INFLAÇÃO E CONCENTRAÇÃO DE RENDA. Uma abordagem computacional a partir do software Gretl

INFLAÇÃO E CONCENTRAÇÃO DE RENDA. Uma abordagem computacional a partir do software Gretl

Marcelo Santos Chaves (CV)
José Luiz Ferreira Fonseca
Fernando Cardoso De Matos
Heriberto Wagner Amanajás Pena

Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Pará

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CAPÍTULO IV – DISCUSSÕES


5. DISCUSSÃO DOS RESULTADOS OBTIDOS
Refletir e debater a relação entre inflação e concentração de renda é um desafio instigante, pois envolve questões de relevância geral para toda sociedade na atualidade. A inflação, que é uma das variáveis macroeconômicas mais monitoradas e pesquisadas, segundo Mathias e Gomes (2008), passou desde 1947 por sucessivos processos de modelagens matemática que ambicionavam sua real mensuração, até a adoção do índice de Laspeyres (IPCA), como índice oficial ad hoc do Estado brasileiro em 30/06/1999. Da mesma maneira o Estado brasileiro, através de seu órgão competente (IBGE), resolveu por bem adotar o Índice de Gini, como modelo oficial de medição do nível de concentração de renda do país, expondo suas justificativas para tal adoção na bibliografia intitulada Indicadores de desenvolvimento sustentável - Brasil 2004: Dimensão social - Trabalho e rendimento. Cabe também o destaque que, segundo Santos e Guerrero (2010), o Índice Gini, desenvolvido pelo economista italiano Corrado Gini, foi publicado no documento Variabilità e Mutabilità em 1912.
Como já fartamente mencionado, nos debates e discussões de ordem econômica sobre os prejuízos de elevadas taxas de inflação, é constante o argumento de que uma alta do nível de preços gera um imposto inflacionário, que impacta mais fortemente a distribuição de renda em um dado país. Tal fato pôde ser perfeitamente verificado nos resultados obtidos no capitulo anterior, onde através de três técnicas de mensuração, convimos que, a partir do modelo (12), os efeitos positivos que cada percentual de taxa inflação, incrementa no nível de concentração de renda no país. Este tipo de distúrbio ora verificada empiricamente só reafirmar o entendimento de Antonik e Veiga (2005), abordado no capitulo I do presente trabalho, ao inferirem que a inflação provoca uma desordem distributiva, agindo como se houvesse um verdadeiro ‘imposto invisível’ capaz de dissimular os erros de gestão e as ineficiências na economia, prejudicando assim os mais pobres.
Outro elemento importante que chama atenção é o fato da variável “TX_INFLACAO” mostrar-se bastante significava para explicar o comportamento da variável Concentração de Renda, a partir da inferência “razão-t” de student, conforme preconiza as técnicas de mensuração verificadas em Andrade (2013). Da mesma forma, foi possível perceber na análise dos MQO, a partir das colaborações de Gujarati (2006), o fato de que a variável “TX_INFLACAO”, além de ser significativa, explica em 30% o comportamento da variável dependente “GINI”. Porém, uma ressalva precisa ser feita. Sabemos que o IPCA é o índice oficial de inflação adotado pelo Estado brasileiro. Como também sabemos que o mesmo é nada mais nada menos que o índice de Laspeyres. Logo, face às insinuações de Antonik e Veiga (2005) é oportuno deixar claro que este modelo de medição possui o viés de superestimar a alta dos preços, ou seja, este modelo possui a tendência de trabalhar com o pior cenário inflacionário possível, e tal fato, sem sombra de duvidas, por inercia, tende a superestima os impactos sobre o nível de concentração de renda do país.

6. DISCUSSÃO SOBRE A RELEVÂNCIA DIDÁTICA DO GRETL
A educação despojada de novas tecnologias, limitada a utilização de tecnologias antigas, e no inócuo discurso do professor, termina por admitir que o espaço de ensino converta-se em um mero ambiente de monotonia, sem qualquer estímulo quanto aos fundamentais elementos de mobilidade do processo de aprendizagem. Neste sentido, concordado com a retórica de Brasil (2002), compete ao professor procurar o conhecimento quanto ao manuseio adequado das novas tecnologias, uma vez que toda e qualquer ferramenta usada para mediar à interatividade professor/aluno é considerado um instrumento tecnológico (LIMA e ANDRADE, 2012).
No tocante aos recursos tecnológicos computacionais, ratificamos o entendimento de Gravina (1998), pois os mesmos podem enriquecer o ensino da Matemática, ao enaltecer uma abordagem experimental de definições em áreas tão importantes como a álgebra, geometria e a modelagem de fenômenos reais, como o caso da mensuração entre a correlação Inflação x Concentração de Renda, explorado no presente trabalho.
Cardoso (2005) chama atenção ao fato de que as pesquisas na área de tecnologias aplicadas a Educação Matemática, objetivando entender e compreender como softwares introduzem-se nas atividades de comunidades de aprendizes, têm se multiplicado expressivamente, valendo-se de inúmeras teorias e metodologias diversas. O autor informa ainda que tais pesquisas concluem que as novas tecnologias, com características intrinsecamente cognitivas como os softwares, promovem o acesso aos múltiplos sistemas de representações, proporcionando novas perspectivas no manuseio de linguagens e expressões matemáticas. Tal perspectiva não foge a tese de Matematizar a Tecnologia, conforme preconiza Frota (2010).
Neste trabalho o objetivo também está direcionado para o uso software Gretl e seus resultados nos processos de ensino aprendizagem. Ou seja, de que maneira o uso desse tipo de instrumento computacional pode auxiliar o aluno no seu processo de construção do conhecimento? Como matematizar fenômenos como Inflação e Concentração de Renda a partir dele? De inicio inferimos que o uso do Gretl além de enriquecer a prática docente, aperfeiçoa consideravelmente a aprendizagem do educando à medida que o mesmo passa a explorar os recursos do Gretl, e ao mesmo tempo, este mesmo educando se depara com a oportunidade de refletir sobre sua realidade social, ao perceber que está a investigarde que forma a elevação generalizada dos preços pode afetar a distribuição de sua região/localidade. Após um processo de interações e simulações no Gretl é pouco provável que o educando ainda conceba o fenômeno Inflação como algo ‘mitológico’ e totalmente dissociado de sua realidade social. Concordando com Ogborn (1997), o aluno perceberá o quanto a ascendência do fenômeno pesquisado pode impacta-lo diretamente. E este fator é a principal fonte de instigação e estimulo que o software pode oferecer ao educando, ao aproximá-lo dos fenômenos que o cerca.
Além disso, o Gretl poder auxiliar o aluno na superação das dificuldades apresentadas no estudo de situações contextualizadas que exijam análise de indicadores econômicos e sociais comuns, e dessa forma enriquecer o ensino de Matemática com o uso de novas tecnologias tornando a aprendizagem mais estimuladora, instigante e desafiadora. Entretanto, corroborando com Cardoso (2005), cabe a lembrança de que para obtermos êxito na prática docente é indispensável que nossa atuação seja previamente planejada e que os objetivos da mesma sejam claros para nós e que permaneçam implícitos em cada atividade por nós sugerida.