TURISMO E DESENVOLVIMENTO ESTUDOS DE CASO NO CENTRO DE PORTUGAL

Paulo Carvalho

2. O turismo e o lazer no contexto da multifuncionalidade das estâncias termais

O uso das águas termais para fins de saúde é uma tradição milenar, assim como é antiga a componente de saúde no turismo. Neste âmbito, o termalismo, actividade de carácter turístico, para além de alicerçada na cura termal, inclui cada vez mais a vertente preventiva para além da possibilidade de se usufruir de actividades lúdicas e turísticas, aproximando-se do turismo termal, que pressupõe já o usufruto de toda a estância termal. Desta forma, os consumidores que, não tomando a cura e efeitos terapêuticos das águas como motivação central, encaram as termas muito para além disso, como destinos de lazer, de férias, de ócios, o que os torna mais turistas do que propriamente aquistas/termalistas. O turismo termal envolve fluxos mais complexos em termos de motivações onde a motivação de férias ganha destaque e a actividade de turismo e lazer predomina, em muitas situações, sobre a curativa (Cavaco et al., 2008).
As estâncias termais, numa linha de mudança de paradigma alicerçada na revitalização e redinamização, com origens em meados do século XX, procuram captar novos segmentos de mercado, desenvolvendo e promovendo produtos e novas modalidades de tratamento como forma de diferenciarem o produto, que sejam mais próximas das tendências e necessidades de consumo dos actuais clientes (Olivares et al., 2004), que deixaram de se preocupar apenas com a sua saúde para se preocuparem também com o seu bem-estar, forma física e aparência. Para tal contribuiu a alteração do conceito de saúde, considerada pela Organização Mundial de Saúde como um estado de bem-estar total, físico, mental e social (Fernandes, 2006).
O termalismo clássico, apologista da doença e da cura, é preterido em função do termalismo moderno assente numa matriz de prevenção e bem-estar onde a oferta está vocacionada para segmentos de mercado com motivações terapêuticas, lúdicas e turísticas (Ramos, 2005). Motivações que dilatam o âmbito do turismo de saúde alargando-o ao de bem-estar, assim como o seu mercado potencial (Cavaco et al., 2008). Entende-se desta forma que o termalismo não se trata apenas de uma tendência mas uma actividade milenar, que hoje se apresenta de forma renovada (Inédia, 2009), práticas que têm sido redescobertas, renovadas e integradas para criar uma nova indústria global (Magdalini et al., 2009), podendo-se falar numa “nova era do termalismo”, o “turismo de saúde e bem-estar”.
O conceito e produto são relativamente recentes (inícios da década de 80), mas trata-se de uma dimensão bem mais ampla e diversa que o termalismo e o turismo termal, pois abrange ofertas não termais, outro tipo de serviços e programas, associada também à oferta de actividades lúdicas que tem como objectivos fundamentais a satisfação de cuidados profilácticos de saúde (medicina preventiva), a prestação de serviços terapêuticos (medicina curativa) e a realização de tratamentos de recuperação (medicina de reabilitação) (Fernandes et al., 2008).
O turismo de saúde e bem-estar emerge como um fenómeno global e constitui uma das áreas mais florescentes da actividade turística mundial, muito particularmente no espaço termal europeu e nacional ao afirmar-se como um promissor segmento de turismo que, de certa forma, tem conferido um novo fôlego à dinâmica termal, apresentado taxas de progressão rápidas pela procura em expansão podendo constituir-se como um importante e competitivo segmento turístico (Cavaco et al., 2008), se se pautar por princípios de qualidade e diferenciação de serviços e actividades de saúde e bem-estar, aspectos considerados como os factores competitivos decisivos na resposta à competição internacional e como o melhor caminho para satisfazer as expectativas dos clientes (Mueller et al., 2001).
Esta situação é corroborada através dos dados disponíveis para o contexto português. A frequência do termalismo clássico, embora ainda dominante (em 2009 representava cerca de 69%) tem vindo a diminuir, tendo perdido cerca de 29% de clientes nos últimos anos (2002-2009), a favor do termalismo de saúde e bem-estar que representa já, em 2009, cerca de 31% da procura, uma subida significativa quando comparada com 2002 onde representava pouco mais de 1% (Tp, 2009; Tp, 2010).
O aumento de competitividade do sector termal passa por ultrapassar o conceito tradicional que reduz o balneário a um centro de saúde, e alargar-se a outro tipo de produtos complementares à actividade termal (Vargas et al., 2002). Uma atitude que se vem desenvolvendo nas estâncias termais, um pouco por toda a Europa, que têm encontrado na valência da saúde e bem-estar aliada à componente turística, uma oportunidade de mudança de paradigma na revitalização e desenvolvimento destes espaços.
São vários os casos em que este produto já não se reduz exclusivamente ao termalismo clássico integrando esta valência com uma oferta diversificada de programas e serviços de saúde e bem-estar, às quais se tem conjugado uma oferta mais lúdica, nomeadamente uma aposta em produtos mistos onde é forte a componente turística (Palma, 2006). Na Alemanha, Hungria e República Checa existem os passeios de balão, na Áustria há um Spa especial para crianças e bebés, um Jurássico Parque assim como na França que dispõe de grutas de espeleologia, rotas temáticas em torno da água e abrigos rurais, a Bélgica oferece noites temáticas, em Itália pode-se usufruir das grutas, do kartódromo e de passeios de charrete, já na Hungria pode-se desfrutar de uma praia artificial mediterrânea, de visitas a parques ou reservas de animais, de feiras de produtos biológicos e do festival da cerveja, e praticar birdwatching e o Reino Unido dispõe do festival de jazz, do museu de antiguidades e de alimentação vegetariana. Particularidades que em conjunto com os programas de bem-estar diversificados constroem uma oferta bastante sugestiva e apelativa pela diversidade de experiências que proporcionam (Cavaco et al., 2008).
Nesta linha, as estâncias termais em Portugal começam a recuperar algum dinamismo justamente por via da aposta numa oferta diversificada que considera não só os pressupostos terapêuticos como os de saúde e bem-estar e lúdicos, pautada por um equilíbrio e complementaridade entre as duas vertentes ancestrais, oportunamente contemplados na actual legislação que regula o sector.
O decreto-lei 142/2004 de 11 de Junho (Incm, 2004) vem reconhecer formalmente outras potencialidades, para além das terapêuticas, associadas ao bem-estar e lazer, recreio e cultura atribuindo às estâncias termais um papel essencial no âmbito do turismo, onde estas se assumem de forma crescente como um produto turístico compósito, embora embrionário, cujos factores terapêuticos deixam de ser os únicos a justificar a deslocação dos turistas.

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