ANTECEDENTES DO CAPITALISMO

ANTECEDENTES DO CAPITALISMO

Carlos Gomes

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1.8 – PESCA E ALIMENTOS MARINHOS

Neste sector de actividade é necessário separar dois tipos de pesca: a fluvial e a marítima. Esta distinção impõe-se devido à diferente importância económica e aos meios técnicos e profissionais utilizados no seu desempenho. Nem os tipos de barcos nem os aprestos são exactamente iguais.

Os pescadores de água doce não exerciam exclusivamente essa ocupação, pois o grau de produtividade não era suficientemente elevado, obrigando os pescadores desdobrarem-se entre a pesca e a actividade agrícola. Apesar disso, a aristocracia não se contentava em cobrar uma renda das eventuais pescas, mas impunha também a obrigatoriedade de prestação de serviços gratuitos.

Os utensílios de pesca eram, em regra, construídos pelos próprios pescadores, com excepção das embarcações, das âncoras e dos arpões. Os processos utilizados eram resumidamente: um primitivo, com a colocação de ramos de árvore ou de pedras que retinham o peixe na vazante; o lançamento à água de determinadas plantas para envenenar o peixe; a pesca por meio de armação de redes, armadilhas ou grandes cestos de vime entrançado; a pesca nas margens ou em barcos, à linha ou com a ajuda de redes. As conchas também eram usadas para fazer anzóis.

Os instrumentos produtivos pertenciam aos próprios pescadores em consequência das características desta actividade. Porém, algumas instalações permanentes, como as pesqueiras, pertenciam ao domínio senhorial. Este domínio era exercido em algumas superfícies de água doce mais ou menos demarcadas, conhecidas como “coutadas de pesca”, através da proibição pura e simples dos pescadores actuarem nessas áreas.

Na pesca marítima os aprestos não se afastavam muito dos modelos usados nas diferentes fainas na pesca de água doce. Em geral, pescava-se a partir da margem, mas também era normal o uso de pequenas e leves embarcações. As redes, usadas em águas pouco profundas, eram individuais e de pequenas dimensões, feitas de corda para capturar peixes de pequeno e médio porte. As embarcações variavam conforme se tratasse de pesca costeira ou de pesca de alto mar. Neste caso, nas capturas mais importantes usavam-se redes de arrasto, o que obrigava à aplicação simultânea de várias pessoas e à orientação dum mestre.

A pesca nunca perdeu a sua importância como fonte normal de alimentação humana. As populações insulares ou costeiras, primitivas ou civilizadas, fizeram sempre dos produtos do mar a base da sua alimentação. A pesca permitiu a introdução de uma importante quantidade de proteínas na dieta alimentar. A alimentação marinha incluía também toninhas, tartarugas e crustáceos apanhados em águas pouco profundas. A pesca da baleia era muito compensadora apesar dos seus riscos. A baleia fornecia o óleo, espermacete extraído do cérebro dos cachalotes e utilizado no fabrico de velas, as barbas, etc. No século XVI, já era realizada a pesca do alto, a pesca do bacalhau e da baleia. Na América do Norte, o capitão dum barco de caça à baleia chegava a atingir um alto estatuto dentro da comunidade.

O objectivo da pesca era essencialmente a obtenção de um produto alimentar suficiente para consumo dos pescadores e suas famílias, mas também era destinado à troca directa ou ao abastecimento do mercado interno. O peixe era depois transportado em cestas. A preservação do pescado, que estava nas mãos das famílias dos próprios pescadores, permitiu alargar a sua venda a áreas mais distantes por intermédio dos mercadores. A comercialização envolvia, com frequência, o marisco, o peixe seco, fumado ou conservado em sal. Por vezes, o volume de pescado era suficiente para permitir a exportação.

A pesca destinada a abastecer vários mercados deu origem à prática de técnicas de conservação, como a salga. O elevado volume de pesca obtido e a grande mobilidade dum negócio, que atingia a faixa costeira, deu um enorme contributo para o aumento da quantidade de géneros alimentícios à disposição da população. Além de meio de subsistência, a pesca tornou-se também numa actividade de desporto e lazer entre os estratos sociais mais elevados.

A renda cobrada, que beneficiava as entidades senhoriais, incidia sobre o valor da produção bruta. Nos próprios cursos de água doce e no domínio dos portos marítimos de desembarque do pescado concretizava-se a cobrança do tributo do pescado e das rendas provenientes da apropriação senhorial das embarcações e de determinados géneros de rede.