INTRODUÇÃO A EPISTEMOLOGIA DA CIENCIA

INTRODUÇÃO A EPISTEMOLOGIA DA CIENCIA

Christian José Quintana Pinedo(CV)
Karyn Siebert Pinedo (CV)

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2.2 CIÊNCIA E REALIDADE

2.2.1 Uma definição de ciência.

Definição 2.3 Ciência.

A ciência é a organização do nosso conhecimento de tal modo que se apodera de uma parte cada vez mais considerável do potencial oculto da natureza [24].

A primeira parte desta definição sintetiza na palavra organização o ternário razão - experiência - imaginação. A segunda parte da definição declara a nossa convicção de que progredimos em virtude da descoberta contínua da natureza que nos leva para além do nosso estádio atual de conhecimento.

2.2.2 A ciência parte da convicção de que a natureza se domina pelo conhecimento.

A ciência aceita que o potencial da natureza não se deixa dominar nem pela magia, nem pela exortação, nem pela persuasão, e, sim, exclusivamente, pelo conhecimento. Não nos é permitido subverter as leis da natureza, ou denegri-las: assim jamais conseguiremos que a natureza se submeta à vontade humana. Pelo contrário, o que nos incumbe fazer é descobrir as leis e a organização da natureza, e só então conceber modos de utilização destas leis em nosso benefício.

Foi assim que inventamos o dínamo, as ondas de rádio, os raios X, os antibióticos, o motor a jato e o raio laser. A ciência é bem sucedida na prática precisamente porque é bem sucedida na teoria - porque aceita a organização interna da natureza tal como a encontra, e, a seguir, dispõe-la de modo a ser útil à humanidade.

Não há feitiço que possa produzir uma reação nuclear em cadeia: esta foi, sim, produzida na seqüência da simples conjetura de que o urânio natural possui vários isótopos, e de que era preciso separar pacientemente estes isótopos um por um. Não existe demonstração mais indicativa da nossa definição, ou seja, orientar o potencial oculto da natureza em conseqüência da organização do nosso conhecimento.

2.2.3 O conhecimento é poder.

Bem entendido, os seres humanos procuram ainda atingir uma soberania total sobre a natureza, e com certa razão, porque afinal de contas é esta procura que nos é característica como espécie – o nosso dom de afastar gradualmente as barreiras com que a natureza nos presenteia. Atingimos já um elevado grau de domínio relativamente aos outros animais, precisamente porque é uma aspiração que nos é imperiosa e também porque desejamos saber como será possível adquirir uma maior liberdade em relação às condições adversas do mundo natural que nos rodeia, algo que não tem sido conseguido pelos restantes animais.

Mas o que importa, o que importa modernamente, é termos dado conta de que a vitória nasce apenas no seio da nossa compreensão do mundo natural.

Quando um cientista desafia a natureza com uma experiência, por mais grandiosa que seja esta experiência, não é um teste do nosso poder mas, antes, dos nossos conhecimentos. O lançamento da primeira bomba atômica no Novo México, não foi um “acte gratuit”, nem uma simples prova de demonstração de que a bomba era uma espécie de portador de vitórias, mas sim, uma prova de que a bomba funcionava.

Afirmamos, por conseguinte, que o conhecimento é poder, e assim é: representa o poder pelo qual os homens lutam para se libertarem das restrições com que a natureza (interna e externa) aprisiona os outros animais. Estas três palavras - conhecimento é poder – não nos devem iludir: a chave oculta para a sua compreensão é a nossa definição do conhecimento como atualmente o possuímos.

O conhecimento é o decifrar das leis da natureza de modo a revelar a sua organização interna, a sua maneira de fazer interagir estas leis. Compreendemos a harmonia que existe entre as leis e, posteriormente, aprendemos a utilizá-las em harmonia com as nossas necessidades. Na realidade, o conhecimento significa um vislumbrar harmonioso; saber usar este conhecimento é precisamente o nosso poder.