VÁRIOS OLHARES E SABERES: EFEITOS DO IMAGINÁRIO SOBRE LIDERANÇA NOS PROCEDIMENTOS DE TREINAMENTO E DESENVOLVIMENTO DE LÍDERES ORGANIZACIONAIS.

Gilberto Braga Pereira

INTRODUÇÃO

A essência da ciência é fazer uma pergunta impertinente
- e assim abrir caminho para uma resposta pertinente.
JacobBronowski.

 

Esta é uma dissertação sobre o imaginário relativo à liderança presente nas três últimas gerações de adultos. Para reconstruí-lo entrevistaram-se pessoas representativas de cada uma das gerações consideradas, que tiveram em comum a idade e um lugar social determinado pela posição ocupada - líder ou profissional de treinamento e desenvolvimento (T&D) - dentro de organizações a partir dos anos 1960. Remete-se, por conseguinte, a um tempo e a um lugar específicos. São todas pessoas que chegaram ao mercado de trabalho a partir das últimas décadas do século XX e representam, cada uma o seu grau etário.
Nesse contexto, o problema de pesquisa ficou assim configurado: Qual a influência do imaginário social sobre liderança nos procedimentos de T&D de líderes de organização?
O objetivo geral da presente pesquisa consistiu em identificar, pois, a influência do imaginário social sobre liderança – presente nas gerações Silenciosa, Baby Boom e X , categorias a serem mais bem esclarecidas adiante – nos procedimentos de T&D de líderes de organização. O caminho percorrido para se responder a esse problema central foi materializado nos seguintes objetivos específicos:

O poder e o encanto da magia sempre estiveram presentes em todos os tempos e fazem parte do universo simbólico e imaginário das gerações. Canções e narrativas constituem o testemunho da presença de magos, xamãs, gurus e heróis ao mesmo tempo intrigantes e inspiradores de cautela. O mistério que os envolve vem carregado das contradições com que a humanidade sempre buscou lidar em relação ao mundo. No tocante às Ciências Sociais Aplicadas e em especial à Administração, o manto da magia é freqüentemente associado aos gurus e líderes organizacionais, identificados como superastros carismáticos, providos de poderes para livrar as empresas de todos os males. Desvendar esse mistério é descobrir sua estrutura, é desnudar seus “truques”, é passar a fazer parte do universo da magia, é compreender o mundo organizacional tanto naquilo que se traduz como real (formal) quanto no que se traduz subjetivamente (informal).


Morgan (1996) adverte que a administração eficaz associa-se à condição para “ler” as situações que se está tentando administrar ou organizar e que essa leitura remete a um lugar para além do objetivamente dado. Assim, corre-se o risco de simplificar os fenômenos organizacionais ao se manter preso a um só olhar ou, então, sentir-se ludibriado por desconhecer a estrutura da magia, seus princípios e pressupostos, seus símbolos por trás dos quais estão embutidas formas de pensar e uma visão de mundo.
Este trabalho mostra sua relevância ao considerar que
[...] sempre se acreditou que administradores eficazes e aqueles que resolvem problemas nasceram assim; em lugar de terem sido treinados, possuem um tipo de poder mágico para compreender e transformar as situações que encontram. Caso se olhe mais de perto o processo usado, todavia, descobre-se que esse tipo de mística ou poder baseia-se freqüentemente na habilidade de desenvolver profundas apreciações sobre as situações que estão ocorrendo (MORGAN, 1996, p. 16).
Constituiu-se, portanto, como um esforço de se olhar para o tema com novos olhos, como uma chance de se revisitar algo que pode, a princípio, parecer banal, corriqueiro e esgotado tal é a familiaridade que o tema evoca. Porém, o risco da banalização consiste exatamente em confundir-se o que parece familiar com o que é natural - natural no sentido de original, da natureza daquele fenômeno.  
Muito embora os termos líder e liderança façam parte do vocabulário corrente nas organizações empresariais, além de serem encontrados na literatura sobre comportamento organizacional, em muitos casos há mal-entendidos sobre o seu significado. Muito se diz sobre o fenômeno, muito se pensa sobre ele, e muitas são as representações que povoam o imaginário social. Principalmente quando se consideram os diversos modelos de gestão propalados ao longo dos anos é que o cuidado deve ser redobrado, uma vez que sugerem fazeres específicos e conferem papéis especiais àqueles que sofrem a ação ou ocupam posição de liderança. E mais,
a ética da hierarquia é a base de formação da geração hoje presente nas organizações, em que a máxima ‘manda quem pode, obedece quem tem juízo é o fio condutor das atividades. [...] Nos últimos anos, entretanto, a ética da hierarquia vem sendo criticada e encarada como algo a ser rompido e desrespeitado, por não servir como meio de subordinação das pessoas. Nos dias de hoje, fazer a diferença é a regra, mas fazer a diferença no meio da pirâmide organizacional, onde existem os mitos e os ritos da cultura organizacional, torna-se muito mais complexo. Mitos esses que ainda, e principalmente, estão fortemente embasados na ética da hierarquia (MANDELLI, 2001, p. 20).
Pelo menos duas tendências se fortaleceram na atualidade: novos desenhos de organizações sociais e novas expressões da liderança e da gerência contemporâneas (FISCHER, 1997). Tais esforços são entendidos como tentativas de se dar estrutura ao fazer produtivo e organizá-lo. Nesse contexto, as representações imaginárias, as imagens e as metáforas criadas não são somente construtos de interpretações ou formas de se encarar a realidade: fornecem também uma estrutura para a ação. A sua utilização gera descobertas que freqüentemente permitem agir dentro de estratégias nunca antes consideradas.[...] o uso das diferentes metáforas pode levar a diferentes enfoques para empreender as tarefas de organizar e administrar [...] (MORGAN, 1996, p. 349).
A investigação, portanto, teve por base analisar o fenômeno do imaginário geracional face à capacitação de líderes organizacionais. O trabalho de campo repousou sobre um universo de líderes  e  profissionais de T&D, a fim de se identificar as representações imaginárias e concepções teóricas formuladas pelos sujeitos de organizações empresariais em correlação com os construtos teóricos implicados com o tema liderança. A partir do uso de fontes escritas e orais buscou-se analisar os respectivos pressupostos e diretrizes contidos nos modelos de liderança conhecidos e divulgados entre os anos 1960 e a primeira década do século atual  e o posicionamento pessoal dos agentes sociais, em atividade nesse período, ante as expectativas geradas por esses modelos.
O recorte cronológico distingue três tempos marcados pelas gerações estudadas. Nessa perspectiva, Conger (2002) categoriza as três últimas gerações de adultos através de distinções bastante peculiares quanto a imaginário, histórico de vida, momento social em que viveram e concepção acerca da relação com a autoridade. Ainda que adiante se resgate com mais detalhes cada uma delas, antecipam-se a cronologia e a classificação propostas pelo autor: Geração Silenciosa – nascida entre 1923 e 1942; Geração Baby Boom – composta pelos que partilham o nascimento entre os anos de 1943 e 1964; e, por fim, Geração X – que compreende o período entre 1965 e 1981. Obviamente não se devem entender os marcos expressos em anos de nascimento como absolutos; o que interessa é considerar que cada geração vivenciou e partilhou fatos sociais que, circunscritos na dimensão espaço-tempo, forjaram suas condutas, adotou paradigmas próprios e desenvolveu representações imaginárias e visões de mundo específicas. São essas categorias que servirão de referência para o presente estudo.
Assim, partiu-se do princípio de que as atitudes e comportamentos humanos não são atributos fixos e autônomos que se mantêm à revelia das condições sociais. Pelo contrário, a psicologia, a sociologia e a antropologia vêm confirmando, cada vez mais, a natureza relacional biunívoca dos padrões comportamentais, que são elementos básicos das estruturas sociopolítico-econômicas que caracterizam as organizações.
Os referenciais teóricos ancoraram-se em autores como: Bennis, Bergamini, Bolt, Castoriadis, Conger, Covey, Drucker, Enriquez, Fleury, Franco, Godoy, Penteado, Sennett e outros.
Para discorrer sobre essa análise e refletir sobre a questão das representações do imaginário, dividiu-se esta dissertação, para além desta Introdução, em mais três capítulos centrais e um de considerações finais. O primeiro dos capítulos centrais – Capítulo 2 -  focaliza a questão do imaginário em relação ao fenômeno de gerações; o segundo  - Capítulo 3 -  discute vertentes do tema central liderança e seus desdobramentos ante as técnicas de aprendizagem e de preparação dos líderes; na seqüência, no Capítulo 4, descreve-se uma experiência de trabalho de campo, articulando-se teoria e prática. Adotou-se um procedimento pontual de análise descritiva, destacando-se as evidências empíricas por meio de quadros explicativos, numa tentativa de se estabelecerem as diferenças do imaginário sobre liderança presentes em cada geração.


Cabe lembrar que este trabalho representa uma primeira incursão na área pesquisada não tendo pretensões de atingir resultados definitivos. Trata-se de estudo exploratório que está baseado em referenciais teóricos e que aportam realidades descritas por sujeitos que a construíram e viveram. Tem-se consciência das múltiplas possibilidades, vertentes interpretativas e vieses pelos quais o pesquisador poderia ter construído essa demonstração de resultados. Entretanto, variáveis tais como exigüidade de tempo, imposta pelo processo normativo implícito no mestrado, e a própria abrangência e riqueza dos temas envolvidos obrigaram decisões metodológicas e teórico-conceituais que por si impuseram seus limites.


Bronowski, J. A ascensão do homem  apud Medeiros (1999, p. 77). A autora não inclui a referenciação completa e normalizada da obra citada.

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