INTRODUÇÃO A EPISTEMOLOGIA DA CIENCIA

INTRODUÇÃO A EPISTEMOLOGIA DA CIENCIA

Christian José Quintana Pinedo(CV)
Karyn Siebert Pinedo (CV)

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2.2.4 As nossas teorias científicas são modestas aproximações às leis que regem a natureza.

Nunca houve nenhuma descoberta que fosse um simples encontro, como se a descoberta existisse desde sempre e que, uma vez feita a descoberta, continuasse imutável para todo o sempre. Há, sem dúvida, leis da natureza que se revelarão eternas, mas, se existem, são muitíssimo mais sutis e complexas do que a nossa capacidade de as descobrirmos.

Podemos, sim, efetuar uma razoável aproximação às leis da natureza; podemos organizá-las em sistemas de leis ou axiomas. Na verdade é admirável que os nossos modelos relativamente simples - imitações da natureza - tenham tanto sucesso. Pelo menos, somos por vezes tão geniais como Isaac Newton o foi quando concebeu a lei da gravitação, e nessas ocasiões as nossas leis parecem maravilhosamente naturais: o que há de mais natural no espaço tridimensional do que uma força que decresce na razão inversa do quadrado da distância?

Somos de fato, por vezes, tão afortunados como Newton, cuja lei se aplicou infalivelmente durante duzentos anos fazendo com que parecesse realmente natural. Mas, eventualmente, ao fim de certo período de tempo esta feliz situação atinge o limite de validade - mesmo a lei de Newton: vemo-nos subitamente obrigados a procurar um novo modelo, uma outra descoberta a nível da imaginação conceptual. Aprendemos enfim que não nos é possível termos a razão para todo o sempre nem mesmo por trezentos anos.

2.2.5 Não podemos esperar da ciência a descoberta de uma verdade última e definitiva.

A aplicação da ciência exige, por conseguinte uma visão muito prática da falibilidade humana. Não podemos aspirar nem a um conhecimento sobrenatural, nem um poder sobrenatural. Nem sequer podemos aspirar a um conhecimento sobre-humano: devemos contentar-nos com o nosso simples progresso - modesto e realizado modestamente com os meios fornecidos pela mente humana. Isto é, devemos aprender a trabalhar e criar no contexto das nossas imperfeições, pois não somos nem deuses perfeitos nem, digam-se em boa verdade, máquinas perfeitas. Nenhum poder intelectual (ou arrogância) eliminará de vez a falibilidade inerente à condição humana nem poderá obter para nós a verdade onisciente e final.

Podemos, sim, estar profundamente convencidos de que sabemos de antemão como a natureza deve funcionar; por exemplo, que a um átomo não é permitido deslocar-se da esquerda para a direita, mas acabamos sempre por ver o erro da nossa suposição: vemos como somos inclinados a cometer equívocos: descobrimos, à nossa custa, que a natureza é muito menos simplista do que previamente calculamos.

Quando Isaac Newton era rapaz, Oliver Cromwell fez da seguinte advertência uma frase famosa:

“ Eu rogo-vos, em nome de Cristo, que aceiteis como provável a vossa capacidade de errar”.

Os membros da Igreja a quem dirigiu estas palavras não lhe prestaram atenção porque julgaram que tinham livre acesso à verdade sobre-humana (...) A comunidade científica floresce, cheia de sucessos e otimista, porque não pede aos seus membros a perfeição: pede apenas a sua humanidade.