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AGLOMERAÇÕES INDUSTRIAIS COMO FATOR DE DESENVOLVIMENTO REGIONAL: UM ESTUDO DE CASO NO NORDESTE BRASILEIRO

Cid Olival Feitosa


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3.3.2 – Fatores de competitividade do município

Localização

Cada vez mais a existência de serviços terciários, centros de pesquisa, recursos humanos qualificados, na região, favorece a localização de empresas. A proximidade geográfica dos centros fornecedores e consumidores constitui-se, assim, um fator de competitividade das firmas.

Neste sentido, a localização do município aparece como o primeiro fator que pode levar às empresas a buscarem competitividade. Em vista disso, num raio de 300 quilômetros estão localizadas as cidades de Aracaju, que permite às empresas beneficiarem-se de toda infra-estrutura da capital do estado, inclusive universidades, comércio, aeroporto e do porto off-shore; Feira de Santana, que é o principal centro distribuidor de produtos para todo o interior da Bahia; e Salvador, que apresenta-se como o segundo maior centro turístico do Brasil (SEBRAE, 2001c).

Organização da produção

Em Tobias Barreto, a organização da produção é dividida entre a produção artesanal de tecidos bordados para cama, mesa e banho, desenvolvida principalmente nos povoados do município ou nas residências dos artesãos; e a produção industrial propriamente dita, que envolve, na sua maioria, micro e pequenas empresas (formais e informais), além da terceirização da produção e do trabalho familiar.

As empresas operam, na sua maioria, em linha de produção, mas não utilizam nenhum tipo de técnicas de gestão, do tipo Just in time, Círculo de Controle de Qualidade ou Controle Estatístico de Processos, quando não desconhecem essas metodologias. Recentemente, após consultoria fornecida pelo SEBRAE, algumas poucas empresas começaram a utilizar o método de tempos e movimento, mas, ainda, de forma embrionária.

Outro fator de competitividade do município é o caráter artesanal dos produtos (que permite uma ampla diferenciação das mercadorias) podendo levar a região a conquistar novos mercados. No entanto, os empresários e artesãos locais precisam inovar seus produtos e aumentar os níveis de qualidade para atingir padrões de competitividade desejados.

Mercado consumidor

No que diz respeito aos principais mercados consumidores, grande parte da produção local (90%) é escoada para o estado da Bahia, especificamente para os municípios de Feira de Santana, Ilhéus, Itabuna, Jequié, Camaçari, Barreiros e Lençóis. Os 10% restante são repassados para os demais municípios de Sergipe e para os Estados de Pernambuco, Alagoas, Piauí, Maranhão, São Paulo e Minas Gerais, além de países como Itália, Chile e Nicarágua.

No caso dos pequenos produtores, o grande escoadouro da produção são as feiras locais, com destaque para a “Feira da Coruja”, feira ao ar livre, realizada nas madrugadas de domingo e que continua durante as segundas-feiras, até o meio dia.

A Feira da Coruja apresenta importância relativa em referência aos aspectos econômicos da região. Ela possui um amplo raio de abastecimento, atraindo, não apenas varejistas e sacoleiros da região, mas de municípios e estados vizinhos, que enviam a produção para centros maiores, como Aracaju e Salvador, e revendem no comércio popular.

É possível afirmar que a Feira da Coruja foi a grande responsável pela manutenção da tradição do município, na produção de confecções, quando em épocas de depressão dessa atividade econômica. Em muitos casos a Feira funciona como “agente âncora”, na atração e divulgação dos produtos da região. Entretanto, carece de revitalização, com espaços definidos, barracos padronizados, áreas específicas para alimentação, banheiros, estacionamentos, entre outros, como forma de atrair e manter os consumidores (SEBRAE/UFS, 2000).

Segundo relatório do SEBRAE (2001b), foi constatado, também, que uma parcela significativa da produção de bordado da zona rural de Tobias Barreto é adquirida por comerciantes do município de Cedro de São João, no norte do Estado. Esses comerciantes adquirem as mercadorias em um processo intermediário da produção e, após a engomagem e acabamentos, oferecem aos turistas que transitam pela parte norte da BR 101, rodovia federal que atravessa o Estado.

Destaca-se, ainda, as perspectivas de vendas externas de seus produtos através de programas nacionais de apoio a exportação das microempresas e da participação dos empresários em feiras e exposições nacionais e internacionais.

Mercado Fornecedor

Dentre os principais insumos e matérias-primas adquiridas pelos produtores de Tobias Barreto estão os tecidos planos, as malhas, as rendas, aviamentos e materiais para embalagem.

No que concerne ao suprimento desses insumos e componentes, as pequenas e médias empresas normalmente adquirem-nos diretamente de fabricantes sergipanos, como as fábricas Constâncio Vieira, Nortista e Ribeiro Chaves, ou diretamente de fábricas de Minas Gerais, São Paulo e Ceará, enquanto as microempresas, as associações produtivas e os artesãos que trabalham de forma individual, fazem-no junto ao comércio atacadista e varejista local (SEBRAE, 2001b).

Neste sentido, os microempresários contam apenas com uma variedade pequena de insumos ou artigos de menor qualidade, que não atendem a demandas mais precisas. Além disso, os altos preços dos fornecedores locais acarretam na elevação dos custos de produção e, conseqüentemente, no aumento do preço das mercadorias vendidas, diminuindo a competitividade das firmas.

Mesmo os produtores que conseguem fugir dos altos preços do mercado local encontram sérias dificuldades em adquirir os insumos de que necessitam, seja porque não conseguem barganhar o preço dos insumos, pois adquirem volumes pequenos de mercadorias, seja porque por não possuírem inscrição estadual são obrigados a efetuar o pagamento dos insumos à vista.

Financiamento e equipamentos

Na produção artesanal, um dos principais problemas verificados é o baixo nível de capitalização dos artesãos. De maneira geral, eles não dispõem de reservas de capital para o giro da produção, fazendo com que percam diversas oportunidades de mercado, tendo que muitas vezes rejeitar encomendas de produtos por escassez de recursos financeiros, ou por não conseguirem formar um mínimo de estoque de mercadorias para atender às compras não encomendadas (SEBRAE, 2001b).

As máquinas e equipamentos, muitas vezes, são doados, cedidos ou financiados aos artesão e associações de costureiras, por programas federais e órgãos internacionais de desenvolvimento como FAT – Fundo Nacional de Amparo ao Trabalhador, PROGER – Programa de Geração de Emprego e Renda, Pró-Sertão (proveniente de cooperação técnica com o FIDA – Fundo Internacional de Desenvolvimento Agrário) e outros programas específicos dos bancos de desenvolvimento (nacional e regional).

Nas pequenas fábricas, a produção geralmente é financiada a partir dos prazos estabelecidos pelos fornecedores dos principais insumos ou com capital próprio. Para a aquisição de equipamentos, grande parte das empresas o faz com capital próprio ou eventualmente contam com apoio de programas que fornecem microcrédito, visto que as máquinas de costura industriais são o equipamento básico para a produção e o seu custo de aquisição não é elevado. Assim, mesmo as unidades de pequeno porte possuem os principais tipos de máquinas necessárias ao processo produtivo.

Embora alguns proprietários de confecção demonstrem certa cautela na tomada de empréstimos para o capital de giro, verifica-se que não existe nenhuma linha de crédito específica para este setor, por parte de bancos ou instituições locais.

Representantes do Banco do Brasil e da Caixa Econômica Federal informaram, em uma das reuniões do Fórum de Desenvolvimento Local, que estes bancos estão analisando a possibilidade de concessão de financiamento para este setor em específico, mas que não existe nada de concreto ainda.

Dessa forma, observa-se que a região necessita de grandes investimentos em tecnologia, para aumentar a qualidade do produto e reduzir seus custos de fabricação e linhas de crédito mais definidas para o setor e para as micro e pequenas empresas.

Os serviços

Outro fator característico das empresas locais é a utilização de um reduzido volume de serviços produtivos, tecnológicos e comerciais, refletindo diretamente na produtividade ou na qualidade do produto.

Na produção artesanal, por exemplo, os desenhos das peças geralmente são definidos pelas próprias artesãs, ainda que, muitas vezes, elas recebam encomendas em que já ficam estabelecidos o formato e o tipo de bordado solicitados. Em alguns casos, os desenhos são definidos em cursos ofertados por instituições ou programas de governo. Em outras ocasiões, as artesãs escolhem os desenhos a partir de revistas ou de peças que viram na feira local.

Já nas indústrias, os trabalhos mais especializados, como o desenho dos moldes e a modelagem, são contratados a consultores que podem ser de fora do município. Neste sentido, o Sebrae tem prestado consultoria em algumas áreas, como definição da organização da produção, com orientações sobre layout, divisão das tarefas, linha de produção e cálculo de custos industriais.

De modo geral, não se verifica serviços de comercialização direcionada dos produtos. Como a grande maioria dos artigos são vendidos no mercado popular não há uma preocupação maior em diferenciar os produtos por nível de renda, perfil do consumidor, condições específicas de cor, padrão, desenhos ou embalagens .

Equívocos da competitividade

A busca pela competitividade dos produtos locais é um anseio de todos os empresários de Tobias Barreto. Em reunião do Planejamento Participativo do Município, em 20 de novembro de 2001, alguns produtores mencionaram que:

“O Pólo tem como premissa melhorar a gestão e a produção, gerando produtos inovadores de ampla aceitação no mercado interno e externo, com uma visão sustentável”, para que possa tonar-se até o ano de 2010 “uma referência nacional e internacional, tendo como pilares a criação de um sêlo de qualidade, qualificação da mão-de-obra e capacidade de gestão dos empreendimentos”.

Entretanto, muitos produtores ainda acreditam que a competitividade das firmas acontece apenas através de grandes inversões de recursos financeiros e de incentivos fiscais à produção. Esse fato ganha um vigor ainda maior quando se observa as alíquotas de ICMS praticadas em outros estados do país, sobretudo o estado da Bahia, vizinho ao município, que são menores que a tarifa praticada em Sergipe.

Empresários locais chegaram a declarar que se não houver uma maior sensibilização por parte do Governo do Estado, no sentido de praticar uma taxa diferenciada para o município, irão transferir suas fábricas para a Bahia. No entanto, verifica-se que esse não é o principal fator de competitividade das firmas. Como observa Haddad [s.d.]:

“É evidente que um sistema de incentivos fiscais e financeiros bem orientado poderá contribuir para que se acelere, em situações específicas, o avanço da competitividade, particularmente quando se trata do progresso tecnológico. Mas os fundamentos da competitividade moderna estão no desenvolvimento científico e tecnológico incorporado nas organizações públicas e privadas. Neste sentido, a sustentabilidade de um cluster produtivo tem muito mais a ver com a qualidade do capital humano e intelectual que comanda cada uma das suas atividades, do que com eventos efêmeros de natureza macroeconômica (apreciação ou desvalorização cambial) ou de políticas regionais (sistemas de incentivos em regime de guerra fiscal) que podem gerar competitividades espúrias”.

Assim, os produtores de Tobias Barreto precisam conscientizar-se de que a competitividade dos produtos acontece, sobretudo, a partir da qualificação e da inovação das mercadorias, bem como na utilização de metodologias de produção adequadas, domínio dos canais de distribuição, dentre outros, e não através da guerra ou renúncia fiscal entre estados.


 

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