ANTECEDENTES DO CAPITALISMO

ANTECEDENTES DO CAPITALISMO

Carlos Gomes

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4.2 – PERMUTA E TROCA DIRECTA

A permuta dos produtos de trabalho surgiu inicialmente com carácter casual, realizada nos contactos ocorridos entre as diversas comunidades. A permuta é uma forma primitiva dum processo em que as comunidades ainda produziam quase tudo o que necessitavam. A permuta duma coisa por outra é originada pelo aparecimento de bens que não se destinam a um uso imediato, e podem interessar a outros indivíduos ou grupos sociais. O sistema de permutas vai-se alargando e complexificando no decurso do tempo, tanto pela extensão da massa dos bens como pelo número de comunidades envolvidas. Este processo tem-se mantido esporadicamente num círculo fechado de relações, com base no valor de uso dos bens permutados.

A troca directa (ou escambo) é realizada entre produtores já especializados, sem intermediários. Quando as populações começam a especializar-se nas suas actividades e produzem excedentes trocam entre si produtos diferentes de que necessitam. Mas existe uma diferenciação em relação à permuta que resulta de os objectos produzidos se trocarem já não apenas na base do seu valor de uso, mas também na base do esforço quantitativo necessário à sua laboração.

Na troca directa dum bem por outro não é utilizado qualquer outro meio intercalar ou dinheiro, não existindo qualquer mediação monetária. Esta situação tende a modificar-se quando o intercâmbio se torna demasiado frequente, em resultado da divisão social do trabalho e da produção de excedentes. Nas trocas tradicionais não existe apenas o aspecto económico, embora este seja o dominante. O sistema de troca directa consegue equilibrar os níveis de oferta e de procura, visto que os dois actos se realizam em simultâneo, pois correspondem aos interesses imediatos dos interessados.

Com o avanço gradual da divisão social do trabalho, cada família ou comunidade deixou de produzir totalmente aquilo que consumia. Havia uma agricultura, uma pecuária, uma pesca ou caça, uma salicultura e um certo nível de actividade artesanal. À medida que a produção tende a diversificar-se e aparecem novas profissões, as comunidades que se concentram num tipo determinado de actividade têm de recorrer à troca daquilo que produzem e não consomem, para além do que têm de manter para pagamento do tributo à entidade soberana. A divisão social do trabalho acentuou a necessidade da troca, primeiro de forma directa, entre os produtores. As trocas tornam-se sistemáticas devido à existência dum excedente regular.

A crescente especialização do produtor directo leva-o a intensificar a troca de parte dos seus produtos por instrumentos que sirvam para os seu trabalho, em vez de ser ele próprio a fabricá-los, por certo de maneira mais tosca do que os profissionais já especializados. Este factor revela a tendência para a intensificação das trocas directas dos bens necessários à produção.

As trocas efectuam-se primeiro por intermédio dos chefes de clã, os anciãos ou os patriarcas. O gado constituiu o principal objecto de troca. O trabalho dos primeiros artesãos tinha de ser pago em géneros alimentares. As relações económicas entre as tribos e as outras comunidades convertem-se em vínculos regulares, cada vez mais sólidos, que assumem como forma a troca de produtos. É o caso do intercâmbio entre tribos pastoris e agrícolas. A separação entre o artesanato, a agricultura e a pecuária intensificou a produção de artigos já destinados a corresponder a este intercâmbio.

Com a extensão das trocas é de admitir uma efectiva contracção das permutas, mas é inegável que os produtores continuaram a trocar entre si alguns artigos com base na sua utilidade. Em diversas regiões do globo, as trocas directas de géneros, objectos e utensílios de trabalho continuam a ser prática corrente. Historicamente é ainda habitual o escambo readquirir importância em épocas de crise económica e principalmente de hiperinflacção, quando o dinheiro perde grande parte do seu valor.