Em Portugal, a organização e venda de actividades recreativas, desportivas ou culturais, em meio natural ou em instalações fixas, de carácter lúdico, com interesse turístico para a região onde se desenvolvam é uma actividade própria das empresas de animação turística1 (Tovar, 2010).
Os passeios pedestres enquadram-se neste tipo de actividades e a sua organização, com fins comerciais, é feita principalmente pelas empresas de animação turística. De acordo com o quadro legal que estabelece as condições de acesso e de exercício da actividade das empresas de animação turística, também é permitida a organização de programas de passeio pedestre pelas agências de viagens e empreendimentos turísticos, desde que previsto no seu objecto e cumpram o mesmo tipo de condições exigidas às empresas de animação turística, nomeadamente em termos de seguros obrigatórios de acidentes pessoais e de responsabilidade civil2.
O Turismo de Portugal, mantém um registo das empresas de animação turística e agências de viagens, licenciadas, existentes em Portugal. Os dados disponíveis on-line3, permitem efectuar pesquisa por tipo de actividade. As expressões de pesquisa “Passeio Pedestre” ou “Percurso Pedestre”, geram uma resposta com 161 empresas, registadas como organizadoras de programas de passeio pedestre (agências de viagens e empresas de animação turística), distribuídas da seguinte forma pelas sete regiões do país: Norte (26%), Lisboa e Vale do Tejo (24%), Centro (14%), Madeira (10%), Açores (10%), Alentejo (9%) e Algarve (7%), de acordo com Tovar (2010).
A distribuição geográfica das empresas não permite tirar conclusões sobre os locais onde se realizam os passeios. Para tal, e com recurso à internet, foram analisados os programas, disponíveis online, destas empresas (Tovar, 2010). Segundo a THR (2006), em Portugal, 98% das empresas que operam no sector do turismo de natureza, promovem a sua oferta através da internet. Se bem que a grande maioria das empresas tenha presença na internet, das 161 empresas inventariadas, apenas 62 empresas apresentam on-line programas de passeio pedestre.
Os programas de passeio pedestre apresentados, num total de 487, são mais ou menos específicos, consoante as empresas. No geral, apresentam o destino, a duração e a modalidade de alojamento e refeições (quadro 1). Foram considerados todos os tipos de programas, desde que a componente principal fosse o passeio pedestre.
Quadro 1. Exemplo de um programa de turismo de passeio pedestre |
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Tipo de Actividade: Passeio pedestre com guia |
|
Dia 1 |
Dia 2 |
Idade mínima/máxima: 14/65; Mínimo de inscrições: 4 pessoas |
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Preço: €150,00/pessoa |
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Fonte: Waypoint – Animação Turística e Eventos, Lda. (2010)4 |
A organização de passeios pedestres em Portugal não é exclusiva das empresas portuguesas, também operadores estrangeiros organizam este tipo de programas no nosso país. Numa pesquisa, feita na internet a um conjunto de operadores turísticos, seleccionados por pesquisa no motor de busca Google, inserindo as expressões “walking holidays Portugal” e “walk in Portugal”5, os resultados revelaram que existe um importante conjunto de operadores que vendem férias de passeio pedestre em Portugal, essencialmente produtos que, pela forma como são apresentados, apelando à beleza da paisagem e riqueza natural, se enquadram na esfera do turismo de natureza (Tovar, 2010).
Da pesquisa efectuada, que apresenta um carácter exploratório, e reconhecendo que foi dada, pelo critério de busca utilizando expressões em língua inglesa, primazia aos operadores que se dirigem ao público anglófono, foram encontrados 23 operadores, do Reino Unido, Estados Unidos da América e Austrália, com oferta de 104 programas de férias de passeio pedestre em Portugal. Destes programas, alguns são calendarizados, outros são programas menos detalhados, com data a definir pelo cliente, dentro de um determinado período do ano. Tal como para os operadores portugueses, consideraram-se apenas os programas que têm o passeio pedestre como componente principal, excluindo-se os programas multi-actividades.6
Considerando a totalidade dos programas oferecidos (quase seis centenas) pelos operadores portugueses e estrangeiros é possível identificar particularidades no que concerne à duração, aos serviços incluídos e ao destino.
Os programas de passeio pedestre analisados têm duração variável, encontrando-se com maior frequência programas com duração de vários dias nos operadores estrangeiros (neste universo, a duração não foi inferior a 4 dias) e programas com duração inferior, frequentemente de um dia apenas, nos operadores portugueses (representando 83,6% do total deste universo).
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Quadro 2. Duração dos programas de turismo de passeio pedestre em Portugal, por região |
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|||||||||
Região |
|
Duração dos programas, em dias |
Nº Programas |
|||||||||
1 |
2 e 3 |
4 a 6 |
7 e 8 |
9 e 10 |
>=11 |
TOTAL |
% 1 dia* |
% > 1 dia** |
||||
Açores |
20 |
1 |
1 |
6 |
0 |
4 |
32 |
5% |
7% |
|||
Alentejo |
37 |
5 |
1 |
18 |
0 |
2 |
63 |
9% |
14% |
|||
Algarve |
8 |
4 |
1 |
19 |
0 |
1 |
33 |
2% |
14% |
|||
Centro |
57 |
19 |
1 |
6 |
0 |
0 |
83 |
14% |
14% |
|||
Lisboa |
130 |
1 |
4 |
0 |
0 |
0 |
135 |
32% |
3% |
|||
Madeira |
65 |
1 |
1 |
26 |
3 |
2 |
98 |
16% |
18% |
|||
Norte |
90 |
26 |
7 |
21 |
0 |
2 |
146 |
22% |
30% |
|||
TOTAL |
407 |
57 |
16 |
96 |
3 |
11 |
590 |
100% |
100% |
|||
Fonte: Tovar, 2010 |
Para o conjunto em estudo, os programas de 1 dia (que representam 69% do total), consistem, geralmente, num passeio pedestre guiado, temático ou não, e os programas de 2 ou mais dias (31% do total) apresentam-se nas diferentes modalidades de férias de passeio pedestre: férias com tudo incluído, férias auto-guiadas, férias itinerantes ou férias centradas num alojamento. Há programas que incluem o transporte para o destino – a viagem de avião, no caso de operadores estrangeiros – outros que apenas incluem os serviços no destino. Há diferentes tipologias de alojamento utilizadas e também diferentes modalidades no que diz respeito às refeições.
O quadro 2 mostra que a oferta de programas de turismo de passeio pedestre cobre a totalidade do território nacional. A região de Lisboa apresenta um número muito significativo de programas de 1 dia mas perde importância como destino de turismo de passeio pedestre quando se consideram os programas de duração superior. Considerando apenas os programas de 2 ou mais dias de duração, verifica-se que as regiões mais importantes são o Norte (30%), a Madeira (18%) e as regiões Centro, Alentejo e Algarve (14%) – (Tovar, 2010). Neste universo, a região dos Açores, embora com menor número de programas que as regiões mencionadas, é a região que apresenta maior número de programas com duração superior a 11 dias. Estes incluem a visita a mais que uma ilha do arquipélago. Ainda no que concerne aos programas com duração superior a 1 dia, os programas de passeio pedestre de 1 semana (7 ou 8 dias) são os mais frequentes, em Portugal, seguindo-se os programas de fim-de-semana ou fim-de-semana alargado, com 2 a 6 dias de duração.
Observando a duração dos programas em cada uma das regiões destino (quadro 2), podem classificar-se os destinos, de acordo com a duração mais frequente dos programas que acolhem:
– Os Açores, Alentejo, Algarve e Madeira são destinos de programas de 7/8 dias;
– O Centro é destino de programas de 2/3 dias;
– O Norte é destino de programas de 2/3 dias e 7/8 dias;
– Lisboa apresenta um número residual de programas com mais que 1 dia de duração, sendo os mais frequentes os de 4 a 6 dias.
Em cada uma das 7 grandes regiões (Açores, Alentejo, Algarve, Centro, Lisboa, Madeira e Norte) é possível identificar destinos mais específicos, que constam com maior frequência nos programas de turismo de passeio pedestre (quadro 3). Nesta análise consideram-se todos os programas, incluindo os que têm a duração de 1 dia (TOVAR, 2010).
Dos programas analisados, para a região dos Açores, grande parte (36%) não menciona o local exacto onde se desenvolvem. 35% têm a ilha de S. Miguel como destino e 23% a ilha do Pico, onde têm relevância os programas de subida ao ponto mais alto de Portugal. Em “outros” destacam-se os programas que envolvem várias ilhas, programas no Faial e na ilha de S. Jorge (quadro 3).
No Alentejo, a preferência dos operadores é a Costa Alentejana (38%), desde Grândola até Odeceixe, integrando a área do Parque Natural do Sudoeste Alentejano e Costa Vicentina. A área do Parque Natural da Serra de São Mamede (11%) é também um importante destino de turismo de passeio pedestre, na região Alentejo. Em “outros” (11%), encontram-se programas no vale do Guadiana e Mértola, Monsaraz, Serra de Ossa e Estuário do Sado (quadro 3).
Os programas de turismo de passeio pedestre no Algarve, apresentam-se para os destinos Algarve (46%), de forma genérica, Monchique (20%), ou Serra de Monchique, e Costa Vicentina (20%) (quadro 3).
A região Centro apresenta grande fragmentação de destinos de passeio pedestre, muito poucos se identificando por “Centro”. Destinos como Aldeias do Xisto e Serra da Lousã (29%), Parque Natural da Serra da Estrela (26%) ou Aldeias Históricas (11%), são de grande importância. Em “Outros” (33%) inclui-se grande variedade de destinos como vale do Ceira, Oliveira do Hospital, Serra do Açor, Serra do Caramulo, Serra da Gardunha, Serra de Sicó, etc. A região apresenta uma importante área de montanhas que se estende de Nordeste para Sudoeste e integra as serras da Estrela, Gardunha, Açor, Lousã e Sicó, com áreas pouco exploradas, que constituem destinos quase exclusivos do rol de ofertas das empresas de animação turística locais (quadro 3).
Os operadores estrangeiros têm uma actuação muito reduzida nesta região. Foram encontrados apenas 2 programas, com duração de 8 dias, em Belmonte.
Quadro 3. Principais destinos de turismo de passeio pedestre nos programas consultados, por região |
|||||
Açores |
Algarve |
Lisboa |
|||
Açores |
36% |
Algarve |
46% |
Lisboa |
7% |
Pico |
23% |
C. Vicentina |
20% |
PNSA |
30% |
S. Miguel |
35% |
Monchique |
20% |
PNSC |
38% |
Outros |
6% |
Outros |
14% |
Outros |
25% |
Alentejo |
Centro |
Norte |
|||
Alentejo |
32% |
Centro |
1% |
Norte |
6% |
PNSSM |
11% |
PNSE |
26% |
PNPG |
34% |
Évora |
8% |
Aldeias Históricas |
11% |
Douro |
15% |
Costa Alentejana |
38% |
Aldeias do Xisto e Serra da Lousã |
29% |
Serra d’Arga |
5% |
Outros |
11% |
Outros |
33% |
Outros |
40% |
Fonte: TOVAR (2010) |
Essencialmente destino de programas de 1 dia, a região de Lisboa apresenta duas áreas privilegiadas para a realização de passeios pedestres: o Parque Natural da Serra da Arrábida (30%) e o Parque Natural Sintra-Cascais (38%). Outros destinos, nesta região (25%), são a Tapada de Mafra, Serra de Montejunto, Serras d’Aire e Candeeiros, Costa da Caparica, Sesimbra e estuário do Tejo. A cidade de Lisboa não ultrapassa 7% do total (quadro 3).
A região Norte é a única região do país que integra um Parque Nacional – o Parque Nacional da Peneda-Gerês (PNPG) – que representa, segundo os programas analisados, uma das mais importantes áreas (34%) (quadro 3), em Portugal, para a prática de pedestrianismo. No contexto nacional, em números absolutos, é o 2º destino de passeio pedestre mais importante de Portugal continental, sendo apenas superado pelo Parque Natural de Sintra-Cascais. O Douro (15%) é também um importante destino de turismo de passeio pedestre, no Norte de Portugal. Esta sub-região apresenta importância relevante nos programas dos operadores estrangeiros e assume a posição de destino mais importante, no Norte de Portugal, quando se consideram apenas os programas com 2 ou mais dias. Em “Outros” (40%), encontram-se destinos como a Serra da Freita, Serra d’Arga, Vale do Lima, Viana do Castelo, Parque Natural de Montesinho, entre outros (quadro 3).
A região da Madeira aparece, em grande parte dos programas, como destino em si. Os programas, de uma forma genérica, referem “Madeira” ou “Levadas da Madeira”. Assim, no caso desta região, não são considerados diferentes destinos mais específicos.
De acordo com o exposto, pode concluir-se que para todas as regiões de Portugal existe oferta de programas de turismo de passeio pedestre. Abordando destinos mais específicos, destacam-se as áreas protegidas (parque nacional e parques naturais), em todas as regiões do país, o Douro, no Norte, e as Aldeias Históricas e Aldeias do Xisto, no Centro (TOVAR, 2010).
Estes três últimos destinos, e particularmente o destino Aldeias do Xisto, são destinos que se afirmam pela cuidada revitalização do património construído de micro-territórios de baixa densidade, para fins turísticos, e que integram interessantes elementos culturais e paisagísticos. Os percursos pedestres são assumidos como factor de inovação e parte integrante do produto turístico a desenvolver.
1 Decreto-Lei 108/2009, de 15 de Maio, nº. 1, Artigo 3º.
2 Decreto-Lei 108/2009, de 15 de Maio, nº. 3, Artigo 5º.
4http://www.walkinportugal.com/index.php?option=com_content&view=article&id=84&lang=pt, 22-2-2010.
5 As pesquisas foram efectuadas entre os dias 30-10-2009 e 5-11-2009.
6 Os programas multi-actividades são aqueles que incluem um conjunto diverso de actividades. Um exemplo poderá ser: fim-de-semana no rio Paiva – 1º dia: descida de rafting e tiro com arco; 2º dia: passeio pedestre e escalada.
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