TURISMO E DESENVOLVIMENTO ESTUDOS DE CASO NO CENTRO DE PORTUGAL

Paulo Carvalho

3. As estâncias termais do Centro de Portugal

 

3.1 Mudanças e novas oportunidades para um produto ancestral


O nosso estudo abarca um conjunto de 11 estâncias termais, as termas de S. Pedro do Sul, Carvalhal, Cavaca, Alcafache, Sangemil, Felgueira, Curia, Vale da Mó, Luso, Monfortinho e Ladeira de Envendos, localizadas no território abrangido pela Entidade Regional do Turismo do Centro de Portugal (TCP), que se distribuem pelos 4 pólos de marca turística (figura 1).

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Fonte: Adaptado de Tcp  (2009) 
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Figura 1: Localização das estâncias termais por pólos de marca turística, na região Centro de Portugal
Este conjunto representou, em 2009, 51% do total de inscrições realizadas nos estabelecimentos termais portugueses, e 54,5% dos proveitos totais, sendo que 6 destas estâncias (S. Pedro do Sul, Monfortinho, Carvalhal, Felgueira, Alcafache e Curia) figuram no ranking das 15 estâncias mais frequentadas do país, com S. Pedro do Sul a ocupar a posição cimeira há já longos anos, e registam ainda uma média de proveitos por pessoa de 243,4 euros, superior à nacional (242,3 euros) (Tp, 2009; Tp, 2010), o que sublinha a capacidade competitiva que esta região demonstra face a outras.
Na sequência do que é a tendência geral, este conjunto de estâncias termais não congrega só serviços terapêuticos de cura clássica, mas alarga-se a programas de saúde e bem-estar e, actualmente, apenas 2 (Ladeira de Envendos e Vale da Mó) não oferecem este tipo de programas em muito motivado pelas próprias características infra-estruturais e equipamentos directos e indirectos que possuem. As restantes apresentam uma gama mais ou menos diversificada de pacotes de bem-estar, serviço enriquecido em algumas estâncias com a oferta da dimensão de recreio e lazer e que passa fundamentalmente por passeios turísticos pela região onde se inserem, passeios e percursos pela natureza envolvente (parques, áreas de montanha, margens dos rios), circuitos, actividades desportivas (ténis, natação, circuitos de manutenção, golfe), entre outros.
Esta fileira pode ser fundamental em territórios repulsivos e deprimidos no plano demográfico, económico e social, como o são os que acolhem estas 11 estâncias termais que, nos últimos anos (2001-2008) perderam uma média de 1,4% da população, já de si envelhecida (em 2008, com excepção de Viseu, cujo índice de envelhecimento andava na ordem dos 105%, todos os outros concelhos termais ultrapassavam a barreira dos 150%, sendo que no concelho das termas de Monfortinho e Ladeia de Envendos o índice ultrapassava os 400% e 300%, e as perdas populacionais ascendiam aos 13% e 16,4% respectivamente), e com um tecido económico algo débil (Ine, 2002; Ine, 2009).
 A importância dos recursos termais neste território está oportunamente identificada e espelhada nas várias abordagens estratégicas de que são alvo no seio de alguns instrumentos de desenvolvimento territorial. Desde o Plano Estratégico Nacional do Turismo (2006-2015), onde a saúde e bem-estar figura como um dos 10 produtos estratégicos em Portugal (embora a estratégia definida para este produto esteja centrada especialmente nos centros de Spa & Welness, integrando as estâncias termais numa estratégia secundária) (Mei, 2007; Tp, 2006), à estratégia do Turismo do Centro de Portugal que define o turismo de saúde e bem-estar como um produto estratégico do território de prioridade 2 (Tcp, 2009), e que seguem as linhas orientadoras definidas também no Programa Operacional Regional da Região Centro (2007-2013), que aponta os recursos termais, identificados como recursos específicos da região, como uma das “forças” do Centro, assim como considera a procura crescente do produto de saúde e bem-estar a nível mundial, uma “oportunidade” para a sua valorização económica assim como alavanca para a diversificação e dinamização do tecido económico local (Ccdrc, 2007; Ccdrc, 2008). Neste espectro referem-se ainda os Programas Territoriais de Desenvolvimento, nomeadamente o do Baixo Mondego, Dão-Lafões e Beira Interior Sul que delinearam objectivos e acções específicas para as estâncias aí localizadas, no sentido da valorização dos recursos, do aumento de competitividade e do desenvolvimento dos territórios e comunidades locais onde se inserem (Ambm, 2008; Amrdl, 2008; Cedru, 2008).
Mais específica é a Estratégia de Eficiência Colectiva (EEC) PROVERE (Programa de Valorização dos Recursos Endógenos) através da acção “Valorização das estâncias termais da Região Centro” (desenvolvida no âmbito do QREN) que, numa lógica de rede, pretende desenvolver um conjunto de intervenções que visam potenciar a valorização económica e social das estâncias termais e posicionar a região Centro em segmentos de mercado de valor acrescentado e com procuras internacionais dinâmicas, cujas intervenções, materiais e imateriais, se centram fundamentalmente no reforço da competitividade, na estruturação de produtos compósitos, na construção e integração em rede, na concepção e implementação de estratégias de marketing, na requalificação, sofisticação, inovação e investigação (Atp, 2008; Ccdrc, 2009).
Reconhecendo o papel importante dos gestores/administradores das estâncias termais como actores fundamentais no seu processo de revitalização e desenvolvimento, na compreensão da complexa dinâmica termal nacional e como vozes activas de extrema importância na sustentação de futuras estratégias, importa questioná-los sobre a percepção presente e futura que têm sobre o sector termal em geral e as estâncias em particular, e ainda a forma como encaram o modelo de desenvolvimento ancorado na valência do turismo e lazer, há muito perspectivado para as estâncias, mas cujos resultados são ainda pouco visíveis, a avaliar pela posição marginal das estâncias termais na hierarquia dos destinos de férias.
São aqui apresentados os resultados de um inquérito por questionário realizado entre Outubro de 2009 e Setembro de 2010, dirigido aos 11 gestores/administradores das estâncias termais em estudo, obtendo-se resposta de 8 estabelecimentos, o que corresponde a 72,7% da amostra total, equivalendo as não-respostas a 27,3%. Não sendo esta uma situação óptima, uma vez que não se obteve uma taxa de respostas de 100%, o facto de apenas três entidades não terem respondido demonstra a importância, pertinência e actualidade deste estudo (Silva, 2010).
O inquérito por questionário realizado foi baseado no questionário aplicado por Adília Ramos (2005), por se achar um modelo eficaz em termos de concepção e obtenção de respostas que, para esta investigação, foi actualizado, aprofundado e alargado a outros âmbitos.
Cada uma das questões disponibiliza um conjunto de possibilidades de respostas através de escolha múltipla simples. Os resultados apresentados, para cada uma, têm como base uma escala de respostas definida através de categorias com um intervalo de 1 a 5 (escala de tipo Likert) (Ramos, 2005) em que o nível 1 corresponde a discordo totalmente, o nível 2 a discordo, o nível 3 a não concordo nem discordo, o nível 4 a concordo e o nível 5 a concordo totalmente, sujeitos a uma apreciação em termos de média (Méd.), moda (MO), nível máximo (Máx.) e mínimo (Mín.) registado para cada opção e desvio padrão (DP). São apresentadas as que obtiveram os valores mais altos de média e portanto as que mais vezes foram objecto de escolha, por parte dos inquiridos, para dar resposta às questões expostas a priori, apontando-se igualmente as opções menos pertinentes à concretização de cada questão. De referir que, em função da escala de respostas (1 a 5), e para os itens formulados na positiva, quanto mais elevada for a pontuação de cada participante em cada item (mais próxima de 5), mais favorável se considera a resposta dos inquiridos face à questão em análise, sendo que o sentido da escala de respostas é invertido quando o item é de cariz negativo.

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