INTRODUÇÃO A EPISTEMOLOGIA DA CIENCIA

INTRODUÇÃO A EPISTEMOLOGIA DA CIENCIA

Christian José Quintana Pinedo(CV)
Karyn Siebert Pinedo (CV)

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Capitulo II. CIÊNCIA

2. CIÊNCIA E SENSO COMUM

Pergunta:

1º.Quais são as principais diferenças entre os conhecimentos do senso comum e da ciência? E como estabelecê-las?[19]

2º. Qual o paralelo entre a ciência antiga e a moderna?

3º. Como explicar: “as elaborações científicas e os ideais de cientificidade são diferentes?”.

2.1.1 Quais são as principais diferenças entre os conhecimentos do senso comum e da ciência? E como estabelecê-las?

Antes de tudo é preciso definir o que é senso comum e ciência. No dicionário Aurélio encontramos a seguinte definição para a expressão senso comum.

Definição 2.1 Senso comum.

Conjunto de opiniões tão geralmente aceitas em época determinada que as opiniões contrárias aparecem como aberrações individuais.

A definição não deixa dúvidas, são opiniões geralmente aceitas em época determinada. Isto significa que o senso comum varia com a época, ou melhor, de acordo com o conhecimento relativo alcançado pela maioria numa determinado período histórico, embora possa existir uma minoria mais evoluída que alcançou um conhecimento superior ao aceito pela maioria. Estas minorias por destoarem deste “senso comum” são geralmente discriminadas.

A história está cheia destes exemplos. O mais conhecido é o de Galileu. Em seu tempo o senso comum considerava que a terra era o centro do universo e que o sol girava em torno dela. Galileu ao afirmar que era a terra que girava em volta do sol quase foi queimado pela ``Inquisição''. Teve que abjurar-se para salvar a vida; esta opinião era tão arraigada na mente das pessoas que até a própria Bíblia testemunha isto ao afirmar que Josué deteve o sol. É claro que a terra não parava e o sol não começava a girar à volta dela só pelo fato de que, está escrito na Bíblia.

“Hoje o senso comum mudou. Quem afirmar que o sol gira em torno da Terra será considerado no mínimo um louco pela maioria”.

Inúmeros outros casos da mudança do senso comum poderiam ser citados. Era crença no tempo das grandes navegações de que o mundo era plano e quem navegasse pelo oceanos estaria sujeito a chegar num ponto onde terminava mundo e começava um abismo. Colombo e Fernão de Magalhães demonstraram na prática que o mundo era redondo. Outro exemplo famoso foi a teoria da geração espontânea dos micróbios que foi derrubada por Pasteur.

Um exemplo de senso comum ainda aceito pela maioria hoje em dia é o a solidez da matéria. Nos altos círculos científicos esta já é uma idéia superada. Um corpo físico não passa afinal de um estado vibratório que apresenta a ilusão de densidade e impenetrabilidade, em função das altíssimas velocidades das partículas constitutivas dos átomos. Paradoxalmente, a matéria é, em última análise, um grande vazio, onde circulam partículas subatômicas, que por sua vez também são constituídas de partículas ainda menores, e estas, por outras ainda menores (Exemplo: os quarks). Este processo pode estender-se ao infinito.

Os Induístas chamam isto de Grande Maya, ou seja, Grande ilusão. O que vemos afinal é apenas uma aparência da realidade subjacente. Parece irônico que aquilo que se buscava conhecer a fundo desvaneceu nas mãos da ciência quando se concluiu que a solidez, pedra de toque da matéria, não passa de uma ilusão de nossos sentidos. O novo parâmetro, aceito hoje, para definir a matéria é o cinético, ou seja, a energia.

Compreendido o que seja senso comum resta-nos entender o que seja ciência para que seja feito o confronto entre os dois termos. No exemplo acima, sobre a matéria, já se pode antever uma diferença significativa entre senso comum e ciência. O primeiro baseia-se nos sentidos, isto é, acredita no que vê ou sente ou naquilo que se tornou patente em virtude da evolução do conhecimento graças aos avanços da segunda, que é, por sua vez, menos crédula e procura através do raciocínio frio e dos métodos experimentais a comprovação de aquilo que os sentidos nos mostram. A história da ciência demonstrou de sobejo que as coisas não são exatamente o que os sentidos nos revelam. Assim podemos considerar a ciência como:

“um método de pesquisa baseado na faculdade racional do ser humano e na comprovação experimental do fato pesquisado”.

Desta forma, há luta entre senso comum que se encontra na cauda do processo do conhecimento e a ciência que está na cabeça. A resistência inércial à mudança de posturas consagradas pela tradição explica a reação a qualquer inovação no campo do conhecimento humano. É recomendável não confundir ciência com tecnologia.

A tecnologia pode ser encarada como o senso prático da ciência e por isso mesmo as suas novas aplicações não provocam celeuma Já a ciência pura ao apresentar uma nova visão de uma teoria já consagrada na prática, provoca, muitas vezes, raivosas reações contrárias Este foi o caso do evolucionismo de Darwin que asseverava um parentesco entre o ser humano e os macacos. Até hoje, após uma centena de anos, ainda se encontram pessoas radicalmente contra esta teoria, embora nos altos escalões da ciência já seja um ponto pacífico.

Fica fácil, agora, estabelecermos as diferenças. A ciência e o senso comum são dois pólos de um mesmo fenômeno. O pólo ciência representa a parte dinâmica do fenômeno que faz o conhecimento evoluir. É a fase construtora do conhecimento. O pólo do senso comum representa a fase conservadora do conhecimento e por isso tem a característica de imobilidade, tendendo a se repetir em um ciclo fechado, eternamente, se não for fecundado pelo dinamismo evolutivo da ciência. Ubaldi se manifestou sobre este tipo de fenômeno da seguinte forma:

“ Quando um fenômeno, por evolução, chegou a produzir-se uma vez, esta nova posição se fixa na manifestação e o fenômeno, quase que por lei de inércia (misoneísmo), tem tendência a continuar reproduzindo-se (a ontogênese recapitula a filogênese ) com um ritmo constante, enquanto a elaboração evolutiva, devido ao impulso divino interior, que compele à ascensão, não o modificar ainda através de pressão e martelamento constantes, vencendo, assim, a misoneísmo, que quereria persistir na linha de idêntica repetição”.

P. Ubaldi - Deus e Universo.

Em outro dos seus livros “O Sistema” ele reforça esta posição:

“ É o misoneísmo da vida que resiste ao impulso renovador do progresso. Por isso, qualquer tentativa nesse sentido perturba, é olhada com suspeitas, e são-lhe postos obstáculos. Tudo permaneceria anquilosado nas velhas fórmulas, caso se pudesse paralisar a evolução”.

Este pensamento vem confirmar o que dissemos acima sobre a discriminação das minorias inovadoras.