A requalificação da aldeia do Gondramaz (figura 2), no âmbito do Programa das Aldeias do Xisto (2000-2006), é um acontecimento decisivo para o turismo em Miranda do Corvo. A dimensão integrada da intervenção (com objectivos económicos, sociais e patrimoniais), a escala geográfica adoptada (sub-regional), a inclusão dos lugares segundo uma lógica de rede territorial, a gestão e a promoção conjunta do território, a participação de diversos agentes institucionais e actores privados, entre outros, são elementos incontornáveis para a construção da imagem e (a maior) visibilidade turística de Miranda do Corvo (Carvalho, 2009).
O “Programa das Aldeias do Xisto” é um “projecto-âncora” da Acção Integrada de Base Territorial do Pinhal Interior (componente FEDER) que envolve 24 lugares serranos – cerca de metade na área geográfica da Serra da Lousã – repartidos por 14 municípios (Arganil; Castelo Branco; Figueiró dos Vinhos, Fundão; Góis; Lousã; Miranda do Corvo; Oleiros; Pampilhosa da Serra; Penela; Proença-a-Nova; Sertã; Vila de Rei e Vila Velha de Ródão) das sub-regiões do Pinhal Interior Norte, Pinhal Interior Sul, Beira Interior Sul e Cova da Beira.
As linhas de acção do PAX, no sentido de requalificar (reabilitar urbanisticamente) e infra-estruturar microterritórios de montanha, melhorar a qualidade de vida das populações e as condições de habitabilidade dos imóveis, preservar e valorizar bens patrimoniais, e incentivar o empreendedorismo de base local, estão na génese de uma nova marca e produto turístico (Aldeias do Xisto), e de um novo actor institucional (ADXTUR – Agência para Desenvolvimento Turístico das Aldeias do Xisto) que, por sua vez, resulta de uma parceria entre dezasseis municípios e mais de setenta operadores privados que actuam no território no sentido de gerir e promover a marca e as actividades dos seus associados nomeadamente a oferta de serviços e produtos turísticos (Carvalho, 2009). A ADXTUR é um factor decisivo para concretizar o desígnio de afirmar as Aldeias do Xisto como um novo produto turístico no Centro de Portugal, destinado a captar um segmento de mercado muito exigente associado ao turismo cultural, turismo de natureza e turismo aventura, e promover de forma articulada paisagens que oferecem inúmeras possibilidades de lazer.
Os traços mais inovadores do PAX estão relacionados com o carácter integrado das intervenções; a imagem e o marketing territorial (que incluiu a criação da marca Aldeias do Xisto); a comunicação e a informação aos visitantes (revista de divulgação – em duas fases editoriais distintas –, painéis informativos, sinalética direccional e página WEB); as novas funcionalidades económicas (nomeadamente a criação de um rede de lojas em regime de franchising tendo como matriz os produtos artesanais, para além do Sistema de Incentivos Específicos para o Pinhal Interior que apoiou iniciativas de investimento empresarial nas áreas do alojamento, restauração e animação turística); a oferta de actividades de lazer no âmbito do pedestrianismo e BTT; a gestão e a promoção (em conjunto) das aldeias do Xisto (com destaque para o papel da ADXTUR), e a animação turística e cultural (Carvalho, 2009).
Na actualidade, a oferta turística e de lazer das Aldeias do Xisto está organizada em quatro vertentes/dimensões principais: o alojamento, a restauração, a animação turística e o artesanato; os caminhos do xisto (percursos pedestres em fase de registo e homologação pela Federação Portuguesa de Campismo e Montanhismo); os centros de BTT (que apresentam um conjunto de equipamentos para a prática desta modalidade associados aos trilhos sinalizados e com diferentes níveis de dificuldade); e a animação, com um calendário muito intenso, através de eventos em áreas como a gastronomia, a recriação de momentos que compõem o ciclo etnográfico do mundo rural, o artesanato, a educação patrimonial, os desportos de natureza e aventura (Carvalho, 2009).
Paulo Carvalho
Figura 2: Vista parcial do Gondramaz (Fevereiro de 2011)
No Gondramaz os efeitos do PAX são evidentes e incontornáveis.
Em relação ao plano urbanístico/requalificação territorial, destacamos a criação de um espaço de estacionamento, a melhoria e ampliação das redes de infra-estruturas básicas, a recuperação de pavimentos em arruamentos e caminhos, a recuperação de fachadas e coberturas de imóveis particulares, e ainda as intervenções em espaços e imóveis públicos/colectivos.
No âmbito do lazer e turismo, merece destaque a génese de actividades económicas (iniciativas de investimento empresarial) como o alojamento e a restauração/cafetaria (Casa de Campo do “Pátio do Xisto”), a marcação e sinalização de percursos pedestres (que inclui o primeiro percurso acessível das Aldeias do Xisto) e trilhos de BTT, e a construção de um centro de BTT. Estes últimos impulsionaram a prática de pedestrianismo e BTT, no contexto local e de forma articulada com a rede de percursos/trilhos da Serra da Lousã, onde têm decorrido eventos desportivos de escala nacional e internacional (como por exemplo o Avalanche – que é a maior prova de descida colectiva, em BTT, realizada em Portugal). Por outro lado, a observação de espécies de flora e fauna (em particular os cervídeos) é também motivo de interesse e está na base de eventos programados com a participação de instituições académicas e científicas. De forma complementar, é importante sublinhar a colocação de painéis informativos na aldeia e sinalética direccional na rede viária municipal.
A imagem renovada do Gondramaz, muito favorecida com a qualidade estética do quadro paisagístico envolvente (com socalcos, caminhos rurais e espécies arbóreas como as cerejeiras, os castanheiros e os carvalhos), reflecte o mérito do Plano de Aldeia mas também o modo cuidado e exigente como decorreram e foram acompanhadas (no plano técnico) as intervenções. Melhorou a qualidade de vida da população residente e as condições de recepção/acolhimento dos visitantes (excursionistas e turistas).
A escala e a geometria do PAX foi decisiva para a integração de espaços desligados, fracturados, sem imagem de conjunto, e sem sentimento de pertença e partilha de um património comum, assim como foi relevante para alavancar a organização dos actores e o planeamento das estratégias e acções a desenvolver (como acontece neste momento através ADXTUR).
Por outro lado, é necessário considerar o complexo turístico-cultural da Quinta da Paiva constituído por um conjunto de equipamentos, espaços colectivos e áreas verdes que participam activamente na vida da comunidade e desempenham um papel preponderante em actividades como o turismo, o lazer, a cultura e a saúde (Adelino, 2010). É o resultado de uma parceria entre a Câmara Municipal de Miranda do Corvo e a Fundação ADFP (Assistência, Desenvolvimento e Formação Profissional), entidade proprietária do espaço. Esta dá continuidade ao trabalho desenvolvido pela Associação para o Desenvolvimento e Formação Profissional de Miranda do Corvo (instituição privada de solidariedade social, sem fins lucrativos, fundada pelo médico Jaime Ramos em 1987) e pretende criar oportunidades (emprego e actividades ocupacionais) de integração de pessoas vítimas de exclusão, desempregados de longa duração, e portadores de diversos tipos de deficiência ou doença crónica.
A Quinta da Paiva (situada em Miranda do Corvo) é um espaço de 12 hectares (7 de área florestal e 5 de área agrícola) que integra diversas valências, a saber: Centro de Informação (onde os visitantes podem ter acesso à informação relevante sobre a região e adquirir o bilhete de acesso ao Parque Biológico); Parque Biológico da Serra da Lousã (parque de vida selvagem, quinta pedagógica, labirinto de árvores de fruto e roseiral); Parque Desportivo (centro hípico, campos de jogos em areia e circuito de manutenção) e de Lazer (piscina ao ar livre, parque de merendas e parque infantil); Restaurante Museu da Chanfana (espaço que pretende mostrar e proporcionar a degustação da gastronomia local/regional, onde é dada grande importância aos pratos tradicionais de carne de cabra velha como a chanfana, os negalhos, o chispe e a sopa de casamento, de porco como o sarrabulho, o bucho e os enchidos, e ainda da caça e pesca) e Museu de Miranda (com oficinas de artes e ofícios tradicionais).
Na sequência das infra-estruturas já concretizadas na Quinta da Paiva (com destaque para os últimos cinco anos) estão a ser executados variados projectos que irão enriquecer mais a oferta turística a médio prazo. De igual modo, está prevista a construção de um hotel que irá colmatar a grande carência de infra-estruturas de alojamento que existe actualmente em Miranda do Corvo. Desta forma concentrar-se-á, num espaço reduzido, uma densa rede de equipamentos e infra-estruturas para o turismo e a ocupação dos tempos livres.
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