PLANEAMENTO TURÍSTICO EM MIRANDA DO CORVO CONTRIBUTO DE UMA ANÁLISE GEOGRÁFICA

Luísa Daniela Moreira Adelino

3. Caminhos para o desenvolvimento do turismo: Análise do concelho de Miranda do Corvo

Como já referimos, a segunda parte do nosso relatório, de carácter prático, centra-se no concelho de Miranda do Corvo. Após uma caracterização do mesmo iremos proceder à sua análise SWOT, à caracterização dos recursos e produtos turísticos nele existentes, a uma análise das estratégias do passado, actuais e propostas futuras.
Por fim terminaremos fazendo algumas propostas que poderão complementar as estratégias que estão a ser implementadas e que possam contribuir para o aumento da centralidade do concelho no panorama turístico regional e até nacional.

Retrato territorial do concelho

 

3.1.1. Enquadramento e características geográficas

Em termos geográficos, o concelho de Miranda do Corvo está inserido no Pinhal Interior Norte (NUT III), da Região Centro de Portugal (NUT II).
Este é geograficamente contíguo com os concelhos de Vila Nova de Poiares a Nordeste, Lousã a Sueste, Figueiró dos Vinhos a Sul, Penela a Sudoeste, Condeixa-a-Nova a Oeste e Coimbra a Nor-noroeste (Figura 4). Coimbra é a capital de distrito onde se inclui o concelho em análise e esta cidade dista cerca de vinte quilómetros da vila de Miranda do Corvo.

Miranda do Corvo está inserida na Área Metropolitana de Coimbra, constituída em Março de 2004 e, juntamente com os concelhos de Lousã, Penela e Vila Nova de Poiares integra a Associação Municipal de Fins Específicos dos Vales do Ceira e Dueça (Comunidade Intermunicipal) – AMVCD, a qual tem como objectivos promover o desenvolvimento de acções comuns na área do ordenamento, gestão, promoção e divulgação do território, nas temáticas do turismo, património, infra-estruturas e equipamento.
Em termos físicos, apresenta-se com relevo bastante irregular, variando entre os 200 metros de altitude nas áreas correspondentes aos vales dos rios e chegando a valores superiores a 900 metros de altitude, que correspondem à Serra da Lousã, que “preenche os lados sul e nascente do concelho, representando a faixa mais significativa do território e que integra as freguesias de Miranda do Corvo e Vila Nova, localizadas na extensa e fértil bacia que abrange a Vila, que passa pela Lousã até ao Espinhal” (CMMC, 1993).
No que toca à geologia, o concelho de Miranda do Corvo integra-se numa área de transição de várias unidades morfológicas, o que lhe confere uma certa indefinição e, simultaneamente, uma grande variedade de características no terminus ocidental da plataforma do Mondego a que corresponde, também, o extremo da bacia da Lousã (CMMC, 1993).
Como formação geológica mais uniforme salienta-se a Serra da Lousã, orientada na direcção NE-SO, fazendo parte do Complexo Xisto-Grauváquico das Beiras; verifica-se, também ao longo da paisagem do concelho, afloramentos de rochas xistosas do Maciço Hespérico pertencentes a este maciço (Serra da Lousã). Na união com o concelho da Lousã encontra-se uma formação de xistos luzentes. Predominam os arenitos avermelhados e arenitos claros conglomerados e notam-se alguns afloramentos de granito na área da Serra de Vila Nova (CMMC, 1993).
Através do estudo das características geológicas e estruturais do concelho, foi possível identificar quatro unidades paisagísticas:
– O Maciço Marginal1, unidade paisagística que abrange a área da Serra da Vila e toda a parte norte do concelho. As espécies florestais que aí se encontram são maioritariamente eucaliptos e pinheiros;
– A Depressão Periférica, na qual se insere o quadrante mais ocidental do concelho, subdividindo-se entre as colinas dolomíticas e as depressões marginais. Aqui domina o pinheiro, o olival o pomar e a vinha, que encontram uma grande fertilidade nas terras baixas da freguesia de Lamas;
– Os Xistos do Maciço Hespérico, unidade que pertence ao maciço da Serra da Lousã, e onde se verifica uma clara dominância do pinheiro, juntamente com algumas manchas de eucalipto, especialmente nas áreas onde se registaram incêndios florestais na última década;
– A Bacia de Miranda do Corvo e envolvente, na qual a vegetação apresenta uma relativa homogeneidade, com o predomínio do eucalipto e do pinheiro. Também se encontram manchas de cultura arvense de regadio, olival e vinha. A cultura de arvense de sequeiro realiza-se mais nas proximidades de Semide e Rio de Vide, territórios mais agrestes às culturas de regadio (CMMC, 1993).
Relativamente à hidrologia, o concelho é banhado por dois cursos de água de importância local. O maior, o Rio Ceira (oriundo da Serra do Açor), percorre, com uma orientação aproximadamente Este-Oeste, o Concelho na sua parte mais setentrional encaixado nos materiais do Complexo Xisto-Grauváquico e Cristalofílico. O Rio Dueça, por seu turno, com traçado aproximadamente Sul-Norte, é oriundo da orla Mesozóica e corre sempre em vale aprofundado, com algumas excepções entre Godinhela e Montoiro em que percorre um vale alargado passível de ser inundado em ocasiões de fortes caudais. Desta forma, destacam-se no concelho duas bacias hidrográficas com uma elevada importância no enquadramento local, nomeadamente a bacia do Rio Dueça e do Rio Ceira, compostos por troços em diferentes estados de conservação, ao nível ecológico (CMMC, 1993 – Figura 5).
Em termos de clima, Miranda do Corvo apresenta um clima mediterrânico, embora sofra algumas influências atlânticas devido à relativa proximidade do mar e também seja influenciado pela proximidade da Serra da Estrela (idem).

No que diz respeito aos usos do solo no concelho de Miranda do Corvo, é de destacar a área florestal (incluindo matos), a qual ocupa 79% da superfície total do concelho, seguida da área agrícola, que ocupa 15% e outros usos, nomeadamente a ocupação urbana, que correspondem a 6%, de acordo com o 5º Inventário Florestal Nacional (2010).
Esta mancha florestal, traduzindo uma influência tipicamente mediterrânea, encontra-se em vertentes de baixa altitude, abrigadas e com exposição predominantemente do quadrante Sueste, encontrando-se aí espécies características como o Carvalho português, o sobreiro, o medronheiro e plantas odoríferas. Em paralelo surgem espécies introduzidas pelo Homem.
No estrato arbóreo é possível encontrar uma grande variedade de espécies (quadro 1), de entre as quais dominam o pinheiro bravo e o eucalipto.

 

Quadro 1: Espécies arbóreas existentes no concelho de Miranda do Corvo

 

Espécie

% do total florestal

Espécie

% do total florestal

Pinheiro-bravo

Pinus pinaster Aiton

28,88

Cedro-do-Buçaco

Cupressus lusitanica Miller

*

Eucalipto

Eucalyptus globulus Labill

28,79

Cerejeira brava

Punus avium L.

*

Carvalho-roble

Quercus robur

0,04

Abeto

Pseudotsuga menziesii (Mirb.)
Franco

*

Carvalho-negral

Quercus pyrenaica Willd

 

Castanheiro

Castanea sativa Miller

0,25

Pinheiro-silvestre

Pinus sylvestris L.

*

Medronheiro

Arbutus unedo L.

*

Salgueiro-branco

Salix alba L.

*

Sobreiro

Quercus suber L.

*

Choupo

Populus alba L.

*

Loureiro

Laurus nobilis L.

*

Amieiro

Alnus glutinosa (L.) Gaertner

*

(* Não existem dados disponíveis)
Fonte: CMMC 1993/IFN/Elaboração própria

 

No que toca ao estrato arbustivo, encontramos um vasto conjunto de espécies, resumido no quadro 2. Muita desta vegetação ocupa actualmente áreas que arderam nos últimos anos, sendo, portanto, uma sucessão degradada. Outra parte importante da vegetação deste tipo localiza-se nas cotas mais altas da Serra da Lousã sofrendo influências da altitude e da gestão florestal actual.

 

Quadro 2: Espécies arbustivas e herbáceas do concelho de Miranda do Corvo2

 

Gilbardeira

Ruscus aculeatus L.

Tojo

Ulex europaeus L. e Ulex minor Roth

Pilriteiro

Crataegus monogyna Jacq.

 

Estevas

Cistus ladanifer L.

Trovisco

Daphne gnidium L.

Sargaços

Cistus salvifolius L.

Cardo

Cynara cardunculus L.

Carqueja

Chamaespartium Tridentatum (L.) Willk

Giesta

Cytisus striatus (Hill) Rothm

 

Giesta-brava

Cytisus scoparius (L.) Link

Urze-vermelha

Erica australis L.

Hera

Hedera helix L.

Funcho

Foeniculum vulgare Miller

Candeias

Arisarum vulgare Targ.-Tozz

Torga

Calluna vulgaris (L.) Hull

Ervas-finas

Agrostis truncatula, Parl.

Rosmaninho

Lavandula luisieri L.

 

 

Fonte: CMMC 1993

 

           
Relativamente à fauna, o concelho apresenta espécies selvagens cinegéticas e não cinegéticas (Quadro 3). Estas espécies dispersam-se por vários habitats identificados no concelho, nomeadamente os charcos temporários mediterrânicos, os cursos de água dos pisos basal a montano, as charnecas húmidas, as formações herbáceas de Nardus L., ricas em espécies em substratos siliciosos das zonas montanhosas, as florestas aluviais de Alnus glutinosa (L.) Gaertner e Fraxinus excelsior, de Carvalhais galaico-portugueses e florestas de castanheiros.

 

 

Quadro 3: Espécies de fauna existentes no concelho de Miranda do Corvo3

Espécies cinegéticas

Perdiz-comum

Alectoris rufa

Coelho-bravo

Oryctolagus cuniculus

Corço

Capreolus capreolus

Rola-comum

Streptopelia turtur

Veado

Cervus elaphus

Javali

Sus scrofa

Pombo-torcaz

Columba palumbus

Tordo-ruivo

Tardus iliacus

Lebre

Lepus capenses

Tordo-comum

Tardus philomelus

Espécies não cinegéticas

Falcão-peregrino

Falco peregrinus

Poupa

Upupa epops

Milhafre-preto

Milvus migrans

Ouriço-cacheiro

Erinaceus europaeus

Melro-preto

Tardus merula

Doninha

Mustela nivalis

Pintassilgo

Carduelis carduelis

Rato-do-campo

Apodemos silvaticus

Corvo

Corvus corvax

Rato-comum

Rattus norvegicus

Cuco-canoro

Cuculus canorus

Texugo

Meles meles

Pisco-de-peito-ruivo

Erithacus rubecula

Raposa

Vulpes vulpes

Gaio-comum

Garrulus glandarius

Salamandra-lusitânica

Chioglossa lusitanica

Mocho-galego

Athene noctua

Lagarto-de-água

Lacerta schreiberi

Pardal-comum

Passer domesticus

Ruivaco

Rutilis macrolepidotus

Coruja-do-mato

Strix aluco

Borboleta

Euphydryas aurinia

Coruja-das-torres

Tyto alba

Bolrboleta

Euplagia quadripunctaria

Carriça

Troglodytes troglotytes

 

 

Fonte: CMMC 1993

 

Analisando os ortofotomapas relativos à área do concelho, verificamos que, quer nas áreas agrícolas, quer florestais, domina claramente a propriedade privada de estrutura minifundiária.
Entre os principais acessos encontramos a Estrada da Beira (EN 17), que liga os concelhos de Arganil, Vila Nova de Poiares, Lousã e Miranda do Corvo a Coimbra. Destacamos também a EN 342, que liga Condeixa a Lousã, quase até Góis, acesso em muito bom estado. Além destes dois acessos também existe a estrada nacional (EN 17-1) que atravessa o concelho num sentido praticamente Norte-Sul, perpendicularmente às duas estradas acima mencionadas. Por fim temos as estradas municipais que ligam todas as localidades do concelho e que se encontram, regra geral, em bom estado, necessitando, no entanto, de intervenção em alguns locais.
            A nível ferroviário existe uma linha de comboio centenária, pertencente ao Ramal da Lousã, que apenas abrange a freguesia de Miranda do Corvo e que, apesar de servir uma grande fatia da população (note-se que a linha passa no interior da sede de concelho), esta apenas serve uma faixa estreita do total da área do concelho4.


1 Esta área do concelho ocupa apenas o sector mais a sul do Maciço Marginal, o qual se insere em apenas uma parte do Rebordo Montanhoso do Maciço Antigo.

2 Não foram encontrados dados relativos às percentagens de ocupação do território das espécies arbustivas e herbáceas.

3 Não foram encontrados dados relativos às percentagens de ocupação do território das espécies cinegéticas e não cinegéticas.

4 Actualmente o Ramal da Lousã está a ser sujeito a obras de requalificação, no sentido de passar a integrar a rede do Metro Mondego, o que obriga à procura de transporte alternativo, nomeadamente o autocarro.

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