LAZERES ATIVOS I

LAZERES ATIVOS I

Paulo Carvalho. Coordenação (CV)

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GEOCACHING E DESCOBERTA/VALORIZAÇÃO DE TERRITÓRIOS RURAIS. A SUA GEOGRAFIA EM PORTUGAL E O EXEMPLO DA SERRA DA LOUSÃ

Luiz Alves

Paulo Carvalho

Resumo

O geocaching tem registado um crescimento exponencial do número de praticantes/aderentes em todo o Mundo e, de forma particular, em Portugal, perspetivando-se que continue a crescer nos próximos anos o que, enquanto atividade de lazer, consubstancia uma oportunidade de enorme relevância para descobrir, promover e desenvolver os territórios onde ocorre.
A presente investigação, para além de um enquadramento teórico-conceptual, tem subjacente uma análise geográfica desta temática em Portugal que será aprofundada através de um estudo de caso (Serra da Lousã/Cordilheira Central) em ambiente rural de montanha.
Palavras-chave: Geocaching. Territórios Rurais. Portugal. Serra da Lousã.

Abstract
The geocaching has recorded an exponential growth in the number of practitioners/adherents worldwide and particularly in Portugal, foreseeing that continues to grow in the next few years which, while leisure activity, constitute an opportunity of enormous relevance to discover, promote and develop the territories where it occurs. 
This research, in addition to theoretical-conceptual framework, has a geographical analysis underlying this theme in Portugal which will be deepened through a case study (Serra da Lousã/ Cordilheira Central) in rural mountain environment.
Keywords: Geocaching. Rural Areas. Portugal. Serra da Lousã.

1. Geocaching, lazer e turismo: oportunidades para descobrir, valorizar e desenvolver os territórios rurais
O lazer assume, cada vez mais, uma dimensão com elevado nível de importância na sociedade contemporânea, muito impulsionado pelo aumento dos índices de qualidade de vida associado à modernização do trabalho, que tem gerado uma maior disponibilidade para tempos livres. No lazer, apesar das múltiplas motivações de cada um, coabitam preocupações de saúde e bem-estar com enriquecimento cultural, e que muito têm feito alastrar a importância crescente das suas práticas na sociedade.
Os espaços rurais constituem atualmente locais onde se podem encontrar ecossistemas particulares, ricos em fauna e flora, paisagens humanizadas, modos de povoamento, sítios históricos, aldeias exemplares, tradições, manifestações ancestrais, entre outros (Covas, 1999).
As atuais dinâmicas económicas, sociais e territoriais, assim como a renovação da imagem das áreas rurais, reflete a importância estratégica dos recursos ecológicos e culturais, e a sua crescente vinculação ao lazer e turismo (Carvalho, 2009), em resultado de mudanças recentes na procura turística em especial por parte da população urbana (Kastenholz e Lima, 2011).
São vários os lazeres turísticos procurados nos territórios rurais, fruto das condições excecionais que estas áreas geográficas oferecem. A busca de ambientes mais calmos, com capacidade de oferecer atividades de lazer em múltiplas vertentes, com graus de exigência diferenciada, com possibilidade de usufruição durante todo o ano, a custos reduzidos, com acesso facilitado e com uma complementaridade em termos de oferta de equipamentos e serviços tornam os territórios rurais locais muito procurados para múltiplas práticas de lazer (Alves, 2013).
 “São exemplo disso, o caso de atividades associadas ao turismo ativo, de aventura ou radical, de natureza, ecoturismo, e outras modalidades interligadas, podendo se destacar o montanhismo, alpinismo, pedestrianismo, escalada, trekking, orientação, bicicleta todo-o-terreno (BTT), downhill, todo-o-terreno turístico, parapente ou paramotor, heli-ski ou heli-hike, birdwatching, geocaching, escalada, canoagem, canyoning, rafting, entre outras” (Alves, 2013: 67).
O geocaching tem registado um crescimento exponencial do número de praticantes/aderentes em todo o Mundo e, de forma particular, em Portugal, perspetivando-se que continue a crescer nos próximos anos o que, enquanto atividade de lazer, consubstancia uma oportunidade muito interessante para promover dinâmicas positivas de desenvolvimento nos territórios onde ocorre designadamente os rurais e de montanha.
Essa oportunidade torna-se evidente quando entendemos que estes territórios “oferecem uma base de recursos diversificada de extrema importância para o desenvolvimento de actividades turísticas, que lhes conferem um lugar de destaque no panorama dos destinos turísticos mais populares do mercado turístico atual. As características únicas das montanhas – cenários de extrema beleza cénica, traços biofísicos excepcionais, diversidade, isolamento e autenticidade natural e cultural – proporcionam as condições ideais para a prática de uma panóplia de atividades que enformam alguns dos mais interessantes produtos turísticos alternativos da atualidade, a maioria dos quais se inserem numa lógica de desenvolvimento sustentável, que os próprios territórios de montanha demandam” (Carvalho e Adelino, 2012: 14).

Geocaching: uma ferramenta para o marketing territorial

O marketing territorial apresenta-se como uma ferramenta muito importante, e capaz, no reconhecimento e desenvolvimento de espaços menos atrativos, podendo ser utilizado como dinamizador das mais-valias dos territórios, mitigando algumas das suas debilidades. De facto, o marketing territorial pode ser tido em conta como meio de promoção dos territórios rurais e de montanha.
Como refere Cidrais (1998: 18), o marketing territorial pode ser definido “como sendo a análise, planificação, execução e controlo de processos concebidos pelos actores de um território, de forma mais ou menos concertada e institucionalizada. A sua finalidade é, por um lado, responder às necessidades das pessoas e do seu território e, por outro, melhorar a curto e longo prazo a qualidade e competitividade global da cidade no seu ambiente concorrencial”.
De acordo com Ruivo (2006: 190), “A construção de uma imagem positiva e inovadora de um território, pela valorização das amenidades rurais, implica a utilização da filosofia de marketing, e envolve a cooperação entre um alargado número de actores, quer públicos quer privados, de forma a atrair e fixar uma nova população, reorientando a dinâmica dos territórios rurais”.
O geocaching assume-se como um lazer importante na capacidade de promoção dos territórios, com especial destaque para os rurais e de montanha. Na sua atividade, o geocacher, além de percorrer os territórios, de logar as caches que encontra, partilha múltiplas fotografias que retratam a beleza dos locais, a sua singularidade, e a excelência; revela locais de importância geológica, salienta a originalidade da cache, ou seja, a posteriori, divulga uma vasta quantidade de elementos gráficos e comentários de experiências que funcionam como um verdadeiro processo de marketing “oferecido” aos territórios, fazendo valer a expressão “uma imagem vale mais do que mil palavras”, sendo um ótimo elemento e veículo de divulgação dos territórios, potencializando um aumento do número de visitantes.
A aposta no geocaching como veículo de divulgação e de promoção dos territórios a par com a diversificação da oferta de atividades de lazer não é novidade, embora não esteja suficientemente esgotada. Podemos dar como exemplo a aposta que alguns municípios de Portugal têm feito neste lazer para divulgar os seus territórios e para aumentar a sua capacidade de atração de visitantes e turistas, procurando criar mais valias para as economias locais, mas que também têm utilizado esta atividade em múltiplas ações desportivas e de lazer, de limpeza de espaços públicos, entre outros. Assim, destaque para os municípios de Águeda, Ferreira do Zêzere, Fundão, Montijo, Vila Franca de Xira, que têm construído redes de geocaches pelos seus territórios, de forma a divulgar os seus concelhos e a atrair mais visitantes. Outros municípios como Nazaré, Olhão, Portel, Vila Real, têm feito uma aposta no geocaching para fomentar a prática de outras atividades como sejam caminhadas em percursos pedestres, passeios de BTT, atividades de interpretação da natureza e plantação de árvores, recolha de resíduos (lixo) em espaços públicos, entre outras.
O geocaching é uma excelente forma de explorar locais novos (uma vez que algumas geocaches estão escondidas em locais de interesse histórico ou de grande beleza natural, e que o geocaching ajuda/permite descobrir); permite juntar amigos e família em atividades ao ar livre, em contacto com a natureza; pode ser uma atividade desafiadora, visto que algumas das geocaches estão muito bem escondidas; é um ótimo complemento a outras atividades de lazer, como caminhadas, passeios de bicicleta, de jipe ou de barco.   
A justificação para esta aposta parece simples, para além das já mencionadas, somam-se os números referentes aos geocachers e às geocaches ativas em Portugal: 22.093 geocaches ativas em Portugal, e 40.586 geocachers1 , segundo dados referentes a julho de 2013. Já a nível mundial estão ativas 2.346.823 geocaches e um total de geocachers que ultrapassa os 6 milhões2 .

3. Geocaching: conceito, evolução e expressão territorial

             3.1 Conceito e princípios gerais

“O Geocaching é uma caça ao tesouro dos tempos modernos, jogado no mundo inteiro por pessoas com espírito aventureiro e equipados com recetores de GPS (Global Positional System). A ideia base do jogo é encontrar recipientes escondidos, denominados geocaches, referenciadas através de coordenadas GPS e depois partilhar a experiência a sua aventura online” (Curato, 2013: 2), sendo que todas as geocaches devidamente registadas se encontram publicadas no site geocaching.com.
“A primeira cache foi colocada em Portland, nos Estados Unidos, em 2000, na sequência da decisão do governo norte-americano que, a 1 de maio do mesmo ano, libertou o sinal GPS para uso civil. Por isso, o geocaching tem a sua origem numa tecnologia militar antes apenas acessível aos agentes norte-americanos de segurança” (Fernandes, 2013: 173).
Trata-se de uma atividade que pode ser praticada por todas as pessoas independentemente do grupo etário. Cada geocache tem um nível de dificuldade e um nível de terreno próprio. Uma geocache 1/1 será das mais fáceis e uma 5/5 será mais difícil. Esta variedade permite que cada participante possa procurar geocaches adequadas às suas capacidades e condições físicas.
Existem geocaches em todos os continentes e, praticamente, em todos os países. É comum os geocachers esconderem caches em locais que lhes são relevantes, ou que mostram um determinado interesse ou capacidade do seu proprietário. Estes locais podem ser muito diferentes. Podem ser encontradas num parque natural, no culminar de uma longa caminhada, debaixo de água ou numa rua de uma cidade, ou até mesmo, Espaço, como na Estação Espacial Internacional ou em Marte.
Sendo uma atividade de lazer com pouco mais de uma dezena de anos, o geocaching tem demonstrado um crescimento bastante intenso, registando 92 000 geocaches em 2004, número amplamente ultrapassado em 2013, estando já registadas mais de 2 milhões de geocaches em todo o mundo (figura 1).

Distribuição geográfica
A nível mundial, a distribuição geográfica de geocaches “apresenta fortes assimetrias, com uma maior concentração na América do Norte e na Europa Central, regiões onde é superior a densidade do geocaching praticado (entenda-se, número de caches e de geocachers)” (Fernandes, 2013:173/174). Este padrão de distribuição espacial das geocaches é, em grande parte, explicado por fatores como: nível de infoexclusão das tecnologias móveis de informação e comunicação; capital de mobilidade das populações; tradição de atividades de turismo e lazer e fruição da natureza, através de práticas como o trekking, o pedestrianismo ou o BTT (Fernandes, 2013).
Em Portugal, o início do geocaching ocorreu no ano de 2001 com a cache “GC1DA: AlfaRomeu Abandonado!” colocada na Rua das Murtas, em Lisboa (Fernandes, 2013). Desde 2001 até fevereiro de 2014, o número de caches evoluiu de forma regular (com maior expressividade entre 2006 e 2007), contabilizando mais de 37 mil em fevereiro de 2014 (37325 caches).
De igual modo, o número de geocachers em Portugal, tem registado um crescimento constante, de forma proporcional ao aumento de geocaches, de tal maneira que em fevereiro de 2014 estavam já registados mais de 34 mil praticantes de geocaching em Portugal (34563 geocachers).
Refinando a análise, constatamos que é possível identificar três períodos de tempo que explicam a evolução do número de geocaches e de geocachers em Portugal (figura 1), a saber:
‒ 2001-2006 (período de importação): marcado pela inserção deste novo lazer no seio do território nacional. Durante este espaço temporal surgiram em Portugal 936 geocaches (maioritariamente localizadas em meios urbanos) e 893 geocachers;
‒ 2007-2010 (período de afirmação): consagrando-se como o período de confirmação da prática deste lazer, comprovado pelo aumento bastante significativo quer do número de geocaches (9535) quer de geocachers (9005). Com efeito, em apenas 4 anos o número de geocachers aumentou mais de 90% em relação aos primeiros 6 anos desde o seu surgimento. De igual modo, o número de geocachers registou um aumento de cerca de 90%;
‒ 2011-2013 (período de explosão): em apenas 3 anos o geocaching em Portugal atinge um verdadeiro “boom” quer do número de geocaches quer de geocachers, pelo que o poderemos designar por “período de explosão”. De acordo com os dados constatamos que, entre 2011 e 2013, surgem 25729 novas geocaches e 24334 novos geocachers registados. Estes dados representam um aumento superior a 63% do número de geocaches e de 62% de geocachers entre o período de 2007-2010 e de 2011-2013.
No que diz respeito à distribuição geográfica das geocaches existentes em Portugal (até fevereiro de 2014), existem três conclusões-chave a reter: as duas áreas metropolitanas (Lisboa e Porto) concentram um forte número de geocaches; os distritos que dispõem de território no litoral de Portugal são os que apresentam a maior parte das geocaches existentes (em oposição aos territórios situados no interior do país, com menor número de geocaches); elevada concentração da localização de geocaches em polos urbanos (ou nas suas áreas de influência), quer cidades quer sedes de concelho (figura 2).
Uma análise mais pormenorizada dos dados permite referir que mais de 17% das geocaches existentes em Portugal estão localizadas no distrito de Lisboa. Por outro lado, os distritos de Lisboa, Porto e Santarém, em conjunto, representam mais de 33% do número total de geocaches localizadas em Portugal.
Relativamente à tipologia das geocaches existentes, a grande maioria são de tipo tradicional (quase 76% do total); 9,7% são multi-caches; 7,4% correspondem a caches mistério e 5% a caches evento. As restantes tipologias de geocaches apresentam percentagens de representatividade inferiores a 1%. Quanto ao tipo de container, mais de 40% dos recipientes são de tamanho pequeno; 30,3% de tamanho micro e 11,9% de tamanho regular. Por sua vez, no que concerne à dificuldade, a dificuldade média das geocaches é 1,94 e a dificuldade do terreno de 1,97.  
A capital portuguesa domina nos vários indicadores sobre geocaching uma vez que o concelho de Lisboa representa/congrega:
‒  3,6% do número total de geocaches existentes em Portugal;
‒ 8,5% do total de log’s nacional;
‒ 9,3% do número total de founds;
‒ 8,5% do número total de favoritos;
‒ 51 das 100 geocaches com maior número de registos;
‒ 17 das 100 geocaches com maior número de favoritos.

4. Geocaching na Serra da Lousã: afirmação de (mais) um lazer
4.1 Enquadramento geográfico
Localizada no extremo sudoeste da Cordilheira Central Portuguesa, abrangendo (de forma total ou parcial) os concelhos de Castanheira de Pêra, Figueiró dos Vinhos, Góis, Lousã, Miranda do Corvo, Pedrógão Grande e Penela, a Serra da Lousã pertence ao complexo xisto-grauváquico e é balizada por cristas quartzíticas que, pela sua maior resistência à erosão, são responsáveis pelos penedos existentes, com falésias abruptas, como é o caso dos Penedos de Góis e, em menor escala, o Pico do Espinhal (São João do Deserto), que configuram o seu limite ocidental e oriental, respetivamente. De igual modo, é evidente a presença de granitóides no contacto Miranda do Corvo-Penela, e também no Coentral. No seu interior nascem diversas linhas de água que se repartem entre o Mondego (rios Sótão, Arouce e Dueça – neste último caso corresponde a um dos seus troços de drenagem – que por sua vez prestam tributo ao Ceira) e o Zêzere (ribeiras de Mega, Pêra e Alge), uma vez que a Serra da Lousã define uma das linhas divisória das respetivas bacias hidrográficas.
O contraste paisagístico é impressionante em particular no setor setentrional onde emerge a bacia sedimentar de Miranda do Corvo-Lousã-Góis-Arganil, elevando-se a montanha de forma brusca até atingir os 1205 metros (no castelo ou altar de Trevim). Em linha reta, cerca de seis quilómetros separa a vila da Lousã (concretamente a área do edifício dos Paços do Concelho, com cotas inferiores a 200 metros de altitude) e a superfície culminante da Serra da Lousã. Este contraste é ampliado pela multiplicidade de formas de relevo quer no interior da referida bacia sedimentar quer na sua bordadura, a que corresponde também uma acentuada diversidade litológica e antrópica (materializada em diferentes formas de ocupação do espaço). Esta amplitude pode traduzir-se através de referências como, por exemplo, as casas solarengas setecentistas/oitocentistas, as construções “verticais” e os loteamentos urbanos do final do século XX, ou as “aldeias de xisto” quais sentinelas nas rechãs da montanha.
Por outro lado, as tonalidades cromáticas, os odores e as sonoridades naturais da montanha, em que a fauna, a flora e os cursos de água configuram elementos expressivos e diferenciadores, fazem da Serra da Lousã, e em particular dos seus recantos mais emblemáticos (como, por exemplo, o vale da ribeira de Pêra, no Coentral, com os seus carvalhos atlânticos seculares; a cintura verde que abraça aldeias do xisto como o Gondramaz, o Talasnal, o Candal ou a Cerdeira, por entre castanheiros centenários, carvalhos cerquinhos e algumas cerejeiras; o cantão florestal das Hortas e do Porto Espinho, com espécies florestais folhosas e resinosas (re)introduzidas em meados do século passado que consubstanciam ambientes de grande qualidade estética; ou a ribeira do Mouro, perto das Aigras, com um conjunto notável de azereiros) um património natural, cultural e paisagístico de enorme singularidade e valor incalculável (Carvalho, 2013).
O reconhecimento do seu geopatrimónio biótico advém da classificação (de parte) da Serra da Lousã como Sítio da Lista Nacional (Rede Natura 2000).
O interior da Serra da Lousã corresponde às paisagens culturais mais expressivas pois é o berço de microterritórios cuja génese remonta aos séculos XV/XVI. Lugares arcaicos, quais refúgios outrora muito isolados, conheceram nas últimas décadas dinâmicas contraditórias, com sinais de despovoamento, requalificação territorial e revitalização socioeconómica, de tal forma que as principais tendências evolutivas refletem quer atividades vinculadas de forma crescente aos recursos ecoculturais (com destaque para o lazer e turismo), quer espaços e recursos de produção geoeconómica primária (Carvalho, 2013).

Um outro lazer na descoberta da Serra da Lousã
São várias as atividades de lazer e turismo com expressão na Serra da Lousã, fruto das condições excecionais que este território oferece, com um vasto e diverso património repleto de singularidades. Os recursos permitem a prática de uma panóplia de atividades associadas ao turismo ativo, de aventura ou radical, de natureza, ecoturismo, e outras modalidades interligadas, como sejam: montanhismo, alpinismo, pedestrianismo, escalada, trekking, orientação, trail running, free ride, cross-country, downhill, todo-o-terreno turístico, parapente ou paramotor, heli-ski ou heli-hike, birdwatching, geocaching, canoagem, canyoning, rafting, entre outras, por entre paisagens únicas.
De entre as atividades de lazer uma das mais recentes na Serra da Lousã é o geocaching, que com o passar dos anos vai ganhando mais adeptos e que se vai multiplicando em forma de geocaches 3, abrindo mais um canal de difusão de todo o seu território para o Mundo.
Segundo os dados disponíveis a primeira cache foi publicada no concelho de Góis, com a designação “GCstrongDB OuohhmmmOuohhmmmm [Pampilhosa da Serra]”, no dia 2 de novembro de 2003. Porém, só a 26 de dezembro de 2004, é que surge a primeira geocache localizada no perímetro da Serra da Lousã, com uma “estreia” mesmo no coração da Serra, numa aventura no Santo António da Neve (um dos locais mais emblemáticos para os povos da Serra da Lousã), proporcionada pela cache “GCM88K Água e Gelo [Castanheira de Pêra]”.
Atualmente são 196 as geocaches existentes na Serra da Lousã, representando este valor “apenas” a 0,52% do total nacional; 6,3% do total do distrito de Coimbra (correspondente aos municípios de Góis, Lousã, Miranda do Corvo e Penela) e 2,8% do distrito de Leiria (correspondente aos municípios de Castanheira de Pêra, Figueiró dos Vinhos e Pedrógão Grande).
A análise referente à evolução do número de geocaches entre 2003 e 2013 (figura 4) é bastante semelhante ao processo de desenvolvimento verificado no resto do país (embora, como vimos, com proporções menos expressivas). De facto, podemos destacar três períodos de tempo distintos que explicam a evolução do número de geocaches na Serra da Lousã: 2003-2007 com um crescimento relativamente lento (com um total de 19 geocaches em 5 anos); 2008-2010 com um aumento significativo de implantações, com um total de 45 caches em 3 anos; 2011-2013 com um “pico” considerável, com a implementação de 128 geocaches em 3 anos.
Relativamente à tipologia das geocaches na Serra da Lousã (figura 5), a grande maioria são de tipo tradicional (mais de 79% do total); 15,3% são multi-caches; 3,1% correspondem a caches mistério. As caches evento, earthcaches e CITO, representam apenas 2,6% do total (com 5 geocaches). No que diz respeito ao tipo de container, mais de 54% dos recipientes são de tamanho pequeno; 19,9,3% de tamanho regular e 16,8,9% de tamanho micro. Por sua vez, no que concerne à dificuldade, esta é relativamente superior à média nacional, por influência da inserção num território de montanha. Assim, a dificuldade média das geocaches é 2,11 e a dificuldade do terreno de 2,23. 
A análise da distribuição geográfica das geocaches existentes Serra da Lousã (figura 6), permite destacar o município de Góis, com um total de 42 caches, correspondendo a mais de 21% do total. Por outro lado, Figueiró dos Vinhos, Lousã, Miranda do Corvo e Penela têm entre 28 e 33 geocaches (com percentagens a variar entre 16,8% e 14,3% do total). Por fim, Castanheira de Pêra e Pedrógão Grande correspondem aos municípios com menor número de geocaches (18 e 14, respetivamente).
Numa total de 17070 founds (figura 7), o município da Lousã é o que apresenta maior percentagem do total, com 23,7%. Por sua vez, Miranda do Corvo e Góis apresentam uma variação entre 17,8% e 16,4% do total de founds de geocaches na Serra da Lousã. Os restantes municípios variam entre 2406 founds em Figueiró dos Vinhos e 1232 founds em Castanheira de Pêra (14,1% e 7,2%, respetivamente).
Considerando aos 10 geocaches com maior número de logs registados destaque-se Figueiró dos Vinhos, com um total de 4 geocaches. Por sua vez, no top-10 das favoritas, destaque para Góis e Lousã (com 3 caches cada) e para Castanheira de Pêra, com duas caches. Porém, em número de favoritos no top-10 atrás referido, as geocaches da Lousã superam as demais, com um total de 128 votos, enquanto as localizadas em Góis reúnem 118 votos e, por fim, as de Castanheira de Pêra foram objeto de 56 votos de favoritos.
Por fim, considerando os owners das caches situadas na Serra da Lousã, importa salientar dois, cada um com 11 geocaches colocadas: Lousitânea (11 no concelho de Góis) e VidigalTeam (1 no concelho de Góis e 10 no concelho da Lousã).

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1 Fonte: http://geostats.geocaching-pt.net/, em 11 de julho de 2013.

2 Fonte: http://www.geocaching.com/, em agosto de julho de 2013.

3 Aqui consideramos as geocaches localizadas nos sete concelhos que integram a Serra da Lousã, e não apenas as que integram o perímetro da mesma.