Susana Maria Pereira da Silva 
Centro de Estudos de Geografia e Ordenamento do Território 
Faculdade de Letras. Universidade de Coimbra 
Da  apreensão do conceito de desenvolvimento territorial enquanto processo complexo  e dinâmico, a reflexão centra-se hoje nos principais elementos tangíveis e/ou  intangíveis que se afiguram como estruturantes na concretização deste processo,  cuja complexidade não se dilui, antes se adensa, conforme se tornam cada vez  mais voláteis as dinâmicas dos territórios e as necessidades das sociedades que  dele se apropriam.
  A  passagem do fordismo para o pós-fordismo dá corpo a um conjunto de mutações que  há muito vinham ganhando contornos. O lazer e o tempo a ele associado  assumem-se como orientação central no quotidiano da população (SANTOS, 2005). 
  As  novas procuras têm suscitado novas ofertas e proporcionado novas práticas  turísticas que demonstram a relevância de produtos, que configuram novas  escolhas geográficas como o campo, os planos de água ou a montanha (CAVACO,  2006a; CARVALHO, 2009), na sequência de novas formas de utilizar o território  (CRAVIDÃO, 2006), e que têm influenciado a valorização de recursos culturais,  onde o património surge como recurso diferenciador dos territórios, utilizado  de forma crescente para obter vantagens comparativas entre lugares, por via de  estratégias inovadoras e na delineação de novos produtos de turismo cultural  destinados a captar segmentos específicos da procura turística (CARVALHO,  2006).
  Nesta  linha, as pressões e solicitações dos aspetos caracterizadores de cada cultura  e os seus elementos diferenciadores têm provocado a mercantilização dos bens  culturais (BARROS, 2004), nomeadamente do património, que se tem transformado  em bem de consumo turístico traduzido em tendências várias que abarcam desde o  turismo ecológico, rural, de aventura, ao religioso, de saúde e cultural, entre  outros.
  A  consciência da esgotabilidade dos recursos do planeta, tem proporcionado um  renovado olhar sobre o património natural e cultural. As questões relacionadas  com o valorizar da história no seu sentido lato, por uma sociedade mais  instruída e interessada e com vontade de investir bem o seu tempo de lazer, têm  estado em voga. 
  Estamos  perante o novo paradigma do património e do “uso cultural” da cultura que  procura “dar um lugar ao lugar” (CARVALHO, 2005; CRAVIDÃO, op. cit.), tomando o  património como argumento competitivo nas estratégias de desenvolvimento.
  Entende-se  pois a relação de proximidade entre os parâmetros em jogo, tal que “tourism  constitutes an acceptable path to development, and cultural heritage  constitutes na accepted tourist resource” (ASHWORTH, 1994: 207), onde o  turismo, encarado atualmente como um dos veículos mais importantes para as  trocas culturais (ICOMOS, 2007), trata o património como o sistema produtivo  peculiar ao qual “se incorpora continuamente culturas, gente, lugares,  comportamentos e cenários pouco conhecidos e não convencionais” (BRITTEN, 1991:  454, citado em CZERNY, 2006: 183). E é neste sentido que o turismo, como refere  COSTA (1999), se vem destacando progressivamente do caráter de frívola  indústria e de superficialidade, evidenciando cada vez mais razões e motivações  sólidas e profundas, materializadas no plano da aprendizagem cultural.
  Embora  a interpretação do património constitua, segundo CUEVAS (2003), um conceito na  moda, é tão antigo como a origem da Humanidade. Contudo, salienta-se hoje a  importância da cultura, na sua aceção mais ampla, e os itinerários culturais  desenhados em redes, que abraçam um infindável conjunto de modalidades  patrimoniais, como vias promotoras de uma imagem positiva e atrativa dos  territórios, dando a conhecer e a afirmar o produto cultural.
  É  neste sentido que novas trajetórias de desenvolvimento ganham expressão,  nomeadamente nos territórios rurais, na sequência da renovada forma de encarar  e reviver a ruralidade, num cenário mais diverso, complexo e multifuncional,  integrando expectativas e interesses ambientais, de fruição e utilização  (CAVACO, 2005). Será neste contexto que se vem (re) descobrindo o mundo rural,  uma realidade incontornável, e todas as suas potencialidades através da  atividade turística, que lhe vem conferindo alguma visibilidade e posição  privilegiada no conjunto das regiões turísticas. Assim sendo, depois de um  período em que dominaram as perspetivas produtivistas, demasiado redutoras, e  na sequência da autonomização do espaço rural em relação à agricultura, que já  não assegura a vitalidade da sociedade rural nem hegemoniza a utilização do  espaço, consolidam-se as perspetivas territorialistas, oportunamente  reconhecidas no relatório “Futuro do Mundo Rural” (1988), um dos primeiros  sinais de mudança de paradigma para o mundo rural, com a descoberta e  valorização de novas funções para estes territórios nomeadamente o lazer e o  recreio (CARVALHO e SILVA, 2010), sendo encarado agora como “guardador de  paisagens e memórias” (FIGUEREDO, 1999: 266). Muito embora o turismo não seja  novo nas áreas rurais, certo é que, as funções recreativas das mesmas se  diversificaram social e espacialmente (CAVACO, 2006a).
  Reaviva-se  o mundo rural em consequência da invenção de um novo sentido para as paisagens  e os lugares, que é alheio aos residentes, novas funções e vocações, pelos  turistas (CAVACO, 2006b). Contrariando o antagonismo de que rural e  desenvolvimento eram revestidos, identifica-se a atividade turística, há muito  considerada como um promissor vetor de desenvolvimento rural, estando inclusive  presente, hoje mais do que nunca, nos planos estratégicos delineados para estes  territórios (RIBEIRO, 2003). Contudo, muitos são os que acautelam que o turismo  não é o remédio universal e não contém a solução definitiva para os problemas  de marginalização económica e social de muitas zonas rurais, devendo ser  promovido em equilíbrio com outras atividades, dentro de um modelo integrado de  desenvolvimento rural (LEADER MAGAZINE, 1993, citada em LEAL, 2001).
  A  Iniciativa Comunitária LEADER, nas suas três fases, configura essa atmosfera de  mudança, onde através dela se procurou conferir ao rural e aos atores locais um  papel mais dinâmico, mais autónomo e com capacidades de escolha e intervenção  no seu próprio processo de desenvolvimento. Estava aberto caminho para a  consolidação do caráter multifuncional do rural sustentado pela diversidade de  recursos endógenos de que dispõe, onde o património se vem assumindo como  referência âncora no seio dessa mesma estratégia, não só no sentido da sua  valorização e divulgação, mas cada vez mais no sentido da preservação do valor  material e, tão ou mais importante que isso, do valor simbólico e culturalmente  identitário. De facto, o simbolismo do património rural sobrepõe-se ao seu real  valor económico, constituindo um espaço que instiga às memórias e às vivências,  que são de forma crescente os atrativos para o desenvolvimento de uma imagem  turística com vista a captar os segmentos de mercado emergentes.
  Para  MÍNGUEZ (2003) o território e o património cultural são eixos prioritários do  desenvolvimento local e rural. Começou-se a valorizar o território e o  património cultural a partir da última década do século XX, onde a consideração  do património territorial e cultural como recurso económico advém do  renascimento do interesse pelo mundo rural em busca de legado histórico e das singularidades  de cada espaço, e a sensibilidade da sociedade rural mudou impedindo a ruína do  património e a perda de memória coletiva através da adaptação a novos usos. 
  No  mundo rural (re) nascem modalidades de oferta turística que tomam como base os  diversos recursos endógenos, materiais e imateriais assim como a paisagem.  Referem-se o touring cultural, o golfe, o turismo gastronómico, o enoturismo, o  turismo fluvial e náutico, o turismo termal, o TER, o turismo desportivo, entre  outros que polarizam cada vez mais segmentos da procura (CAVACO, 2006a). É na  sequência das novas procuras, dos novos usos da cultura e dos vastos  patrimónios, e na necessidade de dar respostas, que surge a integração, a  associação em rede materializada na oferta de rotas turísticas, que se  pretendem requalificar através do turismo cultural.
  GUZMÁN  e CAÑIZARES (2008: 160) afirmam que “La clusterización de atividades y  atracciones, y el desarrollo de rutas turísticas, estimula la cooperación y  relación entre las diferentes empresas de las áreas rurales”. Desta forma o  turismo e a criação de rotas (diversas nos recursos base que incluem)  constituem uma alternativa para levar a cabo estratégias de desenvolvimento e  regeneração económica e social das área rurais, constituindo esta dimensão  cooperativa uma das formas organizativas com mais futuro no campo do turismo  rural pois podem adaptar-se de maneira mais rápida às exigências da procura  (MÉNDEZ e MARTÍNEZ, 2002, citados em GUZMÁN e CAÑIZARES, op. cit.).
  E é  nesta linha de pensamento que se encara o turismo organizado em diversas  modalidades de rotas, itinerários, circuitos e percursos desenhados em redes,  que articulam sítios e lugares, configuradas a várias escalas, e alcandoradas  frequentemente nos patrimónios, valores patrimoniais e culturais, como modelo  de desenvolvimento económico sustentável e integrador de determinados produtos  turísticos e territórios (ou microterritórios), e de desenvolvimento de um  sentido de pertença, capazes de dinamizar a competitividade de um território,  incrementar e melhorar a produção e proteção da cultura e melhorar as condições  de vida das populações.
O  conceito de rede está em voga mais que nunca quando estamos perante um  paradigma da valorização dos territórios não de forma isolada pois, segundo  FERNANDES (2005), os lugares hoje não podem ser percecionados como pontos  isolados, ilhas individuais sem qualquer tipo de relação, mas sim embrenhados  numa estratégia de cooperação e integração cada vez mais horizontal. 
  A  rede é encarada como uma forma de organização flexível composta por um conjunto  de nós e conexões em construção, que estabelecem constantes relações de troca e  partilha entre si, portanto que interagem e evoluem (JOHANSON e MATTSSON, 1992,  citados em CORREIA, 2005; CARVALHO, 2005).
  É  neste sistema organizativo que se encontram diversos patrimónios, agora não  apenas reduzidos ao lugar ou ao sítio mas organizados numa teia de relações que  se afiguram cada vez mais complexas. As rotas turísticas, que integram  modalidades várias de patrimónios, constituem hoje um dos principais argumentos  dos territórios. 
  Podemos  definir rota como a criação de um cluster de atividades e atrações que  incentivam a cooperação entre diferentes áreas e que servem de veículo para  estimular o desenvolvimento económico através do turismo (BRIEDENHANN e  WICKENS, 2003, citados em GUZMÁN e CAÑIZARES, op. cit.). As rotas  consubstanciam uma rede de recursos, com características e potencial turístico  e organização própria que, articulados entre si, proporcionam o produto/oferta  turística de determinados territórios (CORREIA, op. cit.). O conceito de rota  turística assume assim um caráter unificador e implica a integração de uma  série de elementos que as transformem em destino turístico.
  Crescem  de forma exponencial, em quantidade e em diversidade, as rotas e circuitos,  incluindo uma série de elementos patrimoniais, dos mais evidentes aos mais  insólitos. É caso para dizer que hoje quase tudo é motivo para organização em  rede e para a constituição de uma rota turística. Pensamento assumido por DOWER  (1997) citado em CARVALHO (op. cit.) que sublinha que diversos elementos  patrimoniais se integram facilmente em itinerários turísticos ou circuitos temáticos.
  Há,  de resto, vários exemplos documentados, a nível europeu e também nacional,  baseados em elementos tão diferentes como os vikings, fantasmas, lugares  geográficos relacionados com a literatura, caminhos de peregrinos, caminhos de  ferro a vapor, canais e vias navegáveis, o vinho, percursos da transumância,  dos contrabandistas, entre outros (GUZMÁN e CAÑIZARES, op. cit.; CARVALHO, op.  cit.; CAVACO, op. cit.).
  A  importância destas rotas e destes itinerários é hoje assumida como crucial na  integração e aproximação dos territórios e na construção de estratégias  suprarregionais e nacionais de valorização, promoção e preservação do  património, da cultura, da identidade, cada vez menos confinados à realidade  microterritorial e cada vez mais assumidos como bens universais.
  Ao  nível europeu destaque para os “Itinerários Culturais das Regiões da Europa”  que constituem desde os anos 80 um significativo impulso para a descoberta e  desenvolvimento do segmento de turismo cultural. Segundo a mais recente lista  publicada, são já 29 os “Itinerários Culturais” do Conselho da Europa divididos  em 5 grandes temáticas: Personagens Europeias, Os Caminhos de Peregrinação, A  Influência Monástica, Património Industrial na Europa e ainda nove itinerários  sem qualquer integração temática, que cruzam realidades diversas mas que têm o  mesmo objetivo, divulgar um território, um lugar a partir da sua identidade  cultural, dos seus vestígios do passado, e fazer com que seja procurado e  apreciado por turistas ativos e participativos, no presente, para que esses  valores culturais se perpetuem no futuro. 
  Turistas  que procuram a concretização das suas expectativas imaginárias e simbólicas  sobre a temática eleita, sendo movidos pela vontade, embora que simbólica e  ficcionada, de seguir as pautas musicais de Mozart (Itinerário de Mozart), as  conquistas de D. Quixote (Rota de D. Quixote), peregrinar pelos caminhos de  Santiago de Compostela (Caminhos de Santiago de Compostela), conhecer a cultura  judia (Itinerário Europeu do Património Judeu) ou a pré-história (Caminhos de  Arte Rupestre Pré-Histórica), como a única forma de se poderem transportar para  um mundo, um cenário que, em muitos casos, já somente reside no seu imaginário,  de poderem sentir como se estivessem de facto a viver, experienciar e presenciar  acontecimentos e vivências, ao tempo real das mesmas. Nesta linha, podemos  afirmar que os turistas encaram estes percursos como forma de recuperar uma  identidade cultural, uma pertença à história, que em algum momento, ou sentem  que perderam, ou somente querem (re)conhecer e dela fazer parte ativa.
  Por  cá, os últimos anos têm sido profícuos em exemplos deste tipo de organização,  tanto à escala interna (confinada somente a elementos nacionais) como a uma  escala transnacional (abrangendo não só elementos nacionais, mas  internacionais, nomeadamente europeus).
  A  nível nacional destaque para o papel do Instituto de Gestão do Património  Arquitetónico e Arqueológico que, através dos “Itinerários e Inventários  Temáticos”, tem contribuído para a implementação e divulgação deste tipo de  estruturas (CARVALHO, op. cit.), nomeadamente com os exemplos “Pontes  Históricas do Alentejo – Um Itinerário Cultural”, “Itinerários de Cister”,  “Património Industrial – Arquitetura Industrial Moderna (1925-1965) ”, “Itinerários  Arqueológicos do Alentejo e Algarve” e “Património Industrial”, que procuram  acima de tudo salvaguardar e dinamizar o património através de circuitos  turísticos interpretativos. 
  Nesta  esfera de valorização dos contextos territoriais e dos seus recursos e da  formação de redes territoriais, no âmbito principalmente do 3º Quadro  Comunitário de Apoio (2000-2006), uma referência se nos merece a constituição  da “Rota dos Escritores do século XX da Região Centro” que partiu da base  literária e ainda, os exemplos das Aldeias Vinhateiras, as Aldeias Históricas  de Portugal, as Aldeias de Água, as Aldeias com Castelo e Património, as  Aldeias de Minas, as Aldeias do Algarve e, com mais visibilidade, as Aldeias do  Xisto, um projeto de intervenção integrada com vista à requalificação de um  conjunto de 24 aldeias serranas localizadas na região Centro de Portugal. A sua  configuração em rede, “Rede de Aldeias do Xisto, liderado pela ADXTUR,  perspetivou a criação de um novo produto turístico, inovador e que se integrasse  na geografia dos destinos turísticos de uma procura exigente, sustentado pela  cooperação e integração a diversos níveis nomeadamente em estratégias de  promoção, afirmação e consolidação de uma Marca (CARVALHO, 2009).  
  Nomeadamente  a “Rede das Aldeias do Xisto” e a “Rede de Aldeias Históricas”, constituem  iniciativas que proporcionam uma nova imagem e uma atitude mais positiva em  relação às aldeias e ao mundo rural, concorrendo para relançar a autoestima das  populações e afirmação de territórios deprimidos a vários níveis (BOURA,  2002/2004).
  Para  além destas, referem-se ainda os exemplos da Rota do Minério, Rota do Azeite  (CAVACO, op. cit.), Rota dos Castelos (Castelos do Mondego, Muralhas e Torres  de Dão-Lafões, Castelos Templários), Histórias com sabor a Sal, Rota do  Românico do Vale do Sousa, Rotas dos Vinhos (Vinho Verde, Porto, Cister, Dão,  Bairrada, Beira Interior, Ribatejo, Oeste, Bucelas, Carcavelos e Colares, Costa  Azul e Alentejo), entre as rotas mais divulgadas.
  À  parte desta, cada vez mais diversa, panóplia de redes, rotas e circuitos  turísticos congregando recursos e territórios nacionais, é interessante,  contudo, constatar que esta integração de elementos patrimoniais é feita a uma  escala cada vez mais transnacional, extravasando frequentemente as fronteiras  administrativas das nacionalidades.
  Constituem  exemplo a “Rede Europeia de Turismo de Aldeia”, uma parceria constituída  inicialmente por cinco regiões – Alentejo (Portugal), Arad (Roménia), Lapónia  (Finlândia), Lomza (Polónia) e Trentino (Itália) – e às quais já se juntaram  outras cinco regiões da Grécia, Eslovénia, Bélgica e Itália (Toscânia e  Piemonte). Trata-se de um produto  turístico baseado numa rede de aldeias que oferecem serviços turísticos em  áreas como o património, ambiente e cultura tradicional, um projeto de promoção  do desenvolvimento local que utiliza o turismo como instrumento catalisador de  integração e sustentabilidade e que perspetiva o desenvolvimento do conceito de  Turismo de Aldeia, a participação ativa dos atores locais e o desenvolvimento  do conceito de Turismo do Imaginário – cultura, magia e natureza alicerçada em  temáticas como o Megalitismo (Alentejo), Bruxaria (Itália), Shamanismo  (Lapónia), Árvore da Vida (Lomza) e Lendas da Montanha (Arad). É desde 2003  apoiada pelo programa comunitário INTERREG III, e pressupõe um conjunto de  atividades das quais se destacam o desenvolvimento de Planos de Aldeia, de um  Documento Orientador para a Seleção de Aldeias, de um Plano Estratégico da Rede  e de ações de promoção e animação turística, edição de materiais promocionais e  ações de formação profissional (RODRIGUES e RODRIGUES, 2009).
  A  “Rede Europeia do Património Termal e das Cidades Termais”, um dos Itinerários  Culturais do Conselho da Europa, desde 2010, foi criada em 2005 e tem crescido  com a participação de representantes de diferentes localidades, onde as Caldas  da Rainha e S. Pedro do Sul constituem as representantes portuguesas, que  anualmente se reúnem por ocasião da Feira de Ourense. Aí apresentam as suas  experiências e estratégias, os seus avanços na área da prática termal e  sobretudo na capacitação dos seus núcleos urbanos, materializando à escala  europeia um plano de intercâmbio e potenciação do interesse económico e  cultural das cidades termais europeias. A cultura termal constitui o eixo  estruturante deste projeto (ANTUNES, 2007).
  Mais  recentemente, quatro cidades portuguesas, Aveiro, Figueira da Foz, Rio Maior e  Castro Marim, passaram a integrar a “Rota Turística Europeia de Cidades  Salineiras” juntamente com localidades de Espanha, França e Inglaterra  constituindo o traço principal do projeto “Ecosal Atlantis – Ecoturismo nas  Salinas Atlânticas”, aprovado pela União Europeia, com um investimento de três  milhões de euros e a duração de três anos (COSTA, 2010). O principal objetivo  reside no desenvolvimento conjunto, integrado e sustentável do turismo baseado  no património cultural e natural dos espaços salineiros tradicionais do  Atlântico que se articula em torno de três conceitos - chave: património,  desenvolvimento territorial e biodiversidade e turismo natural. Um projeto que  vai permitir que a “Rota do Atlântico/Sal Tradicional” saia do papel e se  transforme num circuito turístico pelos ecomuseus de sal destes quatro países,  respondendo a um objetivo global de cooperação territorial europeia, e mais  concretamente de cooperação transnacional.
  A  uma outra dimensão, a do denominado “turismo negro”, refere-se a “Rota Europeia  de Cemitérios”, também um dos Itinerários Culturais do Conselho da Europa,  desde 2010. A procura destes espaços como espaços de lazer, sobretudo por  turistas do Norte e Centro da Europa e asiáticos, ao contrário do que se possa  imaginar, e embora seja recente, tem progredido muito em Portugal, já que os  cemitérios portugueses são considerados dos mais ricos em termos de oferta de  arte romântica do século XIX (ROPIO, 2010). Os cemitérios do Prado do Repouso e  o Agramonte, no Porto, constituem os únicos representantes nacionais a fazerem  parte desta rota, onde figuram desde 2005. Fundada em 2001, congrega mais de 60  exemplares deste tipo particular de património provenientes de 22 países da  Europa e visa promover os cemitérios europeus como lugares significativos pelo  seu património cultural e como partes fundamentais da herança cultural da  humanidade, cooperar para proteger, restaurar e assegurar a manutenção dos  cemitérios e implementar o conhecimento dos cidadãos europeus sobre a  importância e significado dos cemitérios (ASCE, 2011). 
Apesar  da velocidade e da densificação dos fluxos, continuamos ligados a lugares, a  geografias e a territórios. É neste plano que se jogam também as estratégias de  desenvolvimento, este agora entendido enquanto processo de mudança e (re)  construção de novos contextos (FERNANDES, op. cit.) que se configuram em novas  lógicas de desenvolvimento bottom-up centradas nos territórios e nas suas  especificidades, onde se destaca o património e os valores patrimoniais.
  O  mundo rural, cada vez menos reduzido à produção agrícola, desenha-se como um  espaço multifuncional com inúmeros recursos passíveis de serem explorados numa  ótica de fortalecimento e inserção na realidade global competitiva, que se tem  consumado, cada vez mais através da atividade turística. O património constitui  um dos elementos diferenciadores nos percursos de desenvolvimento traçados para  o rural e a materialização do património e valores culturais em produto  turístico tem passado, de forma crescente, pela sua associação e integração em  rede.
  A  constituição de redes territoriais, que toma o património cultural como recurso  base, tem promovido a constituição de diversos itinerários que, desde o  natural, ao religioso, à música, à literatura e transversalmente, à história,  procuram conferir ao lugar um lugar e o interesse pelo próximo lugar da rede que,  através de rotas turísticas têm configurado novas formas de ler, interpretar,  turistificar e consumir patrimónios.
  As  políticas do atual período de programação e execução (2007-2013) configuram  novas e diversas oportunidades neste sentido. Destaque para o PRODER (Programa  de Desenvolvimento Rural do Continente) que, através do seu eixo 3 “Dinamização  das Zonas Rurais” e da medida 3.1. “diversificação da economia e criação de  emprego”, tem na ação “desenvolvimento de atividades turísticas e de lazer” uma  via para potenciar a valorização dos recursos endógenos dos territórios rurais,  nomeadamente ao nível da valorização dos produtos locais e do património  cultural e natural, contribuindo para o crescimento económico e criação de  emprego através do desenvolvimento de produtos turísticos, alojamento turístico  e infraestruturas de pequena escala, tais como, centros de observação da  natureza/paisagem, rotas/percursos e animação turística. E, a medida 3.2  “melhoria da qualidade de vida” através da ação “conservação e valorização do  património rural” que prevê a valorização do património rural na ótica do  interesse coletivo, enquanto fator de identidade e de atratividade do  território, tornando-o acessível a toda a comunidade, no âmbito de uma  estratégia local de desenvolvimento através da preservação do património rural  construído, da refuncionalização de edifícios de traça tradicional e da  preservação e recuperação de práticas e tradições culturais (MADRP, 2007).
  Já  o PROVERE (Programa de Valorização Económica de Recursos Endógenos), inserido  nas Estratégias de Valorização Económica de Base Territorial, é uma das  estratégias de eficiência coletiva previstas no QREN. No âmbito do PO Centro  são considerados oito PROVEREs que, baseados em princípios de parceria e de cooperação,  pretendem estimular iniciativas dos agentes económicos orientadas para a  melhoria da competitividade territorial de áreas de baixa densidade que visem  dar valor económico a recursos endógenos e tendencialmente inimitáveis do  território: recursos naturais, património histórico, saberes tradicionais,  entre outros (MAOTDR, 2007).
  Do  exposto depreendemos que este paradigma de desenvolvimento rural, que há uns  anos se vem desenhando, com base na valorização, organização, integração e  promoção dos seus recursos endógenos, nomeadamente dos seus patrimónios e  valores culturais, se vem consolidando e aproveitando os caminhos nesse  sentido. Prova disso são as oportunidades contempladas no atual quadro de  políticas públicas que configuram um crescente interesse pelos territórios de  baixa densidade, e que privilegiam mais do que nunca a cooperação e articulação  entre territórios e atores territoriais como forma de assim se promover a sua  unidade e o seu desenvolvimento em moldes sustentados e sustentáveis.
ANTUNES,  P. (2007) : “Jorge Mangorrinha escolhido delegado da Rede de Cidades Termais”. Jornal do Oeste (25/11/2007), Edição Online.
  ASCE (2011) : ASCE  Charter, Association of Significant Cemeteries in Europe – ASCE, Versão  Online.
  ASHWORTH, G. J. (1994) : “From history to heritage:  from heritage to identity: in search of concepts and models”. In ASHWORTH, G.  J.; LARKHAM, P.J. (eds.): Building a New  Heritage. Tourism, Culture and Identity in the New Europe. London,  Routledge, pp. 206-228.
  BARROS,  J.  C.   (2004) : A Projeção do Quotidiano  no Turismo e no Lazer. Lisboa, Instituto Superior da Ciências Sociais e  Políticas.
  BOURA,  I.  (2002/2004) : “Património e  mobilização das comunidades locais: das Aldeias Históricas de Portugal aos Contratos  de Aldeia”. Cadernos de Geografia,  nº21/23, Instituto de Estudos Geográficos e Centro de Estudos Geográficos,  FLUC, Coimbra, pp. 115-126.
  CARVALHO,  P. (2005) : “Território e desenvolvimento: novas matrizes em contextos rurais”.  In CAETANO, L. (coordenação): Território  e Trajetórias de Desenvolvimento. Coimbra, CEG, pp.177-191.
  CARVALHO,  P. (2006) : “Turismo cultural, património e políticas públicas em contextos  rurais de baixa densidade”. In SANTOS, G.; VIEIRA, R. e MENDES, M. (eds.): Atas do Congresso de Turismo Cultural,  Território e Identidades (29 e 30 de novembro). Leiria, Projeto de  Investigação Identidades & Diversidades do Instituto Politécnico de Leiria,  pp. 1-9.
  CARVALHO,  P. (2009) : “Planeamento, turismo e património em territórios de baixa  densidade”. Biblos (Revista da  Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra), Coimbra, Faculdade de Letras,  Vol. VII (2ª série), pp. 485-506. 
  CARVALHO,  P.; SILVA, S. (2010) : “Programas e sistemas de incentivos europeus com  incidência na atividade turística em espaço rural. O exemplo do PRIME  (Portugal, 2000-2006) ”. Atas do IV  Congresso de Estudos Rurais “Mundos Rurais em Portugal – Múltiplos Olhares,  Múltiplos Futuros”, Universidade de Aveiro, 16 pp. (edição online).
  CAVACO,  C. (2005) : “Novas formas de “habitar” os espaços rurais”, in MEDEIROS, C. A.,  (coord.): Geografia de Portugal.  Atividades Económicas e Espaço Geográfico (vol.3). Lisboa, Círculo de  Leitores, pp. 78-91.
  CAVACO,  C. (2006a) : “Regionalização do turismo em áreas rurais a partir da oferta?”.  In ALMEIDA, J. A. e SOUZA, M. de, (org.): Turismo  Rural: património, cultura e legislação. FACOS/UFSM, Universidade de Santa  Maria, 1ª edição, pp. 63-104.
  CAVACO,  C. (2006b) : “Práticas e lugares de turismo”. In FONSECA, M. L. (coord.) : Desenvolvimento e Território: Espaços Rurais  Pós-Agrícolas e Novos Lugares de Turismo e Lazer. Lisboa, Centro de Estudos  Geográficos da Universidade de Lisboa, pp. 299-361.
  CORREIA,  R. (2005) : Marketing Turístico. Uma  abordagem de rede, Tese de Mestrado em Ciências Empresariais, Faculdade de  Economia da Universidade do Porto.
  COSTA,  A. A. (1999) : “Defesa do património e desenvolvimento de turismo de  qualidade”.  Património e Turismo, Desenvolvimento e Turismo (Livro de Atas),  Ciclo de Debates 1999, Lisboa, Instituto Financeiro de Apoio ao Turismo,  pp.19-28.
  COSTA,  J. P. (2010) : “Aveiro na rota turística do Sal”. Jornal de Notícias (26/01/2010), Edição Online.
  CRAVIDÃO,  F. (2006) : “Turismo e Cultura: dos itinerários ao lugar dos lugares” in  FONSECA, M. L. (Coord.) : Desenvolvimento  e Território: Espaços Rurais Pós-Agrícolas e Novos Lugares de Turismo e Lazer.  Lisboa, Centro de Estudos Geográficos da Universidade de Lisboa, pp. 269-278.
  CUEVAS,  S. M. (2003) : “ La interpretación como comunicación turística”. Turismo y Cultura en el médio rural. Gestión  sostenible y competitiva, Atas  Formativas de Turismo Rural, nº 2, Junta de Andalucía, Consegería de  Turismo y Deporte, pp. 37-56.
  CZERNY,  M. (2006) : “Geografia de la cultura y estudios sobre el património”. In  ALMEIDA, J. A. e SOUZA, M. de, (org.): Turismo  Rural: património, cultura e legislação, FACOS/UFSM, Universidade de Santa  Maria, 1ª edição, pp. 175-185.
  FERNANDES,  J. L. (2005) : “Imagem e simbolismo dos lugares na problemática do  desenvolvimento. In CAETANO, L. (coord.): Território  e Trajetórias de Desenvolvimento. Coimbra, CEG, pp. 157-176.
  FIGUEIREDO,  Elisabete (1999): “Ambiente Rural – a utopia dos urbanos?”. Iin CAVACO, C.  (coord.): Desenvolvimento rural: desafio  e utopia. Lisboa, CEG, pp.263-279.
  GUZMÁN,  T. J. López e CAÑIZARES, S.  S. (2008):  “La creación de productos turísticos utilizando rutas enológicas”. PASOS – Revista de Turismo y Património Cultural, Vol. 6, nº 2, pp.  159-171.
  ICOMOS  (2007) : “Carta Internacional do Turismo Cultural. Gestão do turismo nos sítios  com significado patrimonial-1999”, Internacional Council on Monuments and  Sites, Tradução de ARAÚJO, António, Versão Online.
  LEAL,  C. (2001): O Turismo Rural e a União  Europeia. Uma realidade em expansão. Guia prático de investimento. Coimbra,  Livraria Almedina.
  MADRP  (2007): Programa de Desenvolvimento Rural  - Continente (2007-2013), Ministério da Agricultura, do Desenvolvimento  Rural e das Pescas.
  MAOTDR  (2007): PROVERE – das ideias à ação:  visão e parcerias, Departamento de Prospetiva, Planeamento e Relações  Internacionais, Ministério do Ambiente, do Ordenamento do Território e do  Desenvolvimento Regional.
  MÍNGUEZ,  L.A.H. (2003): “El desarrolo del turismo cultural en el médio rural de Castilla  y Léon”, in Turismo y Cultura en el médio  rural. Gestión sostenible y competitiva, Atas Formativas de Turismo Rural,  nº 2, Junta de Andalucía, Consegería de Turismo y Deporte, pp. 77-113;
  RIBEIRO,  M. (2003): “Espaços rurais como espaços turísticos: reflexões em torno da  construção da oferta de turismo em espaço rural, em Portugal”. In PORTELA, J. e  CALDAS, J. C. (orgs): Portugal Chão.  Lisboa, Celta Editora, pp. 199-215.
  RODRIGUES,  A. e RODRIGUES, A. (2009): “Turismo e Inovação em  Espaços Rurais: estudo de caso da rede europeia de turismo de aldeia”. Turismo em Análise, Vol. 20, nº1, pp. 35-47.
  ROPIO,  N. (2010): “"Cidades dos mortos" nas rotas turísticas”. Jornal de Notícias (31/10/2010), Edição  Online;
  SANTOS,  N. P. (2005): “Organização social e consumo. Práticas e lugares de consumo. O  tempo livre e o lazer”. In CAETANO, L. (coord.): Território e Trajetórias de Desenvolvimento. Coimbra, CEG, pp.  105-134;
Endereços  eletrónicos:
  •   Association of Significant Cemeteries in  Europe – ASCE: www.significantcemeteries.org/ (consulta a 03/02/2011);  
  •   Câmara Municipal do Porto: www.cm-porto.pt  (consulta a 04/02/2011);  
  •   Ecosal Atlantis: www.ecosal-atlantis.ua.pt  (consulta a 03/02/2011);  
  •   Genuineland – Rede Europeia de Turismo de  Aldeia: www.gemuineland.com (consulta a 02/02/2011);
  •   Instituto de Gestão do Património  Arquitetónico e Arqueológico: www.igespar.pt/pt/patrimonio/itinerarios/  (consulta a 02/02/2011);
  •   Instituto de Turismo de Portugal:  www.iturismo.pt (última consulta a 04/02/11);
  •   Instituto Europeu dos Itinerários Culturais  do Conselho da Europa: www.culture-routes.lu (consulta a 04/02/2011);  
  •   Internacional  Council on Monuments and Sites: www.international.icomos.org (consulta a  04/02/2011);  
  •   Jornal de Notícias: www.jn.pt (consulta a  02/02/2011);  
  •   Jornal do Oeste: www.oesteonline.pt/noticias  (consulta a 03/02/2011);  
  •   Ministério da Agricultura, do Desenvolvimento  Rural e das Pescas: www.min-agricultura.pt (consulta a 02/02/2011);  
  •   PASOS – Revista de Turismo e Património  Cultural: www.pasosonline.org (consulta a 02/02/2011);
  •   PRODER: www.proder.pt (consulta a  02/02/2011);  
  •   Quadro de Referência Estratégico Nacional  (QREN): www.qren.pt (consulta a 02/02/2011);
  •   Turismo do Centro de Portugal:  www.turismodocentro.pt (consulta a 04/02/2011);  
  •   Viniportugal: www.viniportugal.pt (consulta a  04/02/2011).  
| En eumed.net: | 
|  1647 - Investigaciones socioambientales, educativas y humanísticas para el medio rural Por: Miguel Ángel Sámano Rentería y Ramón Rivera Espinosa. (Coordinadores)  Este  libro  es  producto del  trabajo desarrollado por un grupo interdisciplinario de investigadores integrantes del Instituto de Investigaciones Socioambientales, Educativas y Humanísticas para el Medio Rural (IISEHMER).  Libro gratis | 
| 15 al 28 de febrero  | |
| Desafíos de las empresas del siglo XXI | |
| 15 al 29 de marzo  | |
| La Educación en el siglo XXI | |