ANTECEDENTES DO CAPITALISMO

ANTECEDENTES DO CAPITALISMO

Carlos Gomes

Volver al índice

 

 

 

 

1.6 – TRABALHO ADMINISTRATIVO E INTELECTUAL

Com o desenvolvimento económico e social cresce também o papel dum estrato social autónomo que se caracteriza precisamente pelo carácter intelectual predominante na sua actividade. Compõe-no os tabeliães, lentes da universidade, advogados e juizes, físicos, boticários e, também, o pessoal administrativo dos órgãos de soberania, dos templos e dos concelhos. Alguns destes grupos de funcionários possuíam grande prestígio pessoal e eram bem recompensados, uma vez que detinham um conhecimento técnico bastante difícil de alcançar, indispensável à manutenção dos palácios, dos templos e, mais tarde, das empresas. Muitos escreventes profissionais, graças ao saber que adquiriram, eram designados para desempenhar tarefas subalternas dos governos. Alguns cidadãos livres de nascença, embora possuindo terras, preferiam concorrer ao aceder a funções públicas, na banca ou no comércio, nas profissões especializadas, assim como na pequena indústria.

Enquanto a ciência e o ensino permaneciam como privilégio do clero, a actividade intelectual não usufruía de suficientes recompensas materiais. Em particular, os professores não podiam receber honorários, pois a sabedoria era considerada como um dom divino. Apenas podiam receber presentes, como reconhecimento pelos ensinamentos prestados. Com o desenvolvimento das escolas urbanas e a crescente procura de homens instruídos, o ensino adquiriu direito de cidadania e de recompensa ao lado dos outros ofícios.

Não faziam parte da classe senhorial, como é óbvio, aqueles que efectivavam um labor produtivo directo, nem aqueles cujo trabalho que embora socialmente útil, só parcialmente era considerado produtivo. Estas camadas da população não retiravam os seus rendimentos da absorção de parte da riqueza total, desligada duma intervenção directa na actividade produtiva. Com o aparecimento de antagonismos gerados no meio social entre grupos com posições diferenciadas no processo produtivo e no processo de distribuição das riquezas criadas, desenvolveu-se também o antagonismo entre o trabalho manual e intelectual, que se reflectiu na atribuição duma dignidade recusada ao trabalho físico.

No Egipto, os faraós, como chefes de governo, rodeavam-se de administradores aos quais podiam ser confiadas tarefas de poder executivo. Estes emissários eram designados como representantes do soberano nas províncias. O corpo de funcionários administrativos era recrutado em grande parte entre as fileiras dos clérigos. Aliás, sacerdotes e funcionários ligados aos templos locais estavam reunidos numa organização sacerdotal única. O seu poder adquiria uma amplitude tal que, na prática, chegava a suplantar a autoridade divina do faraó.

Na China, século II a.n.e., foi constituído um tipo de funcionários que deviam possuir determinadas características como: homens de boa sociedade, letrados, familiarizados com as obras de Confúcio, geralmente providos de propriedades bastante importantes. Teoricamente, eram escolhidos sem discriminação social, pela sua competência e por meio de métodos, que mais tarde vieram a ser sistematizados sob a forma de exames de Estado. Estes burocratas detinham a exclusividade das minuciosas técnicas administrativas e do sistema de escrituração. Homens da nova classe dirigente acabaram por constituir um grupo social meio fechado, que desempenhava as suas funções, não pela ascendência nobiliárquica, mas pela sua competência ou protecção. No século XVI, os mandarins, altos funcionários civis ou militares, e os seus colaboradores privados pertenciam a uma classe privilegiada, que gozava dum elevado estatuto social e dispunha de grande influência. Eram seleccionados entre os candidatos bem sucedidos em exames oficiais, embora houvesse casos de pessoas que chegaram a mandarins através de pagamentos, recomendações ou por hereditariedade.

Na Europa, século XVI, a centralização progressiva engendrou um sistema baseado na formação duma classe burocrática. Os serviços do Estado dependiam dum pessoal especializado na administração, considerado competente e experimentado. Estes burocratas chegavam a ter lugar na corte, nas chancelarias, nas finanças e mesmo no exército.

Na América colonizada subsistia a discriminação social entre os próprios funcionários administrativos. Os funcionários nascidos nos países colonizadores, embora pouco numerosos, constituíam as classes superiores, seguidos dos já nascidos nos novos continentes e, finalmente, os mestiços e os nativos.