PLANEAMENTO TURÍSTICO EM MIRANDA DO CORVO CONTRIBUTO DE UMA ANÁLISE GEOGRÁFICA

Luísa Daniela Moreira Adelino

3.1.2. A organização do espaço e as dinâmicas demográficas e geo-económicas

Ao nível histórico, em 1136 os habitantes de Miranda recebiam foral de D. Afonso Henriques, mas não directamente, tendo sido confirmado posteriormente por D. Afonso II. O concelho abrangia então vasta área, que ia quase do Ceira, perto de Coimbra, até à Ribeira de Alge, na aba Sul da Serra da Lousã, compreendendo aproximadamente as actuais freguesias de Miranda, Lamas, Vila Nova e Campelo. Contudo, sucessivas reformas iam adicionando ou subtraindo área ao total do concelho.
Actualmente Miranda do Corvo é constituída por cinco freguesias e respectivos patronos: a do Salvador, na vila, que é a matriz; a do Espírito Santo de Lamas, a de S. João, de Vila Nova, a de Santiago de Rio de Vide, e a da Senhora da Assunção de Semide. Deixou de pertencer ao concelho a freguesia da Senhora da Graça, de Campelo, que passou para Figueiró dos Vinhos, nos começos do regime liberal (www.mirandadocorvo.pt).
Miranda do Corvo poderá ter tido alguma importância em tempos remotos. Talvez com origem no Império Romano, havia uma estrada – a Estrada Real – que atravessava o concelho. Na localidade de Corvo (que se localiza junto a Miranda), existiam albergues para os viajantes poderem descansar. Na actual área histórica da vila de Miranda do Corvo existiu um hospital para receber os enfermos da viagem, sendo que os que acabavam por falecer eram enterrados junto à capela da Boa Morte, nas imediações do hospital. Até há quem admita que o nome de Miranda advenha de “Mira e anda”, local de passagem. Por outro lado há quem defenda a hipótese de que Miranda advenha de Mirandus, visto o morro do castelo (Monte do Calvário) servir de miradouro de daí se poder avistar a localidade de Corvo.
Mais tarde, sensivelmente desde o século XVII ao século XIX Miranda terá ganho uma nova importância no panorama regional, mas desta vez em termos religiosos. De facto, no Santuário da Senhora da Piedade de Tábuas realizou-se durante muitos anos uma peregrinação anual (Romaria), em honra desta Santa. Numa época mais tardia foi a vez do Santuário do Senhor da Serra, na freguesia de Semide, assumir algum protagonismo, até as aparições em Fátima terem desviado a atenção dos peregrinos para outras paragens.
De resto, o que conseguimos descobrir foi um enorme esforço encetado, essencialmente por parte da autarquia, praticamente após a queda do regime ditatorial, em dotar o concelho de infra-estruturas básicas. Contudo, tivemos a clara percepção de que a questão da afirmação em termos turísticos já era uma preocupação nessa altura (ADELINO, 2009).
A ausência de certas características que poderiam constituir importantes premissas para deter uma certa imagem forte (ao nível da história, do património, de pessoas ilustres, de iniciativas, entre outros), é um facto importante para que a imagem do concelho tenha sido fraca ao nível da região e quase inexistente no panorama nacional.
Com efeito, se fizermos uma análise do concelho verificamos que este, apesar de apresentar características de macrocefalia à escala local, Miranda do Corvo não apresenta qualquer centralidade no panorama nacional (ADELINO, 2009).
Em termos demográficos, os Censos de 1991 contabilizaram 11674 habitantes residentes em Miranda do Corvo e os Censos de 2001 contaram 13069 residentes, o que mostra que houve um aumento global de população residente no concelho. A densidade populacional é de 102,9 Hab./Km2.
De entre as cinco freguesias, a que tem maior número de população residente é a de Miranda do Corvo (nomeadamente a vila), que contava, em 2001, com 7140 residentes, cerca de metade da população de todo o concelho. A seguir encontra-se a freguesia de Semide com 2993 habitantes, Vila Nova com 1104 habitantes, Lamas com 935 habitantes e Rio de Vide, a freguesia mais pequena, com 897 habitantes (INE, 2001).
Nos dados estatísticos do INE, apenas são mencionadas ao todo pouco mais de oitenta localidades, sendo que a população residual é de pouco mais de duzentas pessoas, o que significa que há muitas localidades que têm um número de habitantes muito reduzido. Comparando os dados dos Censos que compreendem o período decorrente entre 1991 e 2001, verificamos que apesar da população residente ter aumentado, este facto regista-se essencialmente na sede de concelho, sendo poucas as localidades que tiveram um aumento efectivo da população.

Miranda do Corvo, tendo em conta a região onde se insere, foi um dos concelhos que registou um aumento gradual da sua população residente, contrariando a lógica de despovoamento que se tem vindo a constatar no território envolvente. Com efeito, comparando com os restantes municípios do Pinhal Interior Norte, verificamos que apenas um (Lousã) teve um acréscimo populacional semelhante (embora superior) ao de Miranda do Corvo. Todos os outros caracterizam-se por uma importante perda de população. Podemos explicar esta situação devido a dois factores essenciais: um deles prende-se com a proximidade à cidade de Coimbra, o outro reside na questão das acessibilidades, nomeadamente a Estrada da Beira, a proximidade com a Auto-Estrada do Norte e, por fim, o Ramal da Lousã (ferrovia) que atravessa o concelho unindo a sua sede directamente com a cidade sede de distrito, ao contrário dos percursos sinuosos das estradas (Quadro 4).

 

Quadro 4: População residente no Pinhal Interior Norte, entre 1960 e 2001, por concelho

Distribuição Geográfica

1960

1970

1981

1991

2001

Alvaiázere

13883

11299

10510

9306

8438

Ansião

17268

15258

15446

14029

13719

Arganil

19237

15747

15507

13926

13623

Castanheira de Pêra

5739

4825

5137

4442

3733

Figueiró dos Vinhos

11545

9145

8754

8012

7352

Góis

9744

6955

6434

5372

4861

Lousã

13900

12369

13020

13447

15753

Miranda do Corvo

12810

12013

12231

11674

13069

Oliveira do Hospital

26287

23525

23554

22584

22112

Pampilhosa da Serra

13372

9303

7493

5797

5220

Pedrógão Grande

8239

5131

5842

4643

4398

Penela

9438

7890

8023

6919

6594

Tábua1

15869

12441

13456

13101

12602

Vila Nova de Poiares

7518

6296

6649

6161

7061

Pinhal Interior Norte

184849

151997

152056

139413

138535

Fonte: Adaptado de CARVALHO, 2005

 

De acordo com o Anuário Estatístico da Região Centro (INE, 2009), a população residente em Miranda do Corvo, em 31 de Dezembro de 2008, mantém a tendência para aumentar (contabilizando 13755 habitantes), embora a um ritmo menor (5%) em relação ao registado no período 1991-2001 (12%).
Ao analisar a pirâmide etária de Miranda do Corvo verificamos que existe, no geral, um menor número de população com menos de vinte anos, embora haja um acréscimo de crianças com idade entre os zero e os cinco anos (Figura 7). Além disso, houve um ligeiro aumento da população com mais de cinquenta anos. Esta situação deve-se fundamentalmente ao facto de que muitas famílias que não conseguem comprar casa em Coimbra, adquirirem residência nos concelhos vizinhos, pois o preço é bastante mais baixo e há menos stress do que na cidade. Muitas das pessoas que adquirem casa nova são jovens adultos que mais tarde têm filhos e esta poderá ser uma razão válida para justificar o aumento do número de crianças com idade inferior a cinco anos.
Em relação aos sectores de actividade económica, verificamos que já em 1991 era o sector terciário que empregava cerca de metade da população do concelho que se encontrava a trabalhar, seguido pelo sector secundário e de longe pelo primário. No ano de 2001, aquando do último recenseamento geral da população, verificou-se que a tendência de terciarização da economia do concelho se agravou, sendo que aumentou a população do concelho a trabalhar no sector terciário, em detrimento do secundário e, principalmente, do primário (INE, 1991 e 2001 – Figura 8).
No que toca aos movimentos pendulares, a quantidade população residente no concelho de Miranda do Corvo a exercer actividade noutros concelhos não é negligenciável, pois aumentou de 46% (2042) em 1991, para 51% (2880) em 2001, registando assim um aumento de 4,6% (INE, 1991 e 2001;CARVALHO, 2005).
Estes factos levam a que o fenómeno dos movimentos pendulares adquira um significado bastante importante no concelho. Segundo o INE, em 2001, a importância relativa da população que entra no concelho1 é significativamente inferior à que sai do concelho2.
Desta forma, Miranda do Corvo apresenta uma importância interacção concelhia3 essencialmente com Coimbra, uma vez que é aí que se localizam os serviços centrais de saúde, instituições de ensino superior e muitos estabelecimentos comerciais e de serviços com maior grau de especialização e, com expressão muito mais modesta, com a Lousã.
Esta situação reforça a importância das acessibilidades para a fixação da população e para a concretização dos movimentos pendulares diários o que, por sua vez, leva-nos a concluir que uma das principais funções do concelho de Miranda do Corvo prende-se com a função dormitório.


1 Importância relativa da população que entra no concelho = (população que trabalha ou estuda na unidade territorial residindo noutra unidade territorial/população residente presente na unidade territorial)*100.

2 Importância relativa da população que sai do concelho = (população que trabalha ou estuda noutra unidade territorial residindo na unidade territorial/população residente presente na unidade territorial)*100.

3 Interacção concelhia = Importância relativa da população que entra no concelho + Importância relativa da população que sai do concelho.

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