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AGLOMERAÇÕES INDUSTRIAIS COMO FATOR DE DESENVOLVIMENTO REGIONAL: UM ESTUDO DE CASO NO NORDESTE BRASILEIRO

Cid Olival Feitosa


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2. SISTEMAS INDUSTRIAIS LOCALIZADOS: UMA ABORDAGEM CONCEITUAL

2.1 – Aglomerações Industriais: diferenças e aspectos comuns

Desde a década de 1980, assiste-se ao fortalecimento de um tipo de abordagem sobre o desempenho da indústria que prioriza a análise dos ambientes produtivos e sócio-institucionais onde as firmas se localizam (Lins, 1999). Neste sentido, verifica-se uma análise localizada não apenas na empresa individual, mas principalmente nas relações entre as firmas e entre estas e as demais instituições dentro de um espaço geograficamente delimitado, bem como nas novas formas de intervenção do Estado na promoção da política industrial e tecnológica (Cassiolato e Lastres, 2001).

Cassiolato e Lastres (2001) têm lembrado que vários autores enfatizam a importância da proximidade geográfica das empresas para explicar o desempenho competitivo das firmas. Essa proximidade geográfica facilita a formação de economias de aglomeração (clustering), que, por sua vez, promovem o desenvolvimento de distritos industriais.

Diversos são os conceitos e terminologias que buscam descrever as aglomerações industriais. Contudo, apesar de distintas entre si, essas abordagens apresentam similaridades, no que se refere às estruturas, operações e atores envolvidos. As diferenças que normalmente aparecem estão ligadas às especificidades de casos concretos ou ao peso dado a determinada característica do cluster (Cassiolato e Lastres, 2001).

O que se verifica é que os principais pontos em comum das diversas abordagens estão ligados a fatores como localização, atores envolvidos e características da produção, do trabalhador e do empresário. O Quadro II apresenta esses itens, sem o objetivo de aprofundar a análise sobre cada um deles.

Segundo Porter (1999), as concentrações geográficas de empresas (clusters) ganham cada vem mais importância, ante a globalização econômica, por apresentarem vantagens competitivas locais – conhecimento, relacionamento, motivação – com os quais os concorrentes geograficamente distantes não conseguem competir.

Uma definição ampla sobre aglomerações, de acordo com Cassiolato e Lastres (2001), inclui redes de produtores e consumidores, fornecedores de bens e serviços, instituições que criam e adicionam valor - tais como distritos ou pólos industriais, clusters, redes -, que privilegiam e possibilitam a introdução de novos produtos e processos na economia.

Para Garcez (2000), a idéia de que há ganhos na formação de aglomerações setoriais em determinado espaço geográfico permeia o pensamento econômico desde o século XIX, a partir da análise dos distritos industriais britânicos, por Alfred Marshall.

“Marshall destacou as economias que freqüentemente são asseguradas pela concentração de várias pequenas empresas, com características similares e em determinada localidade’. O autor referiu-se a esses ganhos como ‘economias externas’ e os viu como particularmente relevantes para pequenas empresas. Tal conceito foi introduzido por Marshall com o objetivo de definir porque e como o fator locacional importa e porque e como pequenas empresas podem ser eficientes e competitivas. Essas localidades foram denominadas de ‘indústrias localizadas’ ou ‘distritos industriais’” (Garcez, 2000, p. 353).

As economias externas de Marshall são essenciais para entender as vantagens eficientes que as pequenas empresas conquistam quando agrupadas. A ocorrência da ação conjunta é que vai determinar a possibilidade de inserção no panorama competitivo em níveis melhor posicionados, promovendo os chamados ganhos de eficiência e elevando a competitividade (Garcez, 2000). Daí resulta a eficiência coletiva , que abrange tanto os efeitos das externalidades quanto os da busca pela ação conjunta e procura captar a idéia de que a competitividade não pode ser entendida através do foco em firmas individuais.

A partir das aglomerações industriais emerge o conceito de clusters, que, segundo Porter (1999, p. 2):

“(...) são concentrações geográficas de empresas em determinado setor de atividade e companhias correlatas. Estas podem ser, por exemplo, fornecedores de insumos especiais – componentes, máquinas, serviços – ou provedores de infra-estrutura especializada. Em geral, os clusters também se expandem diretamente em direção aos canais de distribuição e clientes e marginalmente em direção aos fabricantes de produtos complementares e empresas de setores afins. Muitos clusters incluem ainda instituições, governamentais ou não, como universidades, entidades normativas e associações comerciais. Essas instituições oferecem treinamento, informação, pesquisa e apoio técnico.”

Para Amaral Filho (1999), o conceito de cluster procura recuperar alguns conceitos tradicionais, como pólo de crescimento e efeitos para frente e para trás, de Perroux e Hirschman, respectivamente, notado principalmente na idéia da indústria-chave ou indústria-motriz, conjugada com uma cadeia de produção adicionando o máximo de valor possível.

Essa recuperação é processada através da incorporação de vários elementos que aparecem nos exemplos exitosos de desenvolvimento endógeno e que estavam ausentes nos conceitos e modelos tradicionais, como articulação sistêmica da indústria com ela mesma, com o ambiente externo e instituições públicas e privadas; associação entre a indústria e os atores e agentes locais; e, forte vocação externa (Amaral Filho, 1999).

Segundo Britto (2000), a literatura especializada sobre clusters geralmente associa este tipo de arranjo a um conjunto de empresas e instituições espacialmente concentradas. Para o autor, os clusters:

“(...) geralmente incluem firmas interdependentes (incluindo fornecedores especializados), agentes produtores do conhecimento (universidades, institutos de pesquisa, empresas de consultoria etc.), instituições-ponte (consórcios, incubadoras etc.) e consumidores, os quais se articulam entre si através de uma cadeia produtiva espacial e setorialmente localizada”.

Neste sentido, Suzigan [s.n.t.] observa que é comum nos clusters, a interação das empresas locais por meio de ligações de produção, comércio e distribuição, bem como a cooperação em marketing, atividades de P&D, procurando manter um saudável equilíbrio entre competição e cooperação. Além disso, as empresas locais geralmente se beneficiam do apoio de instituições públicas e privadas, pois existe uma identidade política, social ou cultural entre empresas, constituindo a base para que haja confiança e compartilhamento de informações interfirmas.

A formação de clusters torna possível ganhos de eficiência que produtores individuais raramente conseguem alcançar, mas

“(...) esses ganhos em eficiência não resultam necessariamente da existência de um cluster. Um grupo de empresas que produz produtos similares em uma mesma região constitui um cluster; contudo, essas concentrações setorial e geográfica em si mesma trazem poucos benefícios. A eficiência coletiva deve ser entendida como o resultado de processos internos das relações interfirmas” (Amato Neto, 2000, p. 54).

Para Britto (2000), há uma certa imprecisão conceitual do termo, que muitas vezes tende a ser utilizado de forma excessivamente abrangente, permitindo que qualquer tipo de aglomeração setorial de indústrias seja caracterizada como cluster. É importante frisar que clusters são formados apenas quando os aspectos setorial e geográfico estão concentrados. De outra forma, o que se tem são apenas organização de produção em setores e geografia dispersa, não formando um cluster.

Uma das críticas possíveis na formação dos clusters é a de que a combinação de concentração geográfica e setorial poderia deixar uma cidade ou região vulnerável a modificações exógenas, tanto de produtos quanto de tecnologias. Esse argumento se fundamenta na idéia de que mesmo que a formação de clusters não signifique um desenvolvimento monoindustrial, seguidamente ela resulta na dominação de uma determinada indústria. Assim, uma economia local mais diversificada é menos vulnerável a choques externos, contudo os clusters têm maior capacidade de sobreviver aos choques e às instabilidades do meio ambiente do que as empresas isoladas (Amato Neto, 2000).

Para Porter (1999), “a concorrência moderna depende da produtividade, não do acesso a insumos ou da economia de escala de empreendimentos isolados”. Neste sentido, o autor ressalta que a participação em um cluster permite às empresas serem mais produtivas na compra de insumos e contratação de mão-de-obra, no acesso a informações, tecnologias e instituições, na coordenação com empresas complementares.

Segundo Galvão (2000, p. 2), a idéia básica de Porter (1999) ao definir cluster é de que

“a vitalidade econômica de um setor é o resultado direto da competitividade de indústrias locais e que, num mundo globalizado, os indivíduos, as empresas, as regiões e o governo devem pensar globalmente, mas agir localmente. Essas idéias básicas trazem, como principal implicação, a de que o objetivo primordial a ser perseguido é o de criar, em cada local ou região, uma atmosfera favorável ao desenvolvimento de atividades econômicas, de modo a transformar essas regiões e locais em pólos dinâmicos de atração de novos investimentos e de inovação”.

Além das modalidades de cluster, que são caracterizadas muito mais pela sua heterogeneidade do que pela sua similaridade, há autores que fazem distinção de sua forma de organização, através de redes , que resultam de processos de cooperação entre empresas. Santos et al. (1994) apud Bernardo, Silva, Sato (1999) descreve dois tipos de redes empresariais, comumente utilizados: redes verticais de cooperação e redes horizontais de cooperação.

Nas relações verticais, as firmas compram produtos e serviços através do mercado ou por acordos de subcontratação. As empresas cooperam com os parceiros comerciais, nos diferentes elos, ao longo da cadeia produtiva (produtores, fornecedores, distribuidores, prestadores de serviços), reduzindo os custos, elevando a qualidade dos produtos e favorecendo a capacidade de inovação.

Nas relações horizontais, as chances de conflitos são maiores, pois os produtores freqüentemente competem por encomendas, visto que as empresas atuam no mesmo ramo ou setor. Entretanto, a competição não exclui a ação conjunta para a resolução de problemas específicos, tais como, a provisão de serviços, infra-estrutura ou treinamento.

Seja qual for a estrutura apresentada pela literatura, o fato é que “os clusters promovem tanto a concorrência quanto a cooperação” (Porter, 1999). Com a cooperação as empresas podem reduzir os seus custos e aumentar a produtividade. Aumentando a produtividade essas empresas passam a concorrer no mercado através da diferenciação e inovação de produtos, maior qualificação dos serviços, programas de treinamento e qualificação da mão-de-obra local.

Neste sentido, Porter (1999, p. 2) esclarece que

“Os concorrentes competem intensamente para vencer e reter seus clientes, e sem isso nenhum cluster poderia ter sucesso. Mas a cooperação também está presente, em grande parte verticalizada, envolvendo empresas de setores afins e instituições locais. A concorrência convive com a cooperação, pois as duas ocorrem em dimensões diferentes e entre participantes distintos”.

De acordo com este autor, a produtividade “depende de como as empresas concorrem, não dos campos em que concorrem”. As empresas podem ser altamente produtivas em qualquer setor se empregarem tecnologias adequadas ou uso intensivo de conhecimento. Dessa maneira, os clusters podem aumentar a produtividade das empresas sediadas na região, indicar o ritmo e a direção da inovação e estimular a formação de novas empresas.

Para que isso aconteça, as empresas precisam participar ativamente e estabelecer uma presença significativa na região, investindo na área e promovendo um relacionamento permanente com órgãos governamentais e instituições locais, com o objetivo de maximizar os benefícios de envolvimento no cluster.

Porém, mesmo nos lugares onde despontam uma capacidade coletiva para competir, adaptar e inovar, não se verifica uma total homogeneidade de ações. A eficiência coletiva é produto interno dos clusters, em que algumas empresas estão dentro do processo de desenvolvimento e, por isso, crescem, e outras ficam à margem.

Assim, vale registrar que não existe um padrão uniforme para a emergência de clusters. O que se verifica, nos casos exitosos, é o esforço coletivo para aumentar a produtividade dos recursos disponíveis e a competitividade do cluster, mas as economias de especialização não são suficientes para garantir o seu sucesso. É necessário e indispensável criar um conjunto de iniciativas – tanto das próprias firmas quanto do governo – para o desenvolvimento dessas áreas.


 

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