No caso de Portugal, a iniciativa LEADER I envolveu 20  “zonas de intervenção”, num total superior a 2000 projetos repartidos por  diversas áreas temáticas, embora o turismo rural tenha assumido lugar de  destaque: 46% dos projetos e 56% do investimento aprovado (GEOIDEIA/IESE, 1999:  146). A segunda fase do Programa (com a designação de LEADER II, 1994-1999),  marcada pelo aprofundamento, generalização e reforço financeiro, enquadrou um  conjunto de 48 entidades locais que geriram subvenções globais, na base de um  “Plano de Ação Local” (PAL) que essas mesmas entidades conceberam, em  interpretação própria de um conjunto de diretivas comunitárias e de orientações  nacionais, e de acordo com uma leitura, também própria, de determinadas  dimensões-problema das respetivas “zonas de intervenção” (GEOIDEIA/IESE, op cit., 116).
      Segundo o Relatório de avaliação elaborado pela  GEOIDEIA/IESE (2002), citado por Carvalho et al. (2007), o LEADER II  aprovou 7030 projetos e um investimento total de 217.650.460 euros. O número de  projetos aprovados por Entidade Local foi de 146.5, com variações regionais, as  mais importantes entre os valores extremos: 103 (Madeira) e 218 (Açores). 
      No que diz respeito aos domínios de intervenção foram  identificados 22 domínios, dos quais “ressaltam 3 categorias que incluem mais  de metade dos projetos aprovados (51.5%) e do investimento total (53.3%):
  – Apoio a atividades económicas (instalações, equipamentos,  contratação, comercialização e modernização): 27.3% dos projetos e 32.2% do  investimento; estas atividades subdividem-se em turismo rural (4.9% do total de  projetos e 10.6% do investimento), artesanato (5% do total de projetos e 4.2%  do investimento) e outras atividades (17.4% do total de projetos e 17.4% do investimento)  entre as quais sobressaem as atividades de restauração e a agricultura;
  – Divulgação dos lugares e das produções: 13.2% dos  projetos e 7.2% do investimento; esta categoria inclui, sobretudo, ações  publicitárias e a realização e participação em feiras, exposições e certames;
  – Ambiente e ordenamento do território: 11% dos projetos e  13.9% do investimento; este domínio abarca especialmente as iniciativas que  visam a preservação e a valorização das paisagens e do ambiente natural, bem  como as intervenções urbanísticas (jardins, parques, arranjos de largos ou de  conjuntos urbanos)” (GEOIDEIA/IESE, op.  cit., cit. por Carvalho, 2005: 152).
      Merecem também uma referência, pelo relevo que assumiram,  os domínios da valorização do património e museologia (7.6% dos projetos e 8.4%  do investimento), bem como o do apoio a associações sociais e culturais (9.8%  dos projetos e 6,7% do investimento).
      A dimensão financeira média foi de 30.960 euros por  projeto, embora muito diferenciada, conforme os domínios em que se integra.  “Globalmente, diferenciam-se dois grandes grupos – as ações imateriais, de  dimensão relativamente reduzida, e as iniciativas materiais que envolvem  investimentos bastante superiores. Entre as segundas, destacam-se nitidamente  os projetos no âmbito do turismo rural com uma dimensão média de 13311 contos  [66.495 euros]” (GEOIDEIA/IESE, op. cit.,  36-37).
      Por seu lado os promotores repartem-se entre: autarquias  locais (27.1% dos projetos e 29.7% do investimento aprovado), com especial  destaque para a presença das Câmaras Municipais); associações sociais e  culturais (20.1% dos projetos e 12.3% do investimento aprovado); entidades  locais LEADER (15.6% dos projetos e 22.2% do investimento); promotores  individuais (17.6% dos projetos e 17.2% do investimento), com especial destaque  para os homens que representam quase 2/3 deste grupo.
  “Os dados relativos à localização geográfica dos projetos  (classificada em duas categorias principais que traduzem, de alguma forma, o  caráter mais ou menos rural dos territórios) revelam um equilíbrio numérico  entre o número de projetos situados nas freguesias sede de concelho (37.8%) e  os que se desenvolvem fora desses espaços (44.8%); os restantes projetos  tiveram lugar em várias ou na totalidade das freguesias das Zonas de  Intervenção (14.1%)” (idem: 38).
      A fase do Programa para o período 2000-2006, denominada de  LEADER+, é uma iniciativa mais ambiciosa destinada a incentivar e apoiar  estratégias integradas de alta qualidade alicerçadas na cooperação e  constituição de redes entre territórios rurais (CARVALHO, op. cit.). A  iniciativa visa incentivar a aplicação de estratégias originais de  desenvolvimento sustentável integradas e de grande qualidade cujo objeto seja a  experimentação de novas formas de valorização do património natural e cultural,  o reforço do ambiente económico, no sentido de contribuir para a criação de  postos de trabalho, e a melhoria da capacidade organizacional das respetivas  comunidades.
      Segundo estas linhas de orientação a Comissão definiu que a  iniciativa LEADER+ se articula obrigatoriamente em torno de três vetores  (eixos):
  – Vetor 1: “Estratégias territoriais de desenvolvimento  rural, integradas e de caráter piloto”;
  – Vetor 2: “Apoio à cooperação entre territórios rurais”;
  – Vetor 3: “Colocação em rede”.
      O Programa LEADER+ para Portugal – aprovado pela Comissão  Europeia em 25 de julho de 2001 – reflete, por um lado, as orientações da  Comissão e, por outro, as especificidades dos territórios rurais portugueses.  Assim foram estabelecidos objetivos específicos para a iniciativa, em função de  cada um dos vetores (eixos) – quadro 1.
Quadro 1. Objetivos específicos do PIC LEADER+ (2000-2006) em Portugal
| Vetores | Objetivos específicos | 
| 1. Estratégias | . Utilização de novos repositórios de saber-fazer | 
| territoriais de | e de novas tecnologias | 
| desenvolvimento | . Melhoria da qualidade de vida nas zonas rurais | 
| integradas e de | . Valorização dos produtos locais | 
| caráter piloto | . Salvaguarda do ambiente e da paisagem | 
| . Preservação do património e da identidade | |
| cultural dos territórios rurais | |
| . Promoção e reforço das componentes | |
| organizativas e das competências das “zonas | |
| rurais” | |
| 2. Apoio à cooperação | . Incentivar e melhorar a cooperação entre os | 
| entre territórios | territórios rurais | 
| 3. Colocação em rede | . Incrementar a informação, a troca de | 
| experiências e boas práticas, a reflexão conjunta | |
| e a concertação de pontos de vista entre os | |
| parceiros e outros atores do desenvolvimento | |
| rural | |
| . Contribuir para uma maior articulação das | |
| políticas e uma melhor aplicação dos outros | |
| instrumentos de intervenção com impacto nas | |
| “zonas rurais” | |
| . Criar condições para o estabelecimento | |
| de novas relações de cooperação | |
Fonte: Programa LEADER+. Portugal. Relatório 2001 (http://www.madrp.pt)
Para a prossecução destes objetivos foi delineada uma  estrutura de regimes de apoio constituída por medidas e submedidas. Em relação  ao Eixo 1 foram definidas quatro medidas: “Investimentos” (investimentos em  infraestruturas; apoio a atividades produtivas; outras ações materiais); “Ações  Imateriais” (formação profissional; outras ações imateriais); “Aquisição de  Competências” e “Despesas de Funcionamento dos GAL”. Por sua vez o Eixo 2  compreende duas medidas: uma, designada de “Cooperação Interterritorial”, para  a cooperação entre territórios rurais nacionais, e outra, denominada  “Cooperação Transnacional”, para a cooperação internacional entre territórios  rurais. 
  “A despesa pública total programada é de 223.638.333 euros,  repartida pelo FEOGA-Orientação – 161.6000.0000 euros (72,26%) – e por recursos  públicos nacionais – 62.038.333 (27.74%). O efeito alavanca mínimo previsto  (custo total/despesa pública) é de 1.2, como resultado de um financiamento  privado mínimo de 43.373.000 euros” (MADRP, 2002: 10). Contudo, a importância  financeira de cada um dos eixos é muito desigual. A título de exemplo, podemos  dizer que ao Eixo 1 foram afetos fundos públicos no valor de quase 192.000.000  de euros (85% do total), enquanto aos Eixos 2 e 3 foram consignados cerca de  17.300.000 euros (7.7%) e 5.600.000 euros (2,5%) das verbas públicas,  respetivamente. 
      De igual modo, a repartição dos fundos públicos por medidas  obedeceu a diferenças significativas, como acontece ao nível do Eixo 1, em que  assumem particular expressão a Medida 1. Investimentos, com quase 60% dos  fundos públicos adstritos ao Eixo, e a Medida 2. Ações Imateriais, para a qual  estão afetos cerca de 23% dos fundos públicos (Carvalho, op. cit.). 
      A implementação do LEADER+ em Portugal teve início na  segunda metade de 2001 e incidiu em particular em duas áreas fundamentais: a  seleção dos GAL, beneficiários da subvenção global no contexto dos Eixos 1 e 2,  e respetivos Planos de Desenvolvimento, e a preparação dos dispositivos, legais  e outros, para a gestão, acompanhamento e controlo da intervenção. A  elegibilidade dos territórios propostos pelos GAL obedeceu a condições  específicas1 , do  mesmo modo que foram ainda, para além dos atrás expostos, considerados outros  indicadores 2 para  fundamentar a análise da ruralidade dos referidos territórios (Carvalho, op.  cit.).
      Assim, após o processo de apresentação de candidaturas dos  GAL, que decorreu de 2 de julho a 31 de agosto de 2001, foram selecionadas 52  candidaturas (das 54 apresentadas), o que corresponde a mais quatro Entidades  Locais em relação ao LEADER II. A geografia do LEADER+ em Portugal Continental  (figura 1) revela a integração de um território até agora não abrangido pelo  Programa (com um novo GAL, a ADREPES) e a reorganização territorial de “Zonas  de Intervenção” já credenciadas na base de novas Entidades Locais: “Terras do  Baixo Guadiana”, “Alentejo XXI” e “ADL”. Através dos Planos de Desenvolvimento  Local apresentados por cada um dos GAL selecionados sabemos que os territórios  objeto de intervenção ocupam cerca de 87.5% da superfície do território  nacional, sendo que em média cada PDL tem uma área de intervenção de quase 1550  km2. A população residente nas zonas de intervenção dos GAL  aproxima-se de 3.409.000, valor que representa cerca de 32.9% do total  nacional. A população residente média por zona de intervenção é de 65.555  habitantes» (idem: 25). A partir de  diversos indicadores, como os utilizados na apreciação das candidaturas,  constata-se na generalidade dos territórios de intervenção dos GAL dinâmicas  territoriais e populacionais negativas (Carvalho, op. cit.).
      Finalmente, em 2002, após a aprovação dos PDL e a  assinatura das respetivas Convenções Locais de Financiamento (entre o Organismo  Intermédio – Direção Geral de Desenvolvimento Rural – e os Grupos de Ação  Local), teve início o arranque efetivo do LEADER+ (Eixo 1) com a implementação  do Programa junto dos territórios abrangidos pelos GAL. 
      Com base nos resultados já apurados reunidos nos relatórios  de execução anuais, até 31 de dezembro de 2006, o LEADER+ aprovou 6574 projetos  (91% referentes ao vetor 1 e 9% afetos ao vetor 2) para um investimento total  aprovado de 258.594.683 euros (95% referente ao vetor 1 e 5% ao vetor 2), com  uma média de 126.4 projetos por Entidade Local e de 39.336 euros de dimensão  média financeira por projeto.
      Centrando a análise no âmbito do vetor 1 (com 5979 projetos  e um investimento de 244.520.084 euros), constatamos o predomínio dos projetos  de caráter material em detrimento do imaterial, com a medida 1 (investimentos)  a representar 60% dos projetos e 67,1% do investimento financeiro deste vetor,  com destaque para a sub-medida 1.2 (apoio a atividades produtivas) com 26,8%  dos projetos e 38,4% do investimento. No âmbito da medida 2 (ações imateriais),  com cerca de 35% dos projetos e 18% do investimento, destaca-se a sub-medida  2.2 (outras ações imateriais) com 33,2% dos projetos e 17,2% do investimento.  Com efeito, a análise da execução financeira por sub-medidas revela que as sub-medidas  2.2 e 1.2 concentram cerca de 60% dos projetos aprovados.
De acordo com o Relatório Anual de Execução de 2006, a  distribuição dos projetos aprovados por tipologia de promotor mostra que os  Privados Coletivos assumem 21% dos projetos, os GAL 28% e a Entidade Gestora  12%. Os Privados Individuais assumem 13% dos projetos aprovados, e a  Administração Local não integrada na parceria do GAL e constituída sobretudo  por Juntas de Freguesia, assume 12% dos projetos aprovados. 
      Quanto ao investimento aprovado, segundo a mesma fonte,  verifica-se uma elevada representatividade da Parceria LEADER+, e do setor  empresarial com 29% logo seguida pelo setor associativo com 12%. No setor  empresarial destacam-se os 15% de investimento assumidos pelas Empresas e no  que diz respeito ao setor associativo 10% de investimento das associações. 
      A distribuição por sub-medida mostra que os privados  individuais e as empresas promovem cerca de 72% dos projetos da sub-medida 1.2  (quer em número quer em investimento aprovado). A Administração Local domina a  sub-medida 1.1 (infraestruturas) seja em investimento seja em número de  projetos aprovados enquanto as Associações têm primazia na sub-medida 1.3  (outras ações materiais). Para além destes projetos ambos promovem  maioritariamente investimento na medida 2.2 (outras ações imateriais).
      No que diz respeito à distribuição geográfica das  iniciativas neste vetor do LEADER+, destacam-se, na perspetiva da concentração  do número de projetos, as regiões do Alentejo (18,7%), Beira Litoral (14,4%) e  Entre Douro e Minho (12.2%), em oposição às regiões do Algarve (5,7%) e Madeira  (4,2%).
      Seguidamente, com o objetivo de  aprofundar o conhecimento sobre os efeitos territoriais e sociais do LEADER+,  apresentamos os resultados preliminares de um estudo de caso (no âmbito de um  conjunto territorial mais alargado que estamos a investigar) centrado em  ambientes de montanha.
 1  a) A população  residente não deverá exceder os 100.000 habitantes nem ser inferior a 10.000  habitantes, não sendo elegíveis os núcleos urbanos com mais de 15.000  habitantes;
        b) A densidade demográfica não deverá exceder, em geral, 120 habitantes  por km2;
        c) A relação entre a população empregada na agricultura e a população  empregada total no território proposto não deve ser inferior a 10%;
        d) A evolução da população residente nos últimos 10 anos não deve ser  superior a 05% ou o grau de ruralidade – relação entre a população dispersa ou  residente em localidades com menos de 2.000 habitantes e a população total –  deve ser igual ou superior a 50%” (MADRP, op.  cit., 15).           
 2  a) Superfície total e superfície desfavorecida;
      b) Grau de urbanização (% da população residente em lugares com 5000 ou  mais habitantes);
      c) Relação de feminilidade (relação entre o número de mulheres e o  número de homens);
      d) Índice de dependência total (relação entre a população com 0-14 anos  e com 65 ou mais anos e a população com 15-64 anos);
      e) Índice de envelhecimento (relação entre a população com 65 ou mais  anos e a população com 0-14 anos);
      f) Índice de desenvolvimento social (índice composto que integra a  esperança de vida à nascença, o nível educacional e o conforto e saneamento)” (idem: 15-16).