Francisco Alcicley Vasconcelos Andrade (CV)
            falcicley@gmail.com
            Therezinha de Jesus Pinto Fraxe (CV)
           UFAM
   
           
                                 
		      
		
			
            
RESUMO:
O presente trabalho teve como objetivo discutir o consumo e a sustentabilidade sob a ótica do documentário “História das Coisas”, compreendendo todas as etapas do processo produtivo a partir da ideologia capitalista e da visão da sustentabilidade, que perpassa pela utilização irracional da matéria-prima; da produção permeada de produtos tóxicos e químicos; da distribuição com o objetivo de vender os produtos no menor tempo possível, evitando que os mesmos não fiquem obsoletos no mercado; o próprio consumo, que caracteriza-se como a etapa principal; até a sua destinação final. Todo esse processo é apresentado de forma linear e finita, denominado economia de materiais.
PALAVRAS-CHAVE: Consumo, sustentabilidade, produção, capitalismo.
O  hiperconsumo é um dos elementos que caracteriza a sociedade moderna. O  rompimento com o passado e o endeusamento do novo, “do moderno”, desenvolveu  uma cultura capaz de levar a que o indivíduo enderece todas as suas  necessidades e todos os seus desejos para o consumo. 
          De acordo  com Pereira (2012), a modernidade veio na esteira da Revolução Industrial e do  capitalismo, que foram indutores do que hoje se denomina de “hiperconsumo”. Na  lógica desses dois elementos primordiais, respectivamente, necessitava-se de  consumidores para pôr fim a todos os produtos que eram produzidos nas  indústrias; na mesma seara, necessitava-se de consumidores para gerar os lucros  necessários à manutenção da máquina capitalista que se espalhava pelo mundo  pela globalização.
          A  necessidade expansiva do capital, que se traduz na esfera social com a produção  em larga escala de bens materiais, necessita como suporte para a sua difusão de  uma série de valores que possibilitem estimular a visam ditar suas regras de  valores e condutas na sociedade ao transmitir, por intermédio dos veículos da  comunicação de massa, determinados comportamentos e estilos que, talvez de  forma inadequada, sejam denominados como “cultura de consumo”.
Usar a expressão ‘cultura de consumo’ significa que o mundo das mercadorias e seus princípios de estruturação são centrais para a compreensão da sociedade contemporânea. Isso envolve um foco duplo: em primeiro lugar, na dimensão cultural da economia, a simbolização e o uso de bens materiais como ‘comunicadores’, não apenas como utilidades; em segundo lugar, na economia dos bens culturais, os princípios de mercado – oferta, demanda acumulação de capital, competição e monopolização – que operam ‘dentro’ da esfera dos estilos de vida, bens culturais e mercadorias. (FEATHERSTONE, 1995, p. 121).
O  desenvolvimento da sociedade de consumo cresceu de forma exponencial no último século.  Os avanços tecnológicos que surgiram no século XX, como, por exemplo, o  desenvolvimento da informática, das telecomunicações, da produção, das  indústrias, trouxeram profundas mudanças nas relações sociais, criando uma  sociedade moderna onde o próprio tempo se configura totalmente diferente das  sociedades pré-modernas.
          Assim,  pela lógica dos acontecimentos, priorizar o lucro em detrimento do meio  ambiente leva a um prejuízo global para a humanidade e para todos os seres  vivos do planeta que dependem do meio ambiente para a sua sobrevivência. Os  padrões de consumo impostos pela modernidade e pelo sistema capitalista  priorizam o descarte e o lucro como formas indicativas de desenvolvimento. Nessa  ótica, o meio ambiente não possui qualquer importância ou prioridade dentro do  contexto socioeconômico estabelecido.
          Um dos  elementos abordado atualmente como alternativa para a relação homem-natureza é  o consumo consciente e responsável como possível meio para o desenvolvimento  sustentável do planeta, pois, ao que parece, sem a participação de toda a  sociedade, não será possível reverter a atual situação que se apresenta. Nesse  sentido, o consumo consciente, antes de ser uma retórica voltada aos grupos de  consumidores, é uma filosofia de pleno aproveitamento de recursos, de educação  ambiental e, especialmente, de atitude cidadã. (PEREIRA, 2012).
          O consumo  apresenta-se na sociedade atual como a máxima a ser difundida, estimulada e  divulgada em escala mundial através dos veículos de comunicação de massa.  Diante disto observamos que tais veículos como, por exemplo, a televisão tem um  papel essencial na veiculação de um discurso ideológico que prima pela busca de  satisfação, por intermédio do estimulo de atos e práticas voltados para o  consumo. Estes discursos teriam, portanto a finalidade de estimular os  indivíduos a pensarem e agirem de acordo com a lógica do consumo promovida pela  sociedade capitalista. Baseando-se nestes discursos – ideológicos – percebem-se  como os meios de comunicação em especial a televisão vende e promove os  produtos oferecidos de tal forma que eles adquirem um valor simbólico  tornando-se atrativos para os consumidores.
Tendo em vista o crescente processo de industrialização, que sempre foi bem aceito pela sociedade contemporânea, uma vez que o progresso econômico era buscado de forma incansável, pretende-se fazer uma análise do problema das sociedades advindo com a modernidade na ótica consumo/ meio ambiente. (BERNADELLI; JESUS, 2009)
Na ótica  de Lipovestsky (2004), a sociedade está em tempo de guerra com o tempo: “O  estado de guerra contra o tempo implica que os indivíduos estão cada vez menos  encerrados só no presente, com a dinâmica de individualização e os meios de  informação funcionando como instrumentos de distanciamento, de introspecção, de  retorno ao eu.”
          Neste  sentido, de acordo com Pereira (2012) é correto afirmar que a ideologia do  consumo tem como fundamento suscitar incessantes necessidades, sejam elas  materiais ou ilusórias, através do marketing comercial produzido em cada peça  publicitária. No intuito de saciar os desejos suscitados nos indivíduos a  ideologia consumista busca inserir-los na lógica estabelecida pelo discurso do  consumo ao apelar para o lado prazeroso em ter ou poder ter acesso aos objetos  expostos e vendidos durante cada intervalo comercial. Utilizando-se de inúmeras  formas simbólicas a ideologia do consumo cria normas e condutas capazes de  influenciar os indivíduos,
          Enfim,  torna-se relevante o fato de que esta ideologia pretende incutir nos indivíduos  padrões ligados à lógica do consumo. E sendo a ideologia do consumo prática  social de um discurso retórico, ela pretende estabelecer normas de integração  dos indivíduos à sociedade, fetichizada pelo universo das mercadorias. Para que  tal discurso ideológico tenha alcance abrangente é necessário utilizar-se de  grandes veículos da comunicação de massa, que desta forma legitimam, difundem e  aperfeiçoam cada vez mais a lógica do consumo na sociedade. 
          Nota-se  que o aperfeiçoamento e expansão das indústrias da mídia que repercute na  difusão da cultura de massa têm como objetivo atingir o universo vasto de  consumidores de forma irrestrita e geral, cuja intenção primordial é o consumo,  como uma pratica social.
          Em que pese  o impacto produzido pelos valores do consumo na sociedade, no discurso do  consumo a intenção é nunca cessar o estímulo aos desejos traduzido na angustia  produzida no consumidor que se encontra sistematicamente diante de produtos  lançados no mercado. Diante disto compreender o discurso ideológico do consumo  mostra-se fundamental caso queiramos compreender como se opera os apelos  consumistas veiculados nos vários comerciais de televisão e difundidos  socialmente.
As  transformações ocasionadas pela Revolução Industrial, pela globalização e pela  inserção do capitalismo na sociedade contemporânea impulsionaram o consumo  mundial. O crescente e descontrolado ritmo de produção  aliado ao consumo irracional promoveu a degradação do meio ambiente em níveis  exorbitantes. A ideia central do documentário intitulado História das Coisas é  sensibilizar-nos quanto ao consumismo exacerbado, compreendendo todas as etapas  do processo produtivo, que perpassa pela utilização irracional da matéria-prima;  da produção permeada de produtos tóxicos e químicos; da distribuição com o  objetivo de vender os produtos no menor tempo possível, evitando que os mesmos  não fiquem obsoletos no mercado; o próprio consumo, que caracteriza-se como a  etapa principal; até a sua destinação final. Todo esse processo é apresentado  de forma linear e finita, denominado economia de materiais.
          Inicialmente, para compreendermos essa relação entre consumo e  sustentabilidade, é necessário conhecermos as dimensões do Desenvolvimento  Sustentável. Nascimento (2012) discorre que:
A primeira dimensão do desenvolvimento sustentável normalmente citada é a ambiental. Ela supõe que o modelo de produção e consumo seja compatível com a base material em que se assenta a economia, como subsistema do meio natural. Trata-se, portanto, de produzir e consumir de forma a garantir que os ecossistemas possam manter sua autorreparação ou capacidade de resiliência. A segunda dimensão, a econômica, supõe o aumento da eficiência da produção e do consumo com economia crescente de recursos naturais, com destaque para recursos permissivos como as fontes fósseis de energia e os recursos delicados e mal distribuídos, como a água e os minerais. [...] A terceira dimensão é a social. Uma sociedade sustentável supõe que todos os cidadãos tenham o mínimo necessário para uma vida digna e que ninguém absorva bens, recursos naturais e energéticos que sejam prejudiciais a outros. [...] A consequência do esquecimento da dimensão da política é uma despolitização do Desenvolvimento Sustentável, como se contradições e conflitos de interesse não existissem mais [...] Outro aspecto olvidado na definição do Desenvolvimento Sustentável é a cultura. Não será possível haver mudança no padrão de consumo e no estilo de vida se não ocorrer uma mudança de valores e comportamentos; uma sublimação do valor ter mais para o valor ter melhor; se a noção de felicidade não se deslocar do consumir para o usufruir.
Outras literaturas vão um pouco além  das próprias cinco dimensões discutidas por Nascimento (2012). Camargo (2003)  apresenta as dimensões: Ecológica; Ambiental; Social;  Política; Econômica; Demográfica; Cultural; Institucional e Espacial.
          Quanto à definição de Desenvolvimento Sustentável, Lenzi (2006) afirma  que é o desenvolvimento que satisfaz as necessidades do presente sem  comprometer a capacidade das gerações futuras em satisfazer suas próprias  necessidades. 
          Leff (2001)  vai além, ele afirma que o desenvolvimento sustentável é um projeto social e  político voltado para erradicação da pobreza. Uma vez que, através da  utilização de princípios de racionalidade ambiental pode-se melhorar as  condições de vida da população, pois esses princípios oferece novas bases para  construir um novo paradigma de produção alternativo, fundado no potencial  ecológico, na inovação tecnológica e na gestão participativa da comunidade no  uso de recursos. 
          A ideia diante de toda essa discussão é que possamos usufruir  racionalmente os recursos naturais, sem comprometer a qualidade de vida das  próximas gerações. E o fato de percebermos que estamos ameaçados enquanto  espécie, atribui cada vez mais uma importância exclusiva ao desenvolvimento  sustentável.
          A partir da discussão teórica acerca do desenvolvimento sustentável,  discutiremos o consumo e a sustentabilidade sob a ótica do documentário  “História das Coisas”, evidenciando detalhadamente as cinco etapas da economia  de materiais.
          O primeiro processo da economia de materiais é a utilização dos recursos  naturais. Romeiro (2012) destaca que a quantidade de recursos naturais a ser  usada – escala – deve ser previamente definida com base em parâmetros  ecológicos de sustentabilidade. Infelizmente, muitas empresas não possuem  padrões de qualidade ambiental, tornando a utilização irracional dos recursos  naturais. Diante do exposto no documentário, observamos a superexploração  norte-americana das matérias-primas apresentadas em dados quantitativos, e que  a única alternativa encontrada para suprir essa necessidade foi a exploração dos  recursos naturais dos países subdesenvolvidos, onde a Amazônia é considerada um  importante alvo para tal prática.
          O sistema capitalista nos impulsiona o incentivo ao desperdício e a  produtos descartáveis e a adotar estilos de vida já consolidados pela  sociedade. Os indivíduos outsides dos  padrões estabelecidos são altamente discriminados e considerados como  diferentes, ou até mesmo inferiores. A produção em larga escala e de produtos  diferenciados não se baseiam apenas nas necessidades individuais, mas sim na  possibilidade de obtenção de lucro. Este cenário não resulta apenas em aspectos  econômicos e culturais. A sociedade atual globalizada e tecnológica objetiva o  progresso econômico, e em consequência disso, temos centenas de florestas  desmatadas, rios poluídos, extinção de animais, doenças à população local entre  outros. O consumo irracional gerou inúmeros impactos socioambientais, ao ponto  de questionarmos a sustentabilidade do planeta e a possibilidade de melhoria de  qualidade de vida para as atuais e futuras gerações.
          Nascimento (2012) esclarece que, em razão do exponencial crescimento do  padrão de produção e consumo ao longo do século XX, e principalmente nos  últimos 25 anos deste século, os recursos naturais não tem possibilidade de  perdurar. Surge, então a noção de sustentabilidade sob o enfoque da finitude  dos recursos naturais e sua progressiva e lastimável depleção.
          Robert Solow (2000), por sua vez, toma como séria a questão da finitude  dos recursos naturais, porém, ao contrário dos críticos da economia dominante,  considera que o homem é capaz de construir as respostas necessárias a esse  desafio sem grandes mudanças sociais, mas tecnológicas. Isto é, as inovações  tecnológicas são capazes de reduzir essa grande problemática, tais como  exemplos, a adoção de energias renováveis, estação de tratamento de água,  investimentos em transportes públicos híbridos etc.
          A segunda fase do processo da economia dos materiais, descrita no  documentário foi a produção. Nesta fase, os produtos passam por intensa adição  de produtos químicos e tóxicos, além de que pode haver a poluição sonora, do  ar, e da água, através de despejos de resíduos em rios, igarapés e lagos. Essas  ações foram mais intensificadas no período da Revolução Industrial, pois  segundo Lima (2010),
Ao substituir as ferramentas pelas máquinas, a energia humana em energia motriz e o modo de produção artesanal em sistema fabril, a industrialização inaugurou o início de uma era marcada pela produção de bens, competitividade acirrada, disputa por novos mercados, pelo consumo exacerbado. O desenvolvimento tecnológico permitiu o aumento da produção e a imposição do crescente hábito de consumo. O ter passou a ser mais importante que o ser. As pessoas são valorizadas pelo patrimônio que possuem, pelos produtos que lhes são disponíveis. O padrão de consumo transformou-se, inclusive, em forma de afirmação social, em integração de determinados grupos na sociedade.
É importante, neste contexto, conhecermos a procedência desses produtos,  verificar se as organizações utilizam mão-de-obra infantil e escrava e se os  produtos não danificam o meio ambiente em seu processo de elaboração (emissões  e resíduos contaminantes).
          A terceira fase do processo da economia de materiais é a distribuição.  Consiste na venda dos produtos da maneira mais rápida possível, pois o mercado  é altamente dinâmico e os produtos tornam-se obsoletos e ultrapassados com  grande rapidez. Então a ideia é sempre apresentar produtos atualizados e  inovadores, despertando o poder de compra dos consumidores. Atualmente, os  produtos já não possuem alta durabilidade, objetivando o descarte, e  consequentemente, a compra de um novo produto. Nesta etapa, os trabalhadores da extração são  explorados, os operários das fábricas fazem longas jornadas de trabalho e  muitas redes de lojas não pagam os direitos trabalhistas de seus funcionários,  isto é, o capital humano é altamente desvalorizado.
          A quarta fase é considerada a  mais importante neste processo. Lima (2010) menciona que, verifica-se que a lógica dos mercados, a determinar o consumo exagerado,  desnecessário, deve ser modificada. Além de o crescimento econômico dever ser  orientado por práticas de sustentabilidade, o consumo deve seguir novos  hábitos, pois a liberdade de compra e gozo de produtos não deve ser  desvinculada do dever de manter um ambiente sustentável.
          A sociedade de consumo e a profunda impregnação do capitalismo deu  primazia ao consumidor e todas as classes sociais foram impulsionadas a  consumir. Com produtos baratos, proporcionados pela produção em larga escala,  pôde-se atender a diversos segmentos de mercados. Atualmente, as empresas  apresentam diversas facilidades quanto à prazo de pagamento para aquisição dos  produtos, convencendo-os a comprá-los, mesmo que os produtos não sejam  prioritários. Isso foi demonstrado no próprio documentário em discussão, pois  as corporações ficam cada vez mais ricas e decisivas na dinâmica  econômico-social, forçando o Estado a reduzir a grande carga tributária, sob  pena de redução do quadro de colaboradores, ocorrendo então o desemprego.  Acselrad (2010) reforça ainda que, com a ausência de políticas ambientais de  licenciamento e fiscalização de atividades apropriadas e sem políticas sociais  e de emprego consistentes, as populações mais pobres e desorganizadas tenderiam  a sucumbir às promessas de emprego “quaisquer que sejam seus custos”.
          O documentário em discussão aborda claramente as duas estratégias de  consumo: a obsolescência planejada e a obsolescência perceptiva. A primeira surgiu  da década de 1950 e diz respeito aos produtos que possuem baixa durabilidade e  são facilmente descartáveis, com vida útil no menor espaço de tempo possível,  objetivando a compra imediata de um novo produto. Esse fato se dá em razão das  inovações tecnológicas que são muito dinâmicas, tornando os produtos obsoletos  rapidamente. Porém, para adotar esta modalidade de estratégia, é importante que  as organizações comercializem produtos que avariam rapidamente, sem romper a  fidelidade dos clientes com a marca. E como alguns objetos não quebram tão  facilmente, entra em cena, então, a obsolescência perceptiva.
          A obsolescência perceptiva nos impulsiona a descartamos objetos úteis.  Isso ocorre devido aos objetos que necessitam de manutenção, pois as peças de  reposição já não mais servem nesses objetos, isto é, constantemente são  formulados novos designs que dificultam a troca de tal peça, instigando-nos à  compra de um novo produto. É muito comum acontecer nas indústrias  automobilísticas e de eletroeletrônicos. Esse fato ocorre também com a moda,  pois as roupas compradas no ano passado, hoje com certeza deverão ser  descartadas, pois não seguem os padrões das tendências de moda atuais.
  É importante destacar o enorme papel da mídia quanto à estimulação e  divulgação em escala mundial de propagandas, comerciais e manchetes constantemente  repassadas aos consumidores. Diante disto, percebemos que tais veículos de  comunicação, tais como televisão e internet, possuem um papel preponderante na  veiculação de ideologias que objetivam não simplesmente a busca pela satisfação  das necessidades, mas principalmente, a superação das expectativas do  público-alvo. Diariamente, uma variedade de produtos são propagandeados como  sendo: “Eco”, “Verde”, “Sustentável”, ao mesmo tempo em que se difundem os  valores consumistas da sociedade capitalista. De acordo com Lima (2010),
[...] Destaca-se o poder da mídia, em suas mais diversificadas e sutis formas de manifestação, a impulsionarem desejos e sentimentos na consciência coletiva. Outdoors, paredes de propaganda, anúncio de revistas, rádios, televisões, tudo a fazer a apresentação da cultura de massa e de seus produtos. Os anúncios, as relações públicas, a doutrinação não são mais custos improdutivos, mas elementos básicos da produção. A publicidade constitui papel indispensável na consolidação deste consumismo. Ela suscita o desejo, cria o estímulo para a compra. Depois, reforça seu uso, fazendo com que o consumidor crie o hábito pelo consumo do produto, tornando-o, ao final, fiel a uma marca.
Com a expansão da sociedade de consumo e do rompimento de fronteiras  através da mídia, amplamente influenciada pelo estilo de vida norte-americano,  o consumo se transformou em uma compulsão e um vício, estimulados pelas forças  do mercado, da moda e da propaganda.
          A quinta e última fase consiste no descarte. De acordo com o  documentário “História das Coisas”, somente a reciclagem não é possível  absorver todos os resíduos sólidos produzidos. A ideia é a redução do consumo,  o conhecido “Consumo Sustentável”. Segundo Niello et al (2005):
A ideia de um consumo sustentável, portanto, não se limita a mudanças comportamentais de consumidores individuais ou, ainda, a mudanças tecnológicas de produtos e serviços para atender a este novo nicho de mercado. Apesar disso, não deixa de enfatizar o papel dos consumidores, porém priorizando suas ações, individuais ou coletivas, enquanto práticas políticas. Neste sentido, é necessário envolver o processo de formulação e implementação de políticas públicas e o fortalecimento dos movimentos sociais.
É possível afirmar que, até aqui os debates sempre põem em pauta as  relações entre desenvolvimento econômico e meio ambiente e que estão  estreitamente interligados aos padrões de consumo e produção de uma dada  sociedade. Em contrapartida, ao invés de transferir a responsabilidade apenas  para os consumidores individuais, ou se limitar a transformações tecnológicas  de produtos e serviços, as discussões sobre os padrões e níveis de consumo  necessita ser ampliado com o intuito de incluir o processo de formulação e  implementação de políticas públicas, criando um espaço de alianças entre  diferentes setores da sociedade, tais como: extratores de matérias-primas,  fabricantes, comerciantes e consumidores.
          O consumidor deve cobrar permanentemente uma postura ética e responsável  de todos os agentes envolvidos na economia de materiais. As empresas devem agir  de forma social e ambientalmente responsáveis em todas as suas fases produtivas,  desde a extração até a chegada ao consumidor final. Nesse sentido,  responsabilidade social empresarial significa adotar princípios e assumir  práticas que vão além da legislação, contribuindo para a construção de  sociedades sustentáveis. (NIELLO et al,  2005).
          Atualmente, as organizações buscam se adequar às legislações ambientais  vigentes. Algumas empresas possuem um departamento de logística reversa, que  segundo Resende (2004) pode ser definido como o processo de planejamento,  implantação e controle eficiente e eficaz dos custos, dos fluxos de  matérias-primas, produtos em estoque, produtos acabados e informação relacionada,  desde o ponto de consumo até um ponto de reprocessamento, com o objetivo de  recuperar valor ou realizar a disposição final adequada do produto.
          A ideia da implementação do processo de logísticas reversa é o  reaproveitamento dos produtos utilizados, principalmente objetos que possuem  elementos químicos, radioativos e com lento processo de decomposição na  natureza, como plásticos, vidros e borrachas. Com isso, a empresa agrega valor  aos produtos, melhora o posicionamento da marca no mercado, através do  Marketing Verde e torna-se competitiva frente aos concorrentes, tornando a  economia de materiais não mais linear, mas processo cíclico, havendo um feedback em toda a cadeia produtiva.
          A logística reversa está ligada ao mesmo tempo, as questões legais e  ambientais e as econômicas, o que coloca em destaque e faz com que seja  imprescindível o seu estudo no contexto organizacional, porque é o processo por  meio das quais as empresas podem se tornar ecologicamente mais eficiente por  intermédio da reciclagem, reuso e redução da quantidade de materiais usados  (CARTER; ELLRAM,1998 apud SHIBAO;  MOORI; SANTOS, 2010).
          Os consumidores devem estar orientados a agir com responsabilidade e  racionalidade, pois o consumo e seus hábitos interferem diretamente sobre o meio  ambiente. É imprescindível a formação de uma consciência ecológica, através da  mudança de hábitos, estilos de vida, valores já altamente influenciados pela  sociedade capitalista.
          Gomes (2006) destaca que necessita-se de uma  mudança fundamental na maneira de pensarmos acerca de nós mesmos, nosso meio, nossa  sociedade, nosso futuro; uma mudança básica nos valores e crenças que orientam  nosso pensamento e nossas ações; uma mudança que nos permita adquirir uma  percepção holística e integral do mundo com uma postura ética, responsável e  solidária.
          Para Leff (2001), natureza e ser humano, na sociedade capitalista, foram  dissolvidos e transformados em relacionamentos monetários – mercadoria, baseada  na necessidade de um aumento ininterrupto da produtividade e na promoção do  consumo exacerbado.
          Assim, por mais que o discurso ideológico do  capital prevaleça na nossa sociedade, não devemos nos desvirtuar da busca  incessante pelo bem-estar coletivo, onde a relação homem-natureza possa ter uma  convivência harmônica, garantindo um meio ambiente saudável e ecologicamente  equilibrado para as atuais e futuras gerações. O consumidor deve  sensibilizar-se de que o ato de comprar é simplesmente com o intuito de  satisfazer às necessidades básicas, e comprometer-se de adquirir mercadorias  que não agridam os recursos naturais, respeitem os animais e não explore a  mão-de-obra local.
REFERÊNCIAS
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FEATHERSTONE, Mike. Cultura de consumo e pós-modernismo. SP: Stúdio Nobel, 1995. (Coleção cidade aberta. Série megalópoles).
GOMES, Daniela Vasconcellos. Educação para o consumo ético e sustentável. In Revista Eletrônica do Mestrado em Educação Ambiental, nº. 16. Rio Grande do Sul: Fundação Universidade Federal Rio Grande, 2006. Versão eletrônica disponível em: <http://www.remea.furg.br/edicoes/vol16/art02v16.pdf>. Acesso: 07 março 2013.
LEFF, Enrique (Coord.). Saber Ambiental: Sustentabilidade, Racionalidade, Complexidade, Poder. Petrópolis, Rio de Janeiro: Vozes, 2001.
LENZI, C. L. Sociologia ambiental: risco e sustentabilidade na modernidade. São Paulo: Anpocs/Edusc, 2006.
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