DESSACRALIZAÇÃO DO SAGRADO CRISTÃO EM FRIEDRICH NIETZSCHE E RUDOLF OTTO

DESSACRALIZAÇÃO DO SAGRADO CRISTÃO EM FRIEDRICH NIETZSCHE E RUDOLF OTTO

Graça Auxiliadora Nobre Lopes (CV)
Ione Vilhena Cabral (CV)
Tatiani da Silva Cardoso (CV)
Roberto Carlos Amanajás Pena (CV)

3.1 O Elemento ativo presente em todas as religiões - Numinoso

Constata-se, na obra O Sagrado, que a ordem da experiência humana com o sagrado segue do elemento irracional (ou sagrado numinoso, na expressão corrente de Otto) para o elemento racional, embora esta seqüência não implique ou signifique em derivação ou prolongamento do primeiro para o segundo, como uma extensão do elemento irracional no racional, e, sim, trata-se apenas de etapas, visto que, para Otto, o numinoso é inderivável e parte da psique humana.  Otto designou “O numinoso” como aspecto irracional do sagrado, pontuando que a intenção deste aspecto é garantir, preservar a particularidade do sagrado como categoria a priori.

“Religião é — como diz o vocábulo latino religere — uma acurada e conscienciosa observação daquilo que Rudolf Otto acertadamente chamou de "numinoso", isto é, uma existência ou um efeito dinâmico não causados por um ato arbitrário. Pelo contrário, o efeito se apodera e domina o sujeito humano, mais sua vítima do que seu criador. Qualquer que seja a sua causa, o numinoso constitui uma condição do sujeito, e é independente de sua vontade. De qualquer modo, tal como o consensus gentium, a doutrina religiosa mostra-nos invariavelmente e em toda a parte que esta condição deve estar ligada a uma causa externa ao indivíduo. O numinoso pode ser a propriedade de um objeto visível, ou o influxo de uma presença invisível, que produzem uma modificação especial na consciência. Tal é, pelo menos, a regra universal”. (JUNG, 1978, p. 9)

A experiência com numinoso é unicamente humana, onde o homem toma consciência que é uma criatura, promovendo assim, o aniquilamento do ser, ou da percepção de ser a única existência. Esta reação perante o numinoso é caracterizado como uma projeção, um reflexo do numinoso na consciência humana, por isso é definido como um estado de alma, sempre que algo é concebido como um objeto numinoso. Desta feita, Otto definiu a categoria do numinoso como algo não passivo de definição explícita, mas podendo apenas a delimitar-se a descrição do mesmo como fenômeno manifestado.  
O numinoso é o aspecto correspondente do elemento irracional e não se limita à interpretação da linguagem conceitual, fugindo de toda a conceituação racional. O numinoso está atrelado a consciência do homem, e o que conhecemos do numinoso é apenas sua manifestação. Esta pode estar atrelado a uma religião ou não. O numinoso não se manifesta como algo simples, observa-se que este expressa complexidade em sua aparição, o que Otto definiu como mistério terrível e fascinante que se apresenta em dois aspectos Tremendum e o Fascinas.