ANTECEDENTES DO CAPITALISMO

ANTECEDENTES DO CAPITALISMO

Carlos Gomes

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3.5 – UTENSÍLIOS E INSTRUMENTOS DE TRABALHO

Os utensílios são objectos criados pelo homem para auxílio da vida quotidiana. Só se tornam meios de produção quando manejados com o objectivo de auxiliar o processo produtivo, o que acontece com frequência.

Os instrumentos de trabalho são elementos utilizados como auxiliares na transformação dos objectos de trabalho. Podem ser extraídos da própria natureza ou inventados e construídos pelo homem. Nos instrumentos de produção naturais, os indivíduos estão subordinados à Natureza, mas a sua utilização implica a intervenção do trabalho humano. Os primeiros instrumentos eram constituídos por fragmentos retirados de rochas, lascas ou seixos, com a finalidade de serem utilizados em diversas tarefas. Os instrumentos criados pelo homem resultam já dum trabalho realizado com esse objectivo. O homem utiliza constantemente não só os instrumentos de trabalho existentes como cria outros novos. Os mais complexos surgem na base dos mais simples.

As primeiras ferramentas utilizadas eram de madeira ou pedra polida e foram gradualmente substituídas pelas suas congéneres em bronze. O aparecimento e aperfeiçoamento de ferramentas metálicas, sobretudo de ferro, desempenharam um importante papel no incremento das forças produtivas. A componente metálica aumentou substancialmente, a produção de ferro fundido e o aproveitamento do carvão, existente nas profundezas da terra, deram lugar à chegada da idade do carvão e do ferro.

A eficiência do funcionamento das ferramentas determina a produtividade do trabalho social e influencia as possibilidades materiais de que dispõe a sociedade para o seu desenvolvimento.

Os instrumentos de trabalho são a base determinante do desenvolvimento da produção e o indicador mais relevante da produtividade. Com o aparecimento de novos instrumentos de maior rendimento, a técnica existente envelhece e exige a sua substituição, o que obriga a sociedade a ter em conta a lógica do desenvolvimento da produção. Em toda a produção relativamente desenvolvida, qualquer mudança substancial numa dada actividade repercute-se de maneira inevitável nas restantes.

A máquina é um conjunto de mecanismos construídos pelo homem para a realização duma ou várias funções de carácter produtivo. Partiu de elementos simples para outros mais complexos accionados pelo homem ou conjuntamente por outros meios por ele utilizados. A máquina dispõe de componentes a actuar de forma combinada para receber energia, transformá-la e restitui-la sob uma forma apropriada a fim de obter um determinado efeito. A força motriz que a movimenta pode ser fornecida pelo próprio trabalhador, pela tracção animal, pelo vento, pela água corrente, pelo carvão, pelo vapor ou por outras fontes de energia.

As primeiras máquinas eram, na sua maior parte, feitas de madeira e construídas, tanto quanto possível, nas localidades em que viviam os homens que as usavam e por artesãos que aceitavam essas encomendas ou trabalhavam directamente sob as suas ordens. À medida que a maquinaria se tornou mais complicada e surgiam as primeiras fábricas, o artesão versátil adquiria uma posição de destaque. Com a adaptação da força do vapor, o equipamento produtivo cresceu em volume, em quantidade e em complexidade, tornando necessária a existência de oficinas especializadas no fabrico de máquinas.

Do ponto de vista produtivo, o homem agrega as ferramentas aos seus órgãos naturais com o objectivo de os reforçar, pelo que a sua movimentação resulta dum trabalho individual. Porém, as máquinas deixam de estar vinculadas aos órgãos humanos, movimentam-se por uma força motora, limitando-se o homem a accioná-la e controlá-la o que exige um trabalho colectivo. Com a introdução da máquina o trabalho organiza-se e divide-se de acordo com os instrumentos de que dispõe.

A base técnica da produção mecanizada diferencia-se da produção artesanal, pois as suas possibilidades de desenvolvimento são praticamente ilimitadas. O homem desliga-se do processo directo da produção material. A função de influir directamente sobre o objecto de trabalho, até então desempenhada pelo homem, pode ser transferida para os dispositivos mecânicos, embora o seu manejo continue a ser exclusivo do homem. Na manufactura e no artesanato o trabalhador serve-se da ferramenta, enquanto que, na fábrica é ele que serve a máquina. Poderosas forças alteraram o carácter social do trabalho humano.

Com a máquina a vapor criou-se o primeiro motor a gerar a sua própria força de movimento a partir do consumo de carvão e de água, cuja potência está sob controlo humano. Um sistema de máquinas só se desenvolveu com a entrada da máquina a vapor para o lugar das forças motrizes anteriores. O seu aparecimento durante o período manufactureiro, não alterou o modo de produção. Tornou-se, porém, num mecanismo que executa com as suas ferramentas as mesmas operações antes realizadas pelo homem. A aplicação da máquina a vapor acelerou a concentração de operários e máquinas de trabalho em grandes fábricas.

A modificação das ferramentas de trabalho, o aparecimento das máquinas e a aplicação prática do primeiro motor, capaz de gerar força motriz, conduziram a uma mudança do estado das forças produtivas e, como tal, à modificação das relações de produção.