo do tipo, evitar a exploração? Não é  isso?”
                Um ponto interessante observado nos  relatos é que os alunos que não tinham conhecimento sobre o tema, tanto os que  estudavam turismo e ainda não tinha tido a disciplina quanto os que não  estudavam turismo, informaram que não tinham vontade de aprender. A motivação  estava centrada na ausência de necessidade de aplicar os preceitos do turismo  sustentável nas destinações turisticas visitadas. Além disso, a questão da  sustentabilidade estava centrada apenas no lado ecológico. De acordo com o  relato de um dos entrevistados:
4.2 Responsabilidade sobre as ações do turismo  sustentável 
                Com relação aos sentido da responsabilidade  das ações da sustentabilidade dentro da área turística, as respostas dos  entrevistados confirmam o que há na literatura sobre o atual comportamento do  consumidor. A maoria dos entrevistados quando questionados sobre de quem seria  a responsabilidade, apontaram que das empresas e do governo, e apenas um citou  que os turistas também tem responsabilidade sobre a sustentabilidade no destino  turístico. No relato de um dos entrevistados:
4.3 Percepção do próprio comportamento
                A intenção desse bloco de  questionamento foi para identificar como o indivíduo consegue perceber o seu  próprio comportamento, se eles se veem como sustentáveis ou não em destinações  turísticas, a partir do comportamento desenvolvido na última viagem a lazer  realizada. As respostas indicaram que alguns entrevistados, sendo a maioria, se  acham sustentáveis pelo que fizeram quando estavam no destino turístico. Foram  os mesmos alunos do curso de turismo que já tinham alguma familiaridade com o  tema turismo sustentável. As ações desenvolvidas foram separação do lixo, a não  interferência na cultura local, a não visitação de áreas de preservação, a  utilização da água com responsabilidade, o uso da energia com responsabilidade  e a reutilização das toalhas. Vale ressaltar que para esses entrevistados, as atividades  relacionadas não foram apontadas por todos ao mesmo tempo, mas são as que foram  citadas.
   Alguns foram objetivos em afirmar que não se  acharam sustentáveis, os que não tinham familiaridade com o tema turismo  sustentável. O motivo apresentado para essa afirmação foi de que, quando fazem  este tipo de viagem, estão de férias e não querem se preocupar em limitar o  próprio comportamento. No relato de um deles:
4.4 Participação no turismo sustentável
                Como há na literatura informações  sobre a importância do engajamento do turista na atividade sustentável (XIANG;  PETRICK, 2009), foi importante identificar a partir do ponto de vista do  próprio turista de que forma ele entende que pode participar da construção e do  desenvolvimento do turismo sustentável. A pergunta não tinha limitação, era  abrangente justamente para deixar o respondente livre e também, ao mesmo tempo,  poder identificar se ele tinha algum posicionamento sobre essa situação. As  respostas indicaram que a participação seria uma situação inusitada para os  entrevistados, porque até então eles nunca tinham sido questionados sobre isso,  e não souberam responder como poderiam se engajar nessa atividade, apesar de acharem  interessante. Isso ocorreu para todos os entrevistados, mesmo aqueles que já  haviam estudado a disciplina de turismo sustentável dentro do curso de Turismo. 
                Em um relato: “como assim? Como posso  me engajar? Você poderia me dar algum exemplo? A participação já está  relacionada ao que faço quando viajo?”.
                Aluns deles se limitaram a propor as  mesmas ações que informaram quando responderam sobre o comportamento na última  viagem realizada (separação do lixo, cuidado para não interferir na cultura  local, controle do uso sem necessidade da água e da energia). Um fator  interessante com relação aos comentários dos entrevistados é que eles não  deixaram de responder como uma tentativa de “fugir” da responsabilidade de ser  co-criador, mas sim porque realmente não sabem como fazê-lo. Talvez, a falta de  conhecimento sobre o turismo sustentável de uma forma geral possa ser um fator  que contribui para esse processo. 
5. Considerações finais
                Segundo a literatura, o consumidor  atualmente está mais preocupado com as questões da sustentabilidade. Essa  preocupação gera uma cobrança maior sobre as ações que as empresas e os  governos estão desenvolvendo nessa área. Para Kotler, Kartajaya e Setiawan (2010), a importância da sustentabilidade  para os consumidores acaba refletindo no próprio comportamento de consumo, no  qual os indivíduos passam a buscar por produtos e serviços de empresas que são  socioambientalmente sustentáveis. Essa tendencia também é apresentada na literatura  do turismo. Os autores Marin, Ruiz e Rubio (2009) indicaram que os turistas estão  mais preocupados com a degradação ambiental, provocados pela excessiva  exploração de destinos turisticos, assim como com a preservação da cultura  local. No entato, apesar do que dizem esses autores, as ações dos consumidores  podem ser diferentes.
                Os resultados do estudo mostraram que,  apesar dos turistas investigados acharem que a sustentabilidade é um tema  importante e que deve ser considerado na hora das atividades de consumo, pouco  ou nada fizeram para que pudesse ser alcançada, corroborando com os achados de Pomering, Noble e Johnson (2011). O motivo dessa pouca participação está  relacionado ao sentido que os turistas dão sobre a responsabilidade do  desenvolvimento da sustentabilidade. Para os entrevistados, a obrigação de  desenvolver atividades relacionadas a sustentabilidade é dos governos e das  empresas, e não dos turistas. Segundo os relatos, é como se a atitude deles com  relação ao comportamento sustentável dependesse em grande parte do que as  empresas ou governo estivessem fazendo nessa área, tal como medidas que  estimulassem o consumo consciente. 
                De fato, existe um gap entre o discurso e a prática, como Dawkins (2004) apontou, mas  como identificado na pesquisa, existe porque os turistas não reconhecem a  responsabilidade sobre tais atividades. Por exemplo, um dos turistas respondeu  que não fez a coleta seletiva de lixo porque o quarto do hotel não dispunha de  várias lixeiras para isso. Ou, em outro momento, quando foi colocado uma  situação hipotética sobre a decisão de escolher entre um hotel sustentável e um  não sustentável, as respostas indicaram que a opção seria sempre por quem  oferecesse o preço mais baixo. Para esses turistas, o hotel já tem a responsabilidade  de desenvolver atividades mais sustentáveis e não é a obrigação do turista  pagar a mais por isso. 
                Há de se concordar com Xiang e Petrick  (2009) que deve haver uma mudança de paradigma com a inclusão do consumidor  como co-criador das atividades sustentáveis, mas a mudança deve passar  principalmente pela forma como estes são apontados na maioria dos estudos e  como são tratados por quem desenvolve ações de sustentabilidade. O turista  também deve ser apresentado de uma forma mais ampla como responsável pelo alcance  das metas sustentáveis para que eles mesmos percebam a importancia que possuem nessa  área. Como  os turistas acham que devem  se comportar muitas vezes é reflexo da excessiva apresentação da responsabilidade  dos governos e das empresas no desenvolvimento de soluções para a  sustentabilidade, que acaba eximindo o consumidor de suas obrigações. É como se  a participação do turista só pudesse ser realizada como uma consequência das  medidas já realizadas. O resultado é uma ausência de conhecimento sobre o que  fazer e como devem proceder para que o seu comportamento se torne mais  sustentável. 
                Se não houver essa mudança, as ações  para o turismo continuarão sendo unidirecionais, o engajamento do consumidor inalcansável  e os problemas provenientes do gap continuarão a existir, seja porque não percebem valor ou seja porque não sabem  como fazê-lo. Na realidade, o grande desafio que os teóricos do turismo  sustentável enfrentam é como convidar esse turista a mudar o seu comportamento  e se engajar na construção e no desenvolvimento das atividades sustentáveis.
                Quanto as limitações da pesquisa, os  dados qualitativos são importantes porque permitem um aprofundamento para a  construção do conhecimento, como no caso desse estudo, mas não possibilitam  fazer inferências para toda a população, em virtude do número limitado de  dados. Dessa forma, não é possivel dizer que todos os turistas terão o mesmo  comportamento. Além disso, a escolha da amostra, estudantes de graduação, também  acaba limitando o resultado da pesquisa porque apresenta o ponto de vista de um  apenas um grupo. Como sugestão, a realização da pesquisa com outros perfis de  amostra e com o número maior de respondentes poderá ajudar na coleta mais  ampliada das informações sobre o tema.
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Recibido: 10/1/2014
Aceptado: 10/02/2014
Publicado: Junio 2014
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