ANTECEDENTES DO CAPITALISMO

ANTECEDENTES DO CAPITALISMO

Carlos Gomes

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1.6 – PRODUÇÃO AGRÍCOLA NÃO ALIMENTAR

A produção agrícola não alimentar tinha sobretudo como objectivo a obtenção de matérias-primas destinadas ao sector têxtil e a obtenção de produtos de origem florestal.

Algumas variedades de linho eram cultivadas para aproveitar os seus grãos oleaginosos e as suas fibras. O linho começou a ser cultivado por se tratar duma plana oleaginosa, mas pouco tempo tardou para se tornar uma matéria-prima do fabrico de vestuário. Foi uma cultura que teve grande expansão no Egipto porque as pessoas não utilizavam o vestuário de lã. Alguns agricultores chegavam a afectar algumas áreas ao cultivo do linho, denominadas linhal. As rendas senhoriais incluíam o linho ao lado dos cereais, o que é demonstrativo da importância que era atribuída a esta fibra. Essa renda era exigida em molhos de palha de linho ou em linho já fiado e tecido. No comércio, os preços dos panos e do vestuário eram frequentemente fixados, bem como as taxas de portagem.

O cânhamo era outra fibra têxtil de cultivo semelhante à do linho e, como tal, exigindo solos dotados de alguma fertilidade e com água nas proximidades. O cânhamo era cultivado pelas suas apreciadas propriedades narcóticas, era utilizado para cozer o calçado e, sobretudo, constituiu uma preciosa matéria-prima no fabrico de cordame e velas para as naus. O cânhamo tecido era também usado para vestuário de Inverno.

O cultivo do algodão teve uma enorme influência no desenvolvimento económico e social com a revolução que produziu na confecção de vestuário. O crescimento das cidades e a expansão do comércio originou um grande incremento do cultivo do algodão. Vindo do Oriente para a Europa, forneceu um novo têxtil útil para a população que só conhecia vestuário de lã. A obtenção da fibra do algodão exigia o uso de dois dispositivos: a descascadora de engrenagem sem-fim para separar a semente da fibra e o batedor ou espadela para separar as próprias fibras. O trabalho agrícola era realizado por pequenos agricultores forçados à venda a baixo preço aos grandes produtores ou, nas grandes plantações, por escravos.

A seda é uma fibra natural de origem animal, concebida na China no II milénio a.n.e. A sua produção combinou a actividade agrícola com a criação do bicho-da-seda. Como se verá adiante, a expansão da seda atravessou vários continentes.

A folha de papiro foi o suporte por excelência da escrita egípcia, maleável, resistente e fácil de escrever, e representou um papel de extrema importância no desenvolvimento da sociedade, tanto no aspecto económico como cultural. Servia também para embrulhar e conservar alimentos, construir pequenas embarcações ligeiras, atando os caules em feixes, pequenos móveis, velas, esteiras, cestos, sandálias, tangas e até, aproveitar a parte inferior da base para um manjar delicioso. As raízes da planta eram aproveitadas como combustível.

O tabaco, originário da América, era utilizado para fumar e também como remédio. Os produtores locais dominavam a arte do cultivo do tabaco e a técnica da cura das suas folhas. Divulgado pela Europa no século XVI, o tabaco tornou-se um produto muito lucrativo nos mercados europeus e encorajou os colonos a intensificarem a sua produção e prosseguirem uma política de lucro individual. O tabaco era cultivado intensivamente, prestando-se especial atenção à qualidade de cada folha e podendo-se cultivar de forma proveitosa em pequenos terrenos ou quintas, não sendo necessários grandes investimentos de capital. Isto permitiu aos pequenos agricultores espanhóis espalharem o cultivo do tabaco nas planícies de Cuba obtendo um grande sucesso comercial.

Além do aproveitamento directo da floresta por derrube, eram também plantadas árvores para obtenção de madeira para construção. A madeira difere de outros produtos devido ao seu difícil transporte. Em muitas regiões, sob a forma de troncos ou reunida em jangadas a madeira descia os rios até aos centros de distribuição a jusante. A procura de madeira para as minas e construção levou à degradação do meio ambiente. Na Índia, séculos XVI, a floresta era a fonte de muitas ocupações: recolha de carvão, lenha, madeira, laca, sedas naturais, mel. No Japão, pela mesma época, o abate excessivo da floresta natural deu início à instituição de regulamentos referentes à utilização das florestas e à replantação de árvores. A actividade de plantação e cultivo de árvores era economicamente viável, apesar de acarretar um investimento que podia atingir períodos de dezenas de anos. Na América Central, a partir da casca da quina era extraído o quinino conhecido pelos índios como um poderoso medicamento. Na Península Ibérica, o sobreiro tem sido plantado desde tempos remotos. A cortiça, extraída de dez em dez anos, permitiu o fabrico de isolantes térmicos e sonoros, rolhas para engarrafamento de vinhos e outros líquidos, aprestos de pesca e objectos de uso marítimo, fabrico de colmeias, etc. A borracha produzida pela árvore do mesmo nome, originária da Amazónia, constituiu primeiro uma simples curiosidade e não servia senão para fazer bolas que saltam e, mais tarde, para apagar os vestígios de marcas de lápis ou tinta. Posteriormente, passou a ser amplamente utilizada no fabrico de variados artefactos.

Os jardins desempenharam um papel importante na vida e nos hábitos da classe burguesa. O jardim passou a fazer parte integrante duma moradia bem concluída. O tomate foi igualmente transplantado da América mas, até ao século XIX, servia para ornamentar os jardins. As estufas estavam muito espalhadas, desde o século XVII, época em que já se fabricava, com sucesso, o vidro para vidraças.

Ente outros produtos não alimentares é de referir: a cabaça, única planta cultivada para fazer recipientes, a árvore da mirra de que se obtém uma resina aromática e balsâmica e o cultivo de plantas tintureiras que acompanhou o crescimento da produção têxtil.