ANTECEDENTES DO CAPITALISMO

ANTECEDENTES DO CAPITALISMO

Carlos Gomes

Volver al índice

 

 

 

 

3.8 – CONSTRUÇÃO DE HABITAÇÕES

A habitação evoluiu da gruta ocupada por recolectores, caçadores ou pastores nómadas para a aldeia sedentária, tornando-se necessário um abrigo para o homem quando a agricultura começa a transformar a sua existência. A gruta torna-se pouco cómoda quando está afastada das terras cultivadas. Isto não significa que não existam, ainda na actualidade, em diversas regiões, habitações semi-subterrâneas ou tendas semi-permanentes, permitindo mudanças frequentes dos acampamentos. Aliás, em zonas agrícolas era frequente dividir a existência entre duas habitações diferentes: uma, em casas nas aldeias; outra, durante o período de grandes trabalhos nos campos, em cabanas improvisadas. As cabanas dos pastores, simples e isoladas, incluíam currais para gado.

Em cada região, as características particulares da habitação dependem muito do clima, dos materiais oferecidos pela natureza e dos métodos de construção. Nas zonas quentes e temperadas, as construções ligeiras são compatíveis com as necessidades domésticas; noutras zonas, é essencial possuir casas sólidas que permitam uma protecção eficaz contra o frio, o vento ou a chuva.

Onde a pedra era rara, os homens tiveram de aproveitar materiais menos duráveis como a lama, as canas ou as palmeiras, o que impõe uma arquitectura específica. Surgem as cabanas onde as condições climatéricas o permitem, apoiadas em palmeiras a servir de colunas, mantidas por armações de canas e barro ou assentes em estacas. As paredes revestidas de lama, evoluíram para terra amassada.

Salvo as regiões onde abunda a pedra e o basalto, o material utilizado na construção de habitações e armazéns de produtos agrícolas era principalmente o tijolo, cujo fabrico se espalhou rapidamente. Os tijolos foram também utilizados na construção de colunas especialmente moldadas para esse efeito. Entretanto, tornou-se conhecido o tijolo vidrado.

As casas de taipa ou adobe, frequentes nos povoados, eram construídas sobre fundações de pedra, comportavam divisões, lareira, quintal, fornos e cavidades revestidas de argila que serviam de armazém de cereais ou farinha. Estas casas tinham amiúde telhados de cana ou de colmo.

Em várias regiões as casas eram construídas exclusivamente de madeira, com uma pesada estrutura, constituída por peças encaixadas e ausência de pregos de metal ou madeira. Eram mais comuns entre agricultores a viver num ambiente de floresta ou entre pescadores a viver em grandes casas comunitárias. A madeira era também utilizada em habitações lacustres, à beira-mar, ou na margem de certos rios e lagos, elevadas acima do solo sobre estacas, com chãos feitos de toros, tábuas e argila, para protecção da humidade.

A pedra não era utilizada por si só de forma corrente na construção de habitações. Não se construía sem outros materiais que eram necessários à completa edificação. Muitas vezes o chão era de pedra, mas as estruturas eram feitas de madeira ou adobe. Em algumas regiões aparecem casas construídas com o solo pavimentado com seixos retirados dos rios. A pedra desempenhou um papel mais privilegiado com a aparição dos túmulos megalíticos, santuários, muralhas e outras construções aristocráticas ou religiosas. A substituição da madeira e do tijolo pela pedra implicou novas técnicas.

Há medida que o tempo decorre e aumenta a riqueza, o lugarejo transforma-se em aldeia e esta, em muitos casos, em cidade. Formam-se distinções sociais que incitam à construção de edifícios mais ambiciosos. A autoridade secular ou religiosa é simbolizada pelos palácios e pelos templos, cujas dimensões e esplendor os distinguem das residências dos comuns cidadãos. Esta evolução influenciou a técnica de construção e engendrou a arte. As classes governantes, para melhor se demarcarem das classes inferiores e realçarem o seu prestígio mandaram construir impressionantes edifícios, cujos materiais eram com frequência importados de longe. Nas grandes cidades apareceram construções de novo estilo. A casa urbana não era apenas um lugar de habitação, era local de trabalho, que podia incluir oficina e loja. Uma parte das casas dos nobres passou a ter a cobertura em telhas. Em Roma, as classes mais abastadas mandaram construir luxuosas vivendas rodeadas de jardins, muitas vezes no campo ou junto ao mar. Na Grécia, alguns palácios incluíam armazéns, oficinas de artesãos, além das áreas de serviços domésticos. Os palácios árabes incluíam sistemas hidráulicos como, por exemplo, aquedutos, reservatórios de água e belíssimos jardins.

Com o aumento do poder político e económico, as sociedades foram-se transformando em organizações compostas por novas classes sociais. Aumentam os exemplares de arquitectura residencial e paralelamente assiste-se à construção frequente em pedra e tijolos. As casas da aristocracia e da burguesia, e até mesmo das classes intermédias, tornaram-se requintadas e monumentais em termos de dimensão.

O mobiliário, com excepção dos utensílios indispensáveis para cozer os alimentos ou lavar a roupa, era antes pouco mais que inexistente. Porém, nas classes superiores registou-se a introdução de mobiliário, camas, arcas, mesas, cadeiras, bancos e outros móveis. Entre os países árabes é largamente utilizada a tapeçaria, os utensílios de cozinha eram notáveis pelas suas vastas proporções, a iluminação mais corrente era fornecida por candeeiros de azeite.

Nos estaleiros de construção aperfeiçoaram-se vários aparelhos para levantar pesos, como sarilhos, roldanas, guindastes, e apareceu o carrinho de mão. Tais mudanças reflectiram-se na diferenciação das profissões com os pedreiros, os caiadores, carpinteiros e vidraceiros. Os mestres pedreiros juntavam à técnica da pedra a arte do arquitecto e do escultor, pois possuíam preparação suficiente para intervir na edificação de monumentos. Usavam o compasso e o esquadro, desenhavam plantas num pergaminho, maquetas em barro ou em madeira. Os numerosos utensílios que utilizavam faziam parte dum inventário de bens que passavam de pais a filhos.

Com a expansão das grandes cidades mercantis e palacianas, a arquitectura deixou de ser concepção de mestre pedreiro para se tornar numa concepção elaborada pelo universitário, conhecedor de matemática, de geometria, de óptica, que marcava a estrutura arquitectónica traçada num desenho. Os arquitectos trabalhavam então essencialmente para as elites.