ANTECEDENTES DO CAPITALISMO

ANTECEDENTES DO CAPITALISMO

Carlos Gomes

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1.2 – MÉTODOS DE CULTIVO

Os métodos de cultivo usados em diferentes territórios exercem uma grande influência na produtividade conseguida, na evolução económica dos diferentes povos e nas suas relações sócio-económicas.

A plantação de sementeira refere-se ao desenvolvimento de plantas germinadas directamente a partir de sementes distribuídas pelos campos em grande quantidade. Este método de cultivo, aplicado sobretudo na produção de cereais, exige uma intensa actividade laboral em terrenos por vezes afastados dos locais de habitação, o uso de novos meios de trabalho, como o arado e animais de tracção. O processo de preparação dos campos, a semeadura, a colheita e o processamento do grão diferencia-se consideravelmente de outras técnicas. Há um paralelismo entre as áreas semeadas, de forma intensiva e em larga escala, onde os cereais constituíam o alimento vegetal de base, e os territórios que registaram uma grande dinâmica na sua evolução. É o caso exemplar e bem conhecido do aproveitamento do deserto ocidental do Egipto.

A plantação vegetativa precedeu a plantação de sementes mas exige meios e utensílios de trabalho muito reduzidos, pois limita-se a assentar as estacas ou os tubérculos em buracos individuais ou em montículos de terra. Entre os tubérculos plantados contam-se inhames, mandiocas, batatas, que podem ser colhidos todo o ano.

A horticultura é um método comum de exploração agrícola com uma técnica baseada no cultivo em terrenos húmidos. A tradição hortícola é característica duma plantação permanente e intensiva em aldeias com população densa. A horticultura apenas permitia cultivar um número restrito de plantas, legumes, frutos e flores.

Com o decorrer do tempo, que envolve séculos e até milénios, é notória a preocupação da melhoria da produtividade e a invenção e aplicação prática de novas técnicas que, na sua maioria, ainda hoje são usadas. Para obter uma quantidade maior de cereais eram empregues técnicas de aproveitamento máximo da terra arável disponível, seleccionadas as características das sementes, manejados de maneira mais prática os instrumentos utilizados para lavrar, sachar, mondar e ceifar os cereais.

Em matéria agrícola, entende-se por rendimento a relação que existe entre a superfície de terras agrícolas e a produção que ela permite. A produtividade por seu lado mede o produto que se obtém através da quantidade de trabalho ou doutros factores produtivos, como a técnica, a gestão ou o capital. Em certas regiões, o problema da produtividade agrícola era encarado não sob o aspecto das colheitas por semente lançada à terra, mas sim por casal, por cada família camponesa. Pode haver explorações agrícolas que apresentem rendimentos elevados e uma produtividade fraca, e vice-versa.

Nos campos são, em geral, usados dois tipos de cultura: um, com terrenos alagados que se conservam numa parte do ano debaixo de água e têm os extremos elevados para reter a água que recebem da chuva ou da irrigação; outro, com terrenos secos. Estes dois tipos de agricultura, de regadio e de sequeiro, completam-se e provocam a exigência duma grande diversidade entre as sementes que devem ser semeadas. A técnica de cultura em socalcos elevados oferece inúmeras vantagens: melhor drenagem, retenção da humidade, extirpação de ervas daninhas, aumento da fertilidade dos solos pobres.

A fertilidade dos solos define-se pela respectiva capacidade de produção em relação a determinado sistema de cultivo. Para igual intensidade de cultivo, o solo é tanto mais fértil quanto mais elevadas forem as produções por unidade de superfície. Com o objectivo de aumentar a fertilidade foram concebidas várias técnicas. O conhecimento do valor do estrume animal é muito antigo, mas obriga a grandes esforços para o recolher e conservar. Nas regiões de cultivo intensivo foi criada a técnica da “estrumação verde” que consiste na lavra com emprego de plantas azotadas. A preocupação em conseguir fertilizar os campos, levou os agricultores a descobrir as propriedades do loesse, sedimento constituído por grânulos finos de quartzo e calcário, envolvidos em argila e arrastados pelo vento ou pelo curso das ribeiras. Outros fertilizantes naturais foram utilizados, como o estrume proveniente de restos mortais, a palha retirada das estrebarias, caules vegetais, folhas apodrecidas e queimadas pelo calor. A imaginação do homem é muito rica! No Japão, século XVII, o peixe era usado como fertilizante depois de seco e triturado. No século XVIII, instrumentos agrícolas aperfeiçoados que facilitavam o emprego de adubos e a recolha de forragem melhoraram o cultivo, economizaram mão-de-obra e aumentaram a produtividade diária.

A adubação dos terrenos cultivados revestia-se de tal importância que entre as obrigações exigidas pelas classes senhoriais aos colonos incluía-se, como tributo, o fornecimento de carros com estrume. A adubação dos campos era feita a partir de estrume animal a que se juntava o adubo verde da palha do cereal ou de folhas e ramos em decomposição. Era também conhecido o uso de cinzas como adubo aproveitado das queimadas. Nas zonas junto às margens dos rios ou do mar eram utilizados os limos, sargaços e outros fertilizantes.

O afolhamento consiste em dividir os terrenos e cultivá-los em tantas partes quantos os anos de rotação; as culturas e repousos sucedem-se em cada uma das folhas. Esta prática foi uma notável invenção no domínio da agricultura chinesa, ocorrida no início da era cristã. O primeiro sistema foi o da rotação bienal, um ano de cultura e pousio no ano seguinte; seguiu-se o método de três folhas, que tem em conta a extensão da terra cultivada. O pousio reduz a cultura a metade ou um terço, mas é uma necessidade indispensável. Em certas regiões, o sistema de afolhamento está regulado por um conjunto de costumes e normas como, por exemplo, a pastagem do gado depois das colheitas sem distinção de propriedade.

A limpeza dos bosques viabilizou o cultivo de áreas mais secas, onde a quantidade de pasto disponível podia compensar a fraca qualidade da terra arável. Bosques inteiros foram arroteados lado a lado com a drenagem de terrenos pantanosos para dar lugar a terrenos agrícolas

A prática das queimadas era essencial entre populações com diferentes tradições de cultivo. As queimadas ainda hoje se fazem com o objectivo de preparar a terra para a lavra. Para eliminar a vegetação espontânea e fazer avançar a área susceptível de aproveitamento agrícola, incendiava-se a vegetação silvestre.

A tendência para uma agricultura mais racional e informada reflectiu-se no aparecimento de tratados sobre o tema agrícola. Data do início do I milénio a.C., o aparecimento dum monumento literário sumério, conhecido pelo nome de “almanaque do agricultor”, com a forma de ensinamentos dados por um agricultor experiente aos seus filhos, contendo diversos concelhos para manter as terras férteis, sustar o processo da salinação dos solos, fazer apenas uma colheita por ano, descrevendo em pormenor os trabalhos do campo na sua sequência temporal. Na China, o tratado de agricultura de Chen Fu, concluído em 1149, apresentava um tratamento detalhado da técnica de cultivo de rebentos de arroz em viveiros e o seu transplante para os campos de arroz e da constante renovação da fertilidade dos solos. Mais tarde o famoso agrónomo Wang Zeng ocupou-se das práticas produtivas em terras agrícolas secas e o cultivo de arrozais e preocupou-se também com a florestação, a criação de gado e a utilização de novas ferramentas. Na Europa, no século XIII, surgiram os primeiros tratados de agronomia de Roberto de Grosseteste e de Walter de Henley.

Na Europa, no século XVII, a burguesia rural introduziu algumas inovações ao nível das técnicas agrícolas, com a rotação de culturas, deixando menores extensões de terra em pousio. Surgiram novas técnicas como semear em filas e não duma forma dispersa e verificou-se um progresso substancial na aplicação de fertilizantes naturais e o aumento da produção de estrumes. No século XVIII, foi estabelecido um novo método de rotação das culturas. Os rendeiros descobriram que certas plantas, principalmente leguminosas, revivificavam o solo em vez de o esterilizar. O princípio da renovação do solo encontra-se na propriedade que têm certas plantas de fixar azoto da atmosfera. Podia-se assim manter a produtividade do solo sem deixar a terra em pousio e adoptar um sistema de afolhamento quadrienal.

Na África Subsariana, século XVI, o conhecimento que as populações tinham dos solos e das técnicas de trabalho resultava de práticas empíricas cuja utilidade ficara provada ao longo dos séculos. Os africanos sabiam como avaliar a natureza e a qualidade do solo e o seu valor agrícola, ou seja, quais as plantas que nele poderiam cultivar com sucesso. Também existia a prática do pousio, era aplicada a rotatividade das colheitas e o cultivo em socalcos.