INTRODUÇÃO A EPISTEMOLOGIA DA CIENCIA

INTRODUÇÃO A EPISTEMOLOGIA DA CIENCIA

Christian José Quintana Pinedo(CV)
Karyn Siebert Pinedo (CV)

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1.3.2.1 O neopositivismo.

Os defensores mais qualificados dos neopositivistas são Wittgenstein, L., Carnap, e Russell. Os neopositivistas dividem as ciências em dois grandes ramos:

 As lógico-matemáticas.

 As experimentais.

As lógico-matemáticas: são constituídas por proposições analíticas, ou seja, tautológicas. As proposições lógicas e matemáticas, destituídas de conteúdo, não são mais do que regras para a utilização dos símbolos e a ordenação das proposições.

As experimentais são compostas por proposições fatuais. As experimentais ou fatuais são as empiricamente verificáveis: isto acontece se elas são traduzíveis em proposições de caráter empírico.

1.3.2.2 A interpretação metafísica.

Em contraste radical com o neopositivismo coloca-se a concepção metafísica da ciência. Esta afirma que a ciência envolve uma metafísica e somente nela encontra seu fundamento último. Conforme esta concepção, o trabalho científico apresenta-se como descoberta progressiva da realidade, ou como a automanifestação do espírito humano através da pesquisa científica.

No primeiro caso, refere-se a uma concepção metafísica realista; no segundo, a uma concepção metafísica idealista. Um dos maiores representantes do realismo metafísico é Émile Meyerson (1859-1933), o qual afirma que a ciência:

“não é positiva e não contém mesmo dados positivos, no sentido rigoroso que foi dado a este termo por Comte e seus seguidores, ou seja, dados desprovidos de qualquer ontologia. A ontologia faz parte da própria ciência e dela não pode ser separada”.

É o realismo do senso comum, segundo Meyerson, que se prolonga na ciência sem solução de continuidade. A ciência, progredindo na direção do senso comum, cria essências, cujo caráter real não somente não é eliminado, mas é intensificado. Já na interpretação metafísica idealista da ciência, sustenta-se que a subjetividade é um fator importante na pesquisa científica. Nesta interpretação destacam-se as “leis epistemológicas”. Sua característica peculiar é serem dedutíveis unicamente através do estudo de nossos métodos de observação. Essas leis necessárias, universais, e exatas constituem o elemento a-priori da física, e das outras ciências experimentais.

1.3.2.3 O racionalismo científico.

Segundo outro grande grupo de autores, a ciência é obra da razão humana, uma espécie de máquina gerada por ela, cujas estruturas e leis internas é preciso descobrir. Enquanto o interesse da interpretação metafísica dirigia-se à infra-estrutura ontológica da ciência, e o do neopositivismo a seus conteúdos como tais, tomados em seu grau máximo de cristalização objetiva, o esforço do racionalismo científico, por sua vez, tende a clarificar o sentido do “Opus Rationale”' que constitui a ciência.

O principal expoente desta interpretação epistemológica é Gaston Bachelard (1844-1962), para quem a filosofia da ciência contemporânea não pode aceitar nem a solução realista, nem a idealista. Segundo ele, deve colocar-se num meio termo entre ambos, no qual sejam retomados e superados:

“Um realismo que se deparou com a dúvida científica não pode mais ser do mesmo teor que o realismo imediato... um racionalismo que retificou os juízos a-priori, como sucedeu nos novos ramos da geometria, não pode mais ser um racionalismo fechado”.

Bachelard em sua gnosiologia, põe o binômio experiência-razão na base de todo o conhecimento humano. Entretanto, não se trata de um condomínio de potências iguais, pois o elemento teórico é que desempenha o papel normativo:

“O sentido de setor epistemológico parece-nos bastante claro”.

Ele vai certamente do racional para o real, e não na ordem inversa, do real para o racional, como professaram todos os filósofos, de Aristóteles a Francis Bacon (1561-1626). Posição análoga à de Bachelard é a sustentada por Karl Popper (1902 -) que também rejeita decididamente o empirismo em nome de uma certa espécie de racionalismo.

O controle das teorias, a corroboração das proposições científicas, segundo Popper, não é obtida diretamente, como querem os neopositivistas, recorrendo à verificação experimental, mas sim indiretamente, através do processo de falsicabilidade. Este critério estabelece que uma teoria pode ser considerada científica unicamente se satisfaz a duas condições:

1º. Ser falsificável, ou seja, poder vir a ser desmentida e contradita em linha de princípio.

2º. Não ter sido ainda provada como falsa de fato.

O critério do estágio científico de uma teoria é a sua falsicabilidade o refutabilidade, ou controlabilidade. O critério de demarcação entre teorias empíricas e não empíricas, não é a verificabilidade, mas sim sua falsicabilidade. Com efeito, uma lei científica jamais poderá ser inteiramente confirmada, ao passo que pode ser totalmente falsificada.

O lógico na construção da ciência são os problemas, e com eles, as hipóteses, as conjeturas, e não as observações. Observamos através de um ponto de vista, sempre sob o estímulo de um problema. Todos os conhecimentos são respostas a problemas prévios.

Adquirimos os conhecimentos que se prestam para solucionar nossas interrogações, nossos problemas. Por isso, as teorias científicas não são cúmulos de observações, mas sistemas de conjeturas arriscadas e temerárias. Antes de tudo, ciência é invenção de hipóteses; a experiência desempenha um papel de controle das teorias. Percebe-se assim que na epistemologia, a razão humana ainda não conseguiu chegar a uma solução satisfatória e definitiva, com a qual todos possam concordar. Mesmo na filosofia da ciência, recolocam-se as alternativas clássicas: idealismo ou realismo? racionalismo ou positivismo?

Nessa situação poderíamos ser tentados a abandonar o ambiente de pesquisa filosófica. Esta, entretanto, não é a melhor decisão, pois o homem é dotado de razão para procurar a razão das coisas, ou seja, para encontrar uma explicação profunda, geral, exaustiva, uma explicação filosófica.

Assim, sobre todos os aspectos da realidade, e sobre todos os setores do conhecer e do agir, será preciso continuar a filosofar. E mesmo no futuro serão obtidos resultados alternativos, como no passado.