ANTECEDENTES DO CAPITALISMO

ANTECEDENTES DO CAPITALISMO

Carlos Gomes

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2.2 – PRODUÇÃO EM PALÁCIOS E TEMPLOS

O trabalho no domicílio das classes dominantes era realizado no palácio dos soberanos ou da aristocracia, nas dependências anexas aos templos ou no domicílio de grandes famílias burguesas. Neste caso, as relações económicas e sociais centram-se entre os produtores e as classes a que estão subordinados ou instituições de que dependem

O trabalho era efectuado por escravos e servos, mas também por trabalhadores livres, em geral mulheres e crianças. As próprias famílias eram obrigadas a fornecer trabalho grátis no domicílio do senhor e a sujeitar-se a toda a espécie de serviços suplementares; as mulheres fiavam e teciam na oficina do senhor e as crianças eram utilizadas como criados domésticos.

As reservas do soberano ou senhoriais eram constituídas por sectores explorados directamente pelos seus titulares. Estes controlavam de forma directa e imediata as instalações permanentes: umas, destinadas a celeiro, onde se recolhiam os cereais e demais produtos entregues pelos agricultores como rendas em géneros; outras, destinadas a habitações do pessoal, estábulos, adegas com as suas prensas e currais para os animais próprios do senhor. Alguns camponeses que viviam em comunidades rurais ou mesmo na cidade estavam ligados ao núcleo económico do “paço senhorial” por uma relação tributária, representada por uma obrigação compulsiva de prestação gratuita de trabalho. Os artesãos trabalhavam também no interior da organização do palácio, recebendo matérias-primas de origem distante e de alto valor como madeira e marfim, metais e pedras preciosas.

Muitas instituições aristocráticas dispunham de explorações agrícolas próprias que envolviam a exploração pecuária e culturas arvenses, como vinhas e olivais. Por vezes, mantinham oficinas artesanais e chegavam a exercer actividades indústrias com características monopolistas.

Os templos, além dos locais de culto, compreendiam edifícios exteriores como celeiros, armazéns, estábulos e oficinas. Os diversos organismos eclesiásticos detinham, além das terras, instrumentos de produção, como moinhos, fornos, prensas, lagares, adegas, celeiros, ferrarias, marinhas, pesqueiros, coutadas de pesca e caça. Possuíam ainda outros bens como casas de habitação, balneários, estalagens, centros de comércio, etc. Nos mosteiros, os frades dirigiam a produção pecuária, o cultivo de cereais, da vinha, do azeite, de frutos e legumes, além de orientarem actividades de índole não agrícola. Numerosas pequenas igrejas dispunham de domínios fundiários privados, em que colhiam parte das rendas pagas pelos cultivadores, com áreas de cultura directa a cargo dos respectivos sacerdotes ou até explorações agrícolas de nível familiar.

No Egipto, as propriedades dos altos dignitários incluíam também oficinas de artesãos. Pelo seu trabalho os artesãos recebiam um pagamento em géneros: cereais, peixe, legumes e outros produtos.

Na Mesopotâmia, o templo surge como uma unidade sócio-económica auto-suficiente, com os seus próprios administradores e servidores. Os membros do templo de condição inferior eram mulheres e crianças reduzidas à escravatura, antigos prisioneiros de guerra e indivíduos doados ao templo a título de oferendas devotas. Os funcionários do templo combinavam a função de guardiões da morada física dos deuses com a supervisão e o desempenho das tarefas produtivas. Essas actividades económicas possibilitavam a acumulação de excedentes que constituíam os recursos necessários para o envolvimento no comércio e a expansão dos ofícios do templo.

Na China, pouco antes do início da nossa era, os artesãos já não eram servidores dos senhores feudais mas sim mantidos pelo governo. Os artesãos e artífices, que tinham adquirido um elevado grau de perícia, transmitida pelas suas famílias, de geração em geração, ou que possuíam uma notável destreza manual, eram mantidos em escravidão pelas oficinas supervisionadas e controladas por gabinetes estatais. As oficinas do Estado produziam grande quantidade de relhas de arado e enxadas de ferro montadas em cabos de madeira. Detinham o monopólio do ferro, do sal e do chá e estavam ainda dependentes do poder estatal: os transportes, os entrepostos de cereais e de tecidos. No século XVI, os mosteiros do Tibete tornaram-se no principal poder económico do país. Possuindo grandes domínios estenderam a sua influência a regiões distantes. Nas suas terras trabalhavam servos, rendeiros e pastores nómadas. Empregavam administradores para superintenderem a gestão duma riqueza que incluía a cobrança de impostos, o trabalho em regime de corveia, a concessão de empréstimos, geralmente para a aquisição se sementes.

No Irão, no século XVII, o soberano era o maior empregador de mão-de-obra devido ao sistema de oficinas reais que davam trabalho a uns dois mil operários e artesãos. Algumas actividades produtivas existiam apenas para ir de encontro às necessidades da casa real, mas muitas eram fábricas propriedade do Estado que produziam toda a espécie de tecidos, brocados e tapetes.

Entre os Astecas, os palácios e as casas senhoriais funcionavam como unidades de produção, onde se confundiam actividades administrativas, económicas, políticas, cerimoniais e militares.