DOCENTES DO ENSINO SUPERIOR DO CURSO DE LICENCIATURA PLENA EM LETRAS DO INSTITUTO DO ENSINO SUPERIOR DO AMAPÁ – IESAP

Ione Vilhena Cabral
Roberto Carlos Amanajas Pena

1.4 A Avaliação da Aprendizagem: uma breve evolução histórica

O ato de ensinar constitui assim, uma das discussões do âmbito da pedagogia. A ação do docente se caracteriza, segundo Anastasiou (2004, p. 14), em ensinar, aprender e apreender, sendo que o ensinar contém duas dimensões: uma utilização intencional e uma de resultado. Sem essas ações básicas é impossível ao docente ministrar uma boa aula, logo, alcançar seus objetivos propostos com a turma também se torna difícil. Assim, para muitos professores, o ensinar corresponde simplesmente, ao fato de transmitir conteúdos, ou seja, na exposição oral, sem a preocupação por parte deste em saber se os seus alunos assimilaram e aprenderam o conteúdo.
Diante disso, no processo de aprendizagem o docente tem que ter clareza de que se ensina para um saber. A respeito disso Anastasiou (2004, p.15), faz as seguintes indagações que “o saber inclui um saber o quê, um saber como, um saber por quê e um saber para quê”. Com esses questionamentos o professor estar envolvendo os sujeitos (discentes) em sua totalidade, ocorrendo, assim uma ação conjunta dos conteúdos entre professor e aluno. Isto ocorrendo temos, o que autora citada chama de “unidade dialética processual”, na qual o papel condutor do professor e a auto-atividade do aluno se efetivam em mão dupla. Tendo como foco tais pressupostos se faz necessário analisar o processo da avaliação da aprendizagem, considerando que é um dos eixos norteadores no ato de ensinar e aprender.
Verificou-se que desde o início da colonização do Brasil, a educação assumiu uma postura tradicional, onde o ensino era pautado no educador e não no educando. Por este motivo a forma como se avaliava o aluno também era tradicional e errada, pois essa pratica visava apenas o resultado, ou seja, a nota final. Não interessava ao professor saber se o aluno tinha ou não aprendido os conteúdos e muito menos relacionar a vida cotidiana desse, ou seja, a realidade a qual ele esta inserido com os conteúdos. A esse respeito enfatiza Luckesi:

“A prática da avaliação escolar, dentro do modelo liberal conservador, terá de, obrigatoriamente, ser autoritária, pois esse caráter pertence à essência dessa perspectiva de sociedade, que exige o controle e o enquadramento dos indivíduos nos parâmetros previamente estabelecidos de equilíbrio social, seja pela utilização de coações explicitas seja pelos meios sub-reptícios das diversas modalidades de propaganda ideológica. A avaliação educacional será, assim, um instrumento disciplinador não só das condutas cognitivas como também das sociais, no contexto da escola”. (2002, p. 32).

Dessa forma, o professor simplesmente repassava os assuntos e os alunos absorviam sem direito a questioná-lo, pois este era tido como o dono da verdade, logo, sendo inquestionável. Assim, o professor era possuidor de todo o conhecimento, por isso na hora da avaliação o aluno que não o respeitasse já ficava marcado e geralmente acabava ficando reprovado com este professor, pois para ele a avaliação era o “acerto de contas entre professor e aluno”. Isso mostra o quanto o professor dessa época não possuía competências para lidar com a relação docente e discente, assim, para Moretto o professor competente deve ter as seguintes habilidades:

“O conhecimento dos diferentes instrumentos para avaliação e da melhor forma de utilizá-los é um dos recursos de que o professor competente deve dispor. Este conhecimento esta ligado à convicção de que a avaliação não deve servir de instrumento de pressão para manter a disciplina em aula ou de fazer o aluno estudar”. (2002, p. 31).      

Pode-se, analisar então, que avaliação não deve ser tida como um instrumento para reprimir o aluno, de punição ou acerto de contas, mas como um momento privilegiado entre o professor e aluno, onde os dois devem ser avaliados ao mesmo tempo, pois o educador também faz parte desse processo de avaliação, tendo em vista que se mais de 70% da turma tira nota baixa o professor deve rever sua prática educacional.
Assim, durante muitos anos se associou a avaliação à uma questão de competição e não de absolvição de conhecimentos ela ainda, está ligada a forma de classificação dos alunos, ou seja, muitos discentes são considerados os melhores em sala de aula pelas notas altas que tiram nas provas, e aqueles que tiram notas baixas são tidos como “maus alunos, desinteressados, que não querem nenhum tipo de compromisso com a escola”, tem-se então, uma escala de hierarquias dentro da sala de aula, sobre esse assunto aborda Perrenoud:

“A avaliação é tradicionalmente associada, na escola, à criação de hierarquias de excelência. Os alunos são comparados e depois classificados em virtude de uma norma de excelência, definida no absoluto ou encarnada pelo professor e pelos melhores alunos. Na maioria das vezes, essas duas referências se misturam, com uma dominante: na elaboração das tabelas, enquanto alguns professores falam de exigências preestabelecidas, outros constroem sua tabela a posteriori, em função da distribuição dos resultados, sem todavia chegar a dar sistematicamente a melhor nota possível ao trabalho “menos ruim”. (1999, p.11).

Portanto, para aqueles alunos que tiram notas baixas durante o ano todo ao final deste ano letivo, geralmente estes tem que correr atrás do prejuízo para não ficarem reprovados, assim muitos educandos acabam firmando acordos com os professores para que passem de ano em troca de melhorarem no ano seguinte é o que enfatiza Perrenoud:

“Sobre esse ponto, deve-se evidentemente distinguir as situações: a pragmática da avaliação continua durante o ano escolar remete de inicio, ao andamento da aula, à progressão no programa, à manutenção da ordem, às vezes a individualização das aprendizagens ou a certas ações de remediação. A curto prazo, a orientação não está em jogo. Trata-se daquilo que o professor faz com sua turma ou com certos alunos e também do que determinado aluno faz, sobretudo se seus resultados forem insuficientes: aula de reforço, trabalho extra, mais dedicação aos temas ou à preparação das próximas provas, eventuais aulas particulares, controle mais restrito em casa ou em aula, etc”. (1999, p.53).  

Assim, cabe ao professor ter toda a cautela possível no momento em que for avaliar o seu aluno, pois é o futuro deste que mais tarde vai está em jogo. Pois existem muitos casos de maus profissionais atuando em áreas que não dominam por não terem tido uma boa orientação quando estavam estudando, neste sentido, cabe ao docente auxiliar o aluno para uma boa formação para que no futuro esse discente não venha a ser simplesmente mais um diplomado no meio de tantos outros.
Dessa forma, é muito difícil se falar em avaliação e mais ainda em aplicação de prova, pois esse método pedagógico visa na escolha daquele aluno considerado o melhor em sala de aula. Além disso, o professor enquanto agente facilitador do processo de ensino aprendizagem é quem vai quantificar o aluno e é isso que muitos acabam fazendo quantificam seus alunos ao invés de qualificá-los de acordo com a sua aprendizagem. Até aqui muito se falou em avaliação mais o que significa essa palavra que tanto medo causa aos alunos. Segundo Perrenoud:

“Trata-se exatamente de uma operação intelectual que tenta situar um individuo em um universo de atributos quantitativos ou qualitativos. Por essa razão, ela certamente diz respeito à epistemologia e à metodologia da medida. Isso não deveria nos fazer esquecer que a avaliação é sempre muito mais que uma medida. É uma representação, construída por alguém, do valor escolar ou intelectual de outro individuo. Inscreve-se, pois, em uma relação social específica, que une um avaliador e um avaliado. Na realidade, essa relação une em geral mais do que duas pessoas, já que avaliador é o agente de uma organização complexa, em nome da qual avalia, enquanto que o aluno faz parte de uma turma e pertence a uma família, estando esses dois grupos, por razões diferentes, envolvidos pela avaliação de seus membros”. (1999, p.57).

Portanto, como aborda Perrenoud (1999), a avaliação consiste sim em uma medida e quantidade, tendo em vista a necessidade de se quantificar o desempenho dos alunos com relação a aprendizagem, mas também essa mesma avaliação pode ser qualitativa, na medida em que leva em consideração o desenvolvimento, assim como, a produção intelectual desse aluno ao longo do ano letivo.
Assim, a avaliação escolar da aprendizagem dos alunos e alunas, jovens e adultos tem sido denunciada como uma prática de seletividade escolar e de exclusão social dentro e fora da sala de aula. Nesta concepção excludente, ela se define como um processo de controle da atuação escolar, do trabalho docente e da aprendizagem dos estudantes, onde se observa suas dimensões técnicas e as práticas que hierarquizam as pessoas.
Por este motivo constantemente, avaliação e medição se confundem, pois o processo de ensino aprendizagem é avaliado de acordo com o rendimento escolar, ou seja, através da quantificação dos fatos observáveis, buscando procedimentos e instrumentos mais capazes de garantir sua objetividade, validade, eficiência no ato de avaliar. Com isso, a avaliação se firma no estabelecimento de um padrão que serve como instrumento de comparação, diferenciação, hierarquização, seleção e exclusão, associando aprendizagem á reprodução do que foi ensinado, assim de acordo com Luckesi:

“A avaliação assumida como um instrumento de compreensão do estágio em que se encontra o aluno, tendo em vista tomar decisões suficientes e satisfatórias para que possa avançar no seu processo de aprendizagem. Se é importante aprender aquilo que se ensina na escola, a função da avaliação será possibilitar ao educador condições de compreensão do estágio em que o aluno se encontra, tendo em vista poder trabalhar com ele para que saia do estágio defasado em se encontra e possa avançar em termos de conhecimentos necessários”. (1995, p.81).

Dessa forma, avaliar não é simplesmente atribuir uma nota, aprovar ou reprovar, mas acompanhar a aprendizagem do aluno e o seu desenvolvimento. Por este motivo não é viável a classificação dos alunos e nem avaliar como forma de poder. A avaliação deve ser desenvolvida através de diagnostico levando em conta o desenvolvimento do aluno e a prática pedagógica desenvolvida pelo professor. Assim, a avaliação deve ser entendida como processo que permite ao professor e a escola observarem os resultados de sua prática e rever sua forma de avaliar. Como afirma Luckesi:

“A prática da avaliação da aprendizagem em seu sentido pleno, só será possível na medida em que se estiver efetivamente interessado na aprendizagem do educando, ou seja, há de se estar interessado que o educando aprenda aquilo que está sendo ensinado. Ela adquire seu sentido na medida em que se articula com um projeto pedagógico e com seu conseqüente projeto de ensino”. (Luckesi. 1990, p. 80).

Neste sentido, temos que não se avaliaria mais os alunos de forma classificatória como se fazia na escola tradicional. Mas ao contrario se buscaria uma nova forma de avaliar que de acordo com Luckesi (1995) seria a avaliação diagnóstica que estabelece a participação social dos alunos no processo de ensino aprendizagem.
Portanto, o que se teria de fato era estabelecimento de uma espécie de “pacto” entre professores e alunos para o melhor desenvolvimento da pratica aplicada pelo docente, levando em consideração as possibilidades de seus discentes para só então, ocorrer a aprendizagem de fato.

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