INTRODUÇÃO A EPISTEMOLOGIA DA CIENCIA

INTRODUÇÃO A EPISTEMOLOGIA DA CIENCIA

Christian José Quintana Pinedo(CV)
Karyn Siebert Pinedo (CV)

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1.4 A POLÍTICA DA FILOSOFIA DA CIÊNCIA

1.4.1 A filosofia da ciência como questão política.

A ciência geralmente é considerada desumanizadora [4], dando um tratamento insatisfatório a povos, sociedades e natureza, nela considerados objetos. A alegada neutralidade e isenção de valores da ciência são percebida por muitos estudiosos como não-autêntica, idéia estimulada pelo fenômeno, cada vez mais comum, do desacordo entre especialistas, em lados opostos de uma discussão politicamente suscetível acerca da substância do fato científico. A destruição e a ameaça de eliminação de nosso meio ambiente resultantes do avanço tecnológico, são em geral consideradas algo que compromete a ciência.

Existem aqueles que consideram a faculdade de artes muito deficiente e distanciada do mundo masculino e opressivo da ciência e voltam-se para o misticismo, as drogas ou para a filosofia francesa contemporânea. Embora certamente reste o argumento de que um alto apreço pela ciência e uma generosa avaliação de seu campo constituam importante componente da ideologia contemporânea, abundam as posições opostas.

O fato das questões que dizem respeito ao estatuto da ciência, serem politicamente importantes não escapou a muitos filósofos e, mais recentemente sociólogos da ciência. Foi assim que, em 1.973, Imre Lakatos resumiu o assunto em numa transmissão radiofônica.

“O problema da demarcação das fronteiras entre a ciência e pseudociência tem serias implicações... para a institucionalicação da crítica. A teoria de Copérnico foi proibida pela Igreja Católica em 1616 por ser considerada pseudocientífica. Em 1820 foi retirada do Index, porque àquela altura a Igreja acreditou que os fatos a haviam comprovado e, portanto, ela se tornara científica..”.

Naturalmente, Lakatos tinha grande consideração pela ciência, como Karl Popper, cujos passos apaixonadamente seguiu. Pooper explica como sua defesa de racionalidade em geral, e da ciência em particular, é uma tentativa de ir contra o “relativismo intelectual e moral” considerado por ele “principal doença filosófica de nosso tempo”. Não é incomum que os defensores de um elevado estatuto da ciência vejam-se como defensores da racionalidade, da liberdade e do modo da vida ocidental, já que, afinal de contas o que realmente está em jogo é nada menos que o futuro progresso de nossa civilização.

1.4.2 A estratégia positivista.

O principal objetivo dos positivistas lógicos que floresceram em Viena durante as décadas do 20 e 30 e cuja significativa influência ainda persiste, era fazer a defesa da ciência e distingui-la do discurso metafísico e religioso, que a maioria deles descartava como bobagem não-científica. Eles procuravam construir uma definição ou caracterização geral da ciência, incluindo os métodos apropriados para sua construção e os critérios a que recorrer para fazer sua avaliação.

Com isso em mãos, visavam defender a ciência e criar dificuldades para a pseudociência, mostrando como a primeira se ajusta à caracterização geral, e a ultima não.

O Novum Organum de Francis Bacon, o Discurso do Método de Rene Descartes e a Crítica da Razão Pura de Immanuel Kant são notáveis precursores dos esforços positivistas para elaborar uma explicação geral da ciência e seus métodos.

Imre Lakatos e Karl Popper são dois eminentes filósofos da ciência dos tempos recentes que adotam a estratégia positivista, ainda que, claro, sejam bastante críticos em relação à particular explicação de ciência oferecida pelos positivistas. Imre Lakatos acreditava que o “problema central na filosofia da ciência” era “a questão de determinar as condições universais sob as quais uma teoria é científica”.

Ele sugeria que a solução do problema deveria oferecer-nos uma orientação a respeito de quando a aceitação de uma teoria científica é ``racional e quando é irracional'' e esperava que isso nos ajudasse a ``criar leis para lutar contra... a poluição intelectual''. Lakatos recorria a sua teoria da ciência para defender os físicos contemporâneos e criticar o materialismo histórico de alguns aspectos da sociologia contemporânea, expressando o caráter universal que atribuirá à ciência embora seu caráter histórico esteja evidente no uso que ele fez para defender o caráter científico da revolução copernicana e também a einsteniana.

O próprio Popper buscava demarcar o limite entre a ciência e a não ciência em termos de um método que ele considerava característico de todas as ciências, inclusive as sociais.