ANTECEDENTES DO CAPITALISMO

ANTECEDENTES DO CAPITALISMO

Carlos Gomes

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4.7 – DÁDIVAS E OFERENDAS

Dar significa, por definição, oferecer alguma coisa a alguém sem nada receber em troca, pelo menos de imediato. Porém, nas relações económicas, a dádiva é em geral seguida de outra dádiva. Tornou-se um modo de agir generalizado e que se tem verificado quer entre os povos antigos quer entre os actuais. Raramente era apresentada como um acto unilateral, pois todo o presente pressupunha reciprocidade. Embora haja esta contrapartida, frequentemente obrigatória, estes actos só se concebem como distanciados no tempo, não se buscando qualquer equivalência de valores de uso, não se afigurando qualquer avaliação por uma unidade comum. A dádiva é algo cedido na expectativa duma resposta de valor idêntico. Quando esta não existe, aquele que a tinha recebido coloca-se em estado de dependência.

A dádiva pode originar a permuta, quando a obrigação de retribuir se combina com a exigência de equivalência, podendo ser considerada como uma permuta diferida. Tem sido um meio através do qual a troca se efectua fora da racionalidade económica. A permuta que deriva da dádiva pode pertencer ao domínio económico ou a um âmbito mais vasto no qual os factores económico e social se acham interligados. O sistema de dádiva recíproca pode ocupar um lugar de primeiro plano e regular uma parte importante das permutas económicas ou da distribuição de papeis de natureza política.

Podem distinguir-se dádivas entre iguais e dádivas hierárquicas. Estas caracterizam-se pela desigualdade de valores e pela diferença do que se espera do outro. A oferenda feita por um igual pressupunha, em compensação, outra oferenda. Em geral, não existe a doação unilateral, mas sim a troca de presentes. A troca de oferendas desempenhou um papel considerável na vida social e no resultado favorável de transacções comerciais ou de negociações pacíficas. Nas relações entre senhores e agricultores, as dádivas eram constituídas por presentes originalmente espontâneos, mas que a classe dominante passou a exigir como norma corrente e parte da renda, definindo até as quantidades de cereais, galináceos ou quaisquer outros artigos. No Império Persa, século VI, ainda havia “ofertas obrigatórias” que consistiam, de facto, num contributo pago em géneros, usado entre outras coisas para manter o aparato administrativo do soberano. Estas ofertas podiam incluir cavalos, concubinas e eunucos.

A dádiva quando dirigida directa ou indirectamente ao adversário tem como objectivo preciso suscitar uma outra dádiva ainda mais conspícua, que dê nas vistas, por parte do antagonista no sentido de o prejudicar e de a longo prazo lhe quebrar a resistência.

No período de expansão do comércio internacional, os mercadores e os grupos dedicados ao comércio aprendiam a quem se deviam dirigir, de que maneira e com que presentes podiam promover relações com as sociedades com que projectavam contactar. Este comportamento foi também comum aos descobridores de novos territórios e aos colonizadores. Por trás da oferenda existia todo um objectivo de troca e reciprocidade.