PATRIMÓNIOS E LAZERES TURÍSTICOS

Paulo Carvalho. Coordenação

MUSEUS E DESENVOLVIMENTO RURAL. O CASO DO MUSEU DO PÃO (SEIA/SERRA DA ESTRELA)

Paulo Carvalho
Centro de Estudos de Geografia e Ordenamento do Território
Faculdade de Letras - Universidade de Coimbra
Marta Amado
Câmara Municipal de Seia

 

1. Nota introdutória

A renovação do panorama museológico nos últimos trinta anos reflete o alargamento das funções museológicas que passam de mera conservação para um uso social do património, com vista a um desenvolvimento da comunidade. O crescimento e a diversificação do universo patrimonial; a valorização e o papel central da paisagem enquanto matriz cultural; a abertura dos museus aos mais novos e a preocupação de os tornar espaços de fácil e didático contato com o passado; a forma dinâmica, agradável, aliciante de expor peças e materiais, com um fio condutor no percurso do visitante; a investigação da realidade cultural do território numa perspetiva de interdisciplinaridade, e o envolvimento das populações num processo conducente à sua promoção são as características mais expressivas da cisão com os cânones da museologia tradicional.
Em contexto rural, os museus podem constituir elementos fundamentais na salvaguarda, divulgação e valorização do respetivo património local, no qual se reflete e se encontra a história, a tradição e a imagem ancestral do mundo rural, onde os visitantes possam perceber como se trabalhou e viveu naqueles lugares, o que se produziu, as histórias que se contavam, as tradições das populações.
Neste sentido, os museus configuram um instrumento privilegiado de descoberta ou de reinvenção das vias e das formas de intervir no desenvolvimento, promovendo a atividade dos artesãos, a produção, a venda, a manutenção de um saber-fazer, a criação de riqueza, ou articulando-se com algumas intervenções no território, ao nível dos parques naturais, paisagens ou manutenção de equipamentos (Brito, 2004).
A análise do modo como os museus podem contribuir para revitalizar o território, melhorar a qualidade de vida dos residentes, reforçar a identidade local, captar novos visitantes e, deste modo, contribuir para o desenvolvimento local, no contexto de diversos exemplos nacionais e internacionais, será aprofundada através do estudo do Museu do Pão (Seia), um investimento privado, inaugurado em 2002 (e que recebe mais de 100 mil visitantes/ano), com a apresentação e discussão de dados cedidos pelo Museu, bem como os resultados de inquéritos por questionário e entrevistas aos visitantes (no primeiro caso recorrendo à análise fatorial de correspondências múltiplas – AFCM).

 

2. Museus e desenvolvimento em contexto rural

2.1 Funções e entidades museológicas

Como refere CARVALHO (s/d), é evidente a diversidade de realidades, independentemente da sua designação, que se enquadravam no âmbito do conceito de museu, segundo as orientações do International Council of Museums (ICOM) e dos contextos normativos nacionais e regionais (conforme os vários países).
Para o ICOM, “Um museu é uma instituição permanente, sem fins lucrativos, ao serviço da sociedade e do seu desenvolvimento, aberto ao público, e que adquire, conserva, estuda, comunica e expõe testemunhos materiais do homem e do seu meio ambiente, tendo em vista o estudo, a educação e a fruição” (ICOM Statutes, 2001, Art. 2º). Esta definição, apesar de ser considerada “a referência e a base da pluralidade das abordagens ao setor”, é acompanhada de grandes dificuldades operativas (NEVES, SANTOS e NUNES, 2008: 3).
A Lei-Quadro dos Museus Portugueses (Lei nº 47/2004, de 19 de agosto) reconhece o papel dos museus como instituições fundamentais para o desenvolvimento integral e a concretização dos direitos fundamentais da pessoa humana, instituições abertas à sociedade e instrumentos indispensáveis no domínio da fruição e criação cultural.
De acordo com o artigo 3º deste quadro normativo, o “Museu é uma instituição de caráter permanente, com ou sem personalidade jurídica, sem fins lucrativos, dotada de uma estrutura organizacional que lhe permite: a) garantir um destino unitário a um conjunto de bens culturais e valorizá-los através da investigação, incorporação, inventário, documentação, conservação, interpretação, exposição e divulgação, com objetivos científicos, educativos e lúdicos; b) facultar acesso regular ao público e fomentar a democratização da cultura, a promoção da pessoa e o desenvolvimento da sociedade”.
“Consideram-se museus as instituições, com diferentes designações, que apresentem as características e cumpram as funções museológicas previstas na presente lei para o museu, ainda que o respetivo acervo integre espécies vivas, tanto botânicas como zoológicas, testemunhos resultantes da materialização de ideias, representações de realidades existentes ou virtuais, assim como bens de património cultural imóvel, ambiental e paisagístico”.
Ainda segundo o referido diploma, “Considera-se coleção visitável o conjunto de bens culturais conservados por uma pessoa singular ou por uma pessoa coletiva, pública ou privada, exposto publicamente em instalações especialmente afetas a esse fim, mas que não reúna os meios que permitam o pleno desempenho das restantes funções museológicas que a presente lei estabelece para o museu” a saber: estudo e investigação; incorporação; inventário e documentação; conservação; segurança; interpretação e exposição; educação.
Estes dois conceitos (museu e coleção), com diferente amplitude na escala das funções museológicas, configuram situações recorrentes do panorama museológico e decorrem da dificuldade de aplicar em Portugal o conceito de museu adotado pelo ICOM. Neste domínio, importa sublinhar as funções de maior diferenciação entre as entidades que podem ser consideradas museus e as que configuram apenas coleções visitáveis, como é o estudo e investigação (“o museu promove e desenvolve atividades científicas, através do estudo e da investigação dos bens culturais nele incorporados ou incorporáveis”; o inventário (“visa a identificação e individualização de cada bem cultural” e compreende “um número de registo de inventário e uma ficha de inventário museológico”); e a educação (uma vez que o “museu desenvolve de forma sistemática programas de mediação cultural [que são articulados com as políticas públicas sectoriais respeitantes à família, juventude, apoio às pessoas com deficiência, turismo e combate à exclusão social] e atividades educativas que contribuam para o acesso ao património cultural e às manifestações culturais”, “promove a função educativa no respeito pela diversidade cultural tendo em vista a educação permanente, a participação da comunidade, o aumento e a diversificação dos públicos” e “estabelece formas regulares de colaboração e de articulação institucional com o sistema de ensino”) (Lei nº 47/2004).
Para além de outras questões jurídicas relevantes como, por exemplo, a da criação e fusão de museus (através de documento em que a entidade proponente manifesta formalmente essa intenção, “define o respetivo estatuto jurídico e compromete-se a executar o programa museológico, bem como a disponibilizar os recursos humanos e financeiros que assegurarão a respetiva sustentabilidade”) ou a da credenciação de museus (que consiste na “avaliação e no reconhecimento oficial da sua qualidade técnica” isto é a credenciação de um museu depende do preenchimento de um conjunto de requisitos designadamente o cumprimento das funções museológicas; a existência de recursos humanos, financeiros e instalações; a aprovação do regulamento do museu, e a garantia do acesso público), o diploma reconheceu também o conceito de Rede Portuguesa de Museus (“sistema organizado, baseado na adesão voluntária, configurado de forma progressiva e que visa a descentralização, a mediação, a qualificação e a cooperação entre museus” – Lei nº 47/2004), projeto iniciado em 2000, assim como definiu a sua composição (museus existentes no território nacional e credenciados nos termos da referida lei, sendo que integraram de imediato a Rede Portuguesa de Museus os museus dependentes do Ministério da Cultura, entre outros) e atividades (com base nos museus nacionais, nos museus credenciados e nos núcleos de apoio a museus de acordo com o princípio da subsidiariedade”).
A informação disponível na página web do Instituto dos Museus e da Conservação (que resultou da fusão do Instituto Português de Museus – como entidade promotora de articulação entre os museus desta rede – com o Instituto Português de Conservação e Restauro) permite afirmar que Rede Portuguesa de Museus (RPM) é atualmente constituída por 137 museus que incluem os 28 museus e os 5 Palácios tutelados pelo Instituto dos Museus e da Conservação, os 14 museus tutelados pelas Direções Regionais da Cultura dos Açores e da Madeira (que integraram a RPM por protocolo) e mais 90 museus que passaram a integrar a RPM por candidatura.
O universo dos quase 140 museus integrados na RPM reflete a diversidade de tutelas, de coleções, de espaços, de atividades educativas, de modelos de relação com as comunidades e de sistemas de gestão, entre as características mais significativas.
A distribuição geográfica revela a maior representatividade de Lisboa (cidade e região) e Porto (cidade e região) com 52 e 42 museus integrados na RPM, respetivamente (o que equivale a 75% da RPM). As regiões do Centro (10), Alentejo (9), Açores (9), Madeira (7) e Algarve (4) em conjunto perfazem 25% dos museus da RPM. A importância das cidades de Lisboa (20) e Porto (10) na RPM está relacionada com a presença de museus nacionais (no caso de Lisboa são 50% do valor referido). Os museus municipais marcam sobretudo o panorama museológico regional como acontece em particular (com maior peso relativo) no Alentejo e Algarve.
No mesmo sentido, o registo estatístico sobre os museus em Portugal acompanha a heterogeneidade deste conceito, uma vez que a realidade museológica nacional apresentada em estudos oficiais difere de forma significativa de acordo com os critérios utilizados para a caraterização dos museus, ou seja, os requisitos que as unidades museológicas (a inquirir) devem cumprir.
O “Inquérito aos Museus em Portugal”, promovido pelo Instituto Português de Museus, em colaboração com o Observatório das Atividades Culturais, revela a existência de 530 museus em funcionamento e que responderam ao Questionário aplicado no início de 1999 (a partir de um universo de 680 unidades museológicas recenseadas no Continente e Regiões Autónomas). A definição adotada para o recenseamento da realidade museológica foi a mais ampla e a unidade de registo incluiu toda a entidade autodenominada museu, sala, núcleo, secção e casa-museu, segundo a sua localização, independentemente da situação (extinto, fechado, em funcionamento ou em projeto), como referem NEVES, SANTOS e NUNES (2008: 3-4).
NEVES (2005: 2-3), com base neste estudo, a respeito da caraterização dos museus portugueses na perspetiva das suas variáveis estruturais (tutela, tipo, localização e tempo de existência), salienta os seguintes aspetos:
– Em relação à tutela, é evidente a “diversidade e importância das tutelas públicas e privadas. Os museus públicos são 60% e os restantes 40% são privados. De entre os públicos, a Administração Local representa, como se esperaria, a maior fatia com 58%; a Administração Central 37% e a Administração Regional 5%. Refira-se que dos 117 museus tutelados pela Administração Central apenas 42 (ou seja, 36%) dependem do Ministério da Cultura. Quanto aos 211 privados, 40% do total de respostas válidas como se viu, as Associações com 31%, a Igreja Católica com 19%, as Empresas privadas com14% e as Fundações com 13% são as mais importantes tutelas”.
– No que diz respeito ao tipo, “os Museus de Arte são o tipo mais frequente, 22%, os de Etnografia e Antropologia 21% e os Genéricos 18%. Somados, os museus incluídos nestes três tipos somam 61% dos museus analisados. Entretanto, o volume alcançado por estes últimos constituirá, porventura, o traço distintivo dos museus portugueses. Os museus Genéricos portugueses, assim designados por não apresentarem "uma predominância inequívoca de uma determinada coleção sobre outra" nem poderem "ser identificados por um tema particular" combinam, no seu acervo, coleções de arte, arqueologia e etnografia (69%), coleções de arte e arqueologia (21%) e coleções de arte e etnografia (10%)”.
– “Quanto à Localização por NUTS II, na região de Lisboa e Vale do Tejo situam-se 36% dos museus (188), na região Norte 24%, sendo os Açores a região com menos museus, 3% (16). Por concelhos, são 6 aqueles que apresentam as maiores concentrações: Lisboa 65, Porto 25, Funchal 15, Coimbra 15, Sintra 13 e Braga 10. Dos 305 concelhos existentes em 1998, 64% (196) não possuíam qualquer museu.
– Finalmente, relativamente à data de criação e abertura de museus – não necessariamente coincidentes (…) – o interesse por este equipamento cultural é visível a partir da década de 70, relacionando-se com a instauração do regime democrático e com a emergência do poder local democrático, acentuando-se nas décadas de 80 e 90. Nestas duas décadas foram criados 53% e abriram 58% dos 530 museus”.
NEVES, SANTOS e NUNES (2008: 4), a respeito da evolução do panorama museológico em Portugal na última década, explicam que terminado o Inquérito aos Museus, “(…) e perante a necessidade de dar continuidade ao recenseamento, reconhecida a forte tendência para a criação de novos projetos e da abertura de novos museus, e portanto constatada a rápida desatualização do levantamento realizado, havia a necessidade de criar um sistema de informação capaz de acompanhar a evolução dos museus em Portugal. É neste sentido que dá início ao Projeto Base de Dados Museus (Bdmuseus), decorrente do Protocolo estabelecido em 2000 entre o Instituto Português de Museus (IPM), o Instituto Nacional de Estatística (INE) e o Observatório das Atividades Culturais (OAC) tendo como unidade de registo todas as entidades autodenominadas museu.
Um dos objetivos dessa Bdmuseus, em permanente atualização e gerida, desde então, pelo OAC, é fornecer anualmente ao INE uma base de dados de expedição para a aplicação do seu próprio inquérito, possibilitando também a atualização do ficheiro das unidades a inquirir por este Instituto (…)”, de tal maneira que as estatísticas possam traduzir de forma fidedigna a realidade museológica de Portugal.
Contudo, os dados publicados pelo INE confirmam a supramencionada heterogeneidade. A publicação “Estatísticas da Cultura 2010” (editada em dezembro de 2011) refere que “Em 2010, foram considerados para fins estatísticos, como unidade de observação, 360 Museus, Jardins Zoológicos, Botânicos e Aquários, que registaram 13,8 milhões de visitantes e 24,6 milhões de bens no seu acervo.
Do total dos visitantes, 25,1% preferiram os Jardins Zoológicos, Botânicos e Aquários, 23,6% os Museus de Arte, 16,4% os Museus de História e 11,7% os Museus Especializados. [Museus Mistos e Pluridisciplinares, 6,3%; Museus de Ciências e de Técnica, 6,0%; Museus de Arqueologia, 4,4%; Museus de Território, 2,6%; Museus de Etnografia e Antropologia, 2,4%; e Outros Museus, 0.4%, completam a lista dos visitantes, por tipologias de museus, jardins zoológicos, botânicos e aquários, em 2010 (%)] Tomando como referência o número médio anual de visitantes (38,4 mil pessoas), verificou-se que os Jardins Zoológicos, Botânicos e Aquários foram os mais procurados, com uma média de 173,8 mil visitantes, seguidos dos Museus de História com 63 mil visitantes, em média. Os Outros Museus e os Museus de Etnografia e de Antropologia foram os que registaram menor número médio anual de visitantes, cerca de 4,9 mil e 6,8 mil, respetivamente.
Do acervo registado, 34,5% dos bens pertenciam aos Museus de Ciências e de Técnica, 13,5% aos Museus de Território e 12,1% aos Museus Especializados” (INE, 2011: 4-5).

2.2 Museus e espaços museológicos rurais

A integração dos museus nas estratégias de desenvolvimento rural decorre da abertura dos territórios rurais a novas funções (como as relacionadas com os lazeres turísticos) e novos atores (desde empreendedores a visitantes – excursionistas ou turistas) bem como da importância dos vínculos, memórias e identidades na perspetiva das relações entre a sociedade e o território (CARVALHO, 2012).
As profundas alterações económicas, sociais, culturais e políticas, sobretudo desde meados do século XX, tiveram consequências incontornáveis no espaço rural. Apesar das múltiplas ruralidades e das especificidades dos contextos e dimensões dos processos de mudança nacionais, regionais e locais, os sinais de transformação são incontornáveis: redução significativa do emprego no setor primário, mobilidade demográfica e desvitalização económica e social progressiva do meio rural (em especial nos contextos mais afastados dos espaços urbanos), despovoamento e nova organização do sistema de lugares, abandono crescente da paisagem rural na perspetiva das suas componentes funcionais, estigmas negativos e reduzida autoestima em torno do rural e dos rurais.
A este sentido e contexto geral de dificuldades, problemas estruturais e horizontes pouco animadores, é necessário contrapor algumas dinâmicas positivas relacionadas quer com iniciativas vinculadas a recursos e capitais endógenos quer com ações, capitais e fluxos urbanos que de forma pontual atenuaram ou contrariaram as referidas tendências de fundo. Os recursos patrimoniais e paisagísticos, associados a escalas de valor (económico, estético, simbólico, terapêutico, entre outros) configuram vértices de centralidade para explicar as tendências recentes em matéria de ocupação, utilização e modos de viver do e no espaço rural.
Estas transformações têm sido tema de investigação e debate designadamente entre os investigadores filiados nos estudos rurais, através de contributos científicos em áreas como, por exemplo, geografia, sociologia, etnografia, etnologia, antropologia, história económica e social, agronomia e engenharia, ao mesmo tempo que é necessário refletir sobre os desafios e oportunidades em particular no contexto de novas políticas e instrumentos capazes de implementar um verdadeiro desenvolvimento rural (que deve incluir interesses e atores na amplitude das atividades produtivas às utilizações lúdicas e recreativas).
O abandono dos campos e da paisagem rural é acompanhado de preocupações em particular no que diz respeito à salvaguarda da memória coletiva a eles ligada. Pelas palavras de BRITO (2003: 65), “quando os equipamentos e processos de trabalho deixam de ser aqueles que marcaram, ao longo de décadas, séculos mesmo, os quotidianos, eles vão-se destacando como objetos de memória e referentes, alvo de todo o tipo de intervenções que vão no sentido da sua patrimonialização”.
A ativação destes objetos (que tendo perdido a funcionalidade assumem valor de memória) enquanto património depende de critérios/filtros ideológicos e políticos de legitimação, pode ocorrer no contexto original (in situ) ou em lugares que não são os de origem (embora possam estar relacionados com a presença ou decorrer de populações com vínculos aos locais de origem ou a contextos homólogos) e valorizar a dimensão de memória uma vez que “os objetos não são entidades materiais isoladas e inertes que se esgotam em si mesmas, mas sim testemunhos da vida e da cultura em que estão inseridos” (OLIVEIRA, 1988: 3, citado em CHAMBINO, 2007: 4:), isto é apresentam biografias concretas (BRITO, 2006), tal como os territórios, e neste sentido são relevantes para os museus. Estes devem valorizar o exterior (território e memória) e sair para fora das suas paredes, ir ao encontro do contexto de génese, dos criadores e utilizadores dos objetos e das paisagens.
Os museus ajudam a reencontrar valor e a atribuir finalidade ou sentido para objetos, equipamentos, infraestruturas, saberes antigos e paisagens que perderam o seu anterior valor de uso ou deixaram de ser operativos (BRITO, 2006). O resgate de bens do anonimato, do abandono e do desconhecimento, é também condição para criar património, e assim os museus são guardiães e, ao mesmo tempo, geradores de património.
O conceito atual de património percorre o amplo espetro da natureza material: património natural e património cultural (dos edifícios monumentais às construções isoladas, estas durante muito tempo consideradas “pequeno património”: pontes, moinhos de vento ou hidráulicos, muros de pedra solta, fontenários, cruzeiros, ermidas e capelas, alminhas, mas igualmente os conjuntos de edifícios dos velhos centros urbanos, grupos de construções rurais, e os novos desafios inerentes ao património industrial, património do espetáculo, arquitetura de qualidade dos séculos XIX-XX, arquitetura vernacular, jardins), e da dimensão imaterial da cultura: língua e costumes, folclore, tradições musicais e artísticas, danças, produtos caseiros, especialidades gastronómicas, sem esquecer evidentemente o artesanato, os ofícios e os antigos saberes-fazer. Mas esta diversidade é também territorial: cada "região" possui o seu caráter próprio, uma "alma" que faz muitas vezes o orgulho dos habitantes e atrai o visitante exterior (DOWER, 1998).
O alargamento da noção de património, com a recente inclusão de preocupações relativas ao mundo rural e aos modos de salvaguardar e valorizar bens culturais (materiais e imateriais), significa que os museus, para além de recolherem e valorizarem bens raros, incorporam também bens comuns.
A renovação do panorama museológico nos últimos trinta anos reflete a componente mais dinâmica inerente ao (novo) conceito de museologia centrado na sua projeção no espaço exterior, na valorização da função educativa, na participação da comunidade – parte ativa e integrante do museu, nas palavras de MAURE (2005), numa perspetiva de proximidade para partilhar vivências e experiências, como refere MAYRAND (2007) – e comprometido com o desenvolvimento local (CARVALHO, 2002). Neste particular destaca-se o MINOM (International Movement for a New Museology), um dos grupos de trabalho do ICOM. As suas diferentes formas de expressão (museus de comunidade, museus de território, ecomuseus, museus integrais, museus de interpretação da paisagem, entre outras) contribuíram de forma decisiva para a renovação conceptual e das práticas museológicas (ou seja, das formas diferentes de atuar em museologia).
Como notou PRIMO (1999) a “Museologia Tradicional” é aquela que se exerce dentro de um edifício, com uma coleção, para um público determinado, exercendo uma função educadora (educação formal); enquanto a “Nova Museologia” é exercida dentro de um território, trabalhando o património cultural com uma comunidade participativa (Figura 1). De igual modo a prática neo-museológica envolve: o alargamento da noção de património; a valorização e o papel central da paisagem enquanto matriz cultural; a investigação da realidade cultural do território numa perspetiva de interdisciplinaridade.

As diferentes formas de expressão da museologia (das velhas às novas práticas) e sua aplicação em meio rural, através de exemplos internacionais e nacionais, permite evidenciar diversos domínios de apreensão e intervenção em relação ao património rural, designadamente as iniciativas centradas na recolha e exposição de peças e testemunhos do passado (paisagem, território e sociedade), de utensílios do quotidiano e das práticas rurais (do trabalho ao lazer), na organização e disponibilização (acesso público) do espólio de figuras relevantes do mundo rural (através das casas-museu), mas também são evidentes propostas mais ambiciosas, com espaços museológicos abertos, polinucleados, de escala supramunicipal, como alguns ecomuseus, no sentido de valorizar a paisagem, o património e a participação da população (residentes e visitantes), bem como a criação de redes temáticas, de tutelas ou locais. A utilização das novas tecnologias de informação e comunicação permite novas soluções de apresentação das coleções e até criar propostas de visita virtual (CARVALHO, 2012).
Ao mesmo tempo, é evidente a importância crescente da componente técnica de organização dos museus e programação de atividades (que está relacionada com a valorização de recursos humanos qualificados), dos serviços educativos com visitas guiadas, gerais e temáticas, a grupos escolares e outros públicos, das ações de formação, atividades lúdicas e pedagógicas, ateliers pedagógicos (por vezes mediante marcação prévia) que acompanham o movimento de criação e consolidação de museus/espaços museológicos cada vez mais diversificados (nas temáticas e tutelas). Isto significa, pelas palavras de FARIA (2011), o reforço da importância atribuída às atividades orientadas para os visitantes, com o intuito de contribuir (através da função educativa) para o conhecimento e participação da sociedade nas tarefas de salvaguarda e valorização do património, e é neste sentido que alguns museus incluem serviços de biblioteca, mediateca, internet e outros.
De igual modo, em resposta aos desafios relacionados com a sustentabilidade financeira e as mudanças sociais da pós-modernidade, os museus pretendem encontrar novas formas de relacionar com o público, captar mercados, comunicar e apresentar o espólio (ANICO, 2008), bem como procuram integrar valências complementares relacionadas com comércio e serviços, uma vez que são considerados uma atração turística e nesta perspetiva é relevante aumentar o tempo de permanência dos visitantes (cada vez mais interessados em participar e interagir), como notam GONÇALVES (2010) e MENDES (2011).
Por outro lado, é importante explicitar que o crescimento do universo museológico não pode ser dissociado de um conjunto muito amplo de políticas públicas em particular nas áreas da cultura, do património cultural e do turismo, e no caso do mundo rural, para além destas, é necessário considerar os instrumentos específicos de promoção do desenvolvimento designadamente o LEADER e o FEADER (CARVALHO, s/d).
A cultura e o património são recursos endógenos de grande valor estratégico que podem alicerçar iniciativas e dinâmicas de desenvolvimento em particular nos territórios com maior potencial (CARVALHO, 2012).
Os museus (tal como as rotas e as redes patrimoniais) são considerados fatores estruturantes em matéria de desenvolvimento local na medida em que, de forma planeada e com inovação, podem valorizar os recursos endógenos, criar valor acrescentado também com a participação da população local e, assim, promover dinâmicas locais sustentáveis.

 

3. Museu do Pão: território, estrutura museológica, visitantes e contributos para o desenvolvimento local

3.1 Dinâmicas e potencialidades territoriais

O Museu do Pão localiza-se em Seia (na vertente ocidental da Serra da Estrela). O Município de Seia (Figura 2) ocupa uma área de 436 km2 (o que corresponde a 50% da área da Sub-região da Serra da Estrela) e apresenta do ponto de vista físico, um evidente contraste entre o setor meridional e setentrional.

Assim, a sul, no limite entre as Serras da Estrela e do Açor, domina uma paisagem muito acidentada e de vertentes abruptas, com altitudes compreendidas entre 300-1100 metros, caracterizada por uma rede hidrográfica densa e de traçado muito sinuoso. Por seu turno, a norte, destaca-se a depressão tectónica designada de “Bacia de Seia”, que se estende desde o sopé da Serra da Estrela até ao Vale Médio do Mondego e que em alguns setores apresenta um abatimento de 50 metros relativamente aos níveis médios desta plataforma. Ainda na metade setentrional, a oriente, o relevo apresenta-se constituído por um conjunto de plataformas desniveladas, que traduzem a génese tectónica da Serra da Estrela, e que alcançam uma altitude máxima de 1993 metros no Planalto da Torre (AMADO, 2011).
Como sublinha AMADO (2011), a rede viária do Município de Seia encontra-se intimamente ligada aos condicionalismos físicos do próprio território, bem como da região envolvente. Uma análise atenta à morfologia do município permite observar uma distribuição bastante heterogénea dos declives, com o predomínio das classes mais elevadas, o que tem vindo a condicionar a implementação das infraestruturas viárias, bem como o seu traçado, afetando deste modo a mobilidade. Importa referir que o Município de Seia não é servido diretamente por autoestrada, nem por itinerários principais ou complementares, pelo que é apenas através da EN17 e da EN231, localizadas no setor norte do Município, que se efetua a ligação à A25, a qual, em termos regionais, liga Aveiro a Vilar Formoso. Ao nível interno verificamos uma menor densidade da rede viária no setor montanhoso, devido aos condicionalismos impostos pelos forte declives, em oposição ao setor mais aplanado, onde a densidade da rede vária é maior, garantindo uma maior mobilidade populacional.
Em relação à população residente, verificamos que entre 1981 e 2011, o Município de Seia perdeu 6705 habitantes (-21,2%), num processo que foi iniciado em meados da centúria, facto que poderá ser justificado pela mobilidade interna para os centros urbanos mais próximos e também pela emigração. Este decréscimo afeta quase todas as freguesias, embora de forma mais intensa as que estão localizadas no setor Meridional.
A distribuição espacial da população revela um padrão territorial polarizado sobretudo pelas freguesias urbanas de Seia e São Romão e pelas freguesias de Paranhos e Tourais, localizadas na metade norte do Município.
Também é evidente a crescente diminuição das classes mais jovens e o subsequente aumento das classes mais idosas, o que contribui para a crescente tendência de envelhecimento da população. O índice de envelhecimento reflete esta evolução uma vez que o total da população passou de 86,1%, em 1991, para 151,0%, em 2001 (AMADO, 2011).
No que concerne aos setores de atividade económica, e numa análise comparativa entre os anos de 1991 e 2001, é possível identificar um decréscimo dos setores primário e secundário, passando dos 11% para os 5% e dos 54% para os 45%, respetivamente. Relativamente ao setor terciário verificou-se um acréscimo bastante expressivo, passando dos 34% em 1991, para os 50% observados no ano de 2001.
“Na atualidade, a economia da Serra da Estrela continua a valorizar os mesmos recursos, os seus produtos naturais e culturais, vendendo a marca Serra da Estrela mas com vocação diferente da pastorícia de subsistência ou da era da indústria têxtil. Novamente, os produtos da fileira da ovelha e os dividendos da natureza serrana continuam a ser a âncora de todo o sistema económico (queijo Serra da Estrela, requeijão, mel, enchidos, pão de centeio, compotas, trajes e vestuário serrano, cerâmicas, vimes e cestaria, vinho, e a gastronomia constituída essencialmente pelas iguarias, caprinas e ovinas, fumados e enchidos)” (MENDES, 2011: 57).
Por outro lado, a Serra da Estrela apresenta um património geomorfológico, biológico, cultural e paisagístico único em Portugal, reconhecido através de importantes estatutos de proteção nacional e internacional. A título de exemplo, podemos referir o Parque Natural da Serra da Estrela (criado em 1976, através do Decreto-Lei nº 557/76), sendo atualmente a maior área protegida portuguesa, com uma superfície 88 850 hectares, repartida pelos concelhos de Celorico da Beira, Covilhã, Gouveia, Guarda, Manteigas e Seia.
No âmbito das estratégias de diversificação dos produtos turísticos da Estrela (ainda muito vinculados à neve) é reconhecida a relevância do touring cultural e paisagístico, como destaca o Plano Estratégico Nacional de Turismo (PENT, 2007). O crescimento da oferta museológica é parte das iniciativas alinhadas com este propósito (entre outras ações como, por exemplo, as relacionadas com as Aldeias Históricas de Portugal), como acontece em Belmonte (Museu Judaico, Museu dos Descobrimentos, Museu do Azeite e Ecomuseu do Zêzere), na Guarda (o Museu da Guarda e o Museu Estevão Martins da Rocha), na Covilhã (Museu de Lanifícios, Museu Casa do Povo da Covilhã, Museu do Queijo e Museu do Vinho), em Seia (Museu do Brinquedo, Museu Etnográfico, Museu Natural da Eletricidade e Museu do Pão), em Manteigas (Museu Municipal de Manteigas), em Gouveia (Museu da Miniatura Automóvel, Museu Municipal de Arte Moderna Abel Manta e Museu Doutor Mário Gomes Figueira), e em Celorico da Beira (Museu da Agricultura e do Queijo).
“Para além dos Museus existem também vários espaços de interpretação, exposição e visitação a monumentos ao ar livre (por exemplo, o Centro de Interpretação da Serra da Estrela, o Centro de Interpretação de Arte Rupestre de Vide, o Centro Interpretativo de Belmonte), salas de exposição de pintura e escultura pertencentes às edilidades e os monumentos megalíticos, lusitanos (castros), romanos e de outras temporalidades e estilos existentes na Serra da Estrela, o que desde logo garante uma grande e variada oferta cultural” (MENDES, 2011: 62).

3.2 Estrutura museológica e evolução do número de visitantes

O Museu do Pão (Figuras 3 e 4) encontra-se sediado na Quinta Fonte do Marão, num edifício recuperado e ampliado para o efeito, com uma área de aproximadamente 3.500m2. Esta iniciativa teve a sua génese em 1996, através de um grupo de professores e empresários com bastante interesse pela gastronomia tradicional serrana, que durante os seis anos seguintes reuniram todo o espólio e edificaram o espaço museu (AMADO, 2011).

Trata-se de um complexo museológico de entidade privada, inaugurado a 26 de setembro de 2002, dotado de quatro salas expositivas. A sala “O Ciclo do Pão” constitui o espaço que abre o percurso expositivo, na qual se recria o ciclo tradicional do pão português, desde a terra, a eira, o moinho, a casa, o forno bem como as respetivas alfaias e instrumentos utilizados. Um ciclo antigo que se revive através de 14 painéis explicativos de cada passo da produção do pão. A reconstituição de uma antiga padaria e de três moinhos em constante funcionamento são um tributo à sua importância secular, mas agora praticamente extintos.
A evolução política e social de questões relacionadas com o pão em Portugal, desde 1640 (Restauração da Independência) até 1974 (Restauração da Democracia), apresentada em cerca de 350 documentos históricos, que vão desde editais a cartas régias, de folhetos publicitários a cartazes, cartas, panfletos ou senhas alimentares, bem como o pão associado à religião, à fé: o pão místico e simbólico, são outras das mais-valias expostas neste espaço museológico (AMADO, 2011).

Na sala “A Arte do Pão” o visitante poderá observar como o pão e os seus cereais panificáveis serviram como fonte de inspiração artística, através da produção de azulejaria, cerâmica, filatelia, artes decorativas, vidro, artes gráficas, fotografia, entre outros.
Por outro lado, constitui-se como espaço lúdico-didático, com uma forte componente interativa, através da recriação do ciclo do pão e da sua feitura. Esta sala contempla ainda uma secção pedagógica dedicada aos mais novos, onde podem tocar na massa, fazer as suas formas e vê-las crescer e cozer num forno tradicional a lenha. 
O espaço museu para além da dimensão expositiva compreende um conjunto de serviços que coloca à disposição dos visitantes e da população local, nomeadamente bar-biblioteca, uma mercearia antiga, um restaurante e uma padaria. O bar-biblioteca para além de um espaço de lazer é também considerado um espaço de cultura, onde se desenvolvem frequentes atividades culturais, nomeadamente tertúlias temáticas.
Este espaço museológico é ainda considerado um local que recria as vivências e costumes das velhas mercearias de aldeia, onde se dá a conhecer os pães produzidos pelo museu, bem como os produtos locais, que fazem a alegria de quem visita.
O restaurante assume-se como um verdadeiro centro de investigação gastronómica, que redescobre e recria os sabores únicos desta terra, contribuindo de certa forma, para atração de diferentes públicos.
Trata-se de uma unidade museológica muito bem organizada, com uma grande capacidade no domínio da informação prestada aos visitantes, que pretende dar a conhecer a “História do Pão”, desde as formas de cultivo, passando pelas técnicas tradicionais de moagem, produção e distribuição, as quais se encontram em vias de extinção.
No que diz respeito à evolução anual do número de visitantes do Museu do Pão, desde 2003 a 2010 (Figura 5), observa-se um decréscimo de -19,05% dos visitantes, com a passagem dos 115190 aos 92717 visitantes. De destacar o ano de 2004 como o mais próspero para o complexo museológico, com 124514 visitantes, seguindo-se o ano de 2007 com 117700 entradas. Importa ainda referir que embora os restantes anos em análise assinalem quebras face a 2004, somente os anos mais recentes, nomeadamente 2009 e 2010 apresentam um número de visitantes inferiores aos 100 mil, respetivamente 92366 e 92717 visitantes.

Anualmente são os meses de fevereiro, março e abril que assinalam o maior número de visitantes, com um total de 34,75% dos visitantes (10,86%, 12,59% e 11,29% respetivamente), seguindo-se a estes, embora com menores quantitativos, os de agosto e dezembro com designadamente 10,27% e 8,80%. A chegada da primavera a 21 de março, a qual se caracteriza por temperaturas mais amenas face ao inverno, a que se associa a dinamização de múltiplas atividades escolares, tais como as comemorações do dia da árvore e da criança, as férias de carnaval e da páscoa, são alguns dos fatores explicativos da maior procura deste espaço museológico. No mês de agosto, a crescente procura explica-se, não só, pelo regresso temporário dos emigrantes portugueses residentes no estrangeiro, mas também, devido à preferência pela natureza, pela paisagem de muitas famílias, para desfrutar das sua férias de verão, trocando o turismo balnear pelo melhor que a montanha tem para oferecer. No que se refere ao mês de dezembro, apesar de não apresentar valores tão elevados, face aos anterior referidos, evidencia uma importante procura, facto que poderá ser justificado pela presença de neve, em associação com a celebração do natal e a passagem do ano que motiva a deslocação ao Maciço Central e, com isto, uma maior afluência ao Museu (AMADO, 2011).
Semanalmente é ao sábado e, em particular, ao domingo que a procura é maior, concentrando-se nos fins de semana cerca de 47% dos visitantes. Nos restantes dias da semana, a distribuição é bastante equitativa, recebendo este espaço museológico entre 9 e 12% dos totais anuais.
Relativamente à proveniência dos visitantes do Museu do Pão verificamos que a esmagadora maioria, com um valor percentual de 95%, é de origem nacional. Os restantes 5% são estrangeiros, maioritariamente espanhóis brasileiros, franceses, dinamarqueses e holandeses. Estes resultados perfilam-se com os obtidos por Fernandes (1998), quando procedeu à caracterização dos turistas que afluem à Serra da Estrela, considerando que, em termos de origem geográfica, se verifica o domínio avassalador do turista português.
No que concerne à classificação dos visitantes, mais de metade surge de forma individual ou em família (58%), enquanto os grupos, onde se incluem excursões e também visitas escolares, representam 35% das entradas totais, desde 2003. Importa ainda referir que 7% dos visitantes não pagam para visitar este espaço museológico, uma vez que se tratam de acompanhantes destes grupos, nomeadamente docentes e pessoal responsável destes grupos.

 

3.3 Caraterísticas e perceções dos visitantes e suas relações com o Museu do Pão e a Serra da Estrela

No sentido de perceber a expressividade do Museu do Pão a nível nacional, bem como o seu contributo para o desenvolvimento local e regional, procedeu-se à realização de um inquérito por questionário aos visitantes, cuja execução decorreu entre 1 de fevereiro a 31 de agosto de 2011, uma vez que este período corresponde a 69,01% do número total de visitantes/ano contabilizados entre 2003 e 2010 (AMADO, 2011).
A metodologia aplicada teve como base a tabela estatística de definição do tamanho da amostra de ABREU (2006), tendo como referência o fluxo de visitantes entre 2003 e 2010, que perfaz uma média de 108852 visitantes/ano. De acordo com este autor, o tamanho da amostra é determinado em função da variabilidade da característica e do grau de precisão pretendido. A variabilidade é expressa pelo Coeficiente de Variação, que relaciona o desvio padrão com a média aritmética. O grau de precisão tem duas componentes, a maior diferença aceitável (D) entre o valor estimado a partir da amostra e o valor verdadeiro da população e a medida de confiança (K) em que o valor estimado esteja dentro do intervalo representado por +/- D (utiliza-se um intervalo de confiança de 95% ou 99%). Neste caso optou-se por um valor de confiança de 95% e por um coeficiente de variação de 0,2, pelo que a dimensão da amostra deve ser de 96 indivíduos. Assim, durante o período de investigação foram inquiridos 96 indivíduos, com idades superiores a 18 anos e que se deslocaram de forma individual.
O inquérito realizado apresenta um total de 23 questões, as quais se encontram divididas em três grupos principais, a saber: 1. caracterização dos inquiridos, designadamente o sexo e a idade dos visitantes, nacionalidade, o concelho de residência, as habilitações literárias e a profissão; 2. perceção que os visitantes têm do Museu, através de um conjunto de questões relacionadas com frequência e os motivos da visita, a divulgação do Museu, bem como o grau de importância na preservação da atividade desenvolvida pelo Museu; 3. análise e avaliação da visita, que pretende dar a conhecer os espaços visitados pelos inquiridos dentro do espaço museológico, a duração da visita, a companhia do visitante, assim como as principais impressões (positivas e negativas) e, ainda, uma análise sobre os serviços prestados pelo Museu e as opiniões expressas pelos inquiridos (AMADO, 2011).
Os principais resultados do inquérito, no que diz respeito ao grupo 1, são os seguintes: 36% dos inquiridos tinham idades inferiores a 30 anos, 44% dos indivíduos apresentavam entre 30 e 49 anos, e apenas 11% apresentavam mais de 60 anos; 97% dos visitantes são de nacionalidade Portuguesa; acentuada dispersão geográfica, com cerca de 45 municípios assinalados – o maior fluxo de visitantes provém da Região Centro (63%), sendo de destacar os Municípios de Aveiro (9%) e Seia (6%) como os mais representativos; grande diversidade nas qualificações dos visitantes, embora com maior preponderância do ensino superior (54%) – o ensino secundário e o ensino básico representam 23% e 22% dos visitantes, respetivamente; a estrutura sócio-profissional revela a importância dos trabalhadores por conta de outrem, com 35% do total, seguindo-se os funcionários públicos (16%), os reformados (13%) e trabalhadores por conta própria (11%), que assim perfazem 75% das respostas dos inquiridos.
Em relação às questões do grupo 2, os resultados permitem evidenciar que 65% dos inquiridos efetuaram a visita pela primeira vez e, por conseguinte, 35% dos visitantes já conheciam o Museu do Pão (destes, 53% efetuaram a sua visita num intervalo de tempo superior a 1 ano).
Conhecer o principal destino dos inquiridos torna-se fundamental para compreender a capacidade de atração deste espaço museológico. Neste sentido, cerca de 68% dos inquiridos afirmam que apesar da passagem pelo Museu do Pão, este não foi o principal destino da sua viagem, contrapondo-se aos restantes 32% dos visitantes para quem o Museu do Pão foi o principal destino da visita. Deste modo, existem um conjunto de lugares de interesse que os visitantes planearam conhecer após a sua visita ao Museu do Pão. A Região da Serra da Estrela é o principal destino a visitar pelos inquiridos (51%), destacando-se a Torre e a Serra da Estrela, com 23% e 12%, respetivamente. Importa referir também as estruturas municipais com 39% do total, sendo de salientar o Museu do Brinquedo (19%) e o Centro de Interpretação da Serra da Estrela (CISE) com 14% como os mais representativos; a visita às Aldeias Históricas, nomeadamente Piódão (5%) e Linhares da Beira (2%), bem como a passagem pela aldeia de Folgosinho e pela vila de Manteigas, com 1,75%, cada, representam opções de visita com menor relevância. Apesar de não ser considerado o principal destino dos inquiridos, o Museu do Pão beneficia de uma excelente localização geográfica (situando-se nas imediações de um dos principais eixos de acesso ao planalto superior), constituindo uma mais-valia no escasso conjunto de ofertas culturais, a todos quanto visitam este espaço serrano.
Dos inquiridos que se deslocaram ao Museu do Pão, verificamos que 66% foram recomendados por alguém, 14% obtiveram conhecimento através de publicidade e 5% referiram a Escola, Associação ou Faculdade como principal meio de comunicação (e o valor percentual foi referido para a internet).
Relativamente aos motivos que prevalecem na escolha deste espaço museológico destaca-se a proximidade à Serra da Estrela (39%), seguindo-se a gastronomia (16%) e a atração ao turismo de neve e de paisagem (13%). Com valores menos representativos, mas ainda assim significativos, destaca-se a grande motivação em conhecer a temática que o Museu desenvolve, nomeadamente o retrato do ciclo tradicional do pão português (8%), seguindo também a ocupação do tempo (8%) e, por fim, de destacar as atividades didáticas que o Museu do Pão oferece às crianças e famílias (8%).
Na opinião de 47% dos inquiridos, o Museu do Pão contribui para a conservação de saberes e valores tradicionais que trazem valor acrescido à cidade e, ainda, reconhecimento e valorização do Museu a nível nacional e internacional (25%). De destacar ainda que 17% dos inquiridos refere que a preservação desta atividade é fundamental para as crianças e a sua preservação contribui para promover a vertente pedagógica. De facto, todo o Museu se apresenta como um espaço pedagógico de excelência, onde se pretende dar a conhecer a todos os visitantes os métodos, técnicas e utensílios na produção do pão em Portugal, bem como permitir aos mais jovens a possibilidade de interagir em todo o processo de transformação. Importa ainda referir que 11% dos visitantes destaca a importância na preservação desta atividade, na medida em que contribui para o desenvolvimento do local e divulgação dos seus produtos.
No que diz respeito à terceira parte do inquérito, cujo objetivo é caracterizar a visita, destaca-se a elevada percentagem de inquiridos que visita o Museu do Pão ao fim de semana, com 83% do total e apenas 17% surge durante a semana. Quando analisamos o tempo de duração da visita, constatamos que 36% dos visitantes permaneceu um período considerável neste espaço museológico, nomeadamente entre 30 minutos a 1 hora (36%) e entre 1 hora e 2 horas (35%) para fazer a sua visita. De igual modo, a leitura dos resultados permite afirmar que a família constitui a principal preferência do visitante no seu percurso até ao Museu, com um total de 56%, seguindo-se a companhia dos amigos, embora com expressão mais reduzida (34%).
De um conjunto alargado de espaços que o Museu do Pão oferece destacam-se as salas expositivas como lugar preferencial de passagem aquando da visita, com valores na ordem dos 90%. Com percentagens intermédias destacam-se o Bar-Biblioteca e a Mercearia, com 73% e 71%, respetivamente. A gastronomia não é de facto o principal motivo de visita a este Museu, facto comprovado com apenas 56% das visitas ao restaurante. Por fim o espaço menos frequentado pelos visitantes é a Padaria, com 51%.
Para compreendermos a relação dos visitantes com o Museu, foi nosso objetivo recolher a opinião dos inquiridos em relação ao que mais gostaram e ao que menos gostaram na sua visita. Quanto ao que mais gostaram foram referidos 58 elementos dos quais se destacam as salas expositivas (24%), as tradições (7%) e a gastronomia (6%). Os aspetos negativos durante a visita foram enunciados por apenas 22% dos visitantes, sendo as acessibilidades o principal problema enunciado, com 10% do total; o estacionamento, o exterior, a sinalética e guias que falem outras línguas são outros dos problemas assinalados pelos inquiridos.
Para além da identificação dos principais problemas e potencialidades deste espaço museológico foi nosso objetivo questionar os visitantes a respeito dos serviços prestados. A opinião dos inquiridos é unânime no sentido de considerarem que o Museu apresenta um conjunto de serviços de boa e muito boa qualidade que promovem uma maior visibilidade deste espaço. A avaliação apresentada pelos inquiridos foi boa e muita boa em praticamente todos os serviços, nomeadamente no pessoal, iluminação, limpeza, horário, segurança e tranquilidade, qualidade dos artigos da mercearia, qualidade do restaurante e instalações sanitárias. Em relação a outros serviços, tais como, estrutura do Museu, informação e explicação das salas, sinalética, divulgação do Museu e preços dos bilhetes, a avaliação reparte-se entre o razoável e o muito bom. A área na qual os visitantes demonstram um enorme desagrado refere-se aos acessos, como já foi referido anteriormente. Assim, 49% dos inquiridos refere que as acessibilidades são más, na medida em que o pavimento é irregular e o acesso ao Museu após a saída da Estrada Nacional 339 apresenta um troço muito estreito, que impede o cruzamento entre dois veículos.
O inquérito termina com uma questão importante que pretende analisar a opinião do visitante acerca deste espaço museológico. Assim, em função dados obtidos constatamos que 30% dos inquiridos refere que o Museu do Pão desenvolve um forte papel educativo e 29% indica que este espaço contribui para o desenvolvimento local. De facto estas duas opiniões complementam-se pois estas iniciativas de recuperação e revalorização das identidades locais, por um lado, transmitem conhecimentos ancestrais sobre a história local, usos, modos de vida e tradições, principalmente ao público juvenil que a partir destas iniciativas têm possibilidade de conhecer os métodos, técnicas e utensílios utilizados na produção do pão e, por outro, contribuem para o desenvolvimento local na medida em que atraem milhares de visitantes e consequentemente potencia o desenvolvimento das unidades turísticas de apoio ao turismo na cidade. Ainda, 24% dos inquiridos refere que se trata de uma instituição com grande atratividade turística, facto ligado ao concelho e à Região da Serra da Estrela.
Com percentagens inferiores, mas ainda assim merecedoras de análise, 15% dos inquiridos salienta o facto de ser uma instituição ao serviço da comunidade. O Museu do Pão constitui-se como fonte de criação de emprego, especialmente para as populações que residem nestas áreas serranas, pois a maior parte dos trabalhadores são oriundos do respetivo concelho. Por outro lado, a presença de uma pequena loja com produtos tradicionais e de um restaurante, onde se recuperam os sabores tradicionais da gastronomia serrana, permite a dinamização e o escoamento dos produtos locais, constituindo também, nestas circunstâncias, um fator de criação de emprego a montante.
Em suma, o vasto conjunto de ofertas que este espaço museológico coloca aos dispor dos visitantes e da comunidade local, contribui para o seu desenvolvimento através das atividades que proporciona, sejam elas de cariz educacional ou cultural, cria emprego, contribui para a promoção dos produtos locais e consequentemente gera fluxos de pessoas e bens, constituindo assim uma mais-valia para o tecido económico desta área serrana.
De modo geral poderemos afirmar que 51% dos inquiridos ficou muito satisfeito com a visita ao Museu do Pão, 47% ficou satisfeito e apenas uma percentagem residual de indivíduos (2%) referiu que ficou pouco satisfeito.

Por último, com o intuito de relacionar as diferentes variáveis e perceber o comportamento global dos diferentes indivíduos (face à procura deste espaço museológico, no domínio das práticas e das representações), procedemos a uma Análise Fatorial de Correspondências Múltiplas (AFCM). No que concerne à análise realizada, não foram utilizadas todas as variáveis e modalidades codificadas, utilizando-se apenas 15 variáveis num total de 75 modalidades sendo que as restantes excluídas não acrescentam diferenciação nos comportamentos dos indivíduos.
Desta classificação resultaram seis fatores (Quadro 1), sendo que o primeiro fator (que assume um valor próprio de 0,06) apresenta o maior poder explicativo, designadamente 14,28%, enquanto nos restantes fatores o poder explicativo é menor, variando entre 12,85% do fator 2 e os 5,01% do fator 6. Assim, foram considerados os primeiros 4 eixos/fatores que explicam cerca de 41% da variância acumulada, sendo que a partir do quinto eixo a informação começava a ser redundante e não diferenciadora.
O primeiro fator, que explica cerca de 14% da variância inicial e que denominamos como o grupo de “Visitantes Indiferentes”, é caracterizado por inquiridos que representam uma fatia da população inativa, em grande parte dos casos reformados e com níveis de instrução bastante baixos. Ao nível da procura turística caracterizam-se por um tipo de indivíduos que procuram uma exploração generalista e exploratória, na medida em que se deslocaram a este território para efetuarem uma visita global, estando o Museu do Pão incluído num vasto conjunto de ofertas. São indivíduos com bastante tempo disponível, que escolheram efetuar a visita ao Museu durante a semana, permanecendo neste espaço mais de duas horas, fazendo-se acompanhar de amigos e familiares, tendo obtido conhecimento deste espaço museológico através de juntas de freguesias, associações ou coletividades de apoio à terceira idade. Ao nível das representações museológicas defendem que as atividades desenvolvidas pelo Museu do Pão lhe proporcionam uma enorme projeção a nível nacional e internacional, dando ainda, oportunidade a este tipo de grupo de recordar costumes, tradições e vivências ancestrais. No que concerne à opinião que este conjunto de indivíduos lança sobre esta estrutura museológica, o reflexo dos indivíduos centra-se na adequação deste espaço a todas a faixas etárias.
O segundo fator explica menos percentagem da variância inicial (cerca de 12%) e, tendo em conta as modalidades que o integram direta e indiretamente, foi denominado como o grupo de “Visitantes Interessados”. Com efeito, apesar de ser um fator mais específico, é caracterizado por indivíduos com idades entre os 50 e os 59 anos, com habilitações ao nível do Ensino Superior, em grande parte das situações desempregados, reformados ou docentes. Os elementos que distinguem este fator do anteriormente referido prendem-se fundamentalmente com as práticas e representações da visita. Ao nível das práticas turísticas destaca-se o facto de estes indivíduos já terem efetuado, em tempos passados, uma visita ao Museu do Pão, nomeadamente num período de tempo entre 6 meses a 1 ano, continuando este espaço a constituir a principal razão da sua presença em Seia. Portanto, trata-se de um conjunto de visitantes de frequência assídua que vêm conhecer esta estrutura museológica em particular. O conhecimento prévio do Museu surge através da escola/faculdade, sendo a deslocação motivada fundamentalmente para ocupar o tempo, surgindo de forma individual ou com amigos neste espaço museológico. As preocupações pelas atividades didáticas que o Museu oferece, aliado ao seu forte papel educativo constituem no domínio das representações, elementos privilegiados por este grupo de inquiridos. Em suma, trata-se de um conjunto de indivíduos que direciona a ocupação do seu tempo livre para as práticas culturais e museológicas, dando primazia à temática desenvolvida por este espaço museológico, onde a função pedagógica assume um papel de destaque.
Com uma menor taxa de explicação (cerca de 7%) surge o eixo 3 que reflete uma realidade ainda mais específica que a anterior e que pode ser denominado por “Visitantes Lúdicos”. O presente fator reflete comportamentos de indivíduos muito jovens e, como tal, com níveis de escolaridade intermédios e em processo de prolongamento, com ocupação predominantemente estudantil. Trata-se de um grupo com estada recorrente no Museu do Pão, mas que não permanecem por um longo período de tempo, uma vez que esta população conhece os sítios/pontos de interesse do concelho, motivados para um tipo de exploração ligada ao turismo de neve e de paisagem. No geral, estamos perante um tipo de visitante que se desloca ao Município para se divertir dentro de um quadro de lazer que não engloba somente cultura. No domínio das representações deste espaço museológico constituem um tipo de visitante que reconhece o enorme poder atrativo do Museu, bem como a sua elevada expressividade a nível nacional e internacional.
O eixo 4, que explica apenas 6,33% da variância e especifica ainda mais a análise, foi denominado por “Visitantes Culturais” No fundo, integra comportamentos que se caracterizam com indivíduos em idade ativa, com habilitações no ensino básico e ensino superior, que se encontram desempregados ou a estudar. No que diz respeito às práticas turísticas trata-se de um conjunto de indivíduos com estadia recorrente no Município, sendo as principais razões apontadas para a sua movimentação a gastronomia e o património cultural, dando destaque às estruturas municipais. No geral, visitaram os pontos fulcrais da rota patrimonial da cidade, nomeadamente o Museu do Brinquedo, o Museu da Eletricidade, o Centro de Interpretação da Serra da Estrela, entre outros. Ao nível das representações museológicas trata-se de um grupo de indivíduos com forte apetência para valorizar favoravelmente o local, a sua autenticidade e características peculiares, surgindo os produtos locais como aspetos de valorização superior (AMADO, 2011).

 

4. Conclusões

Apesar das diferenças de critério que dificultam a apreensão da verdadeira dimensão do universo museológico em Portugal, é reconhecida a crescente iniciativa de criação de museus e espaços museológicos sobretudo nos últimos anos, o que decorre do alargamento dos conceitos de património e museu (e práticas museológicas), dos novos territórios do lazer lúdico e cultural, mas também dos desafios ou oportunidades emergentes das novas conceções e práticas de desenvolvimento, mais territorializado, participado e inclusivo, sobretudo em territórios com maior potencial de recursos endógenos vinculados ao património natural e cultural.
Na diversidade do mundo rural, para além de iniciativas alicerçadas em programas das áreas da cultura e do turismo, importa sublinhar o apoio de programas direcionados para o desenvolvimento rural, com vinculação ao território, património e sociedade, como as diversas fases do LEADER e o atual PRODER (no caso de Portugal), de que os museus e os espaços museológicos são parte.
Os museus, na amplitude de funções como a recolha, a salvaguarda, a valorização e a investigação de elementos de relevância cultural e natural, podem desempenhar um papel preponderante se integrados em estratégias que visem o desenvolvimento local (entendido como um processo participativo e integrado de valorização de recursos, nas dimensões território, património e população).
A localização privilegiada do Museu do Pão, num dos principais eixos de acesso ao topo da Serra da Estrela, o interesse inerente à temática, uma vez que o pão constitui um dos principais alimentos da dieta mediterrânea, aliado à multiplicidade de ações culturais que promove, às diversas atividades didático pedagógicas que fomenta, pela sua relevante contribuição no estudo da história local, ou até mesmo regional, pelos usos, modos de vida e tradições que recupera, pelas inúmeras temáticas que desenvolve em torno do pão, são alguns dos fatores que se conjugam para o enorme sucesso desta iniciativa museológica.
O visitante do Museu do Pão, de um modo geral está ciente da importância na preservação desta atividade. A maioria dos inquiridos reconhece que esta unidade museológica desenvolve um forte papel educativo e contribui para o desenvolvimento local e assim constitui uma das mais importantes estruturas dinamizadoras da área geográfica onde se insere.
Importa referir também que a Serra da Estrela têm vindo a beneficiar, em particular nestas últimas décadas, de uma revalorização do respetivo potencial ecológico e cultural, tornando-se atrativa ao nível paisagístico, ambiental, e histórico-cultural. De facto, emergem hoje “novas” vocações que, ligadas ao património natural, histórico e cultural, tendem a dinamizar estes espaços e a dotá-los de novas atratividades. Estas vocações estão ligadas, de forma crescente, às atividades turísticas nas suas múltiplas formas, que vão desde a contemplação dos elementos paisagísticos aos desportos radicais, passando pela revalorização e manutenção de atividades tradicionais.
A oferta diversificada de produtos turísticos de qualidade surge como um dos elementos chave do desenvolvimento deste local. Do ponto de vista económico, os benefícios esperados são o aumento do emprego para os residentes, o acréscimo de receitas das atividades relacionadas com o turismo, o estímulo ao aparecimento de novas empresas turísticas, promovendo e diversificando a economia local, encorajando à produção de bens e produtos locais, a melhoria da oferta de serviços e equipamentos. Os benefícios passam também pela promoção do bem-estar, pelo apoio à educação ambiental para visitantes e locais e pelo estimular do desenvolvimento e valorização da cultura.
Neste contexto de diversificação da oferta de lazer e turismo seria importante integrar os museus e espaços museológicos na cadeia de valor do turismo, uma vez que é reconhecida a importância do museu como atração turística, e encontrar novas soluções para tornar mais atrativas e dinâmicas as entidades museológicas da Serra a Estrela como, por exemplo, através da criação de redes de museus locais.

 

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1647 - Investigaciones socioambientales, educativas y humanísticas para el medio rural
Por: Miguel Ángel Sámano Rentería y Ramón Rivera Espinosa. (Coordinadores)

Este libro es producto del trabajo desarrollado por un grupo interdisciplinario de investigadores integrantes del Instituto de Investigaciones Socioambientales, Educativas y Humanísticas para el Medio Rural (IISEHMER).
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